Fonte: The New York Times de 12.10.2010
Se você quiser falar sobre o reforço do ensino de matemática e ciências nas escolas americanas, vou gritar e agitar com prazer meus pompons virtuais .
A economia, o fascínio global e o futuro dos Estados Unidos dependem da força de sua estrutura científica.
Mas mencione o termo em inglês cada vez mais odiado "STEM education" que minha vibração de líder de torcida acaba de vez.
E não estou sozinha em meu descontentamento.
Para os leitores que até agora foram poupados da exposição a esta concatenação de letras maiúsculas, ou que muito compreensivelmente tenham interpretado mal seu significado, a sigla STEM em inglês significa Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, supostamente os principais grupos de uma educação científica abrangente.
Os aficionados pronunciam STEM exatamente como o nome em inglês para a parte da planta (caule), como o tipo de célula (tronco), como o que se faz com uma maré (conter) e que eu desejaria fazer com esta moda, mas provavelmente é tarde demais.
Participe de um congresso, simpósio ou encontro científico com o tema nefasto "ciência na sala de aula e por que nossos estudantes não vão tão bem nos testes internacionais como os de Cingapura " e você vai ouvir muito pouco sobre como ensinar trigonometria ou distribuir picolés durante as competições e gincanas esportivas, mas será bombardeado com referências ao STEM.
Um relatório recente do conselho de ciência e tecnologia do governo americano oferece muitas ideias interessantes para melhor a educação científica, como a criação de um "corpo especial" composto pelos melhores professores de ciências do país, que seriam responsáveis pelo treinamento dos demais professores.
Porém, a palavra STEM continua batendo em suas páginas como a gordura escorre de um sanduiche de queijo.
Mesmo aqueles que usam o termo STEM admitem que ele é profundamente falho.
Para os iniciantes, ele é confuso e sem graça.
"Todo mundo que conhece o termo sabe o que ele significa, e todos os outros não", diz Eric Lander, presidente adjunto do conselho consultivo do presidente dos Estados Unidos e chefe do Broad Institute do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Harvard.
Quando ouviu pela primeira vez a sigla, ele pensou que fosse uma referência demasiado bonita para a botânica."Eu pensei: educação caule? E a educação flor? ", conta ele.
Atualmente, devido à fixação do público nas células tronco embrionárias - células progenitoras, que dão origem a todos os diferentes tecidos do corpo - o potencial para confusão é ainda maior."As pessoas ouvem falar em educação STEM e pensam que algum embrião fora prejudicado no processo", diz Lander.
O termo também soa como jargão, motivo pelo qual Sally Ride, a ex-astronauta que agora viaja pelos Estados Unidos promovendo o sucesso da educação científica para meninas, disse que evita pronunciá-lo.
"Por causa de minha experiência na NASA, sou perfeitamente capaz de falar somente em siglas, incluindo os verbos", diz ela.
"Mas isso não é muito útil quando se fala para o público em geral." As impressões de Ride são bem fundamentadas.
De acordo com os resultados de uma pesquisa divulgada no mês passado pela ONG do Conselho das Indústrias de Entretenimento, em que cerca de 5.000 participantes foram questionados se sabiam o significado de "STEM education", 86 por cento disseram que não.
"Eles lembraram das células tronco, caules e talos de brócolis", relata Brian Dyak, presidente do grupo.
E acrescentou: "temos aqui um problema de marca." Mas é uma marca que vale a pena lançar? Alguns críticos consideram a sigla desnecessária e potencialmente autodestrutiva.
O que há de errado com o simples ensino de ciências ou, se necessário, com o ensino de ciências e matemática? O que aconteceu para que as disciplinas exigissem a invenção de um acrônimo? "O administrador de programas de ensino de uma fundação me perguntou recentemente: 'você trabalha com STEM ou com o ensino de ciências?'", relata Elizabeth Stage, diretora do Lawrence Hall de Ciências da Universidade da Califórnia em Berkeley.
"Então eu desenhei um diagrama de Venn, mostrando-lhe o que é central para as ciências e como isso se sobrepõe à tecnologia, à engenharia e à matemática." Stage, que é matemática de formação, acha que a sigla é uma "falsa distinção" para destacar as diferentes disciplinas e que prefiriria muito mais se concentrar no que estas áreas têm em comum, como a resolução de problemas, argumentação de provas e conciliação de pontos de vista conflitantes."Isso é o que deveríamos ter como objetivo central", disse ela.
A decisão de incluir engenharia e tecnologia no ensino foi feita na década de 90, quando a National Science Foundation - fundação americana dedicada à ciência - e outras agências do governo dos Estados Unidos passaram a elaborar normas nacionais para o ensino científico, especificando o que os alunos deveriam aprender durante o ano letivo, desde o jardim de infância até o fim do ensino médio.
"Lembro que foi explicitado que as ciências abrangem mais do que a disciplina de ciências em si.
Então começamos a receber pedidos para incluir tecnologia, matemática e engenharia", conta Stage.
Economia e pragmatismo também fazem parte da equação.
Como o governo americano se volta cada vez mais para as empresas, a fim de pedir ajuda para pagar as melhorias nos laboratórios de ciências das escolas, a necessidade de enfatizar a ligação entre um amplo ensino de ciências e a mão de obra técnica do futuro cresce por este motivo.
"Muitas empresas trocam informações sobre o que está se fazendo em relação à educação STEM", diz Stage, inclusive grandes empresas de engenharia e tecnologia, como a Exxon Mobil, a Intel e a Hewlett-Packard.
Lander afirma que que há um acordo tácito para o espírito que está por trás do STEM.
"A ciência está descobrindo as leis do mundo natural e a matemática não é isso.
Ela é lógica, sua verdade é dedutiva e suas experiências não contêm sinais de erro", diz ele.
"Mas quando você começa a estudar tecnologia e engenharia, conhece um mundo diferente daquele que fora descoberto", acrescenta.
Ele gostaria de encontrar um termo melhor do que o atual, mas disse que tentou "todas as quatro variações fatoriais" das letras e as alternativas são impronunciáveis ou já são utilizadas por times de beisebol.
Ride observa que uma versão anterior da sigla oficial era na verdade SMET e que "felizmente desistimos dela", conta.
Outras pessoas não enquadram a palavra "ciência" de forma tão restritiva.
A ciência sempre envolveu a base e a aplicação.
Além disso, os impulsos para explorar e inventar sempre estiveram ligados.
Galileu construiu um telescópio e praticou com o céu.
Os avanços tecnológicos iluminam cenários que vão além dos nossos sentidos naturais.
Tais conhecimentos, por sua vez, melhoram nossos brinquedos científicos.
Os engenheiros usam a matemática, a física e toda a mentalidade científica em seus projetos.
Mas aqueles que não o fizerem, por favor nos avisem, pois assim voaremos em outras aeronaves e não atravessaremos suas pontes.
O que aconteceu com a necessidade de um pensamento interdisciplinar? Por que promover uma marca que codifica a atomização? Além disso, as siglas incentivam os "eu-duismos".
Dyak conta que algumas pessoas têm feito lobby para a inclusão da medicina no programa escolar, acrescentando mais um M à sigla."Chamamos de STEM ao quadrado", diz ele.
"Mesmo as artes estão procurando uma posição ortográfica", acrescentou.
Educação STEAM (que inclui "arts" e passa a significar vapor): grandes livros, laboratórios e placas de computador.
Fonte:http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2010_10_14&pagina=noticias&id=05999
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