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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CIENTISTA DESCOBRE POSSÍVEL ANCESTRAL MAIS ANTIGO DO HOMEM ARCAICO E MODERNO

Fonte: The New York Times de 12.09.2011
Paleoantropólogos dizem que os fósseis são de grande importância para elucidar o processo de combinações que definiu a evolução humana.

Uma criatura com aparência símia e características humanas, cujos ossos fossilizados foram recentemente descobertos em uma caverna sul-africana, está sendo saudada pelos paleoantropólogos como um provável divisor de águas na compreensão da evolução humana.

O descobridor dos fósseis, Lee Berger da Universidade de Witwatersrand em Joanesburgo, diz que a nova espécie, conhecida como Australopithecus sediba, é o ancestral conhecido mais plausível dos humanos arcaico e moderno. Diversos outro paleoantropólogos, ao mesmo tempo em que discordam desta afirmação, dizem que mesmo assim os fósseis são de grande importância, pois elucidam o processo de combinações que definiu a evolução humana.

A afirmação de Berger, se aceita, redefiniria radicalmente a atual versão da árvore genealógica humana. A nova espécie, segundo ele, tiraria o Homo habilis, o famoso fóssil fabricante de ferramentas encontrado por Louis e Mary Leakey, da posição de ligação mais provável entre o australopithecenes e a linhagem humana. Os australopithecenes eram criaturas com aparência símia que andavam eretos, como as pessoas, mas que ainda não haviam abandonado as árvores.

Berger e seus colegas apresentam esta afirmação em cinco artigos na atual edição da Science em que descrevem vários aspectos dos novos fósseis. Como é comum no campo da paleoantropologia, o descobridor de um novo fóssil está tentando colocá-lo mais perto possível da linha direta de descendência humana, enquanto outros resistem a esta interpretação.

Neste caso em particular, há muitas incertezas em relação ao registro do fóssil naquela época, incluindo quando a linhagem humana apareceu pela primeira vez e como o Homo habilis ficaria neste contexto.

O principal significado dos novos fósseis não é que o Australopithecus sediba é necessariamente o ancestral direto do gênero humano, dizem outros cientistas, mas que os fósseis enfatizam a riqueza da experimentação evolucionária dentro do grupo autralopithecine.

“Este é realmente um material estimulante”, afirmou Ian Tattersall, um paleoantropológo do American Museum of Natural History (museu americano de história natural) de Nova York. “Acho que ele tem a possibilidade de escancarar a questão do que é o Homo.”

Além dos dois crânios relatados no ano passado, pesquisadores liderados por Berger recuperaram desde então uma mão direita quase completa, um pé e uma pelve. Os ossos estão especialmente bem conservados porque seus donos aparentemente caíram em uma caverna profunda e algumas semanas depois foram cobertos por sedimentos que rapidamente fossilizaram seus ossos. As pedras acima da caverna erodiram gradualmente, trazendo os fósseis até a superfície, onde foram encontrados em 2008 pelo filho de Berger, Matthew, então com 9 anos de idade, enquanto perseguia um cachorro.

Aquela queda na caverna aconteceu há 1 977 milhões de anos, de acordo com a datação baseada na taxa de degradação do urânio na camada de pedra que continha os fósseis.

Nos artigos publicados na Science, a equipe de Berger descreve novas combinações de características símias e humanas na mão, no pé e na pelve da nova espécie. A mão, por exemplo, tem aparência símia porque tem dedos longos e fortes adequados para subir em árvores, mas ainda assim tem uma aparência humana por ter um dedão comprido que em combinação com os outros dedos poderia ter segurado ferramentas com precisão. Um molde do interior do crânio mostra um cérebro com aparência de macaco, mas que deu o primeiro passo em direção a ser reorganizado em linhas humanas.

