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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Enem substitui vestibular em 92 mil vagas de federais

JC e-mail 4102, de 23 de Setembro de 2010.


Das 59 universidades, 23 usarão o exame do ensino médio como etapa única

Mesmo com problemas como vazamento e adiamento, ocorridos após sua reformulação, no ano passado, a influência do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) não para de crescer.

Levantamento feito pela Folha nas 59 universidades federais e com dados dos 39 institutos federais mostra que mais de 92 mil vagas serão oferecidas exclusivamente com a nota do Enem, sem que o aluno precise fazer outras provas.

A projeção é que, em 2011, essas instituições tenham ao todo 235 mil vagas, a serem preenchidas também por outros processos seletivos. A substituição total do vestibular pelo Enem ocorre de duas maneiras.

Na primeira, majoritária, as universidades aderem a um sistema integrado que seleciona os alunos para cursos de todo o país, exclusivamente usando o Enem.

Na segunda, as instituições fazem um ranking próprio da nota do Enem entre os candidatos. No ano passado, foram apenas 47 mil vagas oferecidas por este sistema integrado, chamado Sisu e criado pelo Ministério da Educação.

"Se não tivesse ocorrido o vazamento, o Enem estaria ainda mais forte", disse o consultor Rudá Ricci.

Das 59 federais, 23 usarão o Enem como etapa única, mas todas vão utilizar a nota de alguma forma, por exemplo, pontuação na nota final.

As que vão usar mais timidamente são as que optaram apenas para preencher vagas remanescentes, como UnB (Brasília) e Ufal (Alagoas).

Como algumas universidades federais ainda definem a abertura de cursos para o próximo ano, o número de vagas disputadas por meio do Enem deve crescer.

É o caso da UFABC (federal do ABC), que confirmou que 100% de suas vagas serão preenchidas pelo sistema integrado do MEC, mas ainda não definiu quantos postos terá em 2011.

Em São Paulo, a principal adesão foi da UFSCar (federal de São Carlos). Em junho, o reitor Targino de Araújo Filho deu como motivo para abandonar a prova própria a perspectiva de poder abrir as portas da universidade para estudantes de todo o país.

A maior parte das instituições que não usaram o Enem de nenhuma forma no ano passado, mas que passam a utilizá-lo agora, alegaram falta de tempo hábil para terem participado da primeira edição do sistema integrado.

Uma das universidades que apresentaram a justificativa foi a UFMG (de Minas), que passou a usar o exame como primeira fase de seu processo seletivo.

O surgimento de novas vagas, seja pela criação de cursos em instituições que já aderiam ao Sisu seja pela criação de novas universidades -como Unilab e Ufopa (Oeste do Pará)- também ajudam a explicar o aumento desse número.

Especialistas ouvidos pela Folha atribuem esse aumento ainda a razões políticas, como moeda de troca para liberação de verbas do Reuni (programa do governo federal que expande as universidades federais), e financeiras- porque é mais barato e simples "terceirizar" para o governo federal a organização e a execução do processo seletivo.

Procurado, o Ministério da Educação não quis se pronunciar.

"Tendência é vestibular ser eliminado", diz reitor da UFMG

Entre as universidades que aderiram parcialmente ao Enem, a UFMG (federal de Minas) é uma das maiores. Para o vestibular deste ano, a instituição teve mais de 70 mil inscritos para cerca de 6.000 vagas, porte semelhante ao da Unicamp.

Em entrevista à Folha, o reitor da UFMG, Clélio Campolina, disse que a tendência é que, no futuro, o vestibular seja abolido.

- Como foi que a universidade decidiu usar o Enem?

Primeiro, a UFMG não usou o Enem da vez passada porque não houve tempo legal. O nosso estatuto exige que o edital do vestibular tenha que ser divulgado com seis meses de antecedência. Mas nós avaliamos que o Enem é um grande avanço.

- Em que sentido?

Todo país desenvolvido tem um exame nacional que faz uma avaliação do ensino médio. Todos nós sabemos que o ensino médio não está bom, que o ensino fundamental não está bom, mas não temos um critério de medida uniforme. Portanto, achamos que isso é um avanço em termos de avaliação do ensino médio, é uma democratização para o ingresso na universidade e a gente espera que, algum dia, o vestibular seja eliminado como critério de seleção para ingresso na universidade.

- Na UFMG ou genericamente falando?

Estou falando genericamente. Acho que o país, em algum momento, vai ter que eliminar o vestibular. Isso não pode ser feito de imediato. A UFMG está adotando o Enem como critério da primeira etapa do vestibular. A segunda etapa ainda continua sendo o exame especifico da UFMG. Vamos avaliar os resultados do Enem para que a gente possa discutir medidas para o futuro.

Nesta semana a UFMG divulgou a relação candidato/vaga do vestibular 2011. Medicina tem mais de 54 candidatos por vaga. Para selecionar candidatos em carreiras concorridas, o Enem é uma ferramenta suficiente?

- Isso [acabar com o vestibular] é para o futuro. Vamos ter que aperfeiçoar o Enem para que ele realmente forneça elementos suficientes para a seleção. Isso é o desejo de um processo a longo prazo.

- O MEC incentivou a adesão de alguma forma?

É óbvio que o MEC estava desejoso que o Enem fosse utilizado. Se o exame não for aceito pela comunidade, ele não se legitima. Mas nós não tivemos nenhum benefício, não sofremos nenhuma pressão. Foi uma decisão soberana do nosso conselho universitário.
(Patrícia Gomes e Andressa Taffarel)
(Folha de SP, 23/9)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=73645

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