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sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Redação científica ganha curso on-line

24/9/2010

Agência FAPESP – A Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Estadual Paulista (Unesp) lançou um curso on-line de redação de textos científicos.

O curso é gratuito e apresentado no formato audiovisual. A coordenação é do professor Gilson Volpato, do Instituto de Biociências de Botucatu da Unesp, e alguns módulos contam com a participação da pró-reitora de Pós-Graduação, Marilza Vieira Cunha Rudge.

O programa abrange temas como: “Controvérsias sobre os dados”, “Por que publicar?”, “O que publicar?”, “Idioma da publicação”, “Causas de negação dos artigos”, “O lado educacional”, “Como as revistas podem ajudar”, “Como os autores podem ajudar”, “Passos para a publicação”, “Texto como argumento lógico” e “Por onde começar a redação?”.

Volpato é autor de livros sobre redação científica como Bases teóricas para redação científica... por que seu artigo foi negado, Pérolas da redação científica e Dicas para redação científica.

Mais informações sobre o curso de redação científica: http://propgdb.unesp.br/redacao_cientifica.
Fonte:http://www.agencia.fapesp.br/materia/12821/redacao-cientifica-ganha-curso-on-line.htm

Pista para a gravitação quântica

24/9/2010

Por Fabio Reynol

Agência FAPESP – A medição direta de efeitos de gravitação quântica é praticamente impossível. Os motivo são que eles têm origem em locais inacessíveis ao homem, como em buracos negros, e seus efeitos são extremamente sutis.

Mas um grupo de físicos brasileiros desenvolveu um meio de se estudar indiretamente um desses fenômenos, a flutuação da velocidade da luz, por meio de experimentos de propagação ondas acústicas em fluídos com aleatoriedade, como em coloides, líquidos heterogênios que contêm partículas ou moléculas de diferentes tamanhos em suspensão – o leite é um exemplo.

O trabalho foi realizado por Gastão Krein, do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Nami Svaiter, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), e Gabriel Menezes, pós-doutorando da Unesp. Os resultados foram publicado no dia 20 de setembro na revista Physical Review Letters.

“Em uma conversa que tivemos com Svaiter, surgiu a ideia de que a propagação do som em fluidos coloides poderia apresentar efeitos simililares aos da luz em ambientes nos quais a gravitação quântica seria relevante”, disse Krein à Agência FAPESP.

Menezes foi o elo entre Krein e Svaiter. Atualmente com Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP, orientado por Krein, Menezes foi orientado por Svaiter no CBPF em seu doutorado.

O encontro entre os físicos foi importante para a concepção da pesquisa, uma vez que Krein tem larga experiência em estudos com equações com flutuações aleatórias e Svaiter é especialista em gravitação quântica, tendo desenvolvido estudos de seus efeitos com Lawrence Ford, da Universidade Tufts, nos Estados Unidos.

Flutuações em um fluido podem ser clássicas ou quânticas. O artigo demonstra a validade de se usar microvibrações em coloides como plataforma para estudo da gravitação quântica. Segundo o estudo, os dois fenômenos são descritos por equações matemáticas similares.

Se estudos com coloides são comuns e conhecidos, o mesmo não se pode dizer do segundo fenômeno. Um dos feitos da gravidade quântica é que velocidade da luz não é uma constante, como ensina a física clássica, mas flutua de um ponto a outro devido aos efeitos quânticos. Estima-se que esse tipo de gravidade esteja presente em buracos negros e tenha vigorado durante o Big Bang.

Outros experimentos com fluidos já haviam sido propostos para estudar efeitos de gravidade quântica, mas o brasileiro é o primeiro a contemplar o estudo das flutuações da velocidade da luz através da flutuações da velocidade de propagação de ondas acústicas em fluídos.

Segundo Krein, o mérito da pesquisa foi ter apontado um meio de simular em laboratório um fenômeno de observação muito difícil. “O comportamento das ondas acústicas ao se propagar em um meio aleatório, como os coloides, permite trazer a um laboratório efeitos análogos aos da gravitação quântica”, disse.

Radiação Hawking

Krein e colegas pretendem investigar, por meio de modelos com fluidos, o equivalente a um buraco negro e como vibrações acústicas quânticas são criadas e destruídas próximos a essas formações no espaço.

Os físicos buscam compreender melhor o fenômeno conhecido como “radiação Hawking”, prevista em 1973 pelo físico inglês Stephen Hawking. Segundo Hawking, os buracos negros encolhem com a perda de energia por meio dessa radiação.

Krein, Svaiter e Menezes procuram também grupos experimentais de pesquisa que investiguem fluidos e se interessem em fazer experimentos nessa área.

“Com um fluido, podemos controlar parâmetros do experimento, como a densidade e a concentração das partículas em suspensão, e, com isso, aprender como muda a propagação do som de maneira controlável no laboratório. Isso permitirá construir correlações dos resultados com o que ocorre na gravitação quântica”, disse Krein.

O artigo Analog Model for Quantum Gravity Effects: Phonons in Random Fluids (doi: 10.1103/PhysRevLett.105.131301), de Gastão Krein e outros, pode ser lido por assinantes da Physical Review Letters em http://link.aps.org/doi/10.1103/PhysRevLett.105.131301.
Fonte:http://www.agencia.fapesp.br/materia/12818/pista-para-a-gravitacao-quantica.htm

UFRJ vota regulamentação do xerox em seus campi

Medida é discutida em reunião de conselho, após a Polícia Civil apreender, na semana passada, cópias de livros

A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) vota nesta quinta-feira (23/9) uma resolução que deve regulamentar o uso educacional de fotocópias de livros e periódicos seus nos campi. Na prática, a medida a ser debatida em reunião do Conselho Universitário libera a reprodução de capítulos e artigos indicados como bibliografia.

