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sábado, 2 de outubro de 2010

China testa limite de viagem ao fundo do mar

Projetista de minissubmarino chinês nega segredo e diz que nave é fruto de cooperação

Nem segredo de Estado nem uma nave para ser usada para pressão em disputas territoriais e militares. Segundo Weicheng Cui, projetista-chefe do novo minissubmarino chinês que pretende chegar a 7 mil metros e bater o recorde de profundidade para embarcações do tipo, ele é fruto de extensa cooperação internacional e deverá ser usado principalmente em projetos de investigação científica e de levantamento de recursos naturais no fundo dos oceanos.



Batizado Jiaolong, um dragão marinho mítico, o minissubmarino, do tamanho aproximado de um caminhão e com capacidade para três tripulantes, começou a ser construído há oito anos e cerca de 40% de suas peças foram fabricadas fora da China.



- O projeto ainda não está terminado. Precisamos superar muitos desafios, tanto ligados ao design quanto aos componentes - diz Cui, que na semana passada participou no Rio do 11º Simpósio Internacional em Projetos de Navios e Plataformas Flutuantes, organizado pela Coppe/ UFRJ.



- E também não houve segredo nenhum. Desde o início mantivemos contato com especialistas de todo mundo. Um projeto desses seria impossível de ser realizado sem as informações de experiências anteriores e a cooperação de empresas de outros países. O Jiaolong é um feito coletivo internacional.



De acordo com o projetista, para novos testes a China também terá de recorrer à ajuda de outros países. No fim do mês passado, o submarino desceu a 3.759 metros de profundidade no Mar do Sul da China, dentro da área do mar territorial chinês, e fincou uma bandeira no fundo do oceano. Com o feito, a China tornou-se o quinto país a ter tecnologia para ultrapassar a marca dos 3,5 mil metros, junto com EUA, França, Rússia e Japão.



- Não estamos fazendo testes próximos de áreas em disputa e evitando todo tipo de questões políticas. Afinal, somos cientistas - esclarece. - Colocar a bandeira no fundo do mar foi apenas uma das ações deste último teste. Queríamos que o piloto treinasse o uso do manipulador, e fincar uma bandeira é uma operação delicada o bastante para servir como prova.



Cui conta que, para descidas mais profundas, será preciso escolher áreas do oceano fora da soberania chinesa. A intenção é, no ano que vem, bater na casa dos 5 mil metros e, em 2012, chegar ao limite previsto para o equipamento, de 7 mil metros.



- As variáveis que enfrentamos nos testes são muito grandes e ainda temos que depender de locais disponíveis para eles - diz. - Como a profundidade máxima no Mar do Sul da China é de 4 mil metros, para o teste de 5 mil metros vamos ter que escolher outro local. Provavelmente será numa área próxima ao Havaí onde a China tem autorização para explorações - acrescenta o projetista, numa referência a contrato que a agência chinesa China Ocean Mineral Resources Association (Comra), que encomendou e financia a construção da embarcação, com gastos de US$ 50 milhões até o momento, tem com a International Seabed Authority, organismo autônomo que administra a exploração econômica do leito oceânico em águas internacionais sob a Convenção da ONU sobre o Direito do Mar de 1982.



Segundo Cui, cedo ou tarde a China e mesmo a Humanidade como um todo vão depender da exploração dos recursos naturais do fundo do mar como forma de enfrentar seu esgotamento em terra firme. Por isso, o Jiaolong está sendo projetado para alcançar mais de 99% da área do fundo do oceano.



- Sabemos mais sobre o espaço do que sobre o fundo do mar, que também guarda muitas informações sobre o processo de formação da Terra e a origem da vida no planeta - explica. - Além disso, 70% da Terra são cobertos pelos oceanos e eventualmente vamos precisar dos recursos escondidos neles.

(César Baima)

(O Globo, 29/9)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=73777

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