É essencial aprender com os erros de outros para que um projeto não falhe.
Por KLAUS HOFMANN ZUR LINDEN - COMPUTERWORLD / ALEMANHA
No passado, as companhias gastavam muito dinheiro com BI, mas nem sempre conseguiam alcançar os resultados pretendidos. Prova disso, as reclamações dos usuários sobre a falta da qualidade dos dados e a dificuldade de utilização dos sistemas e ferramentas de BI, assim como relatórios incompletos ou dados imprecisos que impactam a tomada de decisões. Estas debilidades são causadas por fraquezas funcionais e organizacionais na implementação de projetos de Business Intelligence.
Particularmente para novos projetos de BI, é essencial aprender com os erros de outros para que o projeto não falhe. A Information Builders compilou 10 regras de ouro para a implementação.
1. Definir os requisitos funcionais.
Comparações por indicadores de desempenho (KPI – Key Performance Indicators) são o centro de qualquer aplicação de BI. A equipe do projeto, composta por colaboradores do departamento de TI e de outros departamentos especializados, deve determinar que informação deve ser disponibilizada pelas aplicações de BI, quando é necessário estar disponível e em que formato.
2. Definir os grupos de utilizadores.
A equipe do projeto deve definir quem são os utilizadores da solução de BI. Existem geralmente três grupos de utilizadores: utilizadores gerais de relatórios; os produtores e analistas que avaliam os dados; e finalmente os gestores que decidem os objetivos.
3. Envolver os utilizadores numa fase inicial.
Na fase inicial, o departamento de TI deve criar um protótipo simples da solução. Desta forma, pode ser feita uma revisão para assegurar que os requisitos essenciais serão incluídos desde o início. Na implementação de um projecto de BI, os colaboradores dos departamentos especializados devem sempre ser incluídos paralelamente, uma vez que são esses indivíduos que, no futuro, irão trabalhar com as aplicações. Quando se testar o protótipo, esses colaboradores podem determinar se o projeto segue o escopo.
4. Ter apoio da Gestão.
A equipe do projeto deve ter apoio da gestão. Esta é a única forma de garantir que os objetivos corporativos a curto e longo prazo sejam incorporados. A implementação é monitorizada pela comparação de indicadores de desempenho (KPI) permanentes dos rácios operacionais mais importantes.
5. Identificar os Indicadores de Desempenho (KPI) requeridos.
São necessários valores operativos para a gestão dos processos de uma companhia. A equipa de projecto deve defini-los em conjunto com o departamento especialista. No manuseamento e produção de materiais, por exemplo, indicadores de desempenho tais como “custo do material por cada componente” ou “volume de negócio por colaborador” são variáveis provadas. Isto torna mais fácil determinar se os objetivos foram alcançados ou não.
6. Garantir a integração e qualidade dos dados.
Integração dos dados é um fator decisivo para o sucesso de um projeto de BI. A equipe deve identificar os sistemas operacionais nos quais a informação requerida está disponível e como os dados devem ser acessados. Para informação atualizada, o acesso direto é a melhor opção. Se a qualidade dos dados brutos não for suficiente, isso deverá ser melhorado com as ferramentas de software apropriadas para acessar todas as fontes de dados.
7. Descubra que ferramentas de BI já estão disponíveis na empresa.
Quando um novo projeto é iniciado, é necessário determinar se as ferramentas existentes para os usuários finais devem continuar a ser utilizadas ou se devem ser substituídas completamente. Na maioria dos casos, a padronização num único sistema de BI é preferível para garantir consistência na disponibilização da informação dentro da empresa.
8. Escolher o Software de BI correto.
Com uma Proof-of-Concept (PoC), a equipe de projeto decide o software mais adequado, baseando-se geralmente em um briefing específico. Este procedimento permite à equipe de projeto garantir com maior grau de certeza de que o software se adequa ao seu negócio.
9. Limitar o tempo de execução do projeto.
Aqui aplica-se a velha regra: “Tudo o que dure mais que seis meses deixa de ser um projeto e passa a ser um problema.” Quando se implementa um novo projeto de BI, os departamentos especializados devem estar centrados e proceder em claros passos definidos. Os subprojetos devem ser desenvolvidos para que os primeiros módulos executáveis e operacionais estejam disponíveis depois de dois ou três meses.
10. Um projeto de BI é um processo constante.
Os requisitos das companhias mudam constantemente e o mesmo se aplica a uma aplicação de BI. Todas as soluções de BI têm de ser continuamente desenvolvidas e otimizadas em uma base permanente. Esta é a única forma que têm de cumprir os requisitos.
“O BI é, antes de tudo, uma tarefa de controle, compras, marketing e vendas. Os departamentos de negócio estão familiarizados com os requisitos individuais em termos de gestão da performance funcional e sabem que parâmetros e dados necessitam para controlar os seus processos de negócio”, afirma Klaus Hofmann zur Linden, Technical Manager Germany da Information Builders em Eschborn. “O departamento de TI deve construir a infra-estrutura para as aplicações de BI e assegurar uma operação de confiança”.
Fonte:http://computerworld.uol.com.br/gestao/2011/01/11/dez-regras-classicas-para-implementar-business-intelligence/
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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Semáforos modernos diminuem acidentes em cruzamentos
Semáforos mais seguros
Atualmente, está "na moda" a implantação de semáforos aparentemente mais modernos e bonitos, que informam ao motorista o tempo restante para a troca das luzes vermelha/verde nas interseções de ruas e avenidas das cidades.
Mas esses semáforos não são apenas mais bonitos: eles são realmente mais eficientes, aumentando a segurança dos motoristas.
Foi o que concluiu a pesquisadora Luciana Maria Gasparelo Spigolon, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.
Por outro lado, ela descobriu que os "semáforos inteligentes" não oferecem ganhos significativos quando o assunto é a fluidez do trânsito. Ou seja, com os novos semáforos, ao trânsito não vai melhorar, mais ficará mais seguro.
Fora da lei
Segundo a pesquisadora, não há autorização legal por parte do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para o emprego do semáforo com indicação de tempo. O equipamento padrão previsto pelo órgão é o modelo clássico, formado pelo conjunto das circunferências vermelha, amarela e verde, na vertical ou horizontal.
"A implantação do semáforo com contagem de tempo restante é permitida somente para fins de experimentação, cujo limite de tempo de utilização também não está especificado pelo Denatran," explica Luciana.
Tal informação é essencial para que as Prefeituras decidam se vão ou não adquirir essa nova tecnologia, uma vez que a responsabilidade jurídica no caso de acidentes em interseções é de alçada das próprias Prefeituras.
"É necessário que mais investimentos em pesquisas sejam feitos, para serem conhecidas as vantagens e desvantagens da utilização do semáforo mais moderno. Ainda não se sabe claramente qual o impacto da implantação da nova tecnologia, principalmente para o usuário das vias", afirma Luciana.
Razões da melhora na segurança
Uma das principais constatações do estudo, foi que o ganho na segurança verificado com o uso desse novo modelo de semáforo pode ter ocorrido por outros fatores que não a possibilidade do motorista ver o tempo restante das luzes.
Por exemplo, por causa do aspecto mais moderno, bonito, que melhora a visibilidade, ou pela própria localização dos semáforos.
"Esses fatores podem influenciar a ocorrência de acidentes nas interseções e devem ser considerados no momento em que o tipo de produto está para ser escolhido, adquirido e colocado. Isso serve tanto para o grupo focal convencional quanto para o semáforo com informação de tempo restante. Considerando que a contagem de tempo pode não ser a principal responsável pela melhora na segurança, pode-se pensar em outros investimentos no trânsito que custem menos," explica a pesquisadora.
Para os motoristas que não estão habituados com semáforos diferentes do convencional, a não padronização pode ser motivo de confusão, colaborando para a ocorrência de acidentes.
Segundo Luciana, os países desenvolvidos padronizam os semáforos no trânsito, sendo o grupo focal convencional o mais utilizado. "No Brasil, diferentes cidades utilizam diferentes semáforos", diz a pesquisadora.
Fluidez e acidentes
Luciana analisou interseções de três cidades do Estado de São Paulo: São Carlos, Ribeirão Preto e Piracicaba. Em cada uma delas está instalado um modelo diferenciado de semáforo "inovador" em relação ao convencional.
Para saber sobre a melhora da fluidez do trânsito, Luciana usou o conceito de "capacidade", calculando o número de carros que atravessam o semáforo em um espaço de tempo equivalente a uma hora. Para saber sobre a segurança, analisou dados de acidentes de trânsito, como boletins de ocorrência cedidos pelas Prefeituras.
Quanto à capacidade, o número de carros que atravessa a interseção com o novo semáforo não aumentou significativamente com relação ao modelo convencional, comprovando que não houve melhora.
Já com relação à segurança, a pesquisa aponta que o número de acidentes diminuiu nas intercessões onde foram implantados os novos modelos, ou seja, houve melhora.
Fonte:http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=semaforos-modernos-acidentes&id=010170110110&ebol=sim
Atualmente, está "na moda" a implantação de semáforos aparentemente mais modernos e bonitos, que informam ao motorista o tempo restante para a troca das luzes vermelha/verde nas interseções de ruas e avenidas das cidades.
Mas esses semáforos não são apenas mais bonitos: eles são realmente mais eficientes, aumentando a segurança dos motoristas.
Foi o que concluiu a pesquisadora Luciana Maria Gasparelo Spigolon, da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.
Por outro lado, ela descobriu que os "semáforos inteligentes" não oferecem ganhos significativos quando o assunto é a fluidez do trânsito. Ou seja, com os novos semáforos, ao trânsito não vai melhorar, mais ficará mais seguro.
Fora da lei
Segundo a pesquisadora, não há autorização legal por parte do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para o emprego do semáforo com indicação de tempo. O equipamento padrão previsto pelo órgão é o modelo clássico, formado pelo conjunto das circunferências vermelha, amarela e verde, na vertical ou horizontal.
"A implantação do semáforo com contagem de tempo restante é permitida somente para fins de experimentação, cujo limite de tempo de utilização também não está especificado pelo Denatran," explica Luciana.
Tal informação é essencial para que as Prefeituras decidam se vão ou não adquirir essa nova tecnologia, uma vez que a responsabilidade jurídica no caso de acidentes em interseções é de alçada das próprias Prefeituras.
"É necessário que mais investimentos em pesquisas sejam feitos, para serem conhecidas as vantagens e desvantagens da utilização do semáforo mais moderno. Ainda não se sabe claramente qual o impacto da implantação da nova tecnologia, principalmente para o usuário das vias", afirma Luciana.
Razões da melhora na segurança
Uma das principais constatações do estudo, foi que o ganho na segurança verificado com o uso desse novo modelo de semáforo pode ter ocorrido por outros fatores que não a possibilidade do motorista ver o tempo restante das luzes.
Por exemplo, por causa do aspecto mais moderno, bonito, que melhora a visibilidade, ou pela própria localização dos semáforos.
"Esses fatores podem influenciar a ocorrência de acidentes nas interseções e devem ser considerados no momento em que o tipo de produto está para ser escolhido, adquirido e colocado. Isso serve tanto para o grupo focal convencional quanto para o semáforo com informação de tempo restante. Considerando que a contagem de tempo pode não ser a principal responsável pela melhora na segurança, pode-se pensar em outros investimentos no trânsito que custem menos," explica a pesquisadora.
Para os motoristas que não estão habituados com semáforos diferentes do convencional, a não padronização pode ser motivo de confusão, colaborando para a ocorrência de acidentes.
Segundo Luciana, os países desenvolvidos padronizam os semáforos no trânsito, sendo o grupo focal convencional o mais utilizado. "No Brasil, diferentes cidades utilizam diferentes semáforos", diz a pesquisadora.
Fluidez e acidentes
Luciana analisou interseções de três cidades do Estado de São Paulo: São Carlos, Ribeirão Preto e Piracicaba. Em cada uma delas está instalado um modelo diferenciado de semáforo "inovador" em relação ao convencional.
Para saber sobre a melhora da fluidez do trânsito, Luciana usou o conceito de "capacidade", calculando o número de carros que atravessam o semáforo em um espaço de tempo equivalente a uma hora. Para saber sobre a segurança, analisou dados de acidentes de trânsito, como boletins de ocorrência cedidos pelas Prefeituras.
Quanto à capacidade, o número de carros que atravessa a interseção com o novo semáforo não aumentou significativamente com relação ao modelo convencional, comprovando que não houve melhora.
Já com relação à segurança, a pesquisa aponta que o número de acidentes diminuiu nas intercessões onde foram implantados os novos modelos, ou seja, houve melhora.
Fonte:http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=semaforos-modernos-acidentes&id=010170110110&ebol=sim
Escudo sonoro deixa submarinos invisíveis ao sonar
Escudo antissom
Em 2009, a equipe do Dr. Nicholas Fang criou uma super lente acústica, capaz de produzir imagens médicas mais precisas do que o ultrassom.
Naquela ocasião, o pesquisador afirmou que a tecnologia, baseada em metamateriais, poderia, em princípio, ser utilizada para fabricar um "escudo antissom".
E foi justamente isso o que eles fizeram agora: uma camuflagem acústica, capaz de tornar objetos subaquáticos invisíveis ao sonar e outras ondas ultrassônicas.
"Nós não estamos falando de ficção científica. Estamos falando de controlar as ondas sonoras dobrando-as e torcendo-as dentro de um espaço definido," explica Fang, que trabalha na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.
Enquanto os mantos da invisibilidade tenham se tornado estrelas em vários laboratórios ao redor do mundo, um metamaterial capaz de desviar as ondas sonoras - em vez de refleti-las ou absorvê-las - era algo restrito ao reino das possibilidades teóricas. Até agora.
Circuitos acústicos
O escudo sonoro consiste de uma placa cilíndrica, formada por 16 anéis concêntricos. Esses anéis são "circuitos acústicos", estruturados para guiar as ondas sonoras.
Cada anel tem um índice de refração diferente, o que significa que as ondas sonoras mudam de velocidade conforme caminham da parte externa do anel rumo ao seu interior.
"Basicamente o que você tem é um conjunto de cavidades que são conectadas por canais. O som vai se propagar dentro desses canais, e as cavidades são projetadas para desacelerar as ondas," diz Fang. "Quanto mais para o interior dos anéis, maior é a velocidade das ondas sonoras."
Mas aumentar de velocidade requer energia. Com isto, as ondas sonoras ficam circunscritas à porção mais externa dos anéis, guiadas pelos canais. Segundo os pesquisadores, o que ocorre é que os circuitos acústicos curvam as ondas sonoras, para que elas se acomodem nas estruturas externas dos anéis.
O escudo sonoro funcionou com vários formatos de objeto. Outra vantagem do "manto da invisibilidade acústica" é que ele opera com várias frequências de ondas, de 40 a 80 KHz - mas os pesquisadores afirmam que, teoricamente, ele pode chegar às dezenas de megahertz.
Submarinos invisíveis
Os cientistas agora planejam explorar o uso da tecnologia de camuflagem acústica para veículos subaquáticos, como submarinos, que poderiam se tornar invisíveis aos sonares, e na área médica.