O reitor Aloisio Teixeira decidiu encaminhar a proposta após a Polícia Civil, atendendo a denúncia anônima, apreender mais de 200 pastas com cópias de trechos de livros na Escola de Serviço Social (ESS) da universidade, no dia 13.

"Nossa proposta considera a excepcionalidade da reprodução sem fins lucrativos com finalidade educacional. Vamos assumindo a responsabilidade institucional por essas reproduções, reconhecendo que é impossível fornecer exemplares de toda a bibliografia para todos os estudantes, que também não podem assumir o ônus de adquirir todo esse material", disse o reitor.

A regulamentação abrange artigos de revistas científicas, capítulos de livros e até obras completas - mas apenas as esgotadas e edições que não estejam disponíveis no mercado, além do material com reprodução autorizada. Para obter as fotocópias, os alunos deverão preencher uma solicitação individual.

A cópia e distribuição de livros em universidades é amplamente difundida, mas pode ser considerada crime, com pena de 2 a 4 anos de prisão. A Lei de Direitos Autorais (9.610) protege as obras literárias e editoriais, mas abre uma exceção à reprodução de "pequenos trechos", sem especificar sua dimensão.

USP

Em 2005, o então reitor da USP, Adolpho José Melfi, assinou resolução regulamentando a reprodução de livros e periódicos. O texto permite "a extração de cópias de pequenos trechos, como capítulos de livros e artigos de periódicos ou revistas científicas, mediante solicitação individualizada, sem finalidade de lucro".
(Bruno Boghossian)
(O Estado de SP, 23/9)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=73646

Enem substitui vestibular em 92 mil vagas de federais

JC e-mail 4102, de 23 de Setembro de 2010.


Das 59 universidades, 23 usarão o exame do ensino médio como etapa única

Mesmo com problemas como vazamento e adiamento, ocorridos após sua reformulação, no ano passado, a influência do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) não para de crescer.

Levantamento feito pela Folha nas 59 universidades federais e com dados dos 39 institutos federais mostra que mais de 92 mil vagas serão oferecidas exclusivamente com a nota do Enem, sem que o aluno precise fazer outras provas.

A projeção é que, em 2011, essas instituições tenham ao todo 235 mil vagas, a serem preenchidas também por outros processos seletivos. A substituição total do vestibular pelo Enem ocorre de duas maneiras.

Na primeira, majoritária, as universidades aderem a um sistema integrado que seleciona os alunos para cursos de todo o país, exclusivamente usando o Enem.

Na segunda, as instituições fazem um ranking próprio da nota do Enem entre os candidatos. No ano passado, foram apenas 47 mil vagas oferecidas por este sistema integrado, chamado Sisu e criado pelo Ministério da Educação.

"Se não tivesse ocorrido o vazamento, o Enem estaria ainda mais forte", disse o consultor Rudá Ricci.

Das 59 federais, 23 usarão o Enem como etapa única, mas todas vão utilizar a nota de alguma forma, por exemplo, pontuação na nota final.

As que vão usar mais timidamente são as que optaram apenas para preencher vagas remanescentes, como UnB (Brasília) e Ufal (Alagoas).

Como algumas universidades federais ainda definem a abertura de cursos para o próximo ano, o número de vagas disputadas por meio do Enem deve crescer.

É o caso da UFABC (federal do ABC), que confirmou que 100% de suas vagas serão preenchidas pelo sistema integrado do MEC, mas ainda não definiu quantos postos terá em 2011.

Em São Paulo, a principal adesão foi da UFSCar (federal de São Carlos). Em junho, o reitor Targino de Araújo Filho deu como motivo para abandonar a prova própria a perspectiva de poder abrir as portas da universidade para estudantes de todo o país.

A maior parte das instituições que não usaram o Enem de nenhuma forma no ano passado, mas que passam a utilizá-lo agora, alegaram falta de tempo hábil para terem participado da primeira edição do sistema integrado.

Uma das universidades que apresentaram a justificativa foi a UFMG (de Minas), que passou a usar o exame como primeira fase de seu processo seletivo.

O surgimento de novas vagas, seja pela criação de cursos em instituições que já aderiam ao Sisu seja pela criação de novas universidades -como Unilab e Ufopa (Oeste do Pará)- também ajudam a explicar o aumento desse número.

Especialistas ouvidos pela Folha atribuem esse aumento ainda a razões políticas, como moeda de troca para liberação de verbas do Reuni (programa do governo federal que expande as universidades federais), e financeiras- porque é mais barato e simples "terceirizar" para o governo federal a organização e a execução do processo seletivo.

Procurado, o Ministério da Educação não quis se pronunciar.

"Tendência é vestibular ser eliminado", diz reitor da UFMG

Entre as universidades que aderiram parcialmente ao Enem, a UFMG (federal de Minas) é uma das maiores. Para o vestibular deste ano, a instituição teve mais de 70 mil inscritos para cerca de 6.000 vagas, porte semelhante ao da Unicamp.

Em entrevista à Folha, o reitor da UFMG, Clélio Campolina, disse que a tendência é que, no futuro, o vestibular seja abolido.

- Como foi que a universidade decidiu usar o Enem?

Primeiro, a UFMG não usou o Enem da vez passada porque não houve tempo legal. O nosso estatuto exige que o edital do vestibular tenha que ser divulgado com seis meses de antecedência. Mas nós avaliamos que o Enem é um grande avanço.

- Em que sentido?

Todo país desenvolvido tem um exame nacional que faz uma avaliação do ensino médio. Todos nós sabemos que o ensino médio não está bom, que o ensino fundamental não está bom, mas não temos um critério de medida uniforme. Portanto, achamos que isso é um avanço em termos de avaliação do ensino médio, é uma democratização para o ingresso na universidade e a gente espera que, algum dia, o vestibular seja eliminado como critério de seleção para ingresso na universidade.

