“O jornal cumpriu o seu papel inicial que foi o de provocar a competição pela notícia. Nós tínhamos um repórter ao lado do presidente o dia inteiro, mas para humanizar as notícias dele, porque as notícias vinham oficiais, era um resto de censura, era o hábito da censura.
A coluna se tornou tão importante que deu um editorial no ‘Correio da Manhã’, o que na época era uma consagração, chamava-se ‘O Dia do Presidente’. Essa Nova Instituição da Imprensa Brasileira. Os jornais estrangeiros preferiam tirar a notícia do ‘Dia do Presidente’ e não da Agência Nacional.”
Publicadas na Folha de S.Paulo em 14 de janeiro de 1979, as palavras acima são do jornalista Samuel Wainer. Ele se referia ao jornal Última Hora (UH), fundado por ele em 1951 no Rio de Janeiro. Um dos periódicos brasileiros mais importantes em meados do século passado, o Última Hora entrou para a história pelas polêmicas nas quais se envolveu e por ter ajudado a renovar o modo de fazer jornalismo no Brasil.
Jornal Última Hora tinha forte apelo popular e representou uma inovação para a imprensa nacional
Você, leitor, agora pode viajar mais nessa história – e, por consequência, na da imprensa nacional e do próprio País – consultando um acervo de 54.600 fotos e 1.200 ilustrações do jornal que o Arquivo Público do Estado de São Paulo colocou na internet.
As imagens compreendem um período de cerca de 20 anos da edição carioca do Última Hora – de 1951 a 1970. O jornal também teve edições em outros estados, como São Paulo.
Vem mais por aí
O trabalho de digitalização ainda está em andamento. Segundo o Arquivo Público, o objetivo é chegar a um total de 600 mil imagens digitalizadas nos próximos anos – não há previsão de quando o projeto estará concluído.
Estreia de Roberto Carlos na TV Tupi, 1968
As imagens agora colocadas para acesso gratuito na web se somam às edições digitais do Última Hora. As versões digitalizadas estão no site desde 2008 e foram patrocinadas pela AMD. Foram digitalizadas 36.000 páginas, o que abrange 60 meses de jornal.
Já o tratamento de conservação preventiva e a digitalização das imagens, para usar o jargão dos técnicos, resulta do Projeto Última Hora – Acervo fotográfico, do Centro Iconográfico e Cartográfico do Arquivo Público. Essa iniciativa começou em 2007.
No total, o Fundo Última Hora, que é administrado pelo Arquivo Público do Estado de Paulo, contém 166 mil fotografias, 500 mil negativos, 2.223 ilustrações e uma coleção de edições da Ultima Hora do Rio de Janeiro entre os anos de 1951 e 1970, em papel ou microfilme.
Ao lado Getúlio Vargas e contra Carlos Lacerda
O Última Hora inovou tanto nos temas destacados na cobertura como pela forma como o fazia. O jornal trazia assuntos tradicionais (política, economia, internacional) no primeiro caderno, enquanto no segundo caderno o espaço era para esportes, divertimento e reivindicações populares. Cobertura policial também recebia atenção. Essa combinação foi um dos segredos para o sucesso de público do UH.
Foto de cobertura policial, tema bastante abordado pelo jornal, que destacava assuntos populares
“Considerado assunto menor em outros jornais, justamente por ser um tema por demais ligado às classes populares, o futebol foi alçado a assunto de primeira grandeza na UH justamente por promover o diálogo e estabelecer uma proximidade com o povo. Um dos momentos em que essa escolha foi levada ao extremo foi exatamente a Copa do Mundo”, consta no site do Arquivo Público.
Renovação estética
A questão gráfica também não ficava atrás. Samuel Wainer investiu na diagramação, no uso da cor, da fotografia e ilustrações. Como parte do projeto de valorização estética, as ilustrações não se restringiam apenas à política, algo já comum na época, mas também à arte, cultura e comportamento.
Pelé e outros esportistas eram personagens frequentes das ilustrações
“Eu trouxe o diagramador, criei a valorização do repórter, individualizei a função do fotógrafo, estruturei a cobertura de massa, enfim, uma série de coisas – que representam toda a criação de uma equipe, porque ninguém cria nada sozinho em jornal”, disse Samuel Wainer na já citada entrevista à Folha.
Amigo de Vargas, Samuel Wainer recebeu apoio do governo para montar o jornal
A criação do jornal foi estimulada pelo então presidente Getúlio Vargas, de quem Samuel Wainer era aliado de primeira hora. Carlos Lacerda, rival político feroz de Getúlio e Wainer, promoveu campanha contra o Última Hora sob a alegação de que o jornal foi fundado com empréstimo fraudulento do Banco do Brasil. Disso resultou uma CPI no Congresso, uma boa dose de polêmica e um dos capítulos mais movimentados da imprensa brasileira.
Acesse
http://www.arquivoestado.sp.gov.br/
para ver o acervo do Última Hora.
Fonte:http://idgnow.uol.com.br/blog/navedigital/2010/09/09/acervo-do-ultima-hora-na-web-e-passeio-pela-historia-do-brasil-no-seculo-xx/
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