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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Outro livro do MEC traz erros grosseiros

Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 04/06/2011, O País, p. 10

Material didático para alunos de escolas rurais tem contas com resultados errados. Obra custou R$14 milhões

BRASÍLIA. O Ministério da Educação (MEC) distribuiu material didático a escolas públicas rurais de ensino fundamental com diversos tipos de erro. Um dos volumes destinados à matemática diz que 10 menos 7 é igual a 4. A resposta correta, na verdade, é 3. As falhas foram divulgadas ontem pelo próprio MEC, que informou ter descoberto o problema e pedido à Controladoria Geral da União (CGU) que abra sindicância para apurar quem é o responsável pelas falhas. O material custou R$14 milhões.

Além de erros em contas de subtração, os livros têm frases incompletas e erros banais de revisão - o número da página a que se referem as respostas de um exercício, por exemplo, é informado equivocadamente. Os problemas foram detectados na coleção do Programa Escola Ativa, editada pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad).

A abertura da sindicância pela CGU será oficializada na segunda-feira. Mas os erros na publicação já provocaram uma baixa no governo: o secretário-executivo da Secretaria de Direitos Humanos, André Lazaro, pediu demissão ontem. Ele era o chefe da Secad até o ano passado, quando os livros foram editados e distribuídos.

Coleção com erros será refeita a partir de 2013

O ministério já orientou as secretarias de Educação nos estados e municípios a suspenderem o uso da coleção Escola Ativa. Foram tantos os problemas encontrados que o MEC desistiu da ideia de editar uma errata. A partir de 2013, a ideia é refazer a coleção, que será incorporada ao Programa Nacional do Livro Didático. Nas próximas semanas, os coordenadores regionais e municipais do programa Escola Ativa deverão reunir-se em Brasília para debater formas de contornar as falhas, evitando que os exemplares tenham como destino a lata do lixo.

O Programa Escola Ativa existe para prestar apoio às escolas rurais em todo o país, com ênfase no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A coleção contém 35 volumes destinados a professores e alunos das séries iniciais de ensino fundamental, das chamadas turmas multisseriadas: numa única sala, um mesmo professor leciona para alunos da 1ª à 4ª série.

A tiragem foi de 200 mil coleções (7 milhões de exemplares), mas o MEC informa não saber se todos os volumes contêm falhas ou se elas teriam ficado restritas a um lote de impressão. O material foi distribuído às secretarias de Educação estaduais e municipais, que deveriam repassá-las a 39.200 escolas rurais, que atendem 1% do total de alunos nessa etapa, no país.

O secretário-executivo do MEC, José Henrique Paim Fernandes, diz que o pedido de sindicância à CGU tem como objetivo saber: 1) Por que ocorreram as falhas?; e 2) Quem foram os responsáveis?

- Temos que saber por que esses erros ocorreram. Por isso, solicitamos que a CGU faça a apuração - disse Paim Fernandes ontem.

Em princípio, o ministério considera que os erros foram resultado de inépcia e não de má-fé. Ou seja, na avaliação do MEC não houve desvio de recursos, já que a coleção foi impressa e distribuída. Dependendo do resultado da sindicância, os eventuais responsáveis poderão ser condenados a devolver o dinheiro, pagar multa e, caso sejam servidores públicos, até mesmo perder o cargo.

A coleção Escola Ativa foi criada em 1998, no governo Fernando Henrique, e era distribuída anualmente. Em 2008, no segundo mandato do governo Lula, o MEC decidiu revisar e atualizar o material. As mesmas autoras foram chamadas e uma equipe editorial, formada por servidores da Secad, cuidou do assunto.

MEC não foi alertado sobre livros com os erros

A impressão foi feita na gráfica Posigraf, de Curitiba. A coleção atualizada começou a ser distribuída em junho para ser usada neste ano letivo de 2011. Segundo o MEC, ninguém alertou o ministério sobre os erros, que teriam sido detectados por funcionários da pasta.

O grupo de servidores da equipe editorial da Secad, segundo o ministério, deixou a secretaria, em meio à saída de André Lázaro - o então secretário trocou de endereço na Esplanada, logo no início do governo Dilma, assumindo a secretaria executiva da pasta de Direitos Humanos.

Fonte:http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/200517/1/noticia.htm

Um histórico de falhas
Autor: Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 04/06/2011, O País, p. 10

Não é a primeira vez em que erros de impressão causam prejuízos ao ensino e ao Ministério da Educação (MEC). No ano passado, milhares de participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2010) foram prejudicados por falhas em provas do teste, que continham questões duplicadas ou em número menor do que o previsto.

Os erros ocorreram num lote de 21 mil cadernos impressos pela gráfica RR Donnelley. O MEC acabou tendo que realizar nova edição do Enem para os participantes prejudicados pelo problema. Além da falha na gráfica, o Enem de 2010 foi prejudicado por um erro de impressão no cabeçalho da folha de respostas.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do Ministério da Educação responsável pelo Enem, equivocou-se ao elaborar a folha de respostas, invertendo a ordem das questões. Esse problema acabou atingindo todos os participantes do Enem, gerando muita confusão, já que fiscais de provas deram orientações contraditórias em diferentes locais de aplicação do teste.

A Justiça Federal chegou a conceder liminares cancelando o Enem de 2010, mas o governo conseguiu reverter a situação recorrendo ao Tribunal Regional Federal em Recife. O então presidente do Inep, Joaquim Neto, acabou deixando o cargo.

Embora não se trate de falha de impressão nem edição, a distribuição de um livro didático de língua portuguesa que diz que é certo falar com erros de concordância também suscitou polêmica nas últimas semanas.

A obra "Por uma vida melhor", distribuída pelo Programa Nacional do Livro Didático a turmas de educação de jovens e adultos, no ensino fundamental, registra as diferenças entre a norma culta e a norma popular da língua, afirmando que a norma popular não está errada, mas pode levar quem a utiliza a sofrer preconceito linguístico. Para o MEC, o livro didático não está errado e apenas se filia a uma corrente linguística defendida por especialistas.

Situação bem diferente é a da coleção Escola Ativa, que levou o Ministério da Educação a pedir a investigação do caso. O ministério determinou a suspensão da utilização da coleção e recomendou às escolas que se limitem a utilizar os livros didáticos também distribuídos pelo governo.

Fonte:http://www2.senado.gov.br/bdsf/bitstream/id/200517/2/complemento_1.htm

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