- Na UFMG ou genericamente falando?

Estou falando genericamente. Acho que o país, em algum momento, vai ter que eliminar o vestibular. Isso não pode ser feito de imediato. A UFMG está adotando o Enem como critério da primeira etapa do vestibular. A segunda etapa ainda continua sendo o exame especifico da UFMG. Vamos avaliar os resultados do Enem para que a gente possa discutir medidas para o futuro.

Nesta semana a UFMG divulgou a relação candidato/vaga do vestibular 2011. Medicina tem mais de 54 candidatos por vaga. Para selecionar candidatos em carreiras concorridas, o Enem é uma ferramenta suficiente?

- Isso [acabar com o vestibular] é para o futuro. Vamos ter que aperfeiçoar o Enem para que ele realmente forneça elementos suficientes para a seleção. Isso é o desejo de um processo a longo prazo.

- O MEC incentivou a adesão de alguma forma?

É óbvio que o MEC estava desejoso que o Enem fosse utilizado. Se o exame não for aceito pela comunidade, ele não se legitima. Mas nós não tivemos nenhum benefício, não sofremos nenhuma pressão. Foi uma decisão soberana do nosso conselho universitário.
(Patrícia Gomes e Andressa Taffarel)
(Folha de SP, 23/9)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=73645

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

EQUIPE DE CIENTISTAS CONSTRÓI CÂMERA PARA OBSERVAR 300 MILHÕES DE GALÁXIAS

Quinta-feira, 23 de Setembro de 2010
Fonte: Alicia Rivera, El Pais (Espanha) de 20.09.2010
Quando os cientistas tropeçam numa surpresa, em algo que não compreendem, não ficam de braços cruzados, extasiados, mas imediatamente começam a inventar experimentos e observações para vencer o mistério, mais ainda quando se trata de uma descoberta que altera em grande medida o conhecimento que se tem da evolução do universo. Trata-se da energia escura, cuja existência era desconhecida há pouco mais de uma década e que agora atrai a atenção dos cosmólogos do mundo todo. Não era para menos: segundo as observações mais precisas realizadas, a energia escura constitui 72% de todo o universo e não se sabe o que ela é e a que leis obedece, mas está presente e é observada.

Para tentar esclarecer sua natureza, meia dúzia de câmaras astronômicas especiais estão sendo preparadas. Uma ficará pronta no próximo ano. Ela está sendo construída nos EUA e os astrônomos captarão com ela cerca de 300 milhões de galáxias, algumas tão antigas que emitiram a luz que chega agora à Terra logo no início do universo, poucos milhões de anos depois do Big Bang. O projeto se chama Dark Energy Camera e participam especialistas de vários países, incluindo a Espanha.

“Nosso objetivo principal é determinar a natureza da energia escura”, explicou recentemente Josh Frieman, diretor do projeto DES, que está fazendo a câmera norte-americana, no Centro Pedro Pascual de Benasque (Huesca). “A energia escura tem dois efeitos nos quais nos basearemos para investigar sua natureza: acelera a expansão do universo e modifica a velocidade com a que se formam as galáxias, e isso, por sua vez, afeta o número de galáxias e sua distribuição no espaço. Assim, contando as galáxias e medindo sua distribuição, obteremos pistas sobre o que ela é.”

Essa aceleração foi, efetivamente, a primeira pista que duas equipes de astrônomos encontraram há 12 anos. Até então, a cosmologia dizia que o universo, que está em expansão há 13,7 bilhões de anos, se expandiria cada vez mais lentamente devido à ação gravitacional de sua própria matéria. Mas em 1998, descobriu-se que na realidade está acontecendo justamente o contrário: o cosmos se expande agora mais depressa que antes. Como é possível? O que provoca este fenômeno? Ninguém tem a resposta e, enquanto isso, observações confirmaram essa aceleração. Se isso parecer um pouco estranho, nos primeiros 8 bilhões de anos a expansão foi desacelerando, como era de se esperar devido à ação gravitacional de sua própria matéria, mas depois a coisa mudou e começou a acelerar.

“A resposta está na energia escura, uma misteriosa força antigravitacional, de maneira que, quando o universo era jovem, a gravidade dominou, mas com o tempo, a matéria se dispersou o suficiente para que essa atração entre as galáxias diminuísse e a energia escura começou a dominar, uma força repulsiva que supera a atração da gravidade e faz com que as galáxias se distanciem entre si mais rapidamente”, explica Kristine Crane na revista Symmetry.

As explicações para este fenômeno são buscadas em várias direções, incluindo a ideia de Albert Einsten de uma constante cosmológica que teria precisamente esse efeito de repulsão gravitacional e que ele mesmo rejeitou. Outra hipótese, por exemplo, recorre a uma dimensão espacial extra para acelerar a expansão.

A câmera DES que é fabricada nos EUA (no Fermilab, Chicago) verá mais galáxias a grandes distâncias no universo do que qualquer outro programa de observação até agora, afirmam seus responsáveis. Ela tomará dados de supernovas longínquas (o que informa sobre a distância das galáxias em que estão), sobre os grupos de galáxias em grande escala e sua abundância e sobre a curvatura que provocam na trajetória da luz. “Vamos cartografar a distribuição das galáxias desde a situação atual até o universo de quando tinha poucos milhares de anos”, disse Joe Mohr em Symmetry.

Do universo primitivo, de quando tinha apenas 380 mil anos, os cosmólogos têm mapas, e o último foi o que o telescópio Planck fez, da Agência Europea do Espaço. E foi o estudo da radiação deste universo primitivo o que permitiu calcular que a energia escura representa 72% do cosmos, enquanto o resto é de matéria ordinária (5%) e matéria escura (23%).