As imagens de ultrassom e outras técnicas de imageamento acústico são comuns na área médica, mas vários elementos no corpo causam interferências e borram as imagens.
Um curativo feito com o escudo sônico poderia efetivamente esconder uma área problemática para que o scanner gere uma imagem melhor da região de interesse.
A equipe do Dr. Fang é pioneira nesta área emergente de pesquisas, tendo criado o primeiro metamaterial ultrassônico em 2006.
O campo dos metamateriais ópticos está bem mais à frente, já tendo viabilizado um verdadeiro tapete da invisibilidade, capaz de esconder objetos grandes. Mais recentemente, pesquisadores demonstraram que é até mesmo possível construir a ilusão de óptica de atravessar o espelho.
Fonte:http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=escudo-sonoro-submarinos-invisiveis-sonar&id=010160110110&ebol=sim
Em 2009, a equipe do Dr. Nicholas Fang criou uma super lente acústica, capaz de produzir imagens médicas mais precisas do que o ultrassom.
Naquela ocasião, o pesquisador afirmou que a tecnologia, baseada em metamateriais, poderia, em princípio, ser utilizada para fabricar um "escudo antissom".
E foi justamente isso o que eles fizeram agora: uma camuflagem acústica, capaz de tornar objetos subaquáticos invisíveis ao sonar e outras ondas ultrassônicas.
"Nós não estamos falando de ficção científica. Estamos falando de controlar as ondas sonoras dobrando-as e torcendo-as dentro de um espaço definido," explica Fang, que trabalha na Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.
Enquanto os mantos da invisibilidade tenham se tornado estrelas em vários laboratórios ao redor do mundo, um metamaterial capaz de desviar as ondas sonoras - em vez de refleti-las ou absorvê-las - era algo restrito ao reino das possibilidades teóricas. Até agora.
Circuitos acústicos
O escudo sonoro consiste de uma placa cilíndrica, formada por 16 anéis concêntricos. Esses anéis são "circuitos acústicos", estruturados para guiar as ondas sonoras.
Cada anel tem um índice de refração diferente, o que significa que as ondas sonoras mudam de velocidade conforme caminham da parte externa do anel rumo ao seu interior.
"Basicamente o que você tem é um conjunto de cavidades que são conectadas por canais. O som vai se propagar dentro desses canais, e as cavidades são projetadas para desacelerar as ondas," diz Fang. "Quanto mais para o interior dos anéis, maior é a velocidade das ondas sonoras."
Mas aumentar de velocidade requer energia. Com isto, as ondas sonoras ficam circunscritas à porção mais externa dos anéis, guiadas pelos canais. Segundo os pesquisadores, o que ocorre é que os circuitos acústicos curvam as ondas sonoras, para que elas se acomodem nas estruturas externas dos anéis.
O escudo sonoro funcionou com vários formatos de objeto. Outra vantagem do "manto da invisibilidade acústica" é que ele opera com várias frequências de ondas, de 40 a 80 KHz - mas os pesquisadores afirmam que, teoricamente, ele pode chegar às dezenas de megahertz.
Submarinos invisíveis
Os cientistas agora planejam explorar o uso da tecnologia de camuflagem acústica para veículos subaquáticos, como submarinos, que poderiam se tornar invisíveis aos sonares, e na área médica.
As imagens de ultrassom e outras técnicas de imageamento acústico são comuns na área médica, mas vários elementos no corpo causam interferências e borram as imagens.
Um curativo feito com o escudo sônico poderia efetivamente esconder uma área problemática para que o scanner gere uma imagem melhor da região de interesse.
A equipe do Dr. Fang é pioneira nesta área emergente de pesquisas, tendo criado o primeiro metamaterial ultrassônico em 2006.
O campo dos metamateriais ópticos está bem mais à frente, já tendo viabilizado um verdadeiro tapete da invisibilidade, capaz de esconder objetos grandes. Mais recentemente, pesquisadores demonstraram que é até mesmo possível construir a ilusão de óptica de atravessar o espelho.
Fonte:http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=escudo-sonoro-submarinos-invisiveis-sonar&id=010160110110&ebol=sim
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Cresce interesse brasileiro por ciência
11/1/2011
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – O interesse da população brasileira pela ciência aumentou consideravelmente nos últimos quatro anos. A conclusão é da pesquisa “Percepção Pública da Ciência e Tecnologia”, realizada no fim de 2010 com mais de 2 mil pessoas em todo o país e divulgada nesta segunda-feira (10/1) pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Em pesquisa anterior, realizada em 2006, o número de interessados ou muito interessados em ciência era de 41% dos brasileiros. O percentual subiu, em 2010, para 65%.
De acordo com o coordenador do estudo, Ildeu de Castro Moreira, os resultados – que em breve serão publicados no site do MCT – não apenas revelam um interesse crescente, mas apontam também que a população brasileira tem uma percepção cada vez mais madura a respeito da ciência.
“Os resultados mostram que a população brasileira confia no cientista, acredita que a pesquisa é fundamental, apoia o aumento de recursos para o setor e acha que a ciência traz benefícios para sua vida. Por outro lado, as opiniões não são desprovidas de crítica: há uma consciência dos perigos e limites éticos existentes. Concluímos que a população brasileira tem uma percepção social bastante madura da ciência”, disse Moreira à Agência FAPESP.
O estudo envolveu 2016 pessoas, que responderam questionários semelhantes aos utilizados na versão de 2006. As entrevistas foram estratificadas quanto a sexo, idade, escolaridade, renda e região de moradia. A margem de erro, segundo Moreira, é de 2%.
“Esse tipo de estudo é importante porque nos traz informações sobre a visão e as atitudes do brasileiro em relação ao assunto. Ele identifica também carências e lacunas. Esses dados podem nos fornecer subsídios para políticas públicas”, afirmou.
Antes da pesquisa de 2006, apenas um estudo sobre percepção pública da ciência havia sido realizado em âmbito nacional, em menor escala, em 1987, de acordo com Moreira.
“Esperamos que dentro de quatro anos tenhamos uma série histórica que nos permita fazer comparações ao longo do tempo”, afirmou. Segundo ele, os resultados serão publicados em livro pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), permitindo comparações com o estudo de 2006.
Em São Paulo, os trabalhos de percepção pública da ciência tiveram início em 2003, em uma pesquisa pioneira e internacional, conduzida pela FAPESP, pela Rede Iberoamericana de Ciência e Tecnologia (Ricyt), da Argentina e pela Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI). Os dados deram base para um capítulo contido nos Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo – 2004, publicado pela FAPESP.
Meio ambiente em alta
Os resultados mostraram que, para o público brasileiro, a ciência é mais interessante que temas populares como esportes. Do total dos entrevistados, 65% se dizem interessados e muito interessados em ciência e 62% em esportes.
O meio ambiente é o tema mais “popular”, com 83% de interessados e muito interessados. Em 2006, o percentual era de 58%. Em seguida, aparece medicina e saúde, com 81%. Apenas 59% declararam-se interessados ou muito interessados em arte e cultura. “O fato do tema do meio ambiente ter ultrapassado medicina e saúde é um dos aspectos mais marcantes da pesquisa”, disse Moreira.
Segundo Moreira, no entanto, as respostas sobre o interesse pelos diversos temas oferecem certa ambiguidade, já que as pessoas têm concepções diferentes sobre o que é ciência, arte, ou cultura. Para superar essa incerteza, seria preciso utilizar métodos qualitativos em um estudo com grupos focais.
“Neste tipo de enquete conseguimos fazer uma apreciação geral e nacional. Se por um lado perdemos em profundidade, ganhamos em generalidade – e como há várias questões, a incerteza em relação aos conceitos é amenizada. Um aspecto importante foi que formulamos as questões dentro de padrões internacionais e, com isso, poderemos no futuro fazer comparações com outros países”, disse.
Os assuntos preferidos entre os 65% interessados ou muito interessados em ciência são ciências da saúde (30,3%), informática e computação (22,6%), agricultura (11,2%), engenharias (8,4%), ciências biológicas (6%). Temas como matemática, física, química, ciências da terra, ciências sociais e história ficam com percentuais entre 3% e 4%. Astronomia e espaço tem 1,6%.
Entre os que declararam não se interessar por ciência e tecnologia, a maior parte, 36,7%, alegou como razão para o desinteresse que “não entende” o assunto. Mais de 36% alegam que visitam museus e não participam de eventos científicos porque eles não existem em sua região.
“Grande parte dos brasileiros declara não ter acesso a eventos e msueus. De fato, a densidade de instituições científico-culturais é muito pequena, especialmente no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste. Entretanto, a visitação e participação em eventos científicos aumentou em relação a 2006”, disse Moreira.
Ciência nacional ainda é desconhecida
Embora diversas respostas, segundo Moreira, tenham revelado uma visão madura do público em relação à ciência, algumas delas chamam a atenção para o desconhecimento sobre o tema.
Uma parcela de quase 82% dos entrevistados não soube citar nenhuma instituição de pesquisa científica no Brasil. Entre os demais, 23,5% citaram o Instituto Butantan e 12,1% citaram o Instituto Oswaldo Cruz. Mais de 87% não souberam citar nenhum cientista brasileiro importante. Entre os demais, 40% citaram Oswaldo Cruz e 29% citaram Carlos Chagas.
“Trata-se, sem dúvida, de uma deficiência associada à precariedade da escola, tanto no ensino básico como na universidade. Os livros não têm conteúdos sobre o que foi feito na ciência nacional. A mídia em geral também não dá destaque a isso e é muito mais pautada no exterior – com boas exceções”, disse Moreira.
Houve avanços, no entanto, na apreciação dos brasileiros sobre a ciência nacional desde 1987, quando mais da metade dos entrevistados a consideravam atrasada em relação ao contexto mundial.
“A apreciação que é feita hoje é bem realista e coloca a ciência nacional em um patamar intermediário – onde de fato ela está. Hoje apenas 26% acham que temos uma ciência atrasada”, disse. Quase 50% dos entrevistados consideram a ciência brasileira em um patamar intermediário e 19,7% a julgam avançada.
Em relação aos benefícios trazidos pela ciência, segundo Moreira, a população brasileira é a mais otimista do mundo. “O otimismo é uma característica cultural do brasileiro. Além disso, houve um avanço econômico e social importante no país nos últimos anos e muita gente teve acesso à televisão, celulares e internet – o que é associado com a tecnologia”, disse.
Os médicos, segundo a pesquisa, são as fontes de informação sobre ciência com mais credibilidade para 27,6% dos entrevistados. Os jornalistas, para 19,9%. Os religiosos para 13,6%. Os cientistas de institutos de pesquisa públicos para 12,3%. Já os cientistas que trabalham para empresas são a fonte com mais credibilidade para apenas 4,1%.
Outros resultados
Para mais de 42% dos entrevistados, a ciência traz mais benefícios que malefícios. Para quase 39%, traz apenas benefícios. Exatos 14% acreditam que a ciência traz tanto benefícios como malefícios. Apenas 2,5% acreditam que os malefícios predominam.
Os benefícios da ciência mais citados pelos entrevistados foram aqueles trazidos para a saúde e proteção contra doenças” (26,1%) e para melhorar a qualidade de vida (19,1%). Os principais malefícios foram “trazer problemas para o meio ambiente” (26,9%), “redução de emprego” (12,9%), “provocar o surgimento de novas doenças” (12,6%) e “produzir alimentos menos saudáveis” (12,2%).
Para metade dos brasileiros, o conhecimento dá aos cientistas poderes que os tornam potencialmente perigosos. Para 56%, a maioria das pessoas é capaz de entender o conhecimento científico se ele for bem explicado. Para 51%, a pesquisa científica é essencial para o desenvolvimento da indústria.
As descobertas científicas em si não são boas nem más – o que importa é a forma como elas são usadas – na opinião de 57% dos entrevistados. Para 66%, as autoridades devem obrigar legalmente os cientistas a seguirem padrões éticos.
Os cientistas são “pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade” para 38,5% da população. São “pessoas comuns com treinamento especial para 12,5%. Para 11,1%, são pessoas que trabalham muito sem querer ficar ricas. Para 9,9% são “pessoas que se interessam por temas distantes da realidade dos outros. Para 9,3%, são “pessoas que servem a interesses econômicos” e para 7,3% são “pessoas excêntricas de fala complicada”.
As necessidades tecnológicas definem os rumos da ciência para mais de 40% da população. Para 16,8%, os rumos são ditados pela demanda do mercado econômico e, para 9,1%, pelas grandes empresas multinacionais.
O desenvolvimento da ciência brasileira não é maior porque os recursos são insuficientes, na visão de 31% dos entrevistados. Para 16,3%, o problema são os laboratórios mal equipados. Mais de 12% acham que o número de cientistas é pequeno.
Os governos devem aumentar os recursos que destinam à pesquisa científica e tecnológica, na opinião de 68% dos entrevistados. Para 72%, as empresas privadas brasileiras deveriam investir mais na pesquisa. Na opinião de 30% da população, o desenvolvimento científico e tecnológico levará a uma diminuição das desigualdades sociais no país.
Para o público, as áreas de maior importância para o desenvolvimento no país são os setores de medicamentos (32,1%), agricultura (15%), mudanças climáticas (14,8%) e energia solar (14%). Depois aparecem biocombustíveis (6%), computadores e tecnologia da informação (4%), ciências sociais (3,6%), biotecnologia (3,3%), exploração de recursos do mar (1,9%), nanotecnologia (1,3%) e exploração espacial (1,3%).
Fonte:http://www.agencia.fapesp.br/materia/13300/cresce-interesse-brasileiro-por-ciencia.htm
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – O interesse da população brasileira pela ciência aumentou consideravelmente nos últimos quatro anos. A conclusão é da pesquisa “Percepção Pública da Ciência e Tecnologia”, realizada no fim de 2010 com mais de 2 mil pessoas em todo o país e divulgada nesta segunda-feira (10/1) pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Em pesquisa anterior, realizada em 2006, o número de interessados ou muito interessados em ciência era de 41% dos brasileiros. O percentual subiu, em 2010, para 65%.
De acordo com o coordenador do estudo, Ildeu de Castro Moreira, os resultados – que em breve serão publicados no site do MCT – não apenas revelam um interesse crescente, mas apontam também que a população brasileira tem uma percepção cada vez mais madura a respeito da ciência.
“Os resultados mostram que a população brasileira confia no cientista, acredita que a pesquisa é fundamental, apoia o aumento de recursos para o setor e acha que a ciência traz benefícios para sua vida. Por outro lado, as opiniões não são desprovidas de crítica: há uma consciência dos perigos e limites éticos existentes. Concluímos que a população brasileira tem uma percepção social bastante madura da ciência”, disse Moreira à Agência FAPESP.
O estudo envolveu 2016 pessoas, que responderam questionários semelhantes aos utilizados na versão de 2006. As entrevistas foram estratificadas quanto a sexo, idade, escolaridade, renda e região de moradia. A margem de erro, segundo Moreira, é de 2%.
