Por Rui Maciel e Robinson dos Santos, do IDG Now!
Publicada em 27 de agosto de 2010 às 08h00
Os leilões de um centavo crescem em ritmo forte no Brasil e ajudam usuários a comprar produtos bem abaixo do valor de mercado.
Entre fazer compras e se divertir, que tal as duas opções? Essa é a proposta sedutora dos leilões de um centavo (penny auctions, em inglês), uma onda que, tal como a dos sites de compras coletivas, promete arrebatar os internautas brasileiros em 2010.
Muitos desses sites já estão no ar – e outros deverão seguir a trilha dos pioneiros. Com nomes como Eh! Lance, Bazaah, Um Centavo, Olho no Click, Last Second e Compra Maluca, todos eles propõem um jeito no mínimo inusitado de comprar: por meio de leilões de produtos cujos preços aumentam um centavo por lance. A grande vantagem deles é que o vencedor consegue adquirir os produtos por um valor abaixo do que é oferecido no mercado “em 95% dos casos”, disse Guilherme Pizzini, diretor comercial do Olho no Click, a primeira empresa a atuar neste setor no Brasil – segundo ele.
Como funciona
Para o interessado, no entanto, os lances não custam um centavo. Eles são vendidos em pacotes que fazem os preços dos lances oscilar entre 70 centavos e um real. Para dar dez lances de um centavo cada, por exemplo, a pessoa poderá ter de desembolsar até dez reais. No entanto, existem pacotes que podem chegar a 120 reais, onde o participante tem direito a dar até 150 lances. Ele ainda pode participar de vários arremates simultâneos, usando o mesmo pacote.
Um cronômetro regressivo torna a disputa ainda mais tensa. Os lances são válidos por um prazo bem curto – um tempo de 30 segundos é o mais comum. A cada lance feito, o relógio volta ao tempo cheio. Se ninguém der novo lance dentro desse intervalo, o último ganha o direito de comprar o produto pelo preço especificado.
O pagamento pelos lances é uma diferença importante em relação aos leilões tradicionais. No eBay ou no Mercado Livre, os lances perdedores não representam prejuízo aos participantes. Nos leilões de um centavo, contudo, é possível que a pessoa gaste todos seus lances pagos sem obter nada em troca.
“Considero como um site de compras. É como as compras coletivas, só que aqui todo mundo acaba financiando quem compra barato”, diz Elias Boiko, um dos diretores do Bazaah, de Curitiba (PR). No ar desde 28 de julho, o Bazaah começou a fazer valer seus leilões em 10 de agosto. Mesmo assim, cerca de 300 pessoas se cadastraram, diz Boiko. Muitos fizeram ofertas prévias usando um crédito promocional gratuito de dez lances.
“O segredo para conseguir vencer os leilões é o acompanhamento constante”, disse Pizzini. “No caso do Olho no Click, há um limite de participação para o usuário de cinco produtos por mês. Caso ele consiga arrematar esse número em 10 dias, por exemplo, só poderá participar dos lances novamente daqui a 20 dias”.
Além do acompanhamento e lances estratégicos, o participante de leilões do gênero também deve ter paciência. Isso porque eles podem durar de um minuto até 24 horas. Aliás, uma TV LCD de 32 polegadas estava batendo o recorde de duração de um leilão no Olho no Click. Os lances começaram às 20hs de ontem e já duravam 21 horas até o fechamento desta reportagem.
Os produtos
Na variedade de produtos oferecidos pelos sites de leilões, os eletrônicos predominam entre os mais arrematados. São notebooks, videogames, TVs (plasma, LCD e LED), câmeras fotográficas e home theaters, entre outros. Mas também há espaço para utensílios domésticos, como uma centrífuga para sucos ou uma cafeteria elétrica.
No entanto, empresas como a Olho no Click não querem apenas focar esse tipo de produto. “Na época da Copa do Mundo, neste ano, leiloamos uma viagem para a África do Sul, com passagem e hospedagem”, disse Pizzini, do Olho no Click. “O pacote foi arrematado por pouco menos de 16 reais”. Outro produto colocado recentemente em leilão pelo serviço foi uma moto zero quilômetro, que foi adquirida por 13 reais. Mais para frente a idéia é arriscar ainda mais. “Em breve, queremos leiloar até mesmo automóveis”, afirmou Guilherme.