A câmera DES (com participação de 120 especialistas dos EUA, Brasil, Espanha e Reino Unido), custa 39 milhões de euros e têm 74 detectores CCD (cada um de 3x6 centímetros), é montada sobre uma placa de meio metro de diâmetro. Para ver a luz infravermelha, os sensores funcionarão a cem graus abaixo de zero. Quando estiver terminada será instalada num telescópio no Chile.

“No DES participam espanhóis de várias instituições”, diz Juan García-Bellido, físico teórico da Universidade Autônoma de Madri, citando também a Ciemat, o Instituto de Física Altas Energias (Barcelona) e o Instituto de Estudos Espaciais da Catalunha. “Além disso”, nesses centros são feitos componentes importantes da câmera, como a eletrônica de transmissão de sinais desde os CCD até o registro de dados e parte do sistema de criogenia”. Mas os espanhois também estão desenvolvendo outra câmera similar à do DES, “que terá uma maior resolução e com um maior número de filtros), explica García Bellido. Trata-se de um projeto de detecção de energia escura que sofreu reajustes de pessoa e de objetivos.

Aos cientistas ocorreu também outras estratégias para abordar a energia escura, como estudar o chamado efeito BAO (oscilação acústica bariônica), e já estão desenhando, também nos EUA, outro detector específico.

Tradução: Eloise De Vylder
Fonte:http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2010_09_23&pagina=noticias&id=05925

LEONARDO BOFF: "JOÃO PAULO II E BENTO XVI AFASTARAM A IGREJA DO MUNDO"

Quinta-feira, 23 de Setembro de 2010
Fonte: Leopoldo Mateus, Revista Época Online de 19.09.2010
Em entrevista a ÉPOCA, o teólogo diz que os dois últimos papas retrocederam em relação ao diálogo aberto por João Paulo I
O teólogo Leonardo Boff é um dos maiores críticos brasileiros ao comportamento recente da Igreja Católica. Expoente da Teologia da Libertação, foi expulso da Igreja nos anos 80, por criticar sistematicamente a hierarquia da religião. Doutor em Filosofia e Teologia pela Universidade de Munique, Boff falou a ÉPOCA sobre os principais motivos da grande perda de fiéis da Igreja Católica para as evangélicas e pentecostais no Brasil e fez críticas ao movimento carismático, comandado pelos padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo. "Eles são animadores de auditório. Isso não leva ninguém à transformação. É um Lexotan".

ÉPOCA – O Papa Bento XVI reconheceu, no último dia 10, a enorme perda de fiéis da Igreja Católica no Brasil e a rápida expansão das evangélicas e pentecostais. A que se deve isso?
Leonardo Boff - São três causas. Primeiro, a Igreja não consegue ter padres suficientes pra atender fiéis, por causa do celibato. São 17 mil, e teriam de ser uns 120 mil. As pentecostais ocupam esse vazio. Elas vão ao encontro das demandas do povo. O povo não é dogmático, vai pro centro espírita, vai pra macumba... Em segundo lugar, a grande desmoralização que a igreja sofreu com os padres pedófilos. É a maior crise desde a Reforma Protestante. É uma crise grave, porque se desmoralizou e perdeu o conteúdo ético. A maneira como o Vaticano se comportou foi desastrosa. Tentou encobrir e depois disse que era um complô internacional. Só quando começaram a aparecer muitos casos que o papa disse que tinha que punir. Mas, mesmo assim, não mostrou solidariedade com as vítimas e nem como mudar isso. Só pensa na Igreja. Em terceiro lugar, o fato de a Igreja ter uma visão muito abstrata da realidade. Uma linguagem que o povo não entende direito.

ÉPOCA – O senhor acredita que nas últimas décadas houve um retrocesso na modernização da Igreja Católica?
Boff - João Paulo II e Bento XVI abortaram as inovações de João Paulo I e afastaram a Igreja do mundo. A Igreja não tem dialogo com as outras igrejas. Falta uma reconciliação com o mundo moderno. Desde o século XVI que a Igreja vive em briga com ele. A igreja se abriu a isso e João Paulo II, com sua visão medieval, abortou tudo isso. A Igreja não tem mais poder político. Só tem poder moral. Reforçou a estrutura hierárquica tradicional. Marginaliza mulheres, e os fiéis têm a representatividade de garis. A igreja dos anos 60 aos 80, quando surgiram a Teologia da Libertação e os movimentos de base, foi abortada. Isso tornou a igreja antipática.

ÉPOCA – O que os católicos encontram nas outras igrejas que não encontram na Católica?
Boff - O povo quer uma mensagem compreensível e simples. As evangélicas utilizam os instrumentos do mercado e são muito calcadas em cima da prosperidade. Há uma grande manipulação das expectativas e do sentimento religioso do povo. Mas, ao mesmo tempo, elas são formas de ordenar a sociedade. Muitas famílias que viviam nas drogas e na bebedeira se estruturaram, se inseriram na sociedade. Fator de ordem.

ÉPOCA – Bento XVI disse que os padres não estão evangelizando suficientemente os fiéis e que as pessoas se tornam influenciáveis e com uma fé frágil. O senhor concorda?
Boff - O problema não é evangelizar. É a maneira como se faz. O catecismo e outros símbolos imutáveis são engessados, não falam no fundo das pessoas. É um cristianismo fúnebre. O padre Marcelo Rossi está imitando as pentecostais. Há um vazio de evangelização, é a relação pessoa e Deus. É melhor escutar o padre Rossi do que escutar a Xuxa, mas é a mesma coisa. Eles são animadores de auditório. Isso não leva ninguém à transformação. É um Lexotan. Depois volta a lógica dura da vida. É uma evangelização desgarrada da vida concreta.

