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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Terras à vista - Nasa identifica pelo menos 54 planetas com chance de abrigar vida




A população de planetas conhecidos fora do Sistema Solar acaba de aumentar consideravelmente. Muitos deles têm características parecidas com as da Terra e seriam capazes de abrigar vida. O observatório espacial Kepler, da Nasa, identificou nada menos do que 1.235 candidatos, dos quais espera-se que pelo menos 80% sejam confirmados como planetas.
Destes, 68 teriam tamanho parecido ao do nosso mundo, enquanto 54, de variados tamanhos, estariam na "zona habitável", orbitando suas estrelas a uma distância em que não seriam nem quentes nem frios demais e poderiam ter água em estado líquido, condição essencial para desenvolvimento e manutenção da vida.

- Há enorme variedade de mundos lá fora - diz William Borucki, do Centro de Pesquisas Ames da Nasa e principal investigador do Kepler. - E temos cada vez mais candidatos ideais, tanto no tamanho quanto no período orbital, para abrigar vida.

Cinco dos candidatos a planeta têm tamanho próximo ao da Terra e orbitam suas estrelas na "zona habitável". E mesmo os maiores, parecidos com Netuno e Júpiter, podem ter luas do tamanho da Terra, com atmosfera e água.

Borucki, porém, alerta que encontrar um planeta com as características da Terra ainda vai levar
tempo. Isso porque todos os candidatos a mundos na "zona habitável" encontrados orbitam estrelas menores e mais frias que o Sol, o que faz com que esta zona esteja mais próxima delas e diminuindo a duração de seus "anos". Lançado há cerca de um ano e meio, o Kepler encontra os candidatos a planeta medindo as ínfimas reduções que eles causam no brilho de suas estrelas
em seus trânsitos, isto é, quando passam entre elas e a Terra.

Isso gera uma série de dificuldades. A primeira é que, para que isso aconteça, é preciso que o plano da órbita dos planetas esteja alinhado com o do observatório. E a medição da variação do brilho da estrela tem que ser quase exata. Para se ter ideia do quanto isso é difícil, os trânsitos da Terra provocariam redução de menos de 0,001% no brilho do Sol para um observador de fora do Sistema Solar.

Por fim, para que um candidato a planeta seja apontado, é necessário que o fenômeno se repita ao menos três vezes. Dessa forma, para encontrar uma "nova Terra" que orbite uma estrela como o Sol a uma distância parecida terão que ser realizados no mínimo três anos de observações e muitos outros estudos.

- Com o tempo teremos menos descobertas, porém mais interessantes, pois serão planetas que ficam mais longe de suas estrelas e, por isso, são mais frios - explica.

Diante de tantos obstáculos, o número de candidatos indicados pelo Kepler em tão curto tempo se torna ainda mais impressionante.

- Estamos vivendo uma época incrível na descoberta de planetas extrassolares - comenta Debra Fischer, da Universidade de Yale e que não faz parte da equipe de investigação da Nasa.

- Naturalmente achamos que encontrar um planeta igual a Terra é importante, mas o Kepler está atingindo marcos mais rapidamente do que eu sequer imaginava.

A galáxia está longe de ser um deserto de planetas, revelando um baú de tesouros. Muitos dos mais de 1,2 mil candidatos a planeta encontrados pelo Kepler também fazem parte de sistemas
múltiplos, outro fator que anima cientistas. Seriam pelo menos 170 destes com dois, três, quatro,
cinco e até seis deles, sendo que um já foi confirmado e é o maior conhecido depois do nosso.

Batizado Kepler-11, ele está a 2 mil anos-luz da Terra e conta com seis planetas entre duas a 4,5 vezes maiores que o nosso. Cinco estão tão próximos de sua estrela que levam menos de 50
dias para completar a órbita em torno dela. A título de comparação, Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol, leva 88 dias para fazer o trajeto.

O sexto planeta está um pouco mais longe, com um "ano" de pouco mais de 100 dias, ainda assim menor do que o de Vênus.

- É um sistema surpreendente e compacto, com características que não acreditávamos ser possíveis - diz Jack Lissauer, do projeto Kepler e um dos autores do estudo que confirmou
a existência do sistema, publicado na edição desta semana da revista "Nature".

- Isso nos força a rever nossos modelos sobre a formação de planetas.
(Cesar Baima)
(O Globo, 3/2)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=76249

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