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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Brasil se distancia dos EUA em disputa contra chineses no G20

Desvalorização do yuan preocupa mercados

Os países mais ricos do planeta continuam tentando se adaptar ao novo cenário da economia mundial. O encontro do G20, que acontece no próximo final de semana em Paris, tem à sua frente pelo menos duas discussões difíceis e cruciais: a reforma do sistema financeiro internacional e a instabilidade dos preços das commodities.

Em entrevista a jornalistas internacionais, o ministro brasileiro de Fazenda, Guido Mantega, comenta, com cautela, a necessidade de mudança do modelo atual. "Naturalmente que a economia americana continua como uma economia mais forte, mais importante, e o dólar continuará tendo um papel muito importante nas transações internacionais. Porém já existem no sistema internacional outros protagonistas de peso que deveriam ser levados em consideração", respondeu.


Mantega propõe transição no sistema financeiro
Mantega se privou de dar nomes aos países que exercem esse papel de mais destaque. No entanto, o desequilíbrio que a China vem promovendo com a desvalorização de sua moeda nos mercados mundiais está levando os Estados Unidos a convocarem aliados para combater o gigante asiático na reunião do G20.

A sugestão, defende Mantega, é iniciar a transição. "Passar de um sistema financeiro baseado numa única moeda forte para um sistema baseado num conjunto de moedas fortes", propõe de forma ampla.

E os Estados Unidos não precisariam temer: "Isso até tiraria o peso da economia norte-americana, que muitas vezes se sente inibida em desenvolver políticas monetárias olhando só para a sua realidade, e que não tenha repercussões negativas para o resto do mundo", pondera o ministro brasileiro.

Após ter recebido no Brasil, no início do mês, a visita de Timothy Geithner, secretário do Tesouro norte-americano, Mantega negou que ficaria ao lado dos Estados Unidos no G20, em uma guerra contra a política chinesa de desvalorização de sua moeda.

"Externei as minhas preocupações sobre a desvalorização do dólar e de outras moedas asiáticas, inclusive a chinesa, porque isso desequilibra o comércio internacional. Mas as iniciativas são individuais, não temos nenhuma ação em comum nesse sentido", esclareceu Mantega.

Com ajuda do FMI

O acordo de Bretton Wood, firmado em 1944, estabeleceu um sistema econômico internacional e fixou o dólar como moeda de transação. Desde então, a realidade financeira mundial é outra.

Uma das saídas para promover um ajuste a esse novo ambiente, acredita Mantega, é dar mais importância ao chamado Direito Especial de Saque ou SDR, na sigla em inglês. O ativo criado pelo Fundo Monetário Internacional em 1969 funciona como uma moeda de troca.

O valor da SDR é determinado diariamente pelo FMI, em dólar, através da variação média da taxa de câmbio de um conjunto de quatro moedas: o euro, o iene, a libra esterlina e o dólar norte-americano.

Mantega lembra que, durante a crise de 2008, o Brasil propôs que o FMI emitisse o equivalente a 250 bilhões de dólares em SDR, o que foi feito. "Nós deveríamos promover o Direito Especial de Saque, de fato, no patamar de uma moeda de maior circulação internacional", argumentou o ministro.

A explosão das commodities

Quanto à política de preço de produtos primários, Guido Mantega não tem reserva. "O Brasil é totalmente contrário a mecanismos de controle, ou de regulação, dos preços das commodities. Uma boa parte do preço desses produtos cairá naturalmente à medida que a oferta se restabelecer."

Na visão brasileira, grande parte da responsabilidade da subida de preços verificada em 2010 se deve aos países ricos. Os subsídios agrícolas são, ainda, um grande obstáculo no caminho para um mercado mais justo.

"Uma solução seria estimularmos a produção agrícola nos países emergentes, principalmente os de baixa renda. E os países avançados poderiam colaborar eliminando os subsídios que concedem aos produtores agrícolas. Uma das razões para o aumento dos preços das commodities agrícolas é a elevação dos preços de fertilizantes que são produzidos nos países avançados", argumenta Mantega.

No ano passado, os custos dos produtos agrícolas subiram, em média, 40%. O mesmo índice foi registrado em commodities não agrícolas. "O controle de preços pode ser contraproducente, ou como dizemos, um tiro que sai pela culatra", sentencia o ministro.

A briga por matéria-prima acirra a disputa nos bastidores da diplomacia. A forte demanda dos países emergentes, que crescem em taxas bem mais elevadas do que as nações avançadas, trouxe complicações para os países ricos acessarem os produtos com a mesma facilidade. A nova realidade já promove, por exemplo, uma corrida na União Europeia em busca de novas estratégias.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque

Fonte:http://www.dw-world.de/dw/article/0,,14843859,00.html?maca=bra-newsletter_br_Destaques-2362-html-nl

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