Notícias Quarta-Feira, 18 de agosto de 2010
JC e-mail 4076, de 17 de Agosto de 2010.
Desde 2006, grupos de outros países investiram R$ 2,6 bilhões no setor, segundo cálculo da consultoria Hoper
O cenário de crescimento econômico acelerado, carência de mão de obra qualificada, baixa qualidade da educação básica e enorme demanda reprimida por ensino superior atrai cada vez mais investimentos externos para a educação brasileira.
Segundo cálculo da consultoria Hoper, os estrangeiros já investiram R$ 2,6 bilhões desde 2006, por meio dos grupos educacionais Laureate, DeVry, Whitney, Pearson e Santillana, além dos fundos de investimento Advent International, Capital Group e Cartesian Group.
E os segmentos que mais têm atraído esse capital são o ensino superior, os sistemas de ensino (que oferecem material didático e metodologia estruturada para escolas) e o ensino a distância.
A consultoria calcula que empresas e fundos nacionais e estrangeiros dispõem hoje de R$ 4,4 bi para investir em fusões e aquisições no Brasil.
Em 2010, o setor já movimentou pelo menos R$ 1,6 bi em fusões e aquisições, afirma Ryon Braga, da Hoper.
Laureate, DeVry e Whitney -os três grupos universitários estrangeiros que já fincaram os pés no Brasil- afirmam abertamente: querem ir às compras e estão ativamente atrás de novas aquisições.
Estão de olho no grande potencial de crescimento do mercado: são 7 milhões de pessoas formadas no ensino médio, mas sem acesso à universidade, afirma Braga.
Mais 1 milhão engrossa esse grupo a cada ano, estima. E não faltam universidades para serem compradas. Existiam aqui 2.243 instituições privadas de ensino superior em 2009, com metade dos 7,4 milhões de vagas ociosa.
Segundo o presidente da Laureate no Brasil, Luiz Lopez, o país é a prioridade da companhia e o objetivo é crescer em todas as regiões.
O grupo -que tem nove instituições no Brasil, incluindo Anhembi Morumbi- só não atua no Centro-Oeste.
"Há grande população jovem no Brasil e muito otimismo econômico para os próximos 20 anos. É preciso ter uma população educada para sustentar o crescimento."
A DeVry, que em 2009 adquiriu universidades em Salvador e Fortaleza, espera em um ano ampliar sua presença no Brasil adquirindo uma instituição de grande porte no Sudeste, com mais de 15 mil alunos ou faturamento de R$ 100 milhões.
Também estão nos planos da DeVry comprar empresas de até 5.000 alunos no Norte e no Nordeste.
"Queremos executar esse plano o mais rápido possível. A DeVry tem centenas de milhões de dólares para investir em emergentes e o Brasil é onde isso está mais avançado", diz o presidente do grupo no Brasil, Carlos Degas.
A Whitney, dona da Unijorge, em Salvador, procura empresas de médio porte para aquisição em todo o país. O grupo está mudando seu nome globalmente para American University System.
Mas, assim como a Laureate e a DeVry, o CEO da Whitney no Brasil, João Arinos, ressalva: o grupo não quer crescer a qualquer custo e busca grupos de prestígio.
Especialistas também apontam Anhanguera, Kroton, Estácio e SEB como consolidadoras do setor. São empresas de capital aberto, originalmente brasileiras, mas cujas ações pertencem majoritariamente ou em grande parte a fundos estrangeiros.
Marcos Boscolo, sócio da KPMG Brasil, lembra que as quatro tinham em março R$ 680 milhões em caixa.
"Este é um ano de retomada de aquisições no setor. Há dois fundos analisando ativos em contato conosco, um nacional e um estrangeiro."
Cai o ritmo de crescimento do ensino superior
Apesar de as grandes empresas nacionais e estrangeiras enxergarem enorme potencial no mercado de educação, o ritmo de expansão do ensino superior vem caindo.
Segundo a Semesp, o número de instituições privadas saltou 148% de 1999 a 2009. No entanto, o ritmo de alta caiu de 15% entre 2000 e 2004 para 5% nos outros cinco anos.
Os motivos são a carência de financiamento e a baixa qualidade da educação básica, que forma pessoas despreparadas.
Com isso, apenas 14% dos jovens de 18 a 24 anos estavam na universidade em 2009. A meta do governo era elevar esse percentual para 30% em 2010.
A expectativa da Hoper é que o faturamento das empresas (R$ 25 bilhões em 2009) cresça 5% nos próximos três anos.
O Morgan Stanley projeta crescimento de 5% a 6% para o setor nos próximos anos. Segundo o banco, uma expansão mais acelerada depende de como será aplicado o dinheiro do Fundo Social a ser criado com recursos do pré-sal.
Ryon Braga, da Hoper, sugere que o governo crie um fundo de garantia para financiamento privado, o que derrubaria os juros.
"É melhor do que criar novas universidades públicas com custo médio anual de R$ 24 mil por aluno, ante média de R$ 5.000 no setor privado. As privadas estão com vagas sobrando."
Educação básica ruim cria oportunidades de negócio
A baixa qualidade da educação básica no Brasil transformou os sistemas integrados de ensino numa enorme oportunidade de negócios. Desde julho, três aquisições foram anunciadas.
O crescimento da adoção dos sistemas pelas escolas -principalmente as públicas, onde estão cerca de 90% dos 52,5 milhões de alunos- é o que atrai investimentos.
"O segmento tem potencial explosivo. Os sistemas produzem melhora significativa no ensino e hoje há maior demanda por educação de qualidade", diz Gustavo Ioschpe, especialista em economia da educação.
Com a aquisição dos sistemas de ensino da SEB, a Pearson entrou no mercado atendendo 450 mil alunos, metade no ensino público.
A meta é estender esse número para 1 milhão em cinco anos e agregar ao material didático tecnologias de ensino a distância que a Pearson usa na Europa e nos EUA. O grupo já mira novas aquisições.
"É um mercado de US$ 2 bilhões, um dos maiores do mundo", resume o presidente da Pearson na América Latina, Juan Romero.
Quando a Abril Educação incorporou o grupo Anglo, seu presidente, Manoel Amorim, disse que a meta da empresa é continuar comprando e quintuplicar sua receita em cinco anos, atingindo a marca de R$ 2,5 bilhões, atual faturamento da Abril.
Na segunda-feira (16/8), o BR Investimentos aportou R$ 226 milhões na Abril Educação, tornando-se acionista minoritário.
Na última semana, o fundo de capital nacional Buffalo Investimentos assinou um memorando para comprar por R$ 72,5 milhões o Universitário. A empresa, no entanto, continuou nas mãos de seu diretor-superintendente, Alexandre Scolfaro, que passou a ser o principal acionista do fundo.
"Temos R$ 900 milhões para comprar 15 grupos em um ano. Queremos passar de 45 mil alunos para 300 mil."
(Mariana Schreiber)
(Folha de SP, 17/8)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=72870
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