Essa mistura de características símias e humanas segure que a nova espécie era uma transição entre os autralopithecines e os humanos, disseram os pesquisadores em uma conferência de imprensa quarta-feira. Por causa da sua idade, o Autralopithecus sediba é velho o suficiente para ser o ancestral do Homo erectus, a primeira espécie que os paleoantropólogos concordam pertencer à ascendência humana e que existiu há 1,9 milhões de anos.

Mas os fósseis são significativos mesmo se o sediba não for um ancestral direto dos humanos. Eles são a evidência de que uma experimentação evolucionária estava fermentando naquela época, a partir da qual de alguma forma surgiu a linhagem humana. “Se você encarar o sediba como uma metáfora da mudança evolucionária, isso se torna muito mais forte do que a afirmação de que ele é um ancestral direto”, disse Tattersall.

Um ponto de vista parecido é assumido por Bernard Wood, um paleoantropólogo da George Washington University. “Acho que esses são os artigos mais interessantes publicados nos últimos anos”, disse Wood.“Mas provavelmente estas não são as razões pelas quais os autores acham que eles são interessantes.”

Wood dá pouco crédito para os argumentos de Berger de que o Australopithecus é um ancestral direto do grupo humano, dizendo que havia pouco tempo para que o macaco de cérebro pequeno e escalador de árvores evoluísse em para um Homo erectus de cérebro grande. Mais interessante, segundo ele, são as estranhas combinações de características símias e humanas que a equipe de Berger descreveu. Os novos fósseis representam a maneira modular como a evolução funciona: eles têm muitas características conhecidas em combinações novas que nunca tinham sido vistas antes.

“É óbvio que apesar de a mão precisar ser um todo integrado, suas partes evoluem como módulos separados”, diz Wood. “Você pode pegar um polegar nº 3 entre cinco possibilidades possíveis, digamos, e combiná-lo com a parte média de um pulso nº2 e a parte lateral de um nº4.”

Wood diz que apesar de ter lido os cinco artigos rapidamente “tarde da noite e com um copo de uísque”, acredita que eles serão um “divisor de águas na nossa compreensão da evolução humana, mesmo que demonstrem apenas que as coisas são bem complexas, e que por causa disso será bem difícil ligar diferentes fósseis em uma sequência evolucionária.”

Ao defender que o Australopithecus é o ancestral da linhagem humana, Berger ignora todos os fósseis ditos humanos anteriormente, incluindo uma mandíbula de 2,33 milhões de anos descoberta em 1994 em Hadar, Etiópia, pelo paleoantropólogo Donald Johanson. A mandíbula tem algumas características humanas, Berger e seus colegas escrevem, mas isso não quer dizer que o dono da mandíbula era necessariamente humano. Mas Johanson disse em um email que a mandíbula de Hadar “possuí todas as marcas de um Homo”, a linhagem humana, e “localiza a origem dos Homo firmemente no leste da África, pelo menos 400 mil anos antes da datação do A. sediba.”

Tanto Wood quando Tattersall veem a descoberta de Berger como uma indicação da grande variedade de símios autralopithecine, entre os quais seria muito difícil escolher uma espécie em particular que tenha dado origem aos humanos. Tattersall acredita que o salto para humanos pode ter sido trazido por mudanças genéticas muito repentinas, talvez por algumas poucas muito importantes, e é por isso que é tão difícil localizar a transição no registro do fóssil.

Wood elogia Berger por descrever o fóssil tão rapidamente. Tattersall diz que Berger foi “incrivelmente aberto” ao deixar outros pesquisadores acessarem seus fósseis ao invés de guardá-los para seu próprio uso, como se sabe que outros paleoantropólogos fazem.

“Diferente de qualquer outra coisa que posso me lembrar nos últimos 40 anos, eles já nos mandaram moldes completos do material que descreveram, e eles estão disponíveis para qualquer pesquisador que queira vê-las”, diz Tettersall.

Tradução: Eloise De Vylder

Fonte:http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2011_09_14&pagina=noticias&id=06840

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