Cientistas descobrem anticorpos que atacam vírus antes que ele domine células
Num avanço que beneficiará milhões de pessoas, cientistas mostraram pela primeira vez que o sistema de defesa do corpo pode destruir o vírus do resfriado comum depois que este invade uma célula humana; um feito que, até agora, se imaginava, impossível. Não existem drogas específicas contra o resfriado - todas combatem os sintomas.
A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de uma nova classe de drogas antivirais capazes de reforçar o mecanismo natural de eliminação de vírus dentro das células.
Os cientistas acreditam que os primeiros testes clínicos com novos medicamentos podem começar dentro de dois a cinco anos.
Segundo os autores, muitos outros vírus responsáveis por uma série de doenças também podem ser alvo da nova abordagem. Entre eles estão o norovírus, que causa infecção gástrica, e o rotavírus, responsável por diarreia grave.
Os vírus são os maiores assassinos da Humanidade, causadores de duas vezes mais mortes do que o câncer, essencialmente porque podem ficar dentro das células, escondidos das defesas imunológicas. Porém, o estudo realizado por uma equipe do Laboratório de Biologia Molecular da Universidade de Cambridge mostrou que a teoria sobre os limites do sistema imunológico era errada. Anticorpos antivirais podem entrar na célula e desencadear uma rápida destruição do invasor.
- Em qualquer livro de imunologia você vai ler que uma vez que um vírus toma conta de uma célula, já era - disse Leo James , que liderou a equipe da pesquisa, publicada na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences".
Mas a equipe de James descobriu que anticorpos produzidos pelo sistema imunológico, que reconhecem e atacam os vírus invasores, na verdade, pegam carona para o interior da célula com o vírus invasor.
Uma vez dentro da célula, o anticorpo é reconhecido por uma proteína que ocorre naturalmente, chamada TRIM21. Esta por sua vez aciona um poderoso mecanismo de destruição do vírus, eliminando o inimigo dentro de duas horas. Isto ocorre antes que o vírus tenha a chance de seqüestrar a célula para começar a fazer suas próprias proteínas.
- Esta é a última oportunidade que uma célula tem antes de ser infectada - explicou James. - O anticorpo é anexado ao vírus e, quando o invasor é sugado para dentro da célula, o anticorpo permanece colado nele. Não há nada nesse processo que o derrube - E tudo que está ligado ao anticorpo é reconhecido como estranho e destruído.
Antes se pensava que os anticorpos do sistema imunológico trabalhavam totalmente fora das células, no sangue e em outros fluidos extracelulares do corpo.
Novo spray nasal seria mais eficaz
Agora, os cientistas sabem que há uma outra frente de defesa no interior das células humanas. E talvez seja possível melhorar essa defesa natural e evitar suas falhas.
- O bom é que para cada caso de infecção, há também uma oportunidade para os anticorpos nas células agirem - disse James. - Este sistema lembra uma emboscada.
Uma possibilidade é que a proteína TRIM21 possa ser usada num spray nasal para combater os diversos tipos de vírus que causam o resfriado comum, como rinovírus.
(Steve Connor, do Independent)
(O Globo, 3/11)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=74467
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