“Esse tipo de estudo é importante porque nos traz informações sobre a visão e as atitudes do brasileiro em relação ao assunto. Ele identifica também carências e lacunas. Esses dados podem nos fornecer subsídios para políticas públicas”, afirmou.
Antes da pesquisa de 2006, apenas um estudo sobre percepção pública da ciência havia sido realizado em âmbito nacional, em menor escala, em 1987, de acordo com Moreira.
“Esperamos que dentro de quatro anos tenhamos uma série histórica que nos permita fazer comparações ao longo do tempo”, afirmou. Segundo ele, os resultados serão publicados em livro pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), permitindo comparações com o estudo de 2006.
Em São Paulo, os trabalhos de percepção pública da ciência tiveram início em 2003, em uma pesquisa pioneira e internacional, conduzida pela FAPESP, pela Rede Iberoamericana de Ciência e Tecnologia (Ricyt), da Argentina e pela Organização dos Estados Iberoamericanos (OEI). Os dados deram base para um capítulo contido nos Indicadores de Ciência, Tecnologia e Inovação em São Paulo – 2004, publicado pela FAPESP.
Meio ambiente em alta
Os resultados mostraram que, para o público brasileiro, a ciência é mais interessante que temas populares como esportes. Do total dos entrevistados, 65% se dizem interessados e muito interessados em ciência e 62% em esportes.
O meio ambiente é o tema mais “popular”, com 83% de interessados e muito interessados. Em 2006, o percentual era de 58%. Em seguida, aparece medicina e saúde, com 81%. Apenas 59% declararam-se interessados ou muito interessados em arte e cultura. “O fato do tema do meio ambiente ter ultrapassado medicina e saúde é um dos aspectos mais marcantes da pesquisa”, disse Moreira.
Segundo Moreira, no entanto, as respostas sobre o interesse pelos diversos temas oferecem certa ambiguidade, já que as pessoas têm concepções diferentes sobre o que é ciência, arte, ou cultura. Para superar essa incerteza, seria preciso utilizar métodos qualitativos em um estudo com grupos focais.
“Neste tipo de enquete conseguimos fazer uma apreciação geral e nacional. Se por um lado perdemos em profundidade, ganhamos em generalidade – e como há várias questões, a incerteza em relação aos conceitos é amenizada. Um aspecto importante foi que formulamos as questões dentro de padrões internacionais e, com isso, poderemos no futuro fazer comparações com outros países”, disse.
Os assuntos preferidos entre os 65% interessados ou muito interessados em ciência são ciências da saúde (30,3%), informática e computação (22,6%), agricultura (11,2%), engenharias (8,4%), ciências biológicas (6%). Temas como matemática, física, química, ciências da terra, ciências sociais e história ficam com percentuais entre 3% e 4%. Astronomia e espaço tem 1,6%.
Entre os que declararam não se interessar por ciência e tecnologia, a maior parte, 36,7%, alegou como razão para o desinteresse que “não entende” o assunto. Mais de 36% alegam que visitam museus e não participam de eventos científicos porque eles não existem em sua região.
“Grande parte dos brasileiros declara não ter acesso a eventos e msueus. De fato, a densidade de instituições científico-culturais é muito pequena, especialmente no Norte, no Nordeste e no Centro-Oeste. Entretanto, a visitação e participação em eventos científicos aumentou em relação a 2006”, disse Moreira.
Ciência nacional ainda é desconhecida
Embora diversas respostas, segundo Moreira, tenham revelado uma visão madura do público em relação à ciência, algumas delas chamam a atenção para o desconhecimento sobre o tema.
Uma parcela de quase 82% dos entrevistados não soube citar nenhuma instituição de pesquisa científica no Brasil. Entre os demais, 23,5% citaram o Instituto Butantan e 12,1% citaram o Instituto Oswaldo Cruz. Mais de 87% não souberam citar nenhum cientista brasileiro importante. Entre os demais, 40% citaram Oswaldo Cruz e 29% citaram Carlos Chagas.
“Trata-se, sem dúvida, de uma deficiência associada à precariedade da escola, tanto no ensino básico como na universidade. Os livros não têm conteúdos sobre o que foi feito na ciência nacional. A mídia em geral também não dá destaque a isso e é muito mais pautada no exterior – com boas exceções”, disse Moreira.
Houve avanços, no entanto, na apreciação dos brasileiros sobre a ciência nacional desde 1987, quando mais da metade dos entrevistados a consideravam atrasada em relação ao contexto mundial.
“A apreciação que é feita hoje é bem realista e coloca a ciência nacional em um patamar intermediário – onde de fato ela está. Hoje apenas 26% acham que temos uma ciência atrasada”, disse. Quase 50% dos entrevistados consideram a ciência brasileira em um patamar intermediário e 19,7% a julgam avançada.
Em relação aos benefícios trazidos pela ciência, segundo Moreira, a população brasileira é a mais otimista do mundo. “O otimismo é uma característica cultural do brasileiro. Além disso, houve um avanço econômico e social importante no país nos últimos anos e muita gente teve acesso à televisão, celulares e internet – o que é associado com a tecnologia”, disse.
Os médicos, segundo a pesquisa, são as fontes de informação sobre ciência com mais credibilidade para 27,6% dos entrevistados. Os jornalistas, para 19,9%. Os religiosos para 13,6%. Os cientistas de institutos de pesquisa públicos para 12,3%. Já os cientistas que trabalham para empresas são a fonte com mais credibilidade para apenas 4,1%.
Outros resultados
Para mais de 42% dos entrevistados, a ciência traz mais benefícios que malefícios. Para quase 39%, traz apenas benefícios. Exatos 14% acreditam que a ciência traz tanto benefícios como malefícios. Apenas 2,5% acreditam que os malefícios predominam.
Os benefícios da ciência mais citados pelos entrevistados foram aqueles trazidos para a saúde e proteção contra doenças” (26,1%) e para melhorar a qualidade de vida (19,1%). Os principais malefícios foram “trazer problemas para o meio ambiente” (26,9%), “redução de emprego” (12,9%), “provocar o surgimento de novas doenças” (12,6%) e “produzir alimentos menos saudáveis” (12,2%).
Para metade dos brasileiros, o conhecimento dá aos cientistas poderes que os tornam potencialmente perigosos. Para 56%, a maioria das pessoas é capaz de entender o conhecimento científico se ele for bem explicado. Para 51%, a pesquisa científica é essencial para o desenvolvimento da indústria.
As descobertas científicas em si não são boas nem más – o que importa é a forma como elas são usadas – na opinião de 57% dos entrevistados. Para 66%, as autoridades devem obrigar legalmente os cientistas a seguirem padrões éticos.
Os cientistas são “pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade” para 38,5% da população. São “pessoas comuns com treinamento especial para 12,5%. Para 11,1%, são pessoas que trabalham muito sem querer ficar ricas. Para 9,9% são “pessoas que se interessam por temas distantes da realidade dos outros. Para 9,3%, são “pessoas que servem a interesses econômicos” e para 7,3% são “pessoas excêntricas de fala complicada”.
As necessidades tecnológicas definem os rumos da ciência para mais de 40% da população. Para 16,8%, os rumos são ditados pela demanda do mercado econômico e, para 9,1%, pelas grandes empresas multinacionais.
O desenvolvimento da ciência brasileira não é maior porque os recursos são insuficientes, na visão de 31% dos entrevistados. Para 16,3%, o problema são os laboratórios mal equipados. Mais de 12% acham que o número de cientistas é pequeno.
Os governos devem aumentar os recursos que destinam à pesquisa científica e tecnológica, na opinião de 68% dos entrevistados. Para 72%, as empresas privadas brasileiras deveriam investir mais na pesquisa. Na opinião de 30% da população, o desenvolvimento científico e tecnológico levará a uma diminuição das desigualdades sociais no país.
Para o público, as áreas de maior importância para o desenvolvimento no país são os setores de medicamentos (32,1%), agricultura (15%), mudanças climáticas (14,8%) e energia solar (14%). Depois aparecem biocombustíveis (6%), computadores e tecnologia da informação (4%), ciências sociais (3,6%), biotecnologia (3,3%), exploração de recursos do mar (1,9%), nanotecnologia (1,3%) e exploração espacial (1,3%).
Fonte:http://www.agencia.fapesp.br/materia/13300/cresce-interesse-brasileiro-por-ciencia.htm
Emergentes dão basta à era das cópias
Criação ganha destaque nos países em desenvolvimento
A marca Pulpy foi lançada na China pela Minute Maid e depois levada para outros países da Ásia e América Latina. A marca Pulpy pode ser desconhecida em Londres, Nova York ou Tóquio. Mas a bebida à base de frutas mais vendida da Coca-Cola é a última moda em Xangai, Jacarta e Cidade do México.
Lançada na China pela Minute Maid, uma unidade da empresa americana, e depois levada a outros países da Ásia e América Latina, a marca agora se prepara para estrear no Leste Europeu e em outras regiões.
A Pulpy é o primeiro produto internacional da Coca-Cola a ser desenvolvido no mundo emergente e contribuir de forma significativa para as vendas mundiais do grupo, embora não se revelem valores. "É uma das inovações mais bem-sucedidas da Coca-Cola no século XXI", afirma Joanna Lu, diretora de marketing da Coca-Cola.
O sucesso da bebida coloca em evidência a importância cada vez maior da inovação nos países emergentes. China, Índia, Brasil e outros países não proporcionam às empresas apenas perspectivas de alto crescimento, mas também oportunidades para desenvolver novos produtos, serviços, técnicas de produção e processos administrativos.
Essas inovações não envolvem ainda mudanças tecnológicas transformacionais - tais invenções continuam sob o domínio do mundo desenvolvido com suas tradicionais universidades e laboratórios comerciais. O mundo emergente, no entanto, está criando aperfeiçoamentos de produtos com implicações comerciais suficientes para mudar inteiramente o cenário do jogo. Não ganham prêmios Nobel, mas geram dinheiro.
As multinacionais que minimizam a importância dessas inovações, atribuindo-as às circunstâncias locais, o fazem por conta e risco. As vantagens que os concorrentes ganham nos países emergentes também acabam sendo transferidas ao mundo rico.
"O perigo para muitas [multinacionais] é que não vejam as inovações nos mercados emergentes chegando, porque elas não estão chegando direto a seus mercados domésticos. Mas elas chegarão", afirma Christoph Nettesheim, da empresa de consultoria em administração Boston Consulting Group.
Há precedente: nos anos 1970, os produtos de grupos japoneses que avançavam nos mercados mundiais eram muitas vezes menosprezados como imitações de baixa qualidade e custo. Posteriormente, foi preciso admitir que eram inovadores, especialmente na miniaturização e nas técnicas administrativas de redução nos prazos de produção. Embora as próprias empresas japonesas estejam agora sob pressão de grupos ocidentais revigorados e de novos rivais do leste da Ásia, suas inovações são imitadas por todos os lugares.
A inovação nos mercados emergentes não é algo novo. Há mais de 20 anos, a Hindustan Lever, afiliada indiana de bens de consumo da anglo-holandesa Unilever, foi pioneira nos minissachês, como forma de levar seus sabonetes para os consumidores mais pobres. A novidade é o volume cada vez maior de tais inovações, a velocidade com que capturam mercados e o crescente papel em inovações das empresas locais, especialmente das chinesas, indianas, brasileiras e sul-africanas.
Certamente, as economias emergentes produzem aos montes produtos de má qualidade e várias cópias roubadas de originais japoneses e ocidentais. Mas meras imitações não sustentam uma empresa por muito tempo, tendo em vista a feroz concorrência nas grandes economias, principalmente na China. "Eles não precisam mais roubar. Isso é passado", como diz o vice-presidente da Nokia, Dieter May.
Com a China superando o Japão como 2ª maior economia do mundo, suas empresas encabeçam o ataque. A Huawei, líder em tecnologia de conexões, concorre frontalmente com a Ericsson, da Europa, até na Europa. A Mindray, fabricante de equipamentos médicos, desenvolveu monitores que custam 10% dos produtos rivais ocidentais. A Haier, empresa de produtos da linha branca, fabrica minigeladeiras de baixo custo.
Em outros países, a Tata Motors, da Índia, determina novos padrões de carros de baixo custo com o Nano, de US$ 2,5 mil. O laboratório farmacêutico Ranbaxydesenvolveu um remédio contra a malária a partir do zero. A SAB Miller, cervejaria sul-africana, desenvolveu uma cerveja de baixo custo com base no sorgo, uma colheita local que substitui o malte importado, mais caro.
No Brasil, a Embraer fabrica aviões comerciais de menor porte de classe mundial. Mesmo na Rússia, onde as condições de negócios são particularmente duras, também há inovações comerciais. A empresa de software Kaspersky Laboratories exporta programas de segurança de qualidade mundial, com sua própria marca.
Na área de serviços, a Bharti Airteltornou-se a maior operadora de telefonia móvel da Índia ao terceirizar quase tudo, desde a rede de transmissão até o sistema de contas. O médico Devi Shetty desenvolveu um sistema para fazer cirurgias cardíacas em massa em seu hospital, em Bangalore, com mil leitos.
Algumas empresas transformaram setores mundiais inteiros. Na área de terceirização, grupos indianos, encabeçados pela TCSe Infosys, revolucionaram a gestão da informação ao separar o trabalho feito por consultores in loco, de alto custo, do que é realizado fora do país, mais barato. "Mudamos o setor", diz Kris Gopalakrishnan, executivo-chefe da Infosys.
Países emergentes ainda têm muito pela frente até alcançarem as economias desenvolvidas em termos de ciência. Apenas a Rússia tem um número significativo de vencedores de prêmios Nobel científicos. A China, no entanto, está na dianteira mundial em formar engenheiros e cientistas - 2 milhões por ano, cinco vezes mais do que nos EUA, segundo a Research-Works, empresa asiática da área de investimentos.
Muitos dos melhores talentos partem do país, com cerca de 30% dos doutorados em ciência e engenharia nos EUA tendo nascido na China. "Nossas instituições de educação são fracas", afirma Win Yinga, chefe do China Capital Group, um fundo chinês de capital de risco. "Eles são criados para o aprendizado baseado na memorização, e não para criar formados voltados à inovação."
Mas há progressos. Acadêmicos chineses formados no ocidente estão voltando ao seu país em números cada vez maiores. A China produz mais estudos científicos, revisados por especialistas, do que qualquer outro país, com exceção dos EUA.
A superioridade científica não se traduz necessariamente em sucesso econômico, como mostram as dificuldades da Rússia para diversificar-se além das commodities. A inovação comercial é mais importante, como evidencia a ascensão da China.
Os investimentos chineses em pesquisa e desenvolvimento, em dólar, já superaram os do Japão e encaminham-se a passar os da União Europeia e igualar os dos EUA nos próximos 20 anos. Como os custos trabalhistas com a pesquisa e desenvolvimento ficam entre 20% e 50% dos verificados no ocidente, os números acabam superando os dos EUA, União Europeia ou Japão.
