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sexta-feira, 21 de outubro de 2011
AINDA VALE A PENA SER PROFESSOR?
Fonte: Igor Vitorino da Silva(*)
Sempre que se aproxima o dia dos professores uma explosão de discursos circula nos diferentes meios de comunicação e espaços sociais exaltando a data, que discutem as questões políticas, profissionais e sociais que envolvem o exercício da docência no mundo contemporâneo, sem falar nos inúmeros eventos festivos, e de diversas naturezas, realizados em homenagem a este profissional. Todavia, no meio desse tempo comemorativo, uma pergunta pulsa e ecoa mais alto: Vale a pena ser professor?
E a resposta desse dilema revela a maneira pela qual os professores enxergam o lugar social da sua profissão (e reagem à visão social da profissão), o que pensam e sentem da sua experiência de trabalho, assim como pode conforme a resposta por em risco a continuidade da carreira do magistério, já que pode ter forte impacto sobre a geração futura de professores, ou melhor, sobre a reposição do estoque de profissionais no mercado. As intensas políticas de estimulo à formação e as qualificações de professores desenvolvidas pelos governos estaduais, municipais e federal denunciam abertamente o peso dessa problemática para educação brasileira.
É claro que a resposta a esse dilema depende muito da trajetória de cada docente, da região onde leciona das esferas de governo, nível de ensino em que trabalha das condições de trabalho e do salário que recebe. Mas mesmo levando em consideração todas essas variáveis, a resposta geral tende a ser principalmente para quem atua no ensino fundamental e médio de rede de ensino pública, e até da rede de ensino particular, é não. Causa pavor e escândalo geral, até mesmo entre os professores, quando se ouve alguém dizer que vai fazer licenciatura na universidade, pois sonha em ser professor. Você deve estar louco, não faça isso com sua vida, exclamam as pessoas.
Essa reação não nasce de uma mera maldade ou por falta de corporativismo profissional, mas do receio em saber que outra pessoa deseja passar pelas mesmas agruras e dificuldades que passou. Como aceitar que alguém queira entrar numa carreira marcada, apesar de toda retórica política contemporânea da valorização, pela precariedade das condições de trabalho, baixos salários, valorização da diplomação em detrimento a formação (os famosos estímulos 'informais' à promoção automática para garantir índices e verbas, com a imagem pública de pais alfabetizado e escolarizado), ameaças e riscos de violência na escola.
Não se pode esquecer, também, das salas de aula superlotadas, das dificuldades para planejamento e reflexão da prática profissional, dos estudantes com toda sorte de problemas sociais, dos autoritarismos e dos abusos de poder dos sistemas escolares, da sensação de fracasso (frustrações das expectativas do trabalho docente, de trabalho não-realizado), da desconsideração social pela profissão e da submissão a uma mega-carga horária diária para conseguir sobreviver. Ser professor virou profissão secundária, bico ou 'trampolim', não é uma carreira para se seguir. Como dizer pro outro que deseja escolher o magistério como atividade que essa experiência é boa.
Os cursos de licenciatura continuam sendo vistos como cursos direcionados aos pobres e muitos que estão neles querem estar longe de uma sala de aula, pensam num concurso público ou em se preparar para outro vestibular, e o único magistério que os seduz é o do ensino superior. É óbvio que se as licenciaturas vislumbrassem bons salários, conselhos profissionais reguladores, autonomia no exercício da atividade profissional, monopólios de carreiras privilegiadas no Estado e status social, os certamente pobres teriam grande dificuldade para entrar nesses cursos, assim como a criação desses encontraria grande objeção de setores sociais. Não se deseja aqui negligência os profissionais que mesmo com todas as dificuldades e tragédias se dedicam ao trabalho educacional com profissionalismo e dignidade, buscando construir um ensino de qualidade, mas apenas indicar o desafio da seleção positiva para o magistério.
Quando a Escola não era de todos, inclusive a escola pública, o magistério exalava glamour, prestígio e status, os professores eram respeitados e reconhecidos, eram importantes 'autoridades morais' da 'comunidade' e peças das relações de poder (principalmente, no interior do país). Por isso mesmo, em sua grande maioria, era requisitado dos quadros das camadas médias e elites, apesar de o magistério ter sido 'espaço' estratégico para a mobilidade social ascendente e descendente a história do país. Na medida em que a escola vai se ampliando para as camadas populares (tomando com referência os anos 70, de forte
industrialização e urbanização, que impôs uma forte demanda por serviços educacionais nos grandes centros urbanos), as classes médias foram se refugiando no ensino privado e os professores se constituindo numa grande massa de assalariados do Estado (que tinha uma grande presença população feminina) e as condições de trabalho foram se precarizando, salários sendo arrochados, a qualidade do ensino declinando e o prestígio e reconhecimento social se diluindo, transformando a defesa e a luta pela Educação Pública, gratuita e de qualidade na grande bandeira dos movimentos sociais, em especial daqueles de luta do magistério.
Assim, o dia dos professores é um dia de desafio, que impõe à sociedade e ao Poder Público o engajamento e o compromisso em fazer da docência uma profissão que valha a pena, não somente para parcela ínfima dos professores brasileiros, mas para toda a categoria. E esse desafio tem como pressuposto incondicional a luta pela re-afirmação da educação como Direito e a re-apropriação do controle das condições de trabalho docente e da organização política (sindical e profissional) dos professores, que são o terreno fértil para construção de novos valores, ideais e imagens sobre a Educação, a Escola e sobre o trabalho docente. Os professores no seu dia desejam mudanças não somente no reconhecimento público de sua profissão, mas também nas condições materiais de sua existência. Desejam melhores condições de vida e de trabalho como qualquer trabalhador, justamente, para poderem dizer: Valeu a pena ser professor!
Uma Homenagem aos professores que apesar da voz embaçada e rouca ainda continuam a encontrar sentido no seu trabalho, em especial para aos profissionais da Educação que trabalham na APAE-NOVA ANDRADINA QUE COMPLET0U 30 ANOS DE PROFISSIONALISMO E CARINHO DEDICADA À COMUNIDADE LOCAL.
(*)IGOR VITORINO DA SILVA, Professor do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul-IFMS, Campus Nova Andradina. Professor, historiador e especialista em Segurança Pública. Investiga o campo dos Estudos Urbanos e História da Cidade e do Urbano.
Lattes:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4778855U9&mostrarNroCitacoesISI=true
Fonte:http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2011_10_20&pagina=noticias&id=06943
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