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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Uma decisão de peso

Cilindro que é referência internacional para 1kg perdeu massa e deve ser substituído

Um quilograma já não é mais tão pesado. A referência internacional para a medida - um
bloco conhecido como "Le Grand K" (o grande K) - está 50 microgramas mais leve, o equivalente a um grão de areia. Parece uma alteração insignificante, mas foi o suficiente para que pesquisadores de todo o mundo se bandeassem na segunda-feira (24/1) para Londres. Debruçados sobre a estrutura metálica, eles tentam responder dois enigmas: como ela perdeu sustança, e que símbolo poderia substituí-la.

O "Le Grand K" é um cilindro de platina e irídio, feito em Londres na segunda metade do século XIX. Em 1889, o Escritório Internacional de Pesos e Medidas (BIPM, na sigla em inglês) o reconheceu como símbolo mundial de quanto equivale um quilo. Desde então, ele está em um abrigo subterrâneo em Sévres, nos arredores de Paris, protegido por cápsulas de vidro. Cópias idênticas foram distribuídas entre países que usam o sistema métrico.

A estrutura original, no entanto, pouco saiu da toca. O bloco só deu as caras três vezes - em todas para "calibrar" suas cópias, certificando-se de que todos os países mediam um quilo exatamente da mesma forma. Nessas raras ocasiões, no entanto, surgiu a desconfiança de que o "Le Grand K" não é tão estável como deveria.

Para os especialistas em metrologia - a ciência que estuda pesos e medidas -, o emagrecimento do bloco é preocupante. Na década passada, o BIPM comprometeu-se a encontrar um substituto para o "Le Grand K" em 2011. Já se sabe, no entanto, que esta meta não será cumprida.

- Não conseguimos atingir o nível de certeza necessário entre as diversas abordagens internacionais para redefinir o quilograma - lamenta Victor Loayza, chefe do Laboratório de Massa da Divisão de Metrologia Mecânica do Inmetro. - É provável que só tenhamos essa concordância em 2015.

Para Loayza, o emagrecimento do bloco de metal pode se agravar em, no máximo, 20 anos. Assim, provocaria um efeito cascata, até chegar ao consumidor. Toda a escala de peso estaria comprometida, visto que outros valores, como gramas e toneladas, são definidos a partir do quilo.

- É provável que essa perda de peso seja antiga e, pior, aumente com o tempo - alerta. - Se não for tomada uma providência, haverá um efeito em cadeia. Uma incerteza do "Le Grande K", o protótipo internacional, é propagada para os laboratórios nacionais. De lá, afetariam os laboratórios de calibração, e, por último, os consumidores.

O BIPM é o responsável por instituir o valor de sete unidades básicas. São elas, acompanhadas por sua grandeza: metro (comprimento), segundo (tempo), ampere (corrente elétrica), Kelvin (temperatura), mol (quantidade de substância) e candela (intensidade luminosa).

O quilograma (massa) encerra a lista. É, também, a única ainda definida a partir de um objeto físico. E os pesquisadores querem acabar com isso.

- A distância de um metro, por exemplo, já foi definida pelo espaço que separava dois pontos em uma barra de metal - explica Loayza. - Mas a barra passou por uma degradação parecida com a que o cilindro teve agora. Agora, o que demarca um metro é a velocidade da luz - a distância percorrida por ela em uma determinada fração de segundo. Os pesquisadores reunidos em Londres conduzem experimentos para estabelecer uma ligação entre massa e a constante de Planck, um dos conceitos fundamentais da física quântica.

"Atingimos este consenso internacional. No futuro, o uso dessa escala vai redefinir o valor do quilo", revelou o físico Michael Stock, do BIPM, em comunicado divulgado na segundo-feira (24/1).
(Renato Grandelle)
(O Globo, 25/1)

fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=76082

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