As principais empresas começam a ter resultados. Em 2008, a Huawei registrou mais patentes do que qualquer outra empresa, segundo o escritório de patentes mundiais, Wipo. No ano passado, havia ficado em segundo, atrás da Panasonic, do Japão. Ainda há, porém, um longo caminho pela frente: a única outra chinesa entre as cem primeiras foi a ZTE, outra fabricante de bens eletrônicos.
As multinacionais ocidentais reclamam que as empresas chinesas roubam tecnologia em sua investida de modernização, financiada pelo governo. Muitos projetos, no entanto, foram cedidos voluntariamente, em acordos de cooperação: as multinacionais apostam que os riscos valem a pena para entrar na China. Agora, as empresas chinesas estão entrando nos mercados mundiais, algumas vezes em parceria com rivais ocidentais. Um exemplo é a área de trens de alta velocidade, em que a CSR, da China, trabalha com a General Electric (GE), dos EUA, e a Siemens, da Alemanha.
Os céticos consideram muitas das inovações de países emergentes como apenas pequenos aperfeiçoamentos incrementados ao que já existe. Para as empresas, contudo, isso é irrelevante, se tais aperfeiçoamentos de fato levarem a melhores serviços, processos e produtos. "As inovações podem ser incrementais. Os efeitos não", diz Peter Williamson, professor de gestão internacional, na universidade de Cambridge.
As principais multinacionais concordam. Engenheiros da afiliada indiana da Siemens desenvolveram uma câmera de raios-X de baixo custo e boa qualidade, que será usada em equipamentos de países desenvolvidos.
"Uma boa ideia ou produto da Índia, por exemplo, pode ser conectado a um sistema global de vendas e produção", diz o executivo-chefe da Siemens, Peter Löscher. "Ajuda a aumentar a competitividade não apenas dos mercados emergentes, mas também dos países industrializados."
Várias multinacionais fazem o mesmo. A GE vende aparelhos de eletrocardiograma desenvolvidos na Índia e scanners de ultrassonografia projetados na China por todo o mundo. A Nokia usa software indiano e chinês para desenvolver smartphones. A Vodafonelançou um sistema sem fio de transferência de dinheiro chamado M-Pesa, na Safaricom, sua afiliada queniana. Esquemas similares voltados às pessoas sem contas bancárias foram lançados na África e, agora, na Índia.
As multinacionais também estão ampliando a pesquisa e desenvolvimento no mundo emergente, especialmente na China e Índia. A Siemens tem 12% de seus 30 mil funcionários de pesquisa e desenvolvimento na Ásia. Há cinco anos, eram 7%. A Microsoft encabeça uma lista de cerca de cem grandes empresas com centros de pesquisa e desenvolvimento na China. A GE é umas das mais de 50 multinacionais com centros na Índia.
"Em outros tempos, as soluções administrativas fluíam do ocidente para o oriente", diz o Navi Radjou, especialista em administração da universidade de Cambridge. "Agora, da mesma forma, fluem do oriente para o ocidente."
As empresas não buscam simplesmente disseminação geográfica - ou satisfazer pressões políticas para localizar seus centros de pesquisa e desenvolvimento. Querem as ideias geradas por pessoas trabalhando em condições econômicas e culturais diferentes. Ideias para cortar custos são fundamentais.
Muitas multinacionais antigamente almejavam apenas os segmentos de maior renda nos países emergentes. Agora, voltaram-se aos grupos de renda média, que crescem rapidamente. "Precisamos empurrar os produtos pirâmide abaixo", diz Abbas Hussain, chefe de mercados emergentes do laboratório farmacêutico britânico GSK.
Apenas reduzir custos, contudo, não é suficiente. Os consumidores nos mercados emergentes também querem qualidade, conveniência e elegância, afirma Jean-Philippe Salar, chefe de design da Renault. "Os indianos querem carros com visual dinâmico. O visual é muito importante."
Além disso, com os consumidores no mundo desenvolvido deparando-se com tempos de austeridade, eles também querem alternativas baratas. "A Índia é o lugar perfeito para projetar novos carros. Novos veículos precisam ser econômicos, pequenos e leves em comparação aos de dez anos atrás", diz Salar.
Radjou sugere que o sistema bancário por telefone celular - desenvolvido pela Safaricom - possa estendido aos países desenvolvidos. Mesmo nos EUA, cerca de 17 milhões de adultos não têm conta bancária. Alguns governos ocidentais estudam os tratamentos hospitalares de baixo custo lançados na Índia. Outros compram equipamentos médicos mais baratos , como os scanners de ultrassonografia desenvolvidos pela GE na China.
Lançar inovações mundiais não é nada fácil. Executivos de países desenvolvidos frequentemente subestimam seus colegas em mercados emergentes. As linhas de comunicação se rompem quando se alongam em divisões culturais.
Mas as empresas têm poucas opções a não ser inovar nas economias emergentes, porque é lá que estão os clientes. Como Mark Foster, da empresa de consultoria Accenture diz, "a inovação não surge em caixas, surg e em mercados".
(Stefan Wagstyl, do Financial Times)
(Tradução de Sabino Ahumada)
Brasil torna-se referência em odontologia
Uma das muitas coisas surpreendentes sobre o Brasil é que a odontologia praticada no país é uma das mais avançadas do mundo. A habilidade de seus dentistas e o tamanho de seu mercado, que cresceu rapidamente nos últimos anos, vêm atraindo algumas das maiores companhias de materiais odontológicos, como a Dentsplye, a Ultradent, dos Estados Unidos, e a KaVo, da Alemanha.
"É um ambiente que encoraja as pesquisas originais", afirma Luiz Abreu, diretor-geral da Ultradent para o Brasil e a América do Sul, que chegou ao Brasil em setembro de 2007.
Durante sua curta presença no país, a Ultradent já desenvolveu dois produtos para a venda no mundo todo. Um deles, a ser lançado em breve, é um instrumento chamado "apex locator" (delimitador de ápice), que ajuda na avaliação do trabalho necessário no tratamento de canal. O outro, batizado de Tilos, é um conjunto de limas para o tratamento de canal, projetado para ser menor intrusivo.
Abreu diz que a empresa tem "pelo menos" mais quatro produtos e técnicas em desenvolvimento no Brasil. Além disso, professores brasileiros de ortodontia são membros permanentes da equipe internacional de avaliadores da Ultradent, envolvida no desenvolvimento de novos produtos.
"O Brasil sempre despertou nossa atenção porque é o terceiro ou quarto país do mundo em termos do número de artigos publicados em periódicos de odontologia", diz. Mas desde que chegamos (...) nos aproximamos mais dessa realidade e vimos que o Brasil realmente contribui com novas técnicas, especialmente na combinação de materiais mais sofisticados com técnicas menos invasivas."
Abreu diz que a odontologia brasileira é uma combinação de culturas dos Estados Unidos, que enfatizam a estética, e da Europa, onde "o foco número um é que os dentes devem cumprir as funções que a natureza criou para eles".
O Brasil desenvolveu essa cultura híbrida por causa da desigualdade de renda. Uma minoria da população pode arcar com - e exige - os tratamentos mais sofisticados. Uma maioria muito mais numerosa precisa aceitar os serviços possibilitados por orçamentos muito mais limitados.
"Os dentistas enfrentam uma realidade brutal todos os dias", afirma. "É incomum um dentista ter apenas um consultório. Normalmente, eles trabalham com uma variedade de pacientes. Isso os faz manter a mente aberta."
Há uma tradição dos serviços públicos na odontologia. A cidade de Campinas foi a primeira no Brasil a adicionar flúor na água potável distribuída à população, depois que um dentista foi eleito para a Câmara Municipal. Hoje, quase toda a água encanada distribuída no Brasil recebe flúor.
Mas nem todas as condições são ideais para a inovação no Brasil. Tão notória quanto a desigualdade social é a burocracia humilhante do país. A linha Tilos, da Ultradent, desenvolvida por brasileiros, já está à venda nos EUA, Europa e Japão, mas não no Brasil. "Podemos desenvolver novos produtos, mas o processo de registro é m dos mais complicados do mundo", afirma Abreu.
(Jonathan Wheatley, do Financial Times)
(Tradução de Mário Zamarian)
(Valor Econômico, 10/1)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75778
A marca Pulpy foi lançada na China pela Minute Maid e depois levada para outros países da Ásia e América Latina. A marca Pulpy pode ser desconhecida em Londres, Nova York ou Tóquio. Mas a bebida à base de frutas mais vendida da Coca-Cola é a última moda em Xangai, Jacarta e Cidade do México.
Lançada na China pela Minute Maid, uma unidade da empresa americana, e depois levada a outros países da Ásia e América Latina, a marca agora se prepara para estrear no Leste Europeu e em outras regiões.
A Pulpy é o primeiro produto internacional da Coca-Cola a ser desenvolvido no mundo emergente e contribuir de forma significativa para as vendas mundiais do grupo, embora não se revelem valores. "É uma das inovações mais bem-sucedidas da Coca-Cola no século XXI", afirma Joanna Lu, diretora de marketing da Coca-Cola.
O sucesso da bebida coloca em evidência a importância cada vez maior da inovação nos países emergentes. China, Índia, Brasil e outros países não proporcionam às empresas apenas perspectivas de alto crescimento, mas também oportunidades para desenvolver novos produtos, serviços, técnicas de produção e processos administrativos.
Essas inovações não envolvem ainda mudanças tecnológicas transformacionais - tais invenções continuam sob o domínio do mundo desenvolvido com suas tradicionais universidades e laboratórios comerciais. O mundo emergente, no entanto, está criando aperfeiçoamentos de produtos com implicações comerciais suficientes para mudar inteiramente o cenário do jogo. Não ganham prêmios Nobel, mas geram dinheiro.
As multinacionais que minimizam a importância dessas inovações, atribuindo-as às circunstâncias locais, o fazem por conta e risco. As vantagens que os concorrentes ganham nos países emergentes também acabam sendo transferidas ao mundo rico.
"O perigo para muitas [multinacionais] é que não vejam as inovações nos mercados emergentes chegando, porque elas não estão chegando direto a seus mercados domésticos. Mas elas chegarão", afirma Christoph Nettesheim, da empresa de consultoria em administração Boston Consulting Group.
Há precedente: nos anos 1970, os produtos de grupos japoneses que avançavam nos mercados mundiais eram muitas vezes menosprezados como imitações de baixa qualidade e custo. Posteriormente, foi preciso admitir que eram inovadores, especialmente na miniaturização e nas técnicas administrativas de redução nos prazos de produção. Embora as próprias empresas japonesas estejam agora sob pressão de grupos ocidentais revigorados e de novos rivais do leste da Ásia, suas inovações são imitadas por todos os lugares.
A inovação nos mercados emergentes não é algo novo. Há mais de 20 anos, a Hindustan Lever, afiliada indiana de bens de consumo da anglo-holandesa Unilever, foi pioneira nos minissachês, como forma de levar seus sabonetes para os consumidores mais pobres. A novidade é o volume cada vez maior de tais inovações, a velocidade com que capturam mercados e o crescente papel em inovações das empresas locais, especialmente das chinesas, indianas, brasileiras e sul-africanas.
Certamente, as economias emergentes produzem aos montes produtos de má qualidade e várias cópias roubadas de originais japoneses e ocidentais. Mas meras imitações não sustentam uma empresa por muito tempo, tendo em vista a feroz concorrência nas grandes economias, principalmente na China. "Eles não precisam mais roubar. Isso é passado", como diz o vice-presidente da Nokia, Dieter May.
Com a China superando o Japão como 2ª maior economia do mundo, suas empresas encabeçam o ataque. A Huawei, líder em tecnologia de conexões, concorre frontalmente com a Ericsson, da Europa, até na Europa. A Mindray, fabricante de equipamentos médicos, desenvolveu monitores que custam 10% dos produtos rivais ocidentais. A Haier, empresa de produtos da linha branca, fabrica minigeladeiras de baixo custo.
Em outros países, a Tata Motors, da Índia, determina novos padrões de carros de baixo custo com o Nano, de US$ 2,5 mil. O laboratório farmacêutico Ranbaxydesenvolveu um remédio contra a malária a partir do zero. A SAB Miller, cervejaria sul-africana, desenvolveu uma cerveja de baixo custo com base no sorgo, uma colheita local que substitui o malte importado, mais caro.
No Brasil, a Embraer fabrica aviões comerciais de menor porte de classe mundial. Mesmo na Rússia, onde as condições de negócios são particularmente duras, também há inovações comerciais. A empresa de software Kaspersky Laboratories exporta programas de segurança de qualidade mundial, com sua própria marca.
Na área de serviços, a Bharti Airteltornou-se a maior operadora de telefonia móvel da Índia ao terceirizar quase tudo, desde a rede de transmissão até o sistema de contas. O médico Devi Shetty desenvolveu um sistema para fazer cirurgias cardíacas em massa em seu hospital, em Bangalore, com mil leitos.
Algumas empresas transformaram setores mundiais inteiros. Na área de terceirização, grupos indianos, encabeçados pela TCSe Infosys, revolucionaram a gestão da informação ao separar o trabalho feito por consultores in loco, de alto custo, do que é realizado fora do país, mais barato. "Mudamos o setor", diz Kris Gopalakrishnan, executivo-chefe da Infosys.
Países emergentes ainda têm muito pela frente até alcançarem as economias desenvolvidas em termos de ciência. Apenas a Rússia tem um número significativo de vencedores de prêmios Nobel científicos. A China, no entanto, está na dianteira mundial em formar engenheiros e cientistas - 2 milhões por ano, cinco vezes mais do que nos EUA, segundo a Research-Works, empresa asiática da área de investimentos.
Muitos dos melhores talentos partem do país, com cerca de 30% dos doutorados em ciência e engenharia nos EUA tendo nascido na China. "Nossas instituições de educação são fracas", afirma Win Yinga, chefe do China Capital Group, um fundo chinês de capital de risco. "Eles são criados para o aprendizado baseado na memorização, e não para criar formados voltados à inovação."
Mas há progressos. Acadêmicos chineses formados no ocidente estão voltando ao seu país em números cada vez maiores. A China produz mais estudos científicos, revisados por especialistas, do que qualquer outro país, com exceção dos EUA.
A superioridade científica não se traduz necessariamente em sucesso econômico, como mostram as dificuldades da Rússia para diversificar-se além das commodities. A inovação comercial é mais importante, como evidencia a ascensão da China.
Os investimentos chineses em pesquisa e desenvolvimento, em dólar, já superaram os do Japão e encaminham-se a passar os da União Europeia e igualar os dos EUA nos próximos 20 anos. Como os custos trabalhistas com a pesquisa e desenvolvimento ficam entre 20% e 50% dos verificados no ocidente, os números acabam superando os dos EUA, União Europeia ou Japão.
As principais empresas começam a ter resultados. Em 2008, a Huawei registrou mais patentes do que qualquer outra empresa, segundo o escritório de patentes mundiais, Wipo. No ano passado, havia ficado em segundo, atrás da Panasonic, do Japão. Ainda há, porém, um longo caminho pela frente: a única outra chinesa entre as cem primeiras foi a ZTE, outra fabricante de bens eletrônicos.