ÉPOCA – O papa já se mostrou não ser muito favorável aos líderes mais carismáticos, como Marcelo Rossi e Fábio de Melo. Isso não complica as coisas?
Boff - O Vaticano e os bispos não gostam de ter sombra ao lado deles. E Roma não gosta disso. Por isso quer enquadrá-los. Eles são modernos e mercadológicos. Por outro lado, não levam as pessoas a refletirem sobre os problemas do mundo. O padre Rossi nunca fala dos desempregados e da fome. Só convida a dançar. Ele louva as rosas, mas esquece o jardineiro que as rega.

ÉPOCA – Qual seria a melhor forma de atrair quem anda distante da Igreja Católica?
Boff - A melhor forma é aquilo que a Igreja da Libertação faz desde os anos 70. Reunir cristãos pra confrontar a página da Bíblia com a da vida. Uma evangelização ligada ao cotidiano e às culturas locais. Uma coisa no Nordeste, outra na Coreia. Essa visão proselitista é ofensiva à liberdade humana.

ÉPOCA – Essa tendência de crescimento das outras igrejas se reflete em outros países tradicionalmente católicos. Ela é universal?
Boff - É um fenômeno mundial chamado imigração interna do cristianismo. Muitos cristãos da Europa que estudaram estão migrando de igreja. Não aceitam esse tipo de igreja. O cristianismo na Europa é agônico. A Alemanha, por exemplo, que tem o imposto religioso, o destina para a luta contra a aids. É outra visão. Tanto que a maior religião do mundo já é a mulçumana, que cresce muito na África. É simples. Não tem padre, nem bispo. Atrai muito mais as pessoas.

Fonte:http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2010_09_23&pagina=noticias&id=05924

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

UFJF sedia reunião sobre consórcio entre universidades mineiras

publicada em: 22 de setembro de 2010 - visualizada pela 63º vez


Reitores no último encontro ocorrido em Lavras
Novas características sobre o perfil do consórcio que será formado entre universidades federais do Sudeste e Sul mineiros serão debatidas em reunião entre reitores e equipe técnica das sete instituições, nas próximas quinta e sexta-feira, dias 23 e 24. O encontro será na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Quando concretizada, a união das federais de Alfenas (Unifal), Itajubá (Unifei), Lavras (Ufla), Ouro Preto (Ufop), São João Del-Rei (UFSJ), Viçosa (UFV), além da própria UFJF, formará a terceira maior universidade pública do país, mantendo-se, no entanto, a autonomia de cada instituição. Atualmente nessas unidades são mais de 41 mil alunos de graduação e 5,3 mil de pós-graduação, 260 cursos presenciais, 111 de mestrado e 59 de doutorado.
O encontro na UFJF começa com almoço entre reitores no Victory Business Hotel, localizado na Avenida Independência 1.850, bairro São Mateus, a partir de 12h30. Entre 14h e 18h30, equipes técnicas, incluindo pró-reitores de cada instituição, se dividirão em comissões temáticas na Faculdade de Odontologia para debater o consórcio. Ao todo, já foram criadas sete delas: de Assuntos Estudantis; Ensino; Extensão e Cultura; Graduação; Planejamento e Gestão; Pesquisa e Inovação; e Pós–graduação.
No mesmo dia, à noite, está programada a visita às exposições “Doce França: Retratos da Vida Privada” e “Le Sacre Moderne: A Sagração do Moderno”, no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (Mamm), seguida de coquetel no hotel.
Na sexta-feira, a discussão recomeça às 8h30 e vai até 10h, com as comissões temáticas, visando reunir propostas concretas de ações a serem desenvolvidas pelo consórcio e a criação de uma proposta de contrato.
Das 10h às 12h, o gerente-geral da Universidade Petrobras, Ricardo Salomão, encontra-se com os participantes. A instituição da empresa estatal realiza treinamentos para seus funcionários e possui três campi: no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Salvador. A unidade desenvolve parcerias com instituições educacionais do Brasil e do exterior. De acordo com o vice-reitor da UFJF, José Luiz Rezende Pereira, a empresa se dispôs a fazer a palestra e não indicou, a princípio, parceria com o grupo. Em seguida, das 14h às 18h, o grupo volta a falar sobre contrato e lei dos consórcios.
O objetivo do consórcio está no fortalecimento do ensino, da pesquisa e da extensão, como também na relação com o Governo Federal, o que pode proporcionar ainda mais mobilidade acadêmica e administrativa para a comunidade do consórcio. A criação de um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) em conjunto está entre a meta das universidades. Conforme já apontou o reitor da UFJF, Henrique Duque, a proposta será enviada ao Conselho Superior (Consu) para aprovação e será discutida na comunidade acadêmica.
Reuniões anteriores
Em um pouco mais de um mês, três reuniões entre reitores do consórcio já aconteceram: em Lavras, São João Del-Rei e Ouro Preto. No dia 10 de agosto, foi assinado um protocolo de intenção de formação do consórcio.
Confira a programação da reunião do consórcio
Dia 23, quinta-feira
12h30: almoço no Victory Business Hotel
14h às 18h30: reunião das comissões temáticas. Local: Anfiteatro da Faculdade de Odontologia
19h: visita às exposições “Doce França: Recortes da Vida Privada” e “Le Sacre Moderne: A Sagração do Moderno” no Museu de Arte Moderna Murilo Mendes (Mamm)
19h30: coquetel no Victory Business Hotel

Dia 24, sexta-feira
8h30 às 10h: reunião das comissões temáticas. Proposta concreta de ações a serem desenvolvidas pelo consórcio e de contrato.
10h às 12h30: encontro com o gerente-geral da Universidade Petrobras, Ricardo Salomão
12h30 às 14h: almoço no Victory Business Hotel
14h às 18h: discussão sobre o contrato e lei de consórcios

