Translate

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Magistério, uma profissão em extinção?

Artigo de Luciano Mendes de Faria Filho enviado ao JC Email pelo autor.

Acabou-se o mês de outubro, tradicionalmente dedicado ao professor, mas o drama destes profissionais e da educação brasileira continua. E, em vários atos:

1º Ato: levantamento do professor João Waldir, coordenador do Colegiado Especial das Licenciaturas da UFMG, uma das maiores universidades do País, mostra que em 1990 "em 2000, dos 17 cursos mais concorridos, seis formavam professores. Em 2012, não há um único curso de licenciatura entre os 15 mais concorridos. Há dez anos, Biologia, História, Pedagogia e Educação Física tinham mais de 20 candidatos por vaga; atualmente, eles têm, respectivamente, 3,5; 4,8; 3,0 e 2,1. Mantida a atual tendência, em cinco anos não teremos candidatos aos cursos de Licenciatura."

2º Ato: "Se eu ganhasse R$712,00 eu ia ser servente de pedreiro", fala de Flávio Castro, do assessor do Lider do Governo na ALMG, aos professores em greve.

3º. Ato: "Mas você é tão inteligente, porque vai fazer licenciatura?", fala que os alunos de graduação ouvem de seus professores de vários departamentos das universidades pelo Brasil afora.

4º Ato: "Antes de mais nada, os relatos deixam claro que as alunas tiveram de vencer o preconceito de suas famílias e de seu meio social mais amplo em relação ao curso de Pedagogia. Via de regra, esse curso não é visto por parentes e amigos como adequado ao perfil social e escolar relativamente alto das alunas." Trecho do texto 'O gosto e as condições de sua realização: a escolha por pedagogia entre estudantes com perfil social e escolar mais elevado', de Claudio Marques Martins Nogueira e Flávia Goulart Pereira, publicado na revista Educação em Revista, em dezembro de 2010.

Ao longo do século XX não foram poucos aqueles que apostaram que as novas tecnologias, do rádio à internet, acabariam por substituir os professores no cotidiano das salas de aula. Neste vaticínio, o magistério acabaria pois os professores seriam substituídos pelas máquinas. O auge desta utopia pode ser vista no filme Matrix em que as pessoas aprendem por meio de uma conexão com o computador! No entanto, ninguém jamais imaginou que a profissão poderia acabar porque as novas gerações deixariam de escolhê-la como uma maneira de ganhar a vida e de contribuir para o desenvolvimento social. Pois não é que no Brasil estamos em vias de ver isto ocorrer?!

Findado o mês dos professores, talvez devêssemos perguntar o que estamos, de fato, fazendo para que o magistério volte a atrair as novas gerações. E, convenhamos, nós somos criativos o suficiente para isto! Vejam, por exemplo, o que fizemos para resolver a falta de engenheiros no país: aumentamos o número de vagas nas universidades, prometemos aos jovens enviá-los para estudar nas melhores universidades do mundo com bolsa pagas pela população brasileira, remuneramos seus estágios dignamente, aumentamos os seus salários, mostramos na mídia a contribuição deste profissional para o desenvolvimento econômico e social do país etc. E aos futuros professores, o que nós todos, como sociedade, e não apenas o Estado brasileiro, prometemos? Cursos em faculdade particulares com duvidosas condições de ensino-aprendizado; um estágio de R$500,00 por 6 horas de trabalho diário; um salário de R$1.187,00 por uma jornada de 40 horas semanais; o escárnio da família, dos seus professores e colegas; e um bom lugar no céu! Amém!

Luciano Mendes de Faria Filho é professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do Projeto Pensar a Educação Pensar o Brasil - 1822/2022.

Uma versão deste texto foi publicada sábado (12), no jornal Hoje em Dia de Belo Horizonte.

Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=80100

Nenhum comentário:

Postar um comentário