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terça-feira, 10 de maio de 2011

Uso do computador ainda assusta professores



Pesquisa em escolas municipais do Rio mostra que 53% dos docentes têm dificuldades de lidar com tecnologia.

Em pleno século 21, o mundo virtual ainda é um território que causa medo em muitos professores. Uma pesquisa realizada em parceria pela Secretaria municipal de Educação do Rio, pelo Instituto Oi Futuro e pelo Ibope com 5.505 docentes revela que mais da metade deles (53%) admitiu ter dificuldades em lidar com tecnologia na escola por várias razões. Entre 1.532 diretores de colégios entrevistados, a porcentagem também foi de 53%. O levantamento ouviu 25.145 alunos: 40% disseram ter problemas para usar a informática nas unidades de ensino.

- Até há pouco tempo, havia uma relação de poder onde o professor era o detentor da informação. Era uma via de mão única. O que estamos notando agora é que os alunos estão um pouco à frente dos docentes, mais familiarizados com tecnologia. E os professores ainda não estão preparados para a aplicação pedagógica. Esse descompasso revela a necessidade de um processo de treinamento e acompanhamento dos profissionais - comentou o vice-presidente do Instituto Oi Futuro, George Moraes.

Entre os professores, 35% disseram usar bastante a tecnologia em sua profissão, mas admitiram ter dificuldades em aproveitar seu potencial; 11% alegaram simplesmente não usar por falta de habilidade; outros 7% informaram não usar por outros motivos como falta de interesse ou acesso. Já entre os alunos, só 18% disseram usar muito a tecnologia, mas com dificuldades. Apenas 3% assinalaram não usar a informática por falta de habilidade. A maioria, 19%, apontou problemas como falta de interesse ou acesso para não usufruir a tecnologia.

Apesar de acusarem a falta de habilidade, os docentes querem aprender: 83% apontaram os cursos de informática como os mais importantes para o aperfeiçoamento da sua atuação profissional. A pesquisa foi realizada entre maio e julho de 2010 e só foi divulgada agora, como parte da preparação para um projeto ousado da prefeitura do Rio.

Com apoio do Oi Futuro e do Ministério da Educação (MEC), o município começou este ano a implementar em todas as turmas de segundo segmento do ensino fundamental
(6º ao 9º ano) um sistema de aulas digitais: o Educopédia. O investimento total é de cerca de R$ 30 milhões, e o objetivo da Secretaria municipal de Educação é chegar até o segundo semestre com o programa completo em 430 unidades.

Professores já têm projetores nas salas de aula - Hoje, mais da metade das escolas com segundo segmento já está utilizando as aulas digitais. Foram instalados nas salas de aula projetores em que os professores expõem o conteúdo do site (www.educopedia.com.br). Elementos como vídeos e jogos auxiliam nos conteúdos das disciplinas. Os docentes têm material disponível para uma aula por semana.

Na Escola Municipal Epitácio Pessoa, no Andaraí, na Zona Norte, a professora de matemática Maria Helena Ferreira Moreira é uma das entusiastas da tecnologia, mas admite que muitos colegas ainda têm resistência.

- É preciso entender o novo papel de mediador na sala de aula. A tecnologia é um instrumento dinâmico, atrativo, que envolve o aluno e o motiva mais - destacou Maria Helena.

A intenção da Secretaria de Educação é que cada aluno possa realizar as atividades do Educopédia em seu próprio netbook. Os equipamentos já começaram a chegar a algumas escolas. Na Epitácio Pessoa, repórteres do Globo acompanharam na última quarta-feira a primeira turma da unidade, de 6º ano, que trabalhou com os computadores. A alegria foi tanta que foi difícil convencer os alunos a irem para o recreio.

A ousadia de colocar um computador para cada aluno emperra em dificuldades. A prefeitura teve que cancelar o contrato de internet de alta velocidade nas escolas porque a empresa não conseguiu cumpri-lo. Até o meio do ano, deve ser feita uma nova licitação. A conexão é fundamental no projeto. Por uma nova plataforma que está sendo desenvolvida, será possível até que cada aluno tenha um caderno virtual, onde poderá responder a provas objetivas, que poderão ser corrigidas automaticamente. Cada estudante já está recebendo uma senha de e-mail que será a sua assinatura no Educopédia.