O investimento
Como foi dito no começo da matéria, o Olho no Click foi o primeiro site de leilões por centavos. Além de Pizzini, outros três sócios participaram da criação da empresa, que foi baseada no site alemão Swoopo.com, considerado o maior do mundo. Eles investiram 150 mil reais em servidores e infraestrutura e mantém 15 funcionários, entre São Paulo e Ribeirão Preto. Em 2009, o Olho no Click faturou dois milhões de reais – a expectativa para esse ano chega na casa dos cinco milhões.
Já Boiko, que é engenheiro civil, fundou o Bazaah com outros dois sócios, que são engenheiros de computação. Juntos, aplicaram no negócio cerca de 50 mil reais, valor que inclui a elaboração, numa empresa do Nepal, de uma “engine” diferenciada, explica o diretor. “É uma tecnologia complicada”, afirma. O retorno, espera, virá já no primeiro mês de operação.
O risco
Apesar do lucro, os proprietários dos sites afirmam que o risco de prejuízo também é sempre iminente. “Quanto maior o preço do produto, maiores são os riscos que corremos”, afirmou Pizzini. “A viagem para a África do Sul foi um bom exemplo. Arrecadamos um valor muito menor do que o que pagamos pelo pacote, já que o número de lances – e consecutivamente de pacotes comprados – foi muito menor que o esperado. Mas ainda assim vale a pena como forma de mostrar o potencial e as vantagens que podemos oferecer”, completa.
Já Boiko, do Bazaah, diz não ter tido grandes prejuízos na operação do site. “Temos conseguido cobrir os custos, bem no limite”, afirma. No entanto, o diretor admite que certos tipos de produtos, como eletrodomésticos e impressoras, têm falhado em capturar a atenção – e os lances – dos usuários do site. Felizmente, para o diretor, são produtos de baixo valor unitário. “Temos notado que o interesse varia muito em função do horário. Mas precisamos ter produtos em leilão durante o dia todo”, argumenta.
De onde surgiu o leilão?
Curiosamente, a ideia por trás dos leilões de um centavo não é nova – e sua origem está relacionada à corrida nuclear entre Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria. Em 1971, um pesquisador americano da Universidade de Yale, Martin Shubik, escreveu artigo sobre um jogo criado para mostrar como uma situação de competição poderia levar a um paradoxo de grandes proporções.
Esse jogo havia sido concebido, por brincadeira, muitos anos antes. No livro “Prisoner’s Dilemma” (O Dilema do Prisioneiro), de 1992, William Poundstone descreve as tentativas de Shubik, durante a década de 1950, de criar um jogo que, mesmo tendo regras bem definidas, fosse capaz de provocar “certos fenômenos patológicos” nos jogadores.
Neste jogo, que ganhou o nome de “leilão de um dólar” (Dollar Auction Game), um dólar seria oferecido, em leilão, a duas pessoas, mediante lances mínimos de 5 centavos. Shubik notou que, nos lances iniciais, prevaleciam as decisões racionais: ao dar um lance de 10 centavos, o participante considerava obter um lucro de 90 centavos.
No entanto, quando a aposta de um dos participantes chegava a 1 dólar, o segundo participante percebia que, se desistisse, perderia 95 centavos – e decidia aumentar seu lance para 1,05 dólar, já que seria melhor perder 5 centavos. Os participantes passam, assim, a pensar em termos de menor prejuízo. A partir desse ponto, o único ganhador será o organizador do leilão.
Em seu artigo, Shubik nota que “uma vez que as pessoas se envolvam, é grande a possibilidade que, para elas, o fim seja um desastre”. E conclui: “Por que, afinal, alguém decide dar um lance? Geralmente é por causa da diversão ou do desejo de participar de uma brincadeira de salão, mais do que por causa de análises individuais.”
Contrariando Shubik, os donos do Bazaah já pensam em formas de atenuar os gastos com lances. O site conta com um programa de milhagens. Com ele, o internauta acumula pontos a cada lance efetuado e, no futuro, poderá resgatá-los por produtos, promete Boiko. “Também temos planos de anexar uma loja virtual, para que o participante possa transformar os lances que ele já deu em descontos para comprar o que quiser.” Essa jogada o pesquisador dificilmente imaginaria.
Fonte:http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/08/26/idgnoticia.leilaocentavos/
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