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sexta-feira, 4 de março de 2011
Brasil investe no nanomundo
Novos materiais microscópicos prometem revolucionar indústria eletrônica e química.
O material é microscópico, mas seu potencial é gigantesco. Objeto da outorga do Prêmio Nobel de Física de 2010 aos cientistas de origem russa Andre Geim e Konstantin Novoselov, o grafeno é uma folha de carbono extremamente fina, com apenas um átomo de espessura, que poderá revolucionar a indústria nos mais variados campos, de computadores mais potentes a novos aviões e satélites. E o Brasil tenta aproveitar- se disso. O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), trabalha no estudo das características do material e no desenvolvimento de produtos com ele.
Com seus laboratórios de ponta e equipamentos de alta tecnologia - como o Titan, o mais poderoso microscópio em operação na América Latina -, o Inmetro tornou-se um centro de excelência no campo da nanotecnologia com base no carbono.
Esta área contempla, além do grafeno, os nanotubos. A instituição é uma das cinco em todo mundo que estão desenvolvendo um padrão de qualidade para a produção deste material, que já chega à marca global de 300 toneladas por ano.
" A nanotecnologia hoje é um assunto que engloba várias áreas, diz Carlos Alberto Achete, coordenador da Divisão de Metrologia de Materiais do Inmetro. " Não somos uma universidade, mas, como um instituto de metrologia, trabalhamos no desenvolvimento de material de referência, padrões e procedimentos de forma a fornecer subsídios para que a indústria brasileira se torne mais competitiva e estimular a inovação tecnológica.
De acordo com Achete, ainda não há um marco regulatório para a área de nanotecnologia, o que faz do trabalho do Inmetro fundamental.
Os nanotubos, segundo ele, começam a ter seu uso testado em baterias, tintas, cimento e outros materiais compostos. Há, inclusive, a intenção de abrir uma fábrica deles no País.
"Alguém que quiser se desenvolver na nanotecnologia e ser inovador tem que, sobretudo, ter a capacidade de medir", considera Achete, parafraseando Lord Kelvin, físico e engenheiro britânico do século 19 que afirmou: "Se você não pode medi-lo, não pode melhorá-lo".
"A metrologia em materiais é nova no mundo todo. Isso nos leva à questão de como fazer o controle de qualidade de produtos nanotecnológicos. O Inmetro desenvolve esse potencial de análise, pois podemos medir o tamanho, propriedades e composição químicas dessas nanopartículas.
Meta é estimular produção industrial
Já com relação ao grafeno, conta Achete, o Inmetro conseguiu reproduzir o método criado por Geim e Novoselov para sua fabricação em 2004, quando usaram uma simples fita adesiva para retirar a folha de átomos de carbono do grafite comum usado em lápis, e começa a explorar alternativas, como a esfoliação e a deposição dos átomos de carbono com vapor.
Agora, a intenção é estimular a indústria nacional a produzir grafeno a partir do grafite mineral para uso em pesquisas e produtos no país e exportação. "Já perdemos o bonde do silício, que exportamos como material bruto, lembra Achete. O Brasil tem grafite de altíssima qualidade, que, com a esfoliação, pode virar grafeno. Isso é uma inovação fácil que a indústria nacional de grafite pode fazer e aumentar enormemente o valor agregado de seu produto. Em vez de vender grafite, podemos começar a vender grafeno.
Achete destaca ainda que os produtos que usam a nanotecnologia não precisam ser necessariamente microscópicos. Entre os exemplos estão palmilhas de sapatos e tênis
tratadas com nanopartículas de prata para eliminar odores, às quais cabe ao Inmetro verificar se estão realmente presentes e cumprem a função prometida. O instituto também está avaliando um novo revestimento que deverá ser usado para proteger toda uma nova geração de satélites nacionais.
"O material pode ser pequeno, mas o produto pode ser muito grande", ressalta. "O grafeno tem propriedades únicas e abre perspectivas em várias áreas, com aplicações das mais sofisticadas. Quando colocamos um monte de folhas juntas, por exemplo, ele se transforma em nanofitas, que também têm propriedades interessantes. Em suma, não estamos fazendo nenhum milagre. Muitas pessoas suam muito para dar esse apoio ao desenvolvimento da indústria nacional".
(O Globo)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=76636
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