Cronologia do consórcio
19 de julho de 2010: em reunião, em Brasília, reitores das sete universidades mineiras aceitam a sugestão do ministro da Educação, Fernando Haddad, para que seja criado um consórcio que reunirá instituições situadas nas regiões Sul-Sudeste de Minas Gerais com características em comum e que possam se fortalecer e complementar sem perder a autonomia. A ideia é que, juntas, as universidades possam contribuir para o desenvolvimento econômico e social das regiões onde estão situadas. As universidades federais de Itajubá, Alfenas, Lavras, São João Del-Rei, Juiz de Fora, Viçosa e Ouro Preto ficam num raio de 200 quilômetros e abrangem as regiões Sul e Sudeste de Minas.
3 de agosto: reunidos no escritório da UFV, em Belo Horizonte, os reitores das sete universidades realizaram a primeira reunião conjunta para debater a proposta do MEC e concordaram em elaborar, conjuntamente, um projeto de consórcio, definindo o que poderá ser compartilhado pelas instituições, mantendo a autonomia de cada universidade envolvida.
10 de agosto: durante a inauguração do Campus da UFSJ, em Divinópolis, os reitores das sete universidades, o ministro Fernando Haddad e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinaram protocolo de intenções para elaboração do projeto do consórcio.
18 de agosto: no campus da UFLA, em Lavras, os reitores definiram que o reitor da UFV, Luiz Cláudio Costa, coordenará a elaboração do projeto e que cada um dos outros seis reitores envolvidos estará à frente de um dos seguintes temas principais do consórcio: pós-graduação (UFJF), pesquisa (Unifei), graduação (Unifal), planejamento e gestão (Ufla), extensão e cultura (UFSJ) e assistência estudantil (Ufop).
24 de agosto: pró-reitores e assessores técnicos de cada área se reúnem na UFSJ, em São João Del-Rei para participarem dos primeiros seminários temáticos, sugerindo e debatendo pontos que serão compartilhados pelo consórcio.
3 de setembro: a segunda reunião de trabalho de reitores e assessores técnicos das instituições federais de ensino envolvidas no projeto do consórcio aconteceu na Ufop, em Ouro Preto. Os grupos de trabalho começaram a detalhar o projeto e definiram, entre outros pontos, que, inicialmente, as consorciadas trabalhariam em conjunto.
Fonte: Coordenadoria de Comunicação da Universidade Federal de Viçosa
Outras informações: (32) 2102-3966/3967/ 3997 (Diretoria de Comunicação da UFJF)
Fonte:http://www.ufjf.br/

Juizforano vota com base em aspectos pessoais de candidatos por não ver definição clara em partidos

publicada em: 21 de setembro de 2010 - visualizada pela 198º vez

O coordenador do CPS Carlos Alberto Botti e a pró-reitora de Pesquisa Marta D'Agosto apresentaram os resultados em coletiva de imprensa nesta terça, 21
Os eleitores de Juiz de Fora buscam candidatos simpáticos (61,5%), com estudo (80,6%), religiosos (34,1%), com ideias iguais às deles (50,7%) e que, sobretudo, sejam honestos (98,5%) e trabalhadores (99,1%). Às vésperas das eleições, que acontecem no dia 3 de outubro, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) divulgou pesquisa que revela como vota o juizforano.
Através do Centro de Pesquisas Sociais (CPS), 541 pessoas foram entrevistadas durante a primeira quinzena de setembro e demonstraram quais valores levam em consideração na hora de escolherem seu candidato. O perfil evidenciado acima contempla as principais características citadas pelos cidadãos. Para o coordenador da pesquisa, professor Carlos Alberto Hargreaves Botti, os dados não indicam a população como culpada pela forma com que escolhem seus candidatos. “Na ausência de definição dos partidos, cada um cria sua escala de valores”. Na verdade, “há uma expectativa da população por mais substância nos partidos”, avaliou o professor.
A cerca de um mês das eleições somente 15,5% dos eleitores haviam decidido o conjunto de candidatos em quem votar. Os entrevistados apontaram, ainda, ser importante experiência prévia em cargo político. Além disso, quase metade dos juizforanos (49,6%) prefere eleger adultos ou idosos. De acordo com análise do CPS, isso demonstra uma tendência conservadora da cidade. “Se pensarmos na história política de Juiz de Fora isso pode ser confirmado”. As mesmas figuras públicas vêm se revezando na gestão do município, apesar de já terem sido apresentadas alternativas novas.
Outro dado que chamou a atenção da equipe do CPS foi o fato do eleitor (63%) não levar em consideração o local onde o candidato reside, ou seja, se ele é de Juiz de Fora ou não. Segundo Botti, esse resultado pode ser entendido como uma característica cosmopolita dos juizforanos. “É bom, pois mostra que a população é politicamente educada, já que o papel de um senador, por exemplo, não é trazer obra para sua região”.

Para o professor, sociedade "clama" por partidos com maior definição de ideais
O fato do político ser seu conhecido, a quem ele possa recorrer para atender algum pedido, não determina a preferência da maioria dos eleitores (60%). Ser rico ou pobre, homem ou mulher, bonito ou feio também não são aspectos considerados pela população na hora de votar.
Um terço do eleitorado acha muito importante ou importante a vinculação entre o candidato e outro político conhecido, tendência que parece ser confirmada pelo atual processo eleitoral. “Antônio Anastasia, candidato ao governo de Minas Gerais, e Dilma Rousseff, à presidência, eram desconhecidos do grande público até recentemente”. No entanto, o fato de terem o apoio de políticos conhecidos é bem visto pelos eleitores.
O professor chamou a atenção para as atribuições pessoais “honesto” e “trabalhador” serem citadas pelos entrevistados. “Isso não deveria ser um valor, mas uma condição básica”. Para Botti, no Brasil, as regras são às avessas. “Foi preciso criar uma lei para proibir a candidatura de desonestos”, referindo-se ao Ficha Limpa.
A pesquisa é a sétima etapa do Projeto Fala Juiz de Fora, que tem o apoio da Pró-reitoria de Pesquisa e conta com 32 bolsistas de campo. Para a pró-reitora Marta D’Agosto, o projeto tem um papel importante dentro da Universidade, pois insere os alunos precocemente no ambiente de pesquisa, e também para a cidade, que ganha um “rico banco de informações para implantação de políticas públicas”.
Outras informações: (32) 2102-3104
Juizforano vota com base em aspectos pessoais de candidatos por não ver definição clara em partidos
publicada em: 21 de setembro de 2010 - visualizada pela 198º vez

