Por Brian Proffitt, da ITworld/EUA
Publicada em 15 de setembro de 2010 às 09h05
A História ensina que, para cada tecnologia que se diz vitoriosa, diversas outras surgem para tomar seu lugar. Por que com o Linux seria diferente?
Quando compareci esta semana à LinuxFest de Ohio (EUA) no último fim de semana, um tema recorrente na conferência foi: o que fazemos agora com o Linux, já que vencemos?
Devo explicar que não era esse o tema oficial dessa conferência regional que reuniu, no sábado (11/9), mais de mil pessoas. O tema era algo relacionado a como usar software livre para tornar o mundo melhor.
Mesmo assim, em quatro das palestras a que assisti, de quatro pessoas que trabalham em projetos e empresas completamente diferentes, eu ouvi a mesma expressão: “nós vencemos”.
Será que deixei escapar alguma informação?
Não me entendam mal. É verdade que o Linux deu grandes passos em diversos setores da tecnologia, especialmente em cloud computing, mobilidade e servidores. Nessas áreas, o Linux é um competidor forte, se não for o maior. Baseados nesses resultados - que são, de fato, impressionantes -, será justo afirmar que o Linux venceu?
No desktop tradicional, é muito difícil apontar para os números de qualquer pesquisa ou empresa e dizer que o Linux é um sucesso. O número mais recente que circula pela blogosfera é que um mero 1% dos desktops roda Linux. Eu meio que duvido deste número, mas o valor real não deve estar longe disso.
Números questionados
Claro que algumas vezes você encontra entusiastas do Linux que listarão números e cifras sobre as vantagens do Linux. Caitlyn Martin, da O’Reilly, tentou desmentir o número de 1% e concluiu que, já que as vendas de netbooks com Linux representaram um terço do total de netbooks vendidos, então as vendas totais de máquinas com Linux seriam de aproximadamente 6%.
Admito ter alguma dificuldade em estimar o impacto que apenas um ano de vendas em um único segmento teria em um mercado de desktops formado há mais de 20 anos por máquinas Windows e Mac. Ok, 2009 foi um ano decente, mas e as vendas e as instalações de sistemas operacionais em 2008? 2007? Essas máquinas são velhas e ainda estão sendo usadas por aí. Espero que Caitlyn esteja correta, mas neste caso acredito que esteja sendo apenas otimista.
Independentemente dos números que você escolha para acreditar, a questão por trás de quem ganhou não se resume a um jogo de números. E não é para ser, por duas razões muito simples: os números mudam tanto quanto o jogo.
Em 1980, o UNIX venceu. Ele capturou o mercado da computação por completo. Se alguém tivesse dito o contrário, seria considerado louco. E tem sido assim desde então.
Em 1995, o Windows venceu. Ele dominou o mercado desktop, e nunca mais haveria outro sistema que desafiaria seu domínio. O Windows permaneceria rei do desktop para sempre.
É o que as pessoas diziam em cada época. “Nós vencemos”, gritava a multidão em torno de sua tecnologia favorita. Daquele dia em diante, o futuro da tecnologia sempre seria (insira sua tecnologia favorita aqui).
O futuro, como antigamente
Olhe para o Unix hoje e tente repetir a mesma declaração de vitória de 1980. Olhe para o Windows e seu lento declínio e pense como será sua participação no mercado em alguns anos.
Esteja você falando sobre números, influência, impacto, ou qualquer outro aspecto da tecnologia, dizer “nós vencemos” não é apenas potencialmente impreciso, mas também violentamente perigoso. As pessoas que veem as coisas como uma situação binária do tipo "ganhar/perder" tendem a recuar quando atingem o objetivo de “ganhar”. Aí vem a complacência. As pessoas relaxam, perdendo a noção dos aspectos da tecnologia que a tornavam tão boa. Enquanto isso, para cada sistema que “ganhou”, há o despontar de um concorrente ávido por tomar seu lugar.
Você se lembra de quando o Linux era o estreante, e da forma como ele nos deixava loucos? Declarar vitória (que, aliás, seria algo nitidamente prematuro no estágio atual) simplesmente faz com que o Linux seja o alvo de nosso próximo estreante.
O Linux está indo bem? Sim, com certeza. Pode se dar melhor? Sim, sempre. Porque, mesmo que o Linux capturar o domínio do mercado em cada setor, ele deverá estar sempre pronto para se adaptar a novos consumidores, negócios ou necessidades tecnológicas. Crescimento, adaptação e mudança devem ser, para sempre, parte da mentalidade Linux (e, de fato, de qualquer projeto bem sucedido).
Porque o que não cresce, morre. E declarar-se vencedor em uma partida nunca vai significar que você vencerá automaticamente todas as outras.
Fonte:http://idgnow.uol.com.br/computacao_corporativa/2010/09/15/guerra-dos-sistemas-por-que-o-linux-nao-deve-vencer/
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