As multinacionais ocidentais reclamam que as empresas chinesas roubam tecnologia em sua investida de modernização, financiada pelo governo. Muitos projetos, no entanto, foram cedidos voluntariamente, em acordos de cooperação: as multinacionais apostam que os riscos valem a pena para entrar na China. Agora, as empresas chinesas estão entrando nos mercados mundiais, algumas vezes em parceria com rivais ocidentais. Um exemplo é a área de trens de alta velocidade, em que a CSR, da China, trabalha com a General Electric (GE), dos EUA, e a Siemens, da Alemanha.
Os céticos consideram muitas das inovações de países emergentes como apenas pequenos aperfeiçoamentos incrementados ao que já existe. Para as empresas, contudo, isso é irrelevante, se tais aperfeiçoamentos de fato levarem a melhores serviços, processos e produtos. "As inovações podem ser incrementais. Os efeitos não", diz Peter Williamson, professor de gestão internacional, na universidade de Cambridge.
As principais multinacionais concordam. Engenheiros da afiliada indiana da Siemens desenvolveram uma câmera de raios-X de baixo custo e boa qualidade, que será usada em equipamentos de países desenvolvidos.
"Uma boa ideia ou produto da Índia, por exemplo, pode ser conectado a um sistema global de vendas e produção", diz o executivo-chefe da Siemens, Peter Löscher. "Ajuda a aumentar a competitividade não apenas dos mercados emergentes, mas também dos países industrializados."
Várias multinacionais fazem o mesmo. A GE vende aparelhos de eletrocardiograma desenvolvidos na Índia e scanners de ultrassonografia projetados na China por todo o mundo. A Nokia usa software indiano e chinês para desenvolver smartphones. A Vodafonelançou um sistema sem fio de transferência de dinheiro chamado M-Pesa, na Safaricom, sua afiliada queniana. Esquemas similares voltados às pessoas sem contas bancárias foram lançados na África e, agora, na Índia.
As multinacionais também estão ampliando a pesquisa e desenvolvimento no mundo emergente, especialmente na China e Índia. A Siemens tem 12% de seus 30 mil funcionários de pesquisa e desenvolvimento na Ásia. Há cinco anos, eram 7%. A Microsoft encabeça uma lista de cerca de cem grandes empresas com centros de pesquisa e desenvolvimento na China. A GE é umas das mais de 50 multinacionais com centros na Índia.
"Em outros tempos, as soluções administrativas fluíam do ocidente para o oriente", diz o Navi Radjou, especialista em administração da universidade de Cambridge. "Agora, da mesma forma, fluem do oriente para o ocidente."
As empresas não buscam simplesmente disseminação geográfica - ou satisfazer pressões políticas para localizar seus centros de pesquisa e desenvolvimento. Querem as ideias geradas por pessoas trabalhando em condições econômicas e culturais diferentes. Ideias para cortar custos são fundamentais.
Muitas multinacionais antigamente almejavam apenas os segmentos de maior renda nos países emergentes. Agora, voltaram-se aos grupos de renda média, que crescem rapidamente. "Precisamos empurrar os produtos pirâmide abaixo", diz Abbas Hussain, chefe de mercados emergentes do laboratório farmacêutico britânico GSK.
Apenas reduzir custos, contudo, não é suficiente. Os consumidores nos mercados emergentes também querem qualidade, conveniência e elegância, afirma Jean-Philippe Salar, chefe de design da Renault. "Os indianos querem carros com visual dinâmico. O visual é muito importante."
Além disso, com os consumidores no mundo desenvolvido deparando-se com tempos de austeridade, eles também querem alternativas baratas. "A Índia é o lugar perfeito para projetar novos carros. Novos veículos precisam ser econômicos, pequenos e leves em comparação aos de dez anos atrás", diz Salar.
Radjou sugere que o sistema bancário por telefone celular - desenvolvido pela Safaricom - possa estendido aos países desenvolvidos. Mesmo nos EUA, cerca de 17 milhões de adultos não têm conta bancária. Alguns governos ocidentais estudam os tratamentos hospitalares de baixo custo lançados na Índia. Outros compram equipamentos médicos mais baratos , como os scanners de ultrassonografia desenvolvidos pela GE na China.
Lançar inovações mundiais não é nada fácil. Executivos de países desenvolvidos frequentemente subestimam seus colegas em mercados emergentes. As linhas de comunicação se rompem quando se alongam em divisões culturais.
Mas as empresas têm poucas opções a não ser inovar nas economias emergentes, porque é lá que estão os clientes. Como Mark Foster, da empresa de consultoria Accenture diz, "a inovação não surge em caixas, surg e em mercados".
(Stefan Wagstyl, do Financial Times)
(Tradução de Sabino Ahumada)
Brasil torna-se referência em odontologia
Uma das muitas coisas surpreendentes sobre o Brasil é que a odontologia praticada no país é uma das mais avançadas do mundo. A habilidade de seus dentistas e o tamanho de seu mercado, que cresceu rapidamente nos últimos anos, vêm atraindo algumas das maiores companhias de materiais odontológicos, como a Dentsplye, a Ultradent, dos Estados Unidos, e a KaVo, da Alemanha.
"É um ambiente que encoraja as pesquisas originais", afirma Luiz Abreu, diretor-geral da Ultradent para o Brasil e a América do Sul, que chegou ao Brasil em setembro de 2007.
Durante sua curta presença no país, a Ultradent já desenvolveu dois produtos para a venda no mundo todo. Um deles, a ser lançado em breve, é um instrumento chamado "apex locator" (delimitador de ápice), que ajuda na avaliação do trabalho necessário no tratamento de canal. O outro, batizado de Tilos, é um conjunto de limas para o tratamento de canal, projetado para ser menor intrusivo.
Abreu diz que a empresa tem "pelo menos" mais quatro produtos e técnicas em desenvolvimento no Brasil. Além disso, professores brasileiros de ortodontia são membros permanentes da equipe internacional de avaliadores da Ultradent, envolvida no desenvolvimento de novos produtos.
"O Brasil sempre despertou nossa atenção porque é o terceiro ou quarto país do mundo em termos do número de artigos publicados em periódicos de odontologia", diz. Mas desde que chegamos (...) nos aproximamos mais dessa realidade e vimos que o Brasil realmente contribui com novas técnicas, especialmente na combinação de materiais mais sofisticados com técnicas menos invasivas."
Abreu diz que a odontologia brasileira é uma combinação de culturas dos Estados Unidos, que enfatizam a estética, e da Europa, onde "o foco número um é que os dentes devem cumprir as funções que a natureza criou para eles".
O Brasil desenvolveu essa cultura híbrida por causa da desigualdade de renda. Uma minoria da população pode arcar com - e exige - os tratamentos mais sofisticados. Uma maioria muito mais numerosa precisa aceitar os serviços possibilitados por orçamentos muito mais limitados.
"Os dentistas enfrentam uma realidade brutal todos os dias", afirma. "É incomum um dentista ter apenas um consultório. Normalmente, eles trabalham com uma variedade de pacientes. Isso os faz manter a mente aberta."
Há uma tradição dos serviços públicos na odontologia. A cidade de Campinas foi a primeira no Brasil a adicionar flúor na água potável distribuída à população, depois que um dentista foi eleito para a Câmara Municipal. Hoje, quase toda a água encanada distribuída no Brasil recebe flúor.
Mas nem todas as condições são ideais para a inovação no Brasil. Tão notória quanto a desigualdade social é a burocracia humilhante do país. A linha Tilos, da Ultradent, desenvolvida por brasileiros, já está à venda nos EUA, Europa e Japão, mas não no Brasil. "Podemos desenvolver novos produtos, mas o processo de registro é m dos mais complicados do mundo", afirma Abreu.
(Jonathan Wheatley, do Financial Times)
(Tradução de Mário Zamarian)
(Valor Econômico, 10/1)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75778
Disciplina rege educação na China
Sistema escolar rígido do país gera alunos altamente capacitados para realizar testes; modelo, porém, inibe criatividade e autonomia
Na aula de matemática do 9º ano da professora Li Zhen, o exercício era de geometria. Os alunos da escola, associada à Universidade de Professores Jing"An, deveriam explicar o tamanho relativo das formas geométricas por meio do teorema euclidiano dos paralelogramos. "Quem sabe como demonstrar que duas linhas são paralelas sem usar um segmento proporcional?", perguntou Li aos cerca de 40 alunos.
Um a um, vários estudantes dessa escola pública levantaram a mão. Quando eram chamados, ficavam de pé ao lado de suas carteiras, dando respostas corretas. Eles voltavam a se sentar quando eram instruídos a fazê-lo.
Educadores dizem que essa abordagem disciplinada ajuda a explicar o fato de que 5,1 mil alunos de 15 anos vindos de Xangai apresentaram desempenho superior ao de alunos de 65 outros países no Pisa - um teste internacional realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que avaliou competências de leitura, matemática e ciência.
Os americanos ficaram entre a 15.ª e a 31.ª posições nas três categorias. França e Grã-Bretanha também apresentaram desempenho semelhante. O Brasil apareceu nos últimos lugares.
Especialistas dizem que é complicado comparar resultados obtidos por alunos de países e cidades diferentes e também que os resultados dos estudantes de Xangai não podem ser considerados representativos do restante da China, pois a cidade de 20 milhões de habitantes é relativamente abastada. Ainda assim, eles ficaram impressionados com as altas notas.
O resultado foi visto como outro sinal da crescente competitividade chinesa. A colocação obtida pelos Estados Unidos foi descrita como "chamado de alerta" por Arne Duncan, secretário americano de Educação.
Apesar de esta ter sido a primeira vez que a China participou do Pisa, o resultado ressaltou a reputação do país de produzir alunos capacitados em matemática e ciência.
Para os especialistas, o sucesso dos estudantes de Xangai, assim como dos alunos de outras partes da Ásia, como Coreia do Sul, Cingapura e Hong Kong, é explicado por um sistema que enfatiza a disciplina, o aprendizado por memorização e a preparação obsessiva para as provas.
Os estudantes ficam na escola até as 16 horas, não assistem televisão e só são admitidos no mercado de trabalho depois de completarem 16 anos. "É raro encontrar uma criança que receba um treinamento tão intenso quanto o que é oferecido na China", disse Sun Baohong, especialista em educação da Academia de Ciências Sociais de Xangai. "Se o teste envolve matemática e ciência, não há dúvida de que os chineses vão superar a concorrência."
Mas muitos educadores dizem que a força da China na educação representa também uma fraqueza. O sistema educacional do país é muito voltado para as provas, as escolas sufocam a criatividade e a pressão exercida pelos pais muitas vezes priva a criança das alegrias da infância, dizem eles.
"São dois lados da mesma moeda: as escolas chinesas são muito competentes na preparação de seus alunos para provas padronizadas", escreveu Jiang Xueqin, vice-reitor da Escola do Ensino Médio da Universidade de Pequim, em artigo publicado no Wall Street Journal.
"Por isso, elas fracassam em prepará-los para a educação superior e para a economia do conhecimento." Jiang disse que os chineses enfatizam demasiadamente as provas, produzindo alunos sem curiosidade e desprovidos da capacidade de pensar de maneira crítica e independente.
"Os estudantes ficam com uma mentalidade muito estreita", disse. "A China precisa de empreendedores e inovadores." Trata-se de uma queixa comum no país. Os educadores dizem que uma ênfase excessiva nos testes padronizados é em parte responsável pela escassez de novas empresas inovadoras e criativas na China.
E executivos de empresas globais que operam no país dizem enfrentar dificuldades para encontrar funcionários que pensem com criatividade e solucionem problemas.
Sob muitos aspectos, o sistema reflete o passado confucionista do país. Espera-se das crianças que honrem e respeitem seus pais e professores.
Embora Xangai seja renomada pela preparação de seus alunos, os administradores locais tentam tornar os currículos mais variados e estender um maior grau de liberdade aos distritos.
(David Barboza)
(O Estado de SP, 9/1)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75775
Na aula de matemática do 9º ano da professora Li Zhen, o exercício era de geometria. Os alunos da escola, associada à Universidade de Professores Jing"An, deveriam explicar o tamanho relativo das formas geométricas por meio do teorema euclidiano dos paralelogramos. "Quem sabe como demonstrar que duas linhas são paralelas sem usar um segmento proporcional?", perguntou Li aos cerca de 40 alunos.
Um a um, vários estudantes dessa escola pública levantaram a mão. Quando eram chamados, ficavam de pé ao lado de suas carteiras, dando respostas corretas. Eles voltavam a se sentar quando eram instruídos a fazê-lo.
Educadores dizem que essa abordagem disciplinada ajuda a explicar o fato de que 5,1 mil alunos de 15 anos vindos de Xangai apresentaram desempenho superior ao de alunos de 65 outros países no Pisa - um teste internacional realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que avaliou competências de leitura, matemática e ciência.
Os americanos ficaram entre a 15.ª e a 31.ª posições nas três categorias. França e Grã-Bretanha também apresentaram desempenho semelhante. O Brasil apareceu nos últimos lugares.
Especialistas dizem que é complicado comparar resultados obtidos por alunos de países e cidades diferentes e também que os resultados dos estudantes de Xangai não podem ser considerados representativos do restante da China, pois a cidade de 20 milhões de habitantes é relativamente abastada. Ainda assim, eles ficaram impressionados com as altas notas.
O resultado foi visto como outro sinal da crescente competitividade chinesa. A colocação obtida pelos Estados Unidos foi descrita como "chamado de alerta" por Arne Duncan, secretário americano de Educação.
Apesar de esta ter sido a primeira vez que a China participou do Pisa, o resultado ressaltou a reputação do país de produzir alunos capacitados em matemática e ciência.
Para os especialistas, o sucesso dos estudantes de Xangai, assim como dos alunos de outras partes da Ásia, como Coreia do Sul, Cingapura e Hong Kong, é explicado por um sistema que enfatiza a disciplina, o aprendizado por memorização e a preparação obsessiva para as provas.
Os estudantes ficam na escola até as 16 horas, não assistem televisão e só são admitidos no mercado de trabalho depois de completarem 16 anos. "É raro encontrar uma criança que receba um treinamento tão intenso quanto o que é oferecido na China", disse Sun Baohong, especialista em educação da Academia de Ciências Sociais de Xangai. "Se o teste envolve matemática e ciência, não há dúvida de que os chineses vão superar a concorrência."
Mas muitos educadores dizem que a força da China na educação representa também uma fraqueza. O sistema educacional do país é muito voltado para as provas, as escolas sufocam a criatividade e a pressão exercida pelos pais muitas vezes priva a criança das alegrias da infância, dizem eles.
"São dois lados da mesma moeda: as escolas chinesas são muito competentes na preparação de seus alunos para provas padronizadas", escreveu Jiang Xueqin, vice-reitor da Escola do Ensino Médio da Universidade de Pequim, em artigo publicado no Wall Street Journal.