O coordenador do CPS Carlos Alberto Botti e a pró-reitora de Pesquisa Marta D'Agosto apresentaram os resultados em coletiva de imprensa nesta terça, 21
Os eleitores de Juiz de Fora buscam candidatos simpáticos (61,5%), com estudo (80,6%), religiosos (34,1%), com ideias iguais às deles (50,7%) e que, sobretudo, sejam honestos (98,5%) e trabalhadores (99,1%). Às vésperas das eleições, que acontecem no dia 3 de outubro, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) divulgou pesquisa que revela como vota o juizforano.
Através do Centro de Pesquisas Sociais (CPS), 541 pessoas foram entrevistadas durante a primeira quinzena de setembro e demonstraram quais valores levam em consideração na hora de escolherem seu candidato. O perfil evidenciado acima contempla as principais características citadas pelos cidadãos. Para o coordenador da pesquisa, professor Carlos Alberto Hargreaves Botti, os dados não indicam a população como culpada pela forma com que escolhem seus candidatos. “Na ausência de definição dos partidos, cada um cria sua escala de valores”. Na verdade, “há uma expectativa da população por mais substância nos partidos”, avaliou o professor.
A cerca de um mês das eleições somente 15,5% dos eleitores haviam decidido o conjunto de candidatos em quem votar. Os entrevistados apontaram, ainda, ser importante experiência prévia em cargo político. Além disso, quase metade dos juizforanos (49,6%) prefere eleger adultos ou idosos. De acordo com análise do CPS, isso demonstra uma tendência conservadora da cidade. “Se pensarmos na história política de Juiz de Fora isso pode ser confirmado”. As mesmas figuras públicas vêm se revezando na gestão do município, apesar de já terem sido apresentadas alternativas novas.
Outro dado que chamou a atenção da equipe do CPS foi o fato do eleitor (63%) não levar em consideração o local onde o candidato reside, ou seja, se ele é de Juiz de Fora ou não. Segundo Botti, esse resultado pode ser entendido como uma característica cosmopolita dos juizforanos. “É bom, pois mostra que a população é politicamente educada, já que o papel de um senador, por exemplo, não é trazer obra para sua região”.

Para o professor, sociedade "clama" por partidos com maior definição de ideais
O fato do político ser seu conhecido, a quem ele possa recorrer para atender algum pedido, não determina a preferência da maioria dos eleitores (60%). Ser rico ou pobre, homem ou mulher, bonito ou feio também não são aspectos considerados pela população na hora de votar.
Um terço do eleitorado acha muito importante ou importante a vinculação entre o candidato e outro político conhecido, tendência que parece ser confirmada pelo atual processo eleitoral. “Antônio Anastasia, candidato ao governo de Minas Gerais, e Dilma Rousseff, à presidência, eram desconhecidos do grande público até recentemente”. No entanto, o fato de terem o apoio de políticos conhecidos é bem visto pelos eleitores.
O professor chamou a atenção para as atribuições pessoais “honesto” e “trabalhador” serem citadas pelos entrevistados. “Isso não deveria ser um valor, mas uma condição básica”. Para Botti, no Brasil, as regras são às avessas. “Foi preciso criar uma lei para proibir a candidatura de desonestos”, referindo-se ao Ficha Limpa.
A pesquisa é a sétima etapa do Projeto Fala Juiz de Fora, que tem o apoio da Pró-reitoria de Pesquisa e conta com 32 bolsistas de campo. Para a pró-reitora Marta D’Agosto, o projeto tem um papel importante dentro da Universidade, pois insere os alunos precocemente no ambiente de pesquisa, e também para a cidade, que ganha um “rico banco de informações para implantação de políticas públicas”.
Outras informações: (32) 2102-3104
Fonte:http://www.ufjf.br/

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dados criptografados são processados sem serem decifrados

Redação do Site Inovação Tecnológica - 20/09/2010



Imagine a solução definitiva da criptografia: você poder responder a uma pergunta sem saber a própria pergunta.

De forma mais simples, suponha que alguém pense em dois números e, em seguida, peça a outra pessoa para somar ou multiplicar os dois, sem que essa pessoa saiba quais são os dois números.

Isso já é possível desde que a pessoa receba um código criptografado dos dois números - mesmo não conhecendo a senha para decifrá-los.

A técnica tornará possível, por exemplo, que uma empresa envie seus dados criptografados para processamento em um computador de terceiros, sem correr o risco de que seus dados sejam lidos.

Computação em dados criptografados

O último passo para transformar essa possibilidade técnica em uma realidade prática foi dado por Nigel Smart, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e Frederik Vercauteren, da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica.

Os dois pesquisadores acabam de dar um passo importante rumo a um sistema totalmente prático que permita computar dados criptografados sem precisar decifrá-los.

"Nosso sistema permite que os cálculos sejam executados em dados criptografados, o que poderá permitir a criação de sistemas nos quais você armazena os dados remotamente de uma forma segura e ainda é capaz de acessá-los," diz Smart.

Segundo o pesquisador, quando totalmente desenvolvido, o trabalho terá um impacto muito abrangente, em áreas tão diversas como o acesso a banco de dados, leilões eletrônicos e até urnas eletrônicas.

