Peter Godard, de Princeton, foi um dos participantes do debate sobre institutos de estudos avançados (Unicamp)
Por Elton Alisson
Agência FAPESP – A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) instituiu e começou a estruturar no início de 2010 seu Centro de Estudos Avançados (CEAv), que já se encontra em plena atividade. Para trocar experiências com universidades nacionais e estrangeiras que têm centros semelhantes já consolidados foi realizado, no dia 23 de março, o Simpósio Internacional sobre Estudos Avançados.
O evento reuniu dirigentes de algumas das principais instituições do gênero, como o Instituto de Estudos Avançados de Princeton, o Centro de Estudos Avançados em Ciências do Comportamento da Universidade de Stanford, o Instituto de Estudos Avançados de Jerusalém e o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).
O mais antigo do mundo, o Instituto de Estudos Avançados de Princeton foi fundado em 1930 com a proposta de ser uma espécie de refúgio para professores e cientistas, onde eles poderiam desenvolver trabalhos movidos pela mera curiosidade intelectual e livres de qualquer preocupação.
Dessa forma, poderiam realizar pesquisas de ponta, fundar novas linhas de estudos e fazer descobertas que, possivelmente, não conseguiriam dentro de uma universidade ou instituição de pesquisa com as pressões e obrigações que enfrentam no dia a dia.
“Isaac Newton, por exemplo, fez suas mais incríveis descobertas fora da universidade”, disse o diretor do Instituto de Estudos Avançados de Princeton, Peter Goddard.
“Em 1665, o Trinity College, onde estudava, foi fechado por causa da peste negra que assolava a Europa e ele teve que se refugiar na casa de sua mãe, em Woolsthorpe. Nesse período de retiro, Newton desenvolveu a Teoria Binominal, o cálculo, a Lei da Gravitação Universal e a natureza das cores.”
Os primeiros institutos de estudos avançados foram criados de modo a atrair os melhores cérebros para realizar pesquisas desinteressadas, interdisciplinares e de alto nível durante um período sabático.
Um dos primeiros convidados pelo instituto de Princeton foi o alemão Albert Einstein, que se tornou professor de física teórica da universidade norte-americana. Desde então, o instituto tem atraído diversos ganhadores do prêmio Nobel para realizar pesquisas em áreas como matemática, física, astrofísica, ciências naturais, história e ciências sociais.
Hoje, segundo Goddard, o IEA de Princeton conta com 38 membros e 180 estudantes, entre professores estáveis e pós-doutores (fellows), que realizam pesquisa de modo independente de universidades e instituições de pesquisa.
“Os institutos de estudos avançados estão fundamentados no princípio de que as descobertas não são resultado de pesquisas direcionadas, mas da curiosidade intelectual. Eles são como santuários e estão mais focados em pesquisa do que no ensino”, disse,
Segundo Goddard, atualmente existem mais de 100 IEAs no mundo, muito dos quais fundados por ex-membros do instituto de Princeton, como o de Jerusalém, iniciado em 1970. “E, nos últimos anos, o número de IEAs tem aumentado cada vez mais”, disse.
Entre as razões para a proliferação de IEAs, Goddard listou a possibilidade de realizar pesquisas de ponta, o respeito e visibilidade na comunidade científica e a internacionalização, proporcionada pela intensa relação com cientistas e professores estrangeiros.
“Não por acaso, as universidades no mundo que estão melhor classificadas nos rankings internacionais possuem IEAs. Os IEAs permitem que elas possam se destacar internacionalmente e tenham maior integração com o mundo”, disse.
Algumas das recomendações feitas pelo especialista para o CEAv da Unicamp foram ter um grupo pequeno de dirigentes com visão, além de recursos para financiar as pesquisas, boa localização e também uma boa dose de sorte para encontrar cientistas.
“Recrutar cientistas é a maior preocupação atual dos IEAs”, disse Iris F. Litt, dirigente do Centro de Estudos Avançados em Ciências do Comportamento da Universidade de Stanford, durante o simpósio. “Hoje, há muita competição entre os IEAs para atrair os melhores talentos.”
Desde a sua fundação, em 1952, e até os últimos anos o centro em Stanford só selecionava fellows por meio de convite, contou Litt. Mas, recentemente, os pós-doutores também passaram a ser selecionados por meio de submissão de candidatura para realizar pesquisas nas áreas de ciências sociais e humanas e do comportamento.
Um dos conselhos deixados pela especialista para os dirigentes do CEAv da Unicamp foi reconhecer as especificidades do contexto brasileiro, que podem não ser as mesmas dos Estados Unidos ou da Europa, onde está baseada a maior parte dos institutos do tipo.
Institutos brasileiros
O primeiro e mais consolidado centro do tipo no Brasil, o IEA da USP, fundado há 25 anos, trabalha mais com grupos de pesquisa do que com pesquisadores isolados, mas não está avesso a receber fellows, disse o diretor da instituição, César Ades.
“Achamos que grupos de pesquisa são mais diversificados, porque congregam pessoas de diferentes universidades, com várias formações. Para eles, provemos apoio acadêmico”, disse.
Já o centro da Unicamp, de acordo com seu coordenador, Pedro Paulo Funari, pretende atingir mais os jovens cientistas e focará suas pesquisas em áreas de especialidade da universidade paulista.
“Para nós, é difícil trazer um Nobel para permanecer, no mínimo, um ano aqui e chefiar um grupo de pesquisa. Uma das alternativas para isso será atrair jovens pesquisadores para congregá-los no centro com professores eméritos e pessoas em diferentes estágios da carreira científica”, disse Funari à Agência FAPESP.
O CEAv começou a funcionar no início de 2010 com um Grupo de Estudos Avançados em Esporte (GEAE) e outro Grupo de Estudos em Ensino Superior (GEES). Desde então, os dois grupos promoveram uma série de eventos e lançaram duas publicações em versões impressa e on-line.
Este ano, outros dois grupos de pesquisa deverão iniciar suas atividades, sendo um sobre a China e outro sobre “Os desafios das humanidades”. Nos próximos anos, o CEAv também ganhará uma sede física, com 1.000 m² e três andares, situada no campus da Unicamp em Campinas (SP).
“O CEAv está surgindo ainda. Já tem uma série de atividades, mas os três ou quatro primeiros anos serão um processo de formação para que ele se consolide”, avaliou Funari.
No simpósio, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Britto Cruz, lembrou que a FAPESP oferece modalidades de financiamento para trazer pesquisadores estrangeiros, como Bolsas de Pós-Doutorado e o programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
“Temos que ter um número grande de pesquisadores visitantes. As universidades e instituições de pesquisa no Brasil já estão fazendo isso, mas temos que fazer um esforço para manter esses pesquisadores estrangeiros aqui por mais tempo. Se queremos ter excelência acadêmica não podemos ficar à parte do mundo”, afirmou.
Mais informações: www.gr.unicamp.br/ceav
Fonte:http://www.agencia.fapesp.br/materia/13662/estimulo-a-curiosidade-intelectual.htm
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