"Por isso, elas fracassam em prepará-los para a educação superior e para a economia do conhecimento." Jiang disse que os chineses enfatizam demasiadamente as provas, produzindo alunos sem curiosidade e desprovidos da capacidade de pensar de maneira crítica e independente.
"Os estudantes ficam com uma mentalidade muito estreita", disse. "A China precisa de empreendedores e inovadores." Trata-se de uma queixa comum no país. Os educadores dizem que uma ênfase excessiva nos testes padronizados é em parte responsável pela escassez de novas empresas inovadoras e criativas na China.
E executivos de empresas globais que operam no país dizem enfrentar dificuldades para encontrar funcionários que pensem com criatividade e solucionem problemas.
Sob muitos aspectos, o sistema reflete o passado confucionista do país. Espera-se das crianças que honrem e respeitem seus pais e professores.
Embora Xangai seja renomada pela preparação de seus alunos, os administradores locais tentam tornar os currículos mais variados e estender um maior grau de liberdade aos distritos.
(David Barboza)
(O Estado de SP, 9/1)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75775
Para tempo integral, faltam 300 mil professores
Déficit no nível profissionalizante pode prejudicar ampliação do ensino médio pelo MEC. Medida deve custar pelo menos R$ 21 bi
O governo terá obstáculos na hora de implantar o ensino médio em tempo integral, como anunciou o ministro da Educação, Fernando Haddad. O principal deles: o fato de que o déficit estimado de professores no ensino profissionalizante, que responderia por metade desse tempo integral, é de 300 mil no país - 10% a 20% maior do que o déficit de professores da 5ª série do fundamental ao 3º do ensino médio na formação geral.
A estimativa é da Câmara de Educação Básica, parte do Conselho Nacional de Educação (CNE). Outra dificuldade é o custo de implantação da medida em toda a rede pública de ensino médio: um valor mínimo estimado em R$ 21 bilhões - e que pode chegar a R$ 49 bilhões, caso o foco seja em áreas de ponta, como petróleo.
Esse cálculo considera o custo médio anual por aluno no ensino profissionalizante, que é de R$ 3 mil (em cursos como secretariado) a R$ 7 mil (em setores como o naval), segundo a Câmara de Educação Básica.
Já se a conta for feita usando-se a média de investimento/aluno nos institutos federais informada pelo MEC (R$ 8 mil), o custo vai para R$ 56 bilhões. Segundo pesquisadores da área, a estimativa do custo de implantação pode ser tirada da multiplicação do custo/aluno pelo número de matriculados no ensino médio formação geral (no Censo de 2009, eram 7.023.940 alunos na rede pública).
O custo/aluno inclui, por exemplo, despesas com salários dos professores. A melhoria dos salários com a maior carga horária exigida pelo ensino integral, apontam profissionais do setor, pode ser um modo de atrair professores para o modelo.
- Estimamos em 300 mil a carência de professores em cursos profissionalizantes. É cerca de 10% a 20% maior que o déficit no ensino médio comum. As universidades não têm se dedicado à formação de professores para isso; ela tem se dado na própria rede técnica pública e no sistema S - diz Francisco Cordão, presidente da Câmara de Educação Básica e conselheiro do CNE, que até março deve lançar diretrizes de formação de docentes do ensino profissionalizante.
As áreas no nível técnico com maior déficit de professores são cursos estratégicos como petróleo e gás, mecânica naval e mecatrônica. Esse déficit pode afetar ainda uma medida anunciada pela presidente Dilma Rousseff no discurso de posse: a criação, para o ensino médio, de bolsas nos moldes do Prouni - que, diz o conselheiro do CNE, serão para o ensino profissionalizante.
- Só nos Senai do Rio, e só em petróleo e gás, faltam 50 professores - diz Maurício Bastos, coordenador de educação profissional do Centro de Tecnologia Senai Automação e Simulação. - O professor que temos ou é um ex-técnico da Petrobras, ou alguém que trabalha em empresa e, à noite, dá aula. Também há alunos que viram professores. Mas professor de nível profissionalizante com curso superior, por exemplo, e também com experiência técnica, é raro.
Para Almério Melquíades, coordenador de Ensino Médio e Técnico do Centro Paula Souza (órgão de ensino profissionalizante de São Paulo), outro entrave num modelo de tempo integral será o horário das aulas:
- Como 60% das nossas turmas são noturnas, então, conseguimos como professores quem trabalha numa empresa de dia e dá aula à noite. As aulas profissionalizantes de manhã ou de tarde serão um gargalo. - O grande desafio para se implantar tempo integral não é dinheiro, mas gente - resume Mozart Neves Ramos, do Movimento Todos pela Educação.
Segundo Cordão, um programa federal sob análise do ministro Fernando Haddad para servir como uma das bases do tempo integral é o Ensino Médio Inovador. Em funcionamento desde 2009, o programa hoje está em 18 estados, em 357 escolas.
- Esse programa dará subsídios para o tempo integral. É um ponto de partida, que está sendo discutido com o ministro - diz Cordão, relator do Ensino Médio Inovador no CNE. - Ele amplia o currículo por quatro vertentes: trabalho (a mais próxima do profissionalizante), desenvolvimento científico, desenvolvimento tecnológico, e cultural.
- O Ensino Médio Inovador é uma referência que pode ser usada (no tempo integral) - conclui Carlos Artexes, diretor de Concepções e Orientações Curriculares da Secretaria de Educação Básica do MEC, setor na secretaria para o ensino médio.
- O programa pode se articular com o tempo integral, mas continua em paralelo. Outro que pode se articular com a medida é o Brasil Profissionalizado (de investimento em obras, gestão e professores de escolas técnicas e ensino integrado à educação profissional).
Na escola das 7h30m às 17h
Carlos Romário de França Santos, de 16 anos, e Ketuly Stefane Chaves dos Santos, de 15, têm origens diferentes. Ele estudou em escola particular; ela, na rede pública. Encontraram-se na Escola Técnica Estadual Maximiano Accioly Campos, que funciona em regime integral integrado.
A escola é parte de um modelo que começou a ser implementado em 2007 em Pernambuco, e que traz exemplos dos programas Ensino Médio Inovador e Brasil Profissionalizado, que o Ministério da Educação analisa como opções para basear a implantação do tempo integral.
Secretário de Educação de Pernambuco, Anderson Leônidas Gomes diz que a experiência inclui 13 escolas técnicas (ligadas ao Brasil Profissionalizado) e 160 de ensino médio com período integral ou semi-integral (onde entra o Ensino Médio Inovador). Segundo Gomes, nesse modelo, uma escola de ensino médio tradicional leva no mínimo três anos para ser de tempo integral.
- Fazemos de modo gradual: primeiro, só o 1º ano vira tempo integral; no ano seguinte, o 2º; até chegar ao 3º ano - explica o secretário, destacando que outra medida foi aumentar o piso salarial dos professores em até 2,5 vezes o piso em um colégio comum. - E eles passaram a trabalhar em dedicação exclusiva de cada escola, como numa universidade.
Carlos Romário e Ketuly Stefane cursam o 2º ano do médio e um técnico em computação. Chegam às 7h30m e só deixam a escola às 17h.
- Pode até cansar um pouco, mas é construtivo. A escola não está nos preparando só para o vestibular, mas para a vida - afirma Carlos Romário.
(Alessandra Duarte e Letícia Lins)
(O Globo, 9/1)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75774
O governo terá obstáculos na hora de implantar o ensino médio em tempo integral, como anunciou o ministro da Educação, Fernando Haddad. O principal deles: o fato de que o déficit estimado de professores no ensino profissionalizante, que responderia por metade desse tempo integral, é de 300 mil no país - 10% a 20% maior do que o déficit de professores da 5ª série do fundamental ao 3º do ensino médio na formação geral.
A estimativa é da Câmara de Educação Básica, parte do Conselho Nacional de Educação (CNE). Outra dificuldade é o custo de implantação da medida em toda a rede pública de ensino médio: um valor mínimo estimado em R$ 21 bilhões - e que pode chegar a R$ 49 bilhões, caso o foco seja em áreas de ponta, como petróleo.
Esse cálculo considera o custo médio anual por aluno no ensino profissionalizante, que é de R$ 3 mil (em cursos como secretariado) a R$ 7 mil (em setores como o naval), segundo a Câmara de Educação Básica.
Já se a conta for feita usando-se a média de investimento/aluno nos institutos federais informada pelo MEC (R$ 8 mil), o custo vai para R$ 56 bilhões. Segundo pesquisadores da área, a estimativa do custo de implantação pode ser tirada da multiplicação do custo/aluno pelo número de matriculados no ensino médio formação geral (no Censo de 2009, eram 7.023.940 alunos na rede pública).
O custo/aluno inclui, por exemplo, despesas com salários dos professores. A melhoria dos salários com a maior carga horária exigida pelo ensino integral, apontam profissionais do setor, pode ser um modo de atrair professores para o modelo.
- Estimamos em 300 mil a carência de professores em cursos profissionalizantes. É cerca de 10% a 20% maior que o déficit no ensino médio comum. As universidades não têm se dedicado à formação de professores para isso; ela tem se dado na própria rede técnica pública e no sistema S - diz Francisco Cordão, presidente da Câmara de Educação Básica e conselheiro do CNE, que até março deve lançar diretrizes de formação de docentes do ensino profissionalizante.
As áreas no nível técnico com maior déficit de professores são cursos estratégicos como petróleo e gás, mecânica naval e mecatrônica. Esse déficit pode afetar ainda uma medida anunciada pela presidente Dilma Rousseff no discurso de posse: a criação, para o ensino médio, de bolsas nos moldes do Prouni - que, diz o conselheiro do CNE, serão para o ensino profissionalizante.
- Só nos Senai do Rio, e só em petróleo e gás, faltam 50 professores - diz Maurício Bastos, coordenador de educação profissional do Centro de Tecnologia Senai Automação e Simulação. - O professor que temos ou é um ex-técnico da Petrobras, ou alguém que trabalha em empresa e, à noite, dá aula. Também há alunos que viram professores. Mas professor de nível profissionalizante com curso superior, por exemplo, e também com experiência técnica, é raro.
Para Almério Melquíades, coordenador de Ensino Médio e Técnico do Centro Paula Souza (órgão de ensino profissionalizante de São Paulo), outro entrave num modelo de tempo integral será o horário das aulas:
- Como 60% das nossas turmas são noturnas, então, conseguimos como professores quem trabalha numa empresa de dia e dá aula à noite. As aulas profissionalizantes de manhã ou de tarde serão um gargalo. - O grande desafio para se implantar tempo integral não é dinheiro, mas gente - resume Mozart Neves Ramos, do Movimento Todos pela Educação.
Segundo Cordão, um programa federal sob análise do ministro Fernando Haddad para servir como uma das bases do tempo integral é o Ensino Médio Inovador. Em funcionamento desde 2009, o programa hoje está em 18 estados, em 357 escolas.
- Esse programa dará subsídios para o tempo integral. É um ponto de partida, que está sendo discutido com o ministro - diz Cordão, relator do Ensino Médio Inovador no CNE. - Ele amplia o currículo por quatro vertentes: trabalho (a mais próxima do profissionalizante), desenvolvimento científico, desenvolvimento tecnológico, e cultural.
- O Ensino Médio Inovador é uma referência que pode ser usada (no tempo integral) - conclui Carlos Artexes, diretor de Concepções e Orientações Curriculares da Secretaria de Educação Básica do MEC, setor na secretaria para o ensino médio.
- O programa pode se articular com o tempo integral, mas continua em paralelo. Outro que pode se articular com a medida é o Brasil Profissionalizado (de investimento em obras, gestão e professores de escolas técnicas e ensino integrado à educação profissional).
Na escola das 7h30m às 17h
Carlos Romário de França Santos, de 16 anos, e Ketuly Stefane Chaves dos Santos, de 15, têm origens diferentes. Ele estudou em escola particular; ela, na rede pública. Encontraram-se na Escola Técnica Estadual Maximiano Accioly Campos, que funciona em regime integral integrado.
A escola é parte de um modelo que começou a ser implementado em 2007 em Pernambuco, e que traz exemplos dos programas Ensino Médio Inovador e Brasil Profissionalizado, que o Ministério da Educação analisa como opções para basear a implantação do tempo integral.
Secretário de Educação de Pernambuco, Anderson Leônidas Gomes diz que a experiência inclui 13 escolas técnicas (ligadas ao Brasil Profissionalizado) e 160 de ensino médio com período integral ou semi-integral (onde entra o Ensino Médio Inovador). Segundo Gomes, nesse modelo, uma escola de ensino médio tradicional leva no mínimo três anos para ser de tempo integral.
- Fazemos de modo gradual: primeiro, só o 1º ano vira tempo integral; no ano seguinte, o 2º; até chegar ao 3º ano - explica o secretário, destacando que outra medida foi aumentar o piso salarial dos professores em até 2,5 vezes o piso em um colégio comum. - E eles passaram a trabalhar em dedicação exclusiva de cada escola, como numa universidade.
Carlos Romário e Ketuly Stefane cursam o 2º ano do médio e um técnico em computação. Chegam às 7h30m e só deixam a escola às 17h.
- Pode até cansar um pouco, mas é construtivo. A escola não está nos preparando só para o vestibular, mas para a vida - afirma Carlos Romário.
(Alessandra Duarte e Letícia Lins)
(O Globo, 9/1)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75774
"Integração entre cérebro e máquinas vai influenciar evolução", entrevista com Miguel Nicolelis
Para Nicolelis, corpo não vai mais limitar ação da mente sobre o mundo. Pesquisador também comenta os desafios impostos à ciência no país pela burocracia e desorganização
Miguel Nicolelis é um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio. Pioneiro nos estudos sobre interface cérebro-máquina, suas descobertas aparecem na lista das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada em 2001 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Em 2009, tornou-se o primeiro brasileiro a merecer uma capa da Science. Na quarta-feira, foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano.
Ao Estado, Nicolelis falou sobre o impacto da neurociência no futuro da humanidade. Criticou de forma contundente a gestão científica no país, especialmente em São Paulo. Também questionou os critérios - marcadamente políticos - que teriam norteado a escolha do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.
Leia a entrevista:
- O que as interfaces cérebro-máquina devem proporcionar no futuro?
No curto prazo, penso que as principais aplicações serão na medicina, com novos métodos de reabilitação neurológica, para tratar condições como paralisia. No médio, chegarão às aplicações computacionais. Não usaremos mais teclados, monitores, mouse... o computador convencional deixará de existir. Vamos submergir em sistemas virtuais e nos comunicaremos diretamente com eles. No longo prazo, o corpo deixará de ser o fator limitante da nossa ação no mundo. Nossa mente poderá atuar com máquinas que estão à distância e operar dispositivos de proporções nanométricas ou gigantescas: de uma nave espacial a uma ferramenta que penetra no espaço entre duas células para corrigir um defeito. E, no longuíssimo prazo, a evolução humana vai se acelerar. Nosso cérebro roubará um pouco o controle que os genes têm hoje sobre a evolução. Daqui a três meses, publicarei um livro em que comento esses temas.
