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sábado, 2 de outubro de 2010

Muitos doutores, pouca inovação

Brasil forma 12 mil doutores por ano e taxa de empregabilidade é de 75%, mas esses profissionais ainda não estão gerando inovação tecnológica enquanto negócio nas empresas

O Brasil vem construindo um dos sistemas mais robustos de Educação Superior e de Ciência e Tecnologia (C&T) do mundo, mas ainda não está conseguindo apropriar-se amplamente desta conquista. Isso por conta de um grande descompasso entre a baixa capacidade de inovação das empresas e a alta competência científica das universidades brasileiras, mensurada pela crescente formação de alunos de pós-graduação, especialmente doutores.



O cenário foi apresentado na conferência "Mercado de Trabalho Para Recém-Doutores", proferida por José Oswaldo Siqueira, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq), na manhã desta terça-feira (28/9), na Reunião Regional da SBPC em Lavras (MG).



O docente da Universidade Federal de Lavras (Ufla), que falou sobre o papel das universidades no desenvolvimento tecnológico nacional, explicou que a pesquisa acadêmica contribui com novas descobertas, teóricas ou empíricas, mas raramente gera invenções específicas.



Atualmente no Brasil, explicou, é alta a demanda por doutores no mercado de trabalho.



"Formamos, por ano, quase 12 mil doutores no Brasil e publicamos cerca de 40 mil artigos em revistas especializadas. A taxa de empregabilidade desses doutores é da ordem de 75%, sendo que os setores público e o da educação são os principais empregadores. Temos um mercado potencial para os doutores no país, mas eles ainda não estão fazendo pesquisa e desenvolvimento (P&D) que gere inovação tecnológica enquanto negócio nas empresas", apontou.



Siqueira divulgou um levantamento que mostra uma realidade inversa. De uma amostra de 3 mil empresas situadas no Vale do Silício, nos Estados Unidos, apenas 20 utilizaram tecnologias obtidas na academia, mais especificamente na Universidade de Stanford. "Em linhas gerais, apenas 10% dos novos produtos ou processos introduzidos pelas empresas americanas têm contribuição imediata de pesquisas acadêmicas", disse.



Os países desenvolvidos formam entre 30 e 45 mil doutores por ano e a grande parte é empregada no setor privado. Nos Estados Unidos, cerca de 90% das inovações nascem nas empresas a partir de investimentos próprios em P&D.



"A grande questão é que a maioria dos pós-graduandos brasileiros ainda dá preferência por carreiras nas universidades. A formação de tantos doutores e as altas taxas de empregabilidade no Brasil ainda não resultam em inovação porque esses profissionais ainda não estão nas empresas. Somente 8,4% dos grupos de pesquisa do CNPq relatam relacionamento com empresas", afirmou.



Além da falta de interesse dos recém-doutores, Siqueira apontou outras três causas da baixa quantidade de doutores nas empresas brasileiras: fraca visão estratégica para pesquisa e desenvolvimento (P&D) dos empresários, perfil de formação acadêmica dos doutores é muito restrito e custo elevado para contratação desses profissionais.

(Thiago Romero, da Assessoria de Imprensa da SBPC)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=73760

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