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segunda-feira, 11 de abril de 2011
É PRECISO INCENTIVAR O INTERESSE PELA CIÊNCIA
Pesquisadores, professores e especialistas na área são unânimes: nos últimos dez anos o Brasil deu um salto significativo na área de ciência e tecnologia, mas muito ainda precisa ser feito. Como essa nova política de ciência e tecnologia precisa ser implementada no país, será um dos assuntos discutidos na próxima edição do projeto Motores do Desenvolvimento do Rio Grande do Norte uma realização da TRIBUNA DO NORTE, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Fiern, Fecomércio/RN, RG Salamanca Capital e Governo do Estado, com patrocínio da Petrobras, Assembleia Legislativa e Cosern. O evento está em seu quarto ano de realização e para esta 9ª edição o tema escolhido foi Inovação e Tecnologia. O seminário será realizado na próxima segunda-feira, dia 11, no auditório da reitoria da UFRN, a partir das 8h.
E para falar da realidade do setor de pesquisa científica no país, dos avanços e dos planos para o futuro, a TRIBUNA DO NORTE conversou com o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante.
Como está o posicionamento do Brasil hoje no campo da ciência e tecnologia?
Hoje, o país se situa na honrosa 13º colocação em termos de produção de pesquisa básica, medida pelas referências nas grandes publicações internacionais indexadas. Ademais, nossa produção tem qualidade superior aos dos demais BRICS, em várias áreas importantes. No entanto, os esforços têm de ser intensificados, não somente para aumentar o volume global da pesquisa, mas também para aprofundar o atual processo de sua desconcentração regional e melhorar a sua qualidade. Temos que fortalecer os novos pólos do sistema de pós-graduação no Nordeste, Norte e Centro Oeste do país, que serão essenciais para a redução das assimetrias regionais e a constituição de um território integrado.
Como isso poderia ser feito?
Uma medida de suma importância seria acabar com os atuais e graves entraves burocráticos à pesquisa. Precisamos estabelecer um diálogo construtivo com as instituições de controle, como a Anvisa, a Receita Federal, a CGU e o TCU, com a finalidade de criar regras específicas para o setor, inclusive no que concerne à importação de componentes indispensáveis às pesquisas. O Estado brasileiro, a exemplo do que acontece em outros países, precisa dar um voto de confiança aos pesquisadores e cientistas. O governo pode incentivar a pesquisa e a inovação com medidas de incentivos fiscais indispensáveis. No entanto, o Estado brasileiro, apesar dos grandes avanços recentes, ainda não dispõe de uma política de incentivos e subvenções em nível adequado. As empresas também devem ser chamadas a enfrentar esse desafio e a investir muito mais em inovação, que será essencial à competitividade sistêmica da economia brasileira.
Na opinião do senhor, então, nos últimos anos, houve um avanço no setor de ciência e tecnologia?
Sim, inegavelmente. Devo ressaltar aqui a formulação e a execução do Plano de Ação em Ciência Tecnologia e Inovação que conseguiu atingir, entre 2007 a 2010, um orçamento de R$ 41,2 bilhões, um grande volume de recursos que foi integralmente investido. Só o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico aplicou mais de R$ 3 bilhões, no ano de 2010, em programas significativos, como o de biocombustíveis, tecnologias da informação e da comunicação, projeto Antártica, bioma amazônico, biotecnologia e fármacos, saúde, petróleo e gás, novas energias limpas, defesa nacional, programa espacial, programa nuclear, entre outros. De fato, o cenário da ciência, tecnologia e inovação brasileiras mudou de qualidade. Publicações especializadas, inclusive internacionais, reconheceram isso em edição recente.
Mas o senhor concorda que ainda existem alguns gargalos...?
Sim e para isso é necessário partir dessa base sólida para fazermos ainda mais.
Como fazer isso?