- O que o sr. chama de curto, médio, longo e longuíssimo prazo?
Curto prazo são os próximos anos. Médio prazo, as próximas duas décadas. Longo prazo, o próximo século. Longuíssimo prazo, milhares de anos.
- Como andam suas linhas de pesquisa na medicina?
Estamos avançando rapidamente no exoesqueleto (um dispositivo que dá sustentação ao corpo de uma pessoa paralisada e é capaz de se mover obedecendo ao controle da mente). Outra linha de pesquisa importante é Parkinson. Publicamos um artigo na Science no ano passado. Estimulamos com eletricidade a medula espinhal de ratos com uma doença semelhante ao Parkinson e conseguimos reverter o congelamento motor característico da doença.
- Ainda precisaremos dos sentidos para dialogar com sistemas computacionais?
Vamos publicar um trabalho em breve descrevendo o envio do sinal de uma máquina diretamente ao tecido neural de um animal, sem mediação dos sentidos: na prática, criamos um sexto sentido. Vai ser uma novidade explosiva, mas não posso dar mais detalhes, pois o artigo ainda não foi publicado. Mas posso afirmar que a internet como conhecemos hoje vai desaparecer. Teremos uma verdadeira rede cerebral. A comunicação não será mediada pela linguagem, que deixará de ser o único ou o principal canal de comunicação.
- Quais as implicações antropológicas e sociológicas no longo prazo?
Costumo dizer que será a verdadeira libertação da mente do corpo, porque será a mente que determinará nosso alcance e potencial de ação na natureza. O que definimos como ser mudará drasticamente no próximo século.
- O que o sr. acha da política científica brasileira?
Está ultrapassada. Principalmente a gestão científica. Foi por isso que eu escrevi o Manifesto da Ciência Tropical. O talento humano é sufocado por normas absurdas nas universidades. Devemos ter uma carreira para pesquisadores em tempo integral e oferecer suporte administrativo profissional aos cientistas. Mas aqui no Brasil há a cultura de que, subindo na carreira científica, o último passo de glória é virar um administrador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) ou da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Uma tragédia.
- O sr. afirmou diversas vezes que a ciência precisa ser democratizada.
Sem dúvida. É uma atividade extremamente elitizada. Não temos a penetração popular adequada nas universidades. Quantos doutores são índios ou negros? A ciência deve ir ao encontro da sociedade brasileira. Há bem pouco tempo, a ciência ainda era uma atividade da aristocracia brasileira.
- Como o sr. se vê na Academia?
Sou um pária. Não tenho o menor receio de falar isso. Sou tolerado. Ninguém chega para mim de frente e fala qualquer coisa. Mas, nos bastidores, é inacreditável a sabotagem de que fomos vítimas aqui em Natal nos últimos oito anos. Em 2010, na avaliação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), tivemos um dos melhores pareceres técnicos da área de biomedicina. E nosso orçamento foi misteriosamente cortado em 75%. Pedi R$ 7 milhões. Recebemos R$ 1,5 milhão. As pessoas têm medo de abrir a boca, pois você é engolido pelos pares.
- Qual é o futuro dos jovens pesquisadores no país?
Atualmente, eles têm uma dificuldade tremenda para conseguir dinheiro, porque não são pesquisadores 1A do CNPq. Você precisa ser um cardeal da academia para conseguir dinheiro e sobressair. Cheguei à conclusão de que Albert Einstein não seria pesquisador 1A do CNPq, porque não preenche todos os pré-requisitos - número de orientandos de mestrado, de doutorado... Se Einstein não poderia estar no topo, há algo errado. Até agora, ninguém teve coragem de enfrentar o establishment da ciência brasileira. Minhas críticas não são pessoais. Quero que o Brasil seja uma potência científica para o bem da humanidade. As pessoas precisam ver que a juventude científica está de mãos atadas. Devemos libertar esse povo.
- O sr. tem uma opinião bastante crítica sobre a política científica no país. Mas, na eleição, manifestou apoio público a Dilma. Por quê?
Porque a outra opção era trágica. Basta olhar para o Estado de São Paulo: para a educação, a saúde e as universidades públicas. Eu adoro a USP, onde me formei. Mas a liderança que temos hoje na USP é terrível. A Fapesp é uma joia, um ícone nacional, reconhecida no mundo inteiro. Mas isso não quer dizer que as últimas administrações foram boas. Temos de ser críticos. Esta última administração, em especial, foi muito ruim. A Fapesp está perdendo importância. Veja só: a Science (no artigo publicado há algumas semanas sobre a ciência no Brasil) não dedicou uma linha à Fapesp.
- Como o sr. avalia o governo Lula?
Apoiei e apoio incondicionalmente o presidente Lula, porque vivemos hoje o melhor momento da história do país. A proposta global de inclusão do governo Lula - e espero que será a mesma com a Dilma - é aquela em que eu acredito. Contudo, detalhes devem ser corrigidos. Admiro o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Rezende. Tivemos grandes avanços com a criação dos INCTs e dos fundos setoriais. Mas o ministro não enfrentou a estrutura. Em oito anos, nunca fui chamado para dar uma opinião no ministério ou para apresentar os resultados do projeto de Natal. Sei que outros cientistas, melhores que eu, também não foram chamados. Mas fui chamado pelo Ministério da Educação. O ministro (Fernando Haddad) é o melhor que já tivemos.
- O que o sr. achou da escolha de Aloizio Mercadante para o MCT?
Estou curioso para saber qual é o currículo dele para gestão científica. Fiquei surpreso com a indicação, mas não o conheço. Não tenho a mínima ideia do seu grau de competência. Mas não fica bem para a ciência brasileira um ministério tão importante virar prêmio de consolação para quem perdeu a eleição. Não é uma boa mensagem. Mas talvez seja bom que o futuro ministro não seja um cientista de bancada, alguém ligado à comunidade científica. Assim, se ele tiver determinação política, poderá quebrar os vícios.
(Alexandre Gonçalves)
(O Estado de SP, 9/1)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75773
Miguel Nicolelis é um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio. Pioneiro nos estudos sobre interface cérebro-máquina, suas descobertas aparecem na lista das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada em 2001 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Em 2009, tornou-se o primeiro brasileiro a merecer uma capa da Science. Na quarta-feira, foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano.
Ao Estado, Nicolelis falou sobre o impacto da neurociência no futuro da humanidade. Criticou de forma contundente a gestão científica no país, especialmente em São Paulo. Também questionou os critérios - marcadamente políticos - que teriam norteado a escolha do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.
Leia a entrevista:
- O que as interfaces cérebro-máquina devem proporcionar no futuro?
No curto prazo, penso que as principais aplicações serão na medicina, com novos métodos de reabilitação neurológica, para tratar condições como paralisia. No médio, chegarão às aplicações computacionais. Não usaremos mais teclados, monitores, mouse... o computador convencional deixará de existir. Vamos submergir em sistemas virtuais e nos comunicaremos diretamente com eles. No longo prazo, o corpo deixará de ser o fator limitante da nossa ação no mundo. Nossa mente poderá atuar com máquinas que estão à distância e operar dispositivos de proporções nanométricas ou gigantescas: de uma nave espacial a uma ferramenta que penetra no espaço entre duas células para corrigir um defeito. E, no longuíssimo prazo, a evolução humana vai se acelerar. Nosso cérebro roubará um pouco o controle que os genes têm hoje sobre a evolução. Daqui a três meses, publicarei um livro em que comento esses temas.
- O que o sr. chama de curto, médio, longo e longuíssimo prazo?
Curto prazo são os próximos anos. Médio prazo, as próximas duas décadas. Longo prazo, o próximo século. Longuíssimo prazo, milhares de anos.
- Como andam suas linhas de pesquisa na medicina?
Estamos avançando rapidamente no exoesqueleto (um dispositivo que dá sustentação ao corpo de uma pessoa paralisada e é capaz de se mover obedecendo ao controle da mente). Outra linha de pesquisa importante é Parkinson. Publicamos um artigo na Science no ano passado. Estimulamos com eletricidade a medula espinhal de ratos com uma doença semelhante ao Parkinson e conseguimos reverter o congelamento motor característico da doença.
- Ainda precisaremos dos sentidos para dialogar com sistemas computacionais?
Vamos publicar um trabalho em breve descrevendo o envio do sinal de uma máquina diretamente ao tecido neural de um animal, sem mediação dos sentidos: na prática, criamos um sexto sentido. Vai ser uma novidade explosiva, mas não posso dar mais detalhes, pois o artigo ainda não foi publicado. Mas posso afirmar que a internet como conhecemos hoje vai desaparecer. Teremos uma verdadeira rede cerebral. A comunicação não será mediada pela linguagem, que deixará de ser o único ou o principal canal de comunicação.
- Quais as implicações antropológicas e sociológicas no longo prazo?
Costumo dizer que será a verdadeira libertação da mente do corpo, porque será a mente que determinará nosso alcance e potencial de ação na natureza. O que definimos como ser mudará drasticamente no próximo século.
- O que o sr. acha da política científica brasileira?
Está ultrapassada. Principalmente a gestão científica. Foi por isso que eu escrevi o Manifesto da Ciência Tropical. O talento humano é sufocado por normas absurdas nas universidades. Devemos ter uma carreira para pesquisadores em tempo integral e oferecer suporte administrativo profissional aos cientistas. Mas aqui no Brasil há a cultura de que, subindo na carreira científica, o último passo de glória é virar um administrador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) ou da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Uma tragédia.
- O sr. afirmou diversas vezes que a ciência precisa ser democratizada.
Sem dúvida. É uma atividade extremamente elitizada. Não temos a penetração popular adequada nas universidades. Quantos doutores são índios ou negros? A ciência deve ir ao encontro da sociedade brasileira. Há bem pouco tempo, a ciência ainda era uma atividade da aristocracia brasileira.
- Como o sr. se vê na Academia?
Sou um pária. Não tenho o menor receio de falar isso. Sou tolerado. Ninguém chega para mim de frente e fala qualquer coisa. Mas, nos bastidores, é inacreditável a sabotagem de que fomos vítimas aqui em Natal nos últimos oito anos. Em 2010, na avaliação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), tivemos um dos melhores pareceres técnicos da área de biomedicina. E nosso orçamento foi misteriosamente cortado em 75%. Pedi R$ 7 milhões. Recebemos R$ 1,5 milhão. As pessoas têm medo de abrir a boca, pois você é engolido pelos pares.
- Qual é o futuro dos jovens pesquisadores no país?
Atualmente, eles têm uma dificuldade tremenda para conseguir dinheiro, porque não são pesquisadores 1A do CNPq. Você precisa ser um cardeal da academia para conseguir dinheiro e sobressair. Cheguei à conclusão de que Albert Einstein não seria pesquisador 1A do CNPq, porque não preenche todos os pré-requisitos - número de orientandos de mestrado, de doutorado... Se Einstein não poderia estar no topo, há algo errado. Até agora, ninguém teve coragem de enfrentar o establishment da ciência brasileira. Minhas críticas não são pessoais. Quero que o Brasil seja uma potência científica para o bem da humanidade. As pessoas precisam ver que a juventude científica está de mãos atadas. Devemos libertar esse povo.
- O sr. tem uma opinião bastante crítica sobre a política científica no país. Mas, na eleição, manifestou apoio público a Dilma. Por quê?
Porque a outra opção era trágica. Basta olhar para o Estado de São Paulo: para a educação, a saúde e as universidades públicas. Eu adoro a USP, onde me formei. Mas a liderança que temos hoje na USP é terrível. A Fapesp é uma joia, um ícone nacional, reconhecida no mundo inteiro. Mas isso não quer dizer que as últimas administrações foram boas. Temos de ser críticos. Esta última administração, em especial, foi muito ruim. A Fapesp está perdendo importância. Veja só: a Science (no artigo publicado há algumas semanas sobre a ciência no Brasil) não dedicou uma linha à Fapesp.
- Como o sr. avalia o governo Lula?
Apoiei e apoio incondicionalmente o presidente Lula, porque vivemos hoje o melhor momento da história do país. A proposta global de inclusão do governo Lula - e espero que será a mesma com a Dilma - é aquela em que eu acredito. Contudo, detalhes devem ser corrigidos. Admiro o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Rezende. Tivemos grandes avanços com a criação dos INCTs e dos fundos setoriais. Mas o ministro não enfrentou a estrutura. Em oito anos, nunca fui chamado para dar uma opinião no ministério ou para apresentar os resultados do projeto de Natal. Sei que outros cientistas, melhores que eu, também não foram chamados. Mas fui chamado pelo Ministério da Educação. O ministro (Fernando Haddad) é o melhor que já tivemos.
- O que o sr. achou da escolha de Aloizio Mercadante para o MCT?
Estou curioso para saber qual é o currículo dele para gestão científica. Fiquei surpreso com a indicação, mas não o conheço. Não tenho a mínima ideia do seu grau de competência. Mas não fica bem para a ciência brasileira um ministério tão importante virar prêmio de consolação para quem perdeu a eleição. Não é uma boa mensagem. Mas talvez seja bom que o futuro ministro não seja um cientista de bancada, alguém ligado à comunidade científica. Assim, se ele tiver determinação política, poderá quebrar os vícios.
(Alexandre Gonçalves)
(O Estado de SP, 9/1)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75773
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Preço do iPhone 3GS cai para US$ 50 nos EUA
Modelo, que tem 8 GB de espaço para armazenamento, teve preço reduzido pela metade no mercado norte-americano.
O iPhone 3GS, modelo anterior ao iPhone 4, teve seu preço reduzido pela metade nos Estados Unidos. O produto, que custava 99 dólares, agora sai por 49 dólares, no site da Apple.
Mas vale lembrar que isso é para um contrato de dois anos com a AT&T, operadora que, até agora, tem exclusividade na oferta do aparelho. Já a versão mais moderna, a 4, continua cotada a 199 dólares, na versão de 16 GB, e a 299 dólares, com 32 GB, também para contratos de dois anos.
Depois de muitos anos de rumores, a Verizon, rival de AT&T no mercado norte-americano, deve anunciar esta semana a oferta do iPhone nos Estados Unidos.
Procuradas pela redação da Macworld Brasil, a Apple afirmou que não há planos de redução de preço do iPhone 3GS no País. Segundo a assessoria da Claro, até o momento não há nenhuma previsão de mudança de valores. Até o fechamento desta matéria, as outras operadores não haviam respondido nosso pedido por informações sobre o assunto.
Atualmente, é possível encontrar os dois modelos mais recentes do smartphone da Apple no País: 3GS e 4. Lançado em setembro de 2010 no Brasil, o iPhone 4 está disponível em duas capacidades de armazenamento: 16 GB e 32 GB.
Como são vendidos exclusivamente pelas operadoras de telefonia, os preços variam de acordo com os planos de dados adquiridos junto com o aparelho (com valores entre 339 reais a 2.159 reais, por exemplo). Para quem quer comprar um modelo pré–pago, os valores estão na faixa de 1.799 reais para a menor capacidade e 2.099 para o dobro. O 3GS custa cerca de 1.300 reais.
