Por Paul Venezia, da InfoWorld/EUA
Publicada em 05 de julho de 2010 às 08h00
A ideia de entregar informações à cloud computing é de tirar o sono - a não ser que seja para a Google.
Não é a primeira vez que a questão vem à tona, mas as dúvidas e desconfianças que cercam a computação em nuvem me levam a perguntar por que parecemos considerar a nuvem da Google mais confiável que as outras.
Ninguém bate mais na tecla na cloud computing que a Google: Gmail, Google Docs, Google Apps, Google isso, Google aquilo. Tudo tem como base um esquema de recursos remotos e uma bolha amorfa de processamento que entrega tudo que pensamos em procurar, aceita todo documento que criamos, e envia nossos e-mails e mensagens instantâneas.
E, diferentemente de outros provedores de serviços de cloud, a Google parece ser bem aceita em seu papel, enquanto outras empresas inspiram ceticismo.
A maioria das pessoas já ouviu o lema da empresa, “Don't be evil” (não seja má), que aliás tem sido desafiado cada vez mais, da submissão à censura na China à captura de dados em redes sem fio por carros do Google Street View. Em sua defesa, a Google diz que esse último episódio não foi intencional, mas isso não a livrou do caldeirão de água fervente que a situação criou.
Mesmo assim, a Google deu um passo adiante. Para alimentar o Google Places, a empresa tem instalado câmeras em certos locais e áreas públicas, para que você possa ver o interior de um restaurante antes, digamos, de aparecer lá para um jantar. E isto parece perfeitamente normal para a maioria das pessoas.
Fico imaginando: e se a Microsoft ou a Oracle tentasse algo semelhante? Seria tudo na paz e no amor, ou as pessoas escolheriam alguém na Oracle, com olhos esbugalhados e rosto enrugado, para atirar pedras?
De alguma forma a Google convenceu o mundo que ela não é, de fato, má. E isso apesar de a Google ser a força mais poderosa na Internet hoje – uma posição que empresas com diferentes personalidades corporativas poderiam usar como um rolo compressor.
Mas a Google caminha com cautela e não dá a situação por garantida. A famosa página inicial continua livre de anúncios e poluição – um design tão adorado que, quando a empresa introduziu o recurso de imagem de fundo há algumas semanas, a Internet manifestou-se violentamente, e a situação foi revertida rapidamente.
Mas protestar contra imagens de fundo é como reclamar ao guarda da prisão sobre a qualidade da comida: você ainda estará trancafiado, mesmo que a consistência de seu pudim melhore.
Recentemente, notei o quanto o Facebook sabe sobre você, mas não se engane: a Google também sabe muito. Com base em sua informação de IP, eles conhecem suas buscas, naturalmente, mas eles também sabem tudo que você faz com as ferramentas Google.
Planeja viajar? Eles sabem onde você vai e como chegará lá, se usar o Google Maps. Correlacione tais informações com palavras-chave em sua conta de Gmail e você poderá determinar horários, acompanhantes, destinos específicos, a coisa toda. Use o Google Maps em seu smartphone e, tecnicamente, eles poderão até acompanhar seu trajeto.
Dada a paranoia sobre muitas outras intrusões, como vigilância do governo, chefes bisbilhoteiros, ladrões de identidade, o que for, é incrível como a Google tem passado ilesa. Nós aceitamos o doce, e em troca abrimos mão de níveis importantes de privacidade para alguma entidade corporativa gigante que, inexplicavelmente, acreditamos que não nos trairá.
Talvez confiemos na Google porque ela tenha sido benevolente no passado – em não visar lucro quando poderia ter feito, em valorizar o código aberto nessa ou naquela situação, e na oferta de benefícios caprichosos a seus funcionários.
É verdade que, de vez em quando, nós suspiramos e dizemos “opa, essa foi do mal”. Mas, num senso estrito, a empresa não chegou a prejudicar tanta gente a ponto de arranhar sua imagem pública. A ideia de que a Microsoft – ou mesmo a Apple – possa dizer o mesmo é quase cômica.
A Google também tem em seu benefício uma postura de disponibilidade permanente. Alguém pode se lembrar da última vez que o Google Search esteve fora do ar? Alguns aplicativos podem ter passado por situações ruins no passado – principalmente o Gmail – mas a página principal da Google esteve sempre lá, a serviço, e tão rápida quanto se queira.
E essa confiabilidade impecável pode ter muito mais a ver com a confiança que as pessoas depositam na Google, com seus detalhes pessoais, fotos, vídeos e o resto todo, do que qualquer outra coisa.
Quanto a mim, não confio na nuvem. Nem sei se um dia confiarei. Ainda assim, tenho uma conta Gmail e uso Google Maps e diversas outras ferramentas Google o tempo todo. A essa altura da evolução da Internet, é impossível não usá-los. Vamos esperar que aqueles que controlam nossas informações possam realmente merecer essa confiança e façam a coisa certa.
Porque esperança, no fim das contas, é tudo que podemos ter.
Fonte:http://idgnow.uol.com.br/seguranca/2010/07/05/por-que-confiamos-tanto-na-google/paginador/pagina_3
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