Notícias Quinta-Feira, 15 de julho de 2010
JC e-mail 4052, de 14 de Julho de 2010.
Projeto nascido na Califórnia convida cientistas do mundo inteiro a partilhar pesquisas. O Boinc atua em diversas áreas da ciência - desde a procura de seres extraterrestres à cura do câncer e da Aids
Muita gente acredita que a única forma de contribuir nas pesquisas de cura de doenças, vida fora da Terra ou na determinação de características do DNA humano só é possível alcançar por meio das bancadas de pesquisa. Ou com a presença de um cientista profissional preso em um laboratório de última geração.
Graças ao Boinc, sigla para Berkeley Open Infrastructure for Network Computing (Infraestrutura aberta para computação distribuída da Universidade de Berkeley, em inglês), programa criado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, qualquer pessoa pode doar a parte ociosa do processador de seu computador e contribuir para diversas pesquisas cientificas.
Ao instalar o programa, que é de interface amigável e ocupa pouco mais de 50 mb na memória do computador, o usuário pode escolher a que projetos deseja ceder a capacidade de seu processador. As áreas são as mais diversas possíveis, desde biologia molecular, física quântica ou astrofísica. O sistema, que foi criado há seis anos, mas que só agora começa a crescer no Brasil, envia através da internet informações coletadas pelos aparelhos dos centros de pesquisa. O computador do usuário processa esses dados e devolve para os pesquisadores.
O resultado é um imenso quebra-cabeças de informações processadas por micros ao redor do mundo. Máquinas mais potentes, localizadas nos centros de pesquisa que utilizam a plataforma ficam com o trabalho de juntar todas estas peças e ler a informação final, tarefa bem mais simples do que processar sozinho todas as informações.
Para garantir que o funcionamento do programa não diminua o desempenho da máquina, é possível selecionar o quanto da capacidade do computador será utilizada e por quanto tempo. "Quando não estamos utilizando o computador, podemos deixá-lo trabalhando 100% para o Boinc. Se estivermos utilizando a máquina podemos baixar esse percentual para não deixá-la lenta", explica Paulo Cardinali, analista de sistemas e membro da Setibr, a principal comunidade de apoiadores do programa no Brasil.
Acesso ampliado
O projeto inicial do Boinc, batizado de SETI@home., desenvolvido pela Nasa, tem como objetivo procurar vida inteligente fora da Terra. "Para analisar todas as informações que vinham do espaço os pesquisadores decidiram utilizar o processamento distribuído, o que fez a capacidade de análise dos dados crescer muito", explica especialista em gestão de Tecnologia da Informação Presciliano Neto, fundador do Setibr. "Com o tempo o sucesso foi tanto, que a capacidade de processamento permitiu abrir a plataforma para outros projetos", explica Presciliano.
Hoje são mais de 80 pesquisas diferentes que utilizam o sistema. Além da busca por vida extraterrestre é possível apoiar os esforços pela cura do câncer e da Aids, estudos sobre mudanças climáticas, estruturas de proteínas ou prever possíveis epidemias de malária na África."Nós estimulamos a participação das pessoas nestes outros projetos que podem trazer mais benefícios a curto prazo para a sociedade, como os que buscam a cura para doenças ou pesquisam o aquecimento global", completa Presciliano.
O estudante de biologia Raysson Farias utiliza o programa há nove meses. Para ele o interesse surgiu pela possibilidade de contribuir de maneira simples para o progresso da ciência. "Com o Boinc mais projetos podem ser realizados, em menos tempo e com grande qualidade", destaca. Ele afirma que o seu uso não dificulta o funcionamento normal da máquina. "A instalação do programa não afeta em nada a capacidade do computador, uma vez que ele utiliza apenas tempo ocioso; muitas vezes nem percebemos que ele está funcionando", completa.
Brasil contribui muito pouco com o projeto
Os projetos que Raysson escolheu apoiar são relacionados aos estudos que desenvolve na Universidade de Brasília (UnB), onde estuda: o Rosetta@Home e POEM@HOME. "Eles trabalham na determinação de estruturas de proteínas. É uma área similar à que eu trabalho e de grande importância científica, já que podem ser utilizados para melhor entender o metabolismo em geral e a função e mecanismo de cada proteína e, com isso, será possível criar novos medicamentos", explica Raysson.
Apesar da grande quantidade de computadores ligados à internet no Brasil, os brasileiros ainda contribuem pouco para pesquisas através do Boinc. O país ocupa a 30ª colocação, atrás de nações bem menores como Portugal, Suíça e Bélgica.
Por aqui são cerca de 22 mil usuários. "Há alguns anos podia-se dizer que nossas máquinas eram ultrapassadas e que, por isso, não participávamos tanto. Mas hoje nossos equipamentos são perfeitamente compatíveis e por isso acredito que o desconhecimento é o principal responsável pela pouca adesão ao processo", conclui Presciliano Neto.
(Correio Braziliense, 14/7)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=72149
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