Fonte:http://macworldbrasil.uol.com.br/noticias/2011/01/10/preco-do-iphone-3gs-cai-para-us-50-nos-eua/
O iPhone 3GS, modelo anterior ao iPhone 4, teve seu preço reduzido pela metade nos Estados Unidos. O produto, que custava 99 dólares, agora sai por 49 dólares, no site da Apple.
Mas vale lembrar que isso é para um contrato de dois anos com a AT&T, operadora que, até agora, tem exclusividade na oferta do aparelho. Já a versão mais moderna, a 4, continua cotada a 199 dólares, na versão de 16 GB, e a 299 dólares, com 32 GB, também para contratos de dois anos.
Depois de muitos anos de rumores, a Verizon, rival de AT&T no mercado norte-americano, deve anunciar esta semana a oferta do iPhone nos Estados Unidos.
Procuradas pela redação da Macworld Brasil, a Apple afirmou que não há planos de redução de preço do iPhone 3GS no País. Segundo a assessoria da Claro, até o momento não há nenhuma previsão de mudança de valores. Até o fechamento desta matéria, as outras operadores não haviam respondido nosso pedido por informações sobre o assunto.
Atualmente, é possível encontrar os dois modelos mais recentes do smartphone da Apple no País: 3GS e 4. Lançado em setembro de 2010 no Brasil, o iPhone 4 está disponível em duas capacidades de armazenamento: 16 GB e 32 GB.
Como são vendidos exclusivamente pelas operadoras de telefonia, os preços variam de acordo com os planos de dados adquiridos junto com o aparelho (com valores entre 339 reais a 2.159 reais, por exemplo). Para quem quer comprar um modelo pré–pago, os valores estão na faixa de 1.799 reais para a menor capacidade e 2.099 para o dobro. O 3GS custa cerca de 1.300 reais.
Fonte:http://macworldbrasil.uol.com.br/noticias/2011/01/10/preco-do-iphone-3gs-cai-para-us-50-nos-eua/
domingo, 9 de janeiro de 2011
Em busca de uma teoria unificada
7/1/2011
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – A teoria da relatividade geral explica a gravidade. A mecânica quântica explica as forças nucleares e o eletromagnetismo. Conciliar as duas teorias é um dos maiores desafios para a física.
A solução mais eficiente até agora para unificar gravitação e mecânica quântica é a chamada teoria das supercordas, que está em plena construção. Nos últimos dez anos, o esforço internacional para promover avanços nessa área tem contado com a importante participação de pesquisadores ligados ao Projeto Temático "Pesquisa e ensino em teoria de cordas", financiado pela FAPESP.
Sob coordenação de Nathan Jacob Berkovits, professor titular do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o projeto é o terceiro realizado sobre o tema desde 2000. Naquele ano, Berkovits apresentou uma formulação matemática inovadora, desenvolvida ao longo de 15 anos, que ficou conhecida como “espinores puros”. Esse formalismo tem sido importante, na última década, para facilitar os cálculos relacionados ao estudo da teoria das supercordas. Em 2009, ele recebeu o Premio em Fisica de TWAS (Academia de Ciencias do Mundo em Desenvolvimento) em reconhecimento deste trabalho.
Desenvolvida a partir da década de 1960, a teoria das supercordas é um modelo físico no qual os compomentes fundamentais da matéria não são os pontos sem dimensão que caracterizavam as partículas subatômicas na física tradicional, mas objetos extensos unidimensionais, semelhantes a uma corda. Dependendo do “tom” da vibração dessas cordas, elas corresponderiam a cada partícula subatômica.
De acordo com Berkovits, o Projeto Temático, que envolve uma série de parcerias internacionais, tem explorado as aplicações dos espinores puros em várias frentes no desenvolvimento da teoria de supercordas.
“A teoria de supercordas é a tentativa mais bem sucedida até agora para unificar a gravitação e a mecânica quântica, teorias cuja conciliação corresponde a uma tarefa muito difícil. Os físicos teóricos também sonham que a teoria das supercordas possa unificar todas as forças e partículas fundamentais da natureza, mas isso, por enquanto, é apenas um sonho”, disse Berkovits à Agência FAPESP.
Os avanços no campo teórico, no entanto, são bastante reais. O formalismo dos espinores puros tem sido a ferramenta mais apropriada para o estudo da correspondência AdS/CFT (sigla em inglês para espaço anti-de-Sitter / teoria do campo conformal) – também conhecida como a conjectura de Maldacena.
Essa conjectura, proposta pelo argentino Juan Maldacena em 1997, deu um impulso sem precedentes à teoria das supercordas e à pesquisa sobre a gravitação quântica. O artigo no qual Maldacena propôs a conjectura teve mais de 3 mil citações e se tornou um dos principais marcos conceituais da física teórica na década de 1990.
“Além de trabalharmos a aplicação dos espinores puros ao estudo da correspondência AdS/CFT, temos avançado na aplicação desse formalismo a outras frentes também, como o cálculo da amplitude de espalhamento”, contou Berkovits.
O estudo do espalhamento de cordas – que está relacionado ao espalhamento de partículas – enfrenta grandes dificuldades quando as partículas envolvidas são férmions. Todas as partículas elementares da matéria são férmions ou bósons, que têm spin semi-inteiros ou inteiros, respectivamente, e obedecem mecânicas estatísticas diferentes.
“Com a aplicação do formalismo dos espinores puros, o estudo do espalhamento de cordas envolvendo férmions não é mais difícil que os casos que envolvem bósons. Outra vertente na qual trabalhamos com a aplicação do formalismo dos espinores puros é a teoria de campos de cordas, que ainda está em estágio inicial de desenvolvimento”, explicou.
Segundo Berkovits, quando o físico teórico descreve uma partícula, emprega uma variável que descreve a sua posição. Mas quando se trata de uma partícula com spin – como fótons ou elétrons – a variável da posição não é suficiente para a descrição.
“Existem várias maneiras para descrever o spin e a mais tradicional foi o formalismo de Ramond-Neveu-Schwarz, concebido em 1973. Mais tarde, em 1980, foi desenvolvido o formalismo de Green-Schwarz – uma nova maneira de descrever o spin que trazia algumas vantagens. Mas trazia desvantagens também: ele não preservava a invariância de Lorentz, uma importante propriedade relacionada às rotações do espaço-tempo”, disse.
Desde 1980, portanto, os físicos teóricos vinham tentando resolver os problemas com o formalismo de Green-Schwarz. Até que em 2000 o formalismo dos espinores puros resolveu a questão da descrição do spin de partículas de uma maneira que preservava todas as simetrias presentes na teoria da relatividade.
Comunidade internacional
Estima-se que existam atualmente cerca de 2 mil pesquisadores envolvidos com o estudo de teoria das supercordas. Berkovits tem trabalhado com cerca de 50 deles. O Projeto Temático que coordena se beneficia das conexões internacionais de seus pesquisadores participantes.
“Além dos estudos feitos pelos nossos pós-doutorandos e pós-graduandos, temos muitas colaborações no exterior. Trazemos uma série de especialistas para colaborar conosco e participar de congressos que organizamos e, por outro lado, enviamos frequentemente alunos para trabalhar com equipes internacionais e participar de eventos”, disse o pesquisador que recebeu em 2009 o Prêmio de Física da Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS).
O grupo envolvido diretamente com o Temático tem atualmente um aluno de pós-doutorado, três de doutorado, três de mestrado e um de iniciação científica. Dois professores recentemente contratados pelo IFT também atuam no projeto. Outros alunos já passaram pelo grupo e agora atuam em outras universidades do Brasil e do exterior.
“Estamos contribuindo para a formação de uma comunidade envolvida com o estudo da teoria das supercordas. É uma importante e fértil área de fronteira, mas que ainda conta com pouca gente no Brasil, em comparação com o resto do mundo”, afirmou.
O interesse pela área, no entanto, está aumentando. Prova disso foi a alta procura pela participação no evento realizado em dezembro pelo IFT e pelo Centro Internacional de Física Teórica (ICTP, na sigla em inglês), da Unesco. “Recebemos 200 inscrições e só podíamos aceitar metade”, disse Berkovits.
O curso, intitulado Escola ICTP-Capes Latino-Americana de Cordas, reuniu alguns dos principais pesquisadores do mundo na área, como Juan Maldacena e o norte-americano Joe Polchinski – ambos vencedores do prêmio Dirac – a mais importante premiação da área da física depois do Prêmio Nobel.
Fonte:http://www.agencia.fapesp.br/materia/13287/em-busca-de-uma-teoria-unificada.htm
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – A teoria da relatividade geral explica a gravidade. A mecânica quântica explica as forças nucleares e o eletromagnetismo. Conciliar as duas teorias é um dos maiores desafios para a física.
A solução mais eficiente até agora para unificar gravitação e mecânica quântica é a chamada teoria das supercordas, que está em plena construção. Nos últimos dez anos, o esforço internacional para promover avanços nessa área tem contado com a importante participação de pesquisadores ligados ao Projeto Temático "Pesquisa e ensino em teoria de cordas", financiado pela FAPESP.
Sob coordenação de Nathan Jacob Berkovits, professor titular do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o projeto é o terceiro realizado sobre o tema desde 2000. Naquele ano, Berkovits apresentou uma formulação matemática inovadora, desenvolvida ao longo de 15 anos, que ficou conhecida como “espinores puros”. Esse formalismo tem sido importante, na última década, para facilitar os cálculos relacionados ao estudo da teoria das supercordas. Em 2009, ele recebeu o Premio em Fisica de TWAS (Academia de Ciencias do Mundo em Desenvolvimento) em reconhecimento deste trabalho.
Desenvolvida a partir da década de 1960, a teoria das supercordas é um modelo físico no qual os compomentes fundamentais da matéria não são os pontos sem dimensão que caracterizavam as partículas subatômicas na física tradicional, mas objetos extensos unidimensionais, semelhantes a uma corda. Dependendo do “tom” da vibração dessas cordas, elas corresponderiam a cada partícula subatômica.
De acordo com Berkovits, o Projeto Temático, que envolve uma série de parcerias internacionais, tem explorado as aplicações dos espinores puros em várias frentes no desenvolvimento da teoria de supercordas.
“A teoria de supercordas é a tentativa mais bem sucedida até agora para unificar a gravitação e a mecânica quântica, teorias cuja conciliação corresponde a uma tarefa muito difícil. Os físicos teóricos também sonham que a teoria das supercordas possa unificar todas as forças e partículas fundamentais da natureza, mas isso, por enquanto, é apenas um sonho”, disse Berkovits à Agência FAPESP.
Os avanços no campo teórico, no entanto, são bastante reais. O formalismo dos espinores puros tem sido a ferramenta mais apropriada para o estudo da correspondência AdS/CFT (sigla em inglês para espaço anti-de-Sitter / teoria do campo conformal) – também conhecida como a conjectura de Maldacena.
Essa conjectura, proposta pelo argentino Juan Maldacena em 1997, deu um impulso sem precedentes à teoria das supercordas e à pesquisa sobre a gravitação quântica. O artigo no qual Maldacena propôs a conjectura teve mais de 3 mil citações e se tornou um dos principais marcos conceituais da física teórica na década de 1990.
“Além de trabalharmos a aplicação dos espinores puros ao estudo da correspondência AdS/CFT, temos avançado na aplicação desse formalismo a outras frentes também, como o cálculo da amplitude de espalhamento”, contou Berkovits.
O estudo do espalhamento de cordas – que está relacionado ao espalhamento de partículas – enfrenta grandes dificuldades quando as partículas envolvidas são férmions. Todas as partículas elementares da matéria são férmions ou bósons, que têm spin semi-inteiros ou inteiros, respectivamente, e obedecem mecânicas estatísticas diferentes.
“Com a aplicação do formalismo dos espinores puros, o estudo do espalhamento de cordas envolvendo férmions não é mais difícil que os casos que envolvem bósons. Outra vertente na qual trabalhamos com a aplicação do formalismo dos espinores puros é a teoria de campos de cordas, que ainda está em estágio inicial de desenvolvimento”, explicou.
Segundo Berkovits, quando o físico teórico descreve uma partícula, emprega uma variável que descreve a sua posição. Mas quando se trata de uma partícula com spin – como fótons ou elétrons – a variável da posição não é suficiente para a descrição.
“Existem várias maneiras para descrever o spin e a mais tradicional foi o formalismo de Ramond-Neveu-Schwarz, concebido em 1973. Mais tarde, em 1980, foi desenvolvido o formalismo de Green-Schwarz – uma nova maneira de descrever o spin que trazia algumas vantagens. Mas trazia desvantagens também: ele não preservava a invariância de Lorentz, uma importante propriedade relacionada às rotações do espaço-tempo”, disse.
Desde 1980, portanto, os físicos teóricos vinham tentando resolver os problemas com o formalismo de Green-Schwarz. Até que em 2000 o formalismo dos espinores puros resolveu a questão da descrição do spin de partículas de uma maneira que preservava todas as simetrias presentes na teoria da relatividade.
Comunidade internacional
Estima-se que existam atualmente cerca de 2 mil pesquisadores envolvidos com o estudo de teoria das supercordas. Berkovits tem trabalhado com cerca de 50 deles. O Projeto Temático que coordena se beneficia das conexões internacionais de seus pesquisadores participantes.
“Além dos estudos feitos pelos nossos pós-doutorandos e pós-graduandos, temos muitas colaborações no exterior. Trazemos uma série de especialistas para colaborar conosco e participar de congressos que organizamos e, por outro lado, enviamos frequentemente alunos para trabalhar com equipes internacionais e participar de eventos”, disse o pesquisador que recebeu em 2009 o Prêmio de Física da Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento (TWAS).
O grupo envolvido diretamente com o Temático tem atualmente um aluno de pós-doutorado, três de doutorado, três de mestrado e um de iniciação científica. Dois professores recentemente contratados pelo IFT também atuam no projeto. Outros alunos já passaram pelo grupo e agora atuam em outras universidades do Brasil e do exterior.
“Estamos contribuindo para a formação de uma comunidade envolvida com o estudo da teoria das supercordas. É uma importante e fértil área de fronteira, mas que ainda conta com pouca gente no Brasil, em comparação com o resto do mundo”, afirmou.
O interesse pela área, no entanto, está aumentando. Prova disso foi a alta procura pela participação no evento realizado em dezembro pelo IFT e pelo Centro Internacional de Física Teórica (ICTP, na sigla em inglês), da Unesco. “Recebemos 200 inscrições e só podíamos aceitar metade”, disse Berkovits.
O curso, intitulado Escola ICTP-Capes Latino-Americana de Cordas, reuniu alguns dos principais pesquisadores do mundo na área, como Juan Maldacena e o norte-americano Joe Polchinski – ambos vencedores do prêmio Dirac – a mais importante premiação da área da física depois do Prêmio Nobel.
Fonte:http://www.agencia.fapesp.br/materia/13287/em-busca-de-uma-teoria-unificada.htm
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