Inicialmente temos como prioridade aprofundar a política de formação de recursos humanos, em todos os níveis. Tudo começa na sala de aula. Tudo começa na formação e motivação dos nossos cérebros. Quando as nossas crianças e adolescentes começarem a admirar grandes cientistas, quando elas começarem a sonhar com a grande aventura do conhecimento, a maior aventura da humanidade, teremos dado um passo fundamental e gigantesco em direção à nossa maturidade científica e tecnológica. Mas para isso, é necessário incentivar, de todas as formas possíveis, o interesse de nossos jovens pela ciência. É preciso criar, em parceria com o MEC, a política de disseminação da ciência e tecnologia nas escolas. A constituição da Semana Nacional da Ciência e da Tecnologia, as Olimpíadas da Matemática e das Ciências, os Portais da Tecnologia, são instrumentos que, além de vários outros, precisam ser intensificados. Precisamos criar estruturas e espaços permanentes de motivação e estímulo para os jovens se interessarem pelo estudo das ciências.
Como garantir maior investimento em ciência e tecnologia?
Temos o dever histórico de ampliar cada vez mais a participação da ciência, da tecnologia e da inovação no PIB brasileiro. Vamos ativar ferramentas que implantem definitivamente o item da inovação na agenda pública e privada e continuar o processo de distribuição dos benefícios dos avanços científicos e tecnológicos para toda a sociedade. O mundo da ciência e da tecnologia é estratégico para que possamos crescer com qualidade, com cultura de inovação, gerando maior valor agregado aos nossos produtos, serviços e processos, e aumentando, em consequência, a robustez e a competitividade global da economia, e acentuando o atual processo de inclusão social. Vamos buscar alavancar nossa produção industrial e de serviços com empresas modernas e competitivas construídas com base tecnológica avançada.
Que áreas o senhor destacaria como principais focos de pesquisas daqui por diante?
Temos de ter especial cuidado com as áreas estratégicas e mais promissoras. A biotecnologia e a pesquisa biomédica precisam de meios e infraestrutura para avançar os estudos na era pós-genoma. A nanotecnologia abre um novo campo para a interdisciplinariedade entre química, física, biologia, microeletrônica, novos matérias e engenharias, e deve ter mais apoio. As energias renováveis, especialmente a solar, eólica e a de células de hidrogênio, serão fundamentais no futuro. As tecnologias de informação e comunicação assumem um papel cada vez mais estratégico. O complexo industrial da saúde, com ênfase na produção de fármacos, assume também relevância cada vez maior. A inovação na cadeia de gás e petróleo abre enormes possibilidades. Além disso, a pesquisa e inovação associadas aos nossos principais biomas são vitais. É preciso lembrar também que já temos centros de excelência em inovação reconhecidos mundialmente, como a Embrapa, na agricultura, o ITA-CTA e a Embraer, em tecnologia aeronáutica, o Cenpes da Petrobras, em prospecção e produção de hidrocarbonetos, entre outros. Temos de reproduzir e disseminar experiências exitosas como essas por todo o Brasil, principalmente nas regiões menos desenvolvidas.
O senhor sempre foi um político de destaque, mas nunca atuou de uma forma mais específica na área de ciência e tecnologia. Como está sendo essa experiência?
Embora muitos estejam acostumados a me ver apenas como senador, minhas origens estão na Universidade. Sempre tive muita afinidade com essa área. Desde muito jovem me dediquei à pesquisa e à docência na área econômica. Sou professor licenciado da PUC de São Paulo e da UNICAMP. Minha formação profissional e humana sempre esteve indissoluvelmente ligada à educação e à ciência. Respirei muito pó de giz e, ao longo dessa trajetória, debati, aprendi e convivi com importantes intelectuais que contribuíram para minha formação. Foi essa trajetória que construiu a minha identidade. Por isso, costumava dizer que estava senador, mas que era, na realidade, economista e professor. Agora, estarei ministro, sendo, com muita honra e acima de tudo, um educador e um economista.
Fonte: Tribuna do Norte de 09.04.2011
fonte:http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2011_04_08&pagina=noticias&id=06324
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