Computadores chegam, mas são pouco usados - Além da resistência de alguns professores, o uso da tecnologia esbarra em outros problemas. Única unidade da cidade do Rio a ser contemplada com o programa federal Um Computador para Cada Aluno (UCA), a Escola Municipal Madrid, em Vila Isabel, recebeu em 2010 cerca de 340 netbooks. No entanto, pouco mais de 30 estão em uso. Desses, três já quebraram.

- Recebemos os computadores, mas só veio um armário especial, usado para carregá-los de energia, cedido pela prefeitura do Rio. Sem esse equipamento, não vamos poder usar mais computadores. A carga é de apenas duas horas - diz a diretora Marina Campos Kickinger, que ainda afirma que vem tendo dificuldades com o suporte técnico dos netbooks.

Mesmo com dificuldades, duas turmas da unidade já estão trabalhando com os computadores. Numa primeira etapa, professores e agora estudantes estão sendo capacitados. Como cada aluno tem o seu netbook, é possível até personalizá-lo. Na rede estadual do Rio, apesar do alto investimento em tecnologia - com compra de mais de 50 mil laptops e implementação de um sistema que permite o controle de frequência e notas dos alunos de todas as escolas on-line -, o superintendente de Tecnologia da Informação da Secretaria estadual de Educação, Sérgio Mendes, admite que o uso pedagógico é mínimo:

- Esse é o grande desafio. Hoje, temos poucas escolas usando tecnologia para que os professores deem aulas melhores. Vamos avaliar essas iniciativas isoladas para ano que vem implementar um modelo.

O fracasso é importante
Diretora de Estratégia, Pesquisa e Política de Educação Global da gigante de tecnologia Intel, a alemã Martina Roth veio semana passada ao Rio para conhecer os projetos desenvolvidos no estado. Ela destaca a importância de o professor ser um aprendiz.

O Globo: Como a tecnologia está mudando o papel do professor?
Martina: O desafio que há é fazer com que o professor entenda que ele não será tão rápido quanto seus alunos, que ele irá colaborar com os estudantes e poderá ser seu mentor. O professor precisa entender que não sabe tudo. Ninguém sabe tudo, nem o presidente de uma empresa. Ele precisa se tornar um líder. E todo grande líder tem que admitir que não é perfeito. O fracasso é importante. É preciso calçar os sapatos dos estudantes e criar um projeto como se ele fosse o estudante e parte do time. Tornar-se um aprendiz. Para si mesmo e para os seus alunos.

● Como a tecnologia deve ser vista nas salas de aula? Ela é só mais uma ferramenta?
Martina: Sim, a tecnologia é só uma ferramenta. Mas necessária para qualquer profissional. O que temos que fazer é treiná-los, porque há oportunidades infinitas. É preciso mostrar aos professores que é uma ferramenta de criatividade, de desenhar aulas de uma nova forma, voltada para a vida de hoje.

● Como a senhora avalia o Brasil no ramo de tecnologia na educação?
Martina: É difícil comparar países, mas é possível avaliar o progresso que acontece em cada um. E estou impressionada como vocês começaram. Vejo com bons olhos especificamente o Rio, com projetos como o Educopédia, apesar de estar claro que há muito o que fazer. O fundamental para tecnologia em educação é começar. Começar agora, correr um certo risco, mas com vontade de aprimorar no dia a dia, fornecer experiências e aprender com elas.

● Há uma fórmula para dar certo?
Martina: Não. Hoje, vemos muita coisa sobre infraestrutura, conectividade. Mas os governantes não devem se limitar a isso. O importante é saber como os alunos estão aprendendo, se os professores estão habilitados e como medir isso em indicadores. E é preciso avaliar em três, cinco anos, quando há resultados substanciais, que medem a sustentabilidade do conceito.
(O Globo)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=77447

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