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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Obesidade cerebral

JC e-mail 4092, de 09 de Setembro de 2010.



Falha em neurônios seria a principal causa de ganho de peso induzido por dieta

A força de vontade está menos implicada na propensão à obesidade do que se pensa. Um novo estudo multicêntrico, liderado por cientistas australianos, descobriu que uma falha na conexão entre neurônios pode ser a responsável pelos quilos a mais, especialmente em pessoas submetidas à dieta rica em gorduras. Segundo os autores, o defeito leva células do cérebro a não reconhecerem sinais vitais que informam quando o organismo está satisfeito.

Na pesquisa internacional coordenada por Michael Cowley, do Instituto de Diabetes e Obesidade da Universidade Monash (publicada na edição on line da revista "Proceedings of National Academy of Sciences"), os cientistas observaram que células de apoio no cérebro de roedores desenvolveram um crescimento anormal quando eles receberam alimentos ricos em gordura por quatro meses. Isso impediu que células cerebrais regulares (o sistema melanocortina ou neurônios POMC) se conectassem com outros mecanismos neurais, que determinam a saciedade e o gasto de energia.

Nessa experiência, os animais com uma predisposição neural à obesidade ganharam 30% mais peso em comparação com 6% do grupo de camundongos e ratos com células resistentes à obesidade.

- Esses circuitos neurais regulam os comportamentos alimentares, o gasto energético e fazem parte de um processo que ocorre naturalmente no cérebro - explica Cowley - E eles começam a se formar no início da nossa vida. Acreditamos que as pessoas podem apresentar a tendência para a obesidade mesmo antes de comerem a sua primeira refeição.

No estudo, foi visto que consumir alimentos gordurosos provocou ainda mais o isolamento das células nervosas, tornando mais difícil para o cérebro auxiliar a perda de peso.

- As pessoas obesas não têm, necessariamente, falta de força de vontade para deixar de comer. Os seus cérebros não sabem quão cheio o corpo está ou quanta gordura foi armazenada, então o cérebro não avisa ao organismo para interromper o abastecimento - comenta Cowley. - Em razão disso, a habilidade de o corpo perder peso é significativamente reduzida.

Tamas Horvath, professor de neurobiologia, obstetrícia e ginecologia na Universidade Yale, também participou da experiência e explica que os animais que se tornaram obesos já apresentavam uma diferença importante na área do cérebro dedicada ao controle da saciedade.

Um risco maior de inflamação

Em animais resistentes à obesidade, os neurônios indicadores da saciedade são muito mais ativos e, portanto, sempre estão prontos para enviar os sinais de satisfação ao resto do cérebro e aos tecidos periféricos quando uma pessoa ingere a quantidade de comida suficiente para se manter.

- Esse circuito é um fator determinante na predisposição de cada indivíduo ao ganho de peso - acrescenta Horvath.

E há outras consequências dos mecanismos cerebrais alterados. Os indivíduos vulneráveis à obesidade induzida pela dieta também desenvolvem inflamação cerebral. Algo que não acontece com as pessoas resistentes.

Mas os médicos dizem que a genética por si só não é a causa da epidemia de obesidade no mundo. Os maus hábitos alimentares contribuem muito. No Brasil, quase metade da população adulta, com 20 anos de idade ou mais, está acima do peso, sendo que cerca de 15% desses são obesos, segundo o IBGE. Na Europa, o excesso de peso é associado a 8% de diversos tipos de cânceres, como o de mama.
(O Globo, 9/9)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=73362

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