Um sistema assim será ideal também para acessar prontuários médicos durante pesquisas científicas. Os pesquisadores poderão executar cálculos estatísticos sobre ocorrências de enfermidades sem a necessidade de revelar informações sobre os pacientes individuais.

Criptografia homomórfica

Em outro exemplo, imagine uma pessoa que está participando de um leilão online, mas não quer o leiloeiro saiba sua oferta para não incentivar lances mais altos.

Lances criptografados poderão ser enviados para o leiloeiro e, em seguida, usando um esquema totalmente homomórfico, o leiloeiro poderá saber quem ganhou e qual foi a proposta vencedora mesmo sem conhecer os demais lances.

Por quase 30 anos esse tem sido o sonho da criptografia: chegar a um esquema que permita "somar" e "multiplicar" mensagens cifradas - o chamado esquema totalmente homomórfico.

Tão logo seja possível somar e multiplicar, torna-se possível realizar qualquer outra função.

Ao longo dos anos, foram propostos vários esquemas de criptografia nesse caminho, que possuem as operações de soma ou de multiplicação, mas nunca as duas.

Operações em textos cifrados

Em 2009, Craig Gentry, então na Universidade de Stanford e ligado à IBM, sugeriu o primeiro esquema capaz de tanto somar quanto multiplicar mensagens cifradas.

Contudo, embora seja uma descoberta teórica surpreendente, o sistema de Gentry não é prático.

Agora, Smart e Vercauteren descobriram uma maneira de simplificar o sistema de Gentry, tornando-o um pouco mais prático.

Embora ainda não seja eficiente o suficiente para ser usado no dia-a-dia, a realização é um passo importante nesse sentido, mostrando que a criptografia homomórfica é bem mais do que uma curiosidade técnica.

Bibliografia:

Fully Homomorphic Encryption with Relatively Small Key and Ciphertext Sizes
N. P. Smart, F. Vercauteren
13th IACR workshop on Public Key Cryptography Proceedings
August 2010
http://www.info.unicaen.fr/M2-AMI/articles-2009-2010/smart.pdf
Fonte:http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=processar-dados-criptografados&id=010150100920&ebol=sim

Menor espelho do mundo aprisiona os átomos que olham para ele

Redação do Site Inovação Tecnológica - 20/09/2010


O espelho para átomos é gerado pelo campo magnético criado pelas paredes de domínio dentro de uma matriz ondulada de nanofios magnéticos.[Imagem: Hayward et al./JAP]


Preso no espelho

Assim como a rota dos fótons da luz pode ser dirigida para um espelho, átomos que possuem um momento magnético podem ser controlados usando um espelho magnético.

Ao contrário dos espelhos comuns, contudo, que geram uma imagem refletida, o espelho magnético em nível atômico se aproxima mais das maldições dos contos de fadas: em vez de refletidos, os átomos são aprisionados pelo espelho.

O efeito, longe de ser um encanto a ser quebrado, tem grande aplicabilidade científica, já que pode aprisionar os átomos em uma nuvem ultrafria, uma ferramenta útil tanto em pesquisas básicas de física quântica quanto em computadores quânticos.

"Nós estamos procurando meios de construir sistemas magnéticos que possam manipular átomos", conta o Dr. Thomas Hayward, da Universidade de Sheffield, no Reino Unido. "Ao usar materiais ferromagnéticos moles, na forma de nanoestruturas, nós podemos manipular as propriedades dos materiais e guiar os átomos."

Menor espelho do mundo

O espelho para átomos é gerado pelo campo magnético criado pelas paredes de domínio dentro de uma matriz ondulada de nanofios magnéticos - se parece complicada, veja a imagem.

Devido às ondulações do material, o campo pode ser ligado e desligado. Quando um campo magnético é aplicado perpendicularmente aos nanofios, as paredes de domínio são ligadas; quando o campo é aplicado paralelamente ao fio, o espelho é desligado.

Essencialmente, o sistema se torna um espelho lógico, com estados 0 e 1. Como o espelho aprisiona os átomos em estados ultrafrios, ele pode ser usado em experimentos de computação quântica.

"O próximo passo é despejar uma nuvem de átomos ultrafrios no espelho, para que possamos vê-los saltar," disse Hayward.

Uma tecnologia assim poderá ser aplicada em dispositivos capazes de prender e confinar os átomos e, possivelmente, em dispositivos que utilizam átomos individuais como qubits.

Bibliografia:

Design and Characterization of a Field-Switchable Nanomagnetic Atom Mirror
Thomas J. Hayward, Adam D. West, Kevin J. Weatherill, Peter J. Curran, Paul W. Fry, Placide M. Fundi, Mike R. J. Gibbs, Thomas Schrefl, Charles S. Adams, Ifan G. Hughes, Simon J. Bending, Dan A. Allwood
Journal of Applied Physics
August 2010
Vol.: 108, 043906 (2010)
DOI: 10.1063/1.3466995
Fonte:http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=menor-espelho-mundo&id=010165100920&ebol=sim

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Navegando e naufragando

Alunos perdem o costume de manusear enciclopédias e ainda sentem dificuldade para encontrar informações de qualidade na internet; é papel da escola, portanto, orientá-los nas pesquisas

Fotos Carlos Cecconello/Folhapress


Arthur de Oliveira Araujo, 13, procura informações sobre o mesmo assunto na internet

Fabiana Rewald
Luciano Bottini Filho

Fernando Foster, 49, vende enciclopédias da Barsa há 30 anos. Seu modo de trabalhar quase não mudou e ele continua vendendo tão bem quanto no início da carreira.

A diferença é que agora sempre leva um notebook para as visitas a potenciais clientes. Assim, pode mostrar os atributos não só da edição impressa como da digital -quem compra os livros ganha DVD-Rom e acesso ao conteúdo da internet.

Luiz Felipe Pezzino Lugarinho, 12, está no 6º ano do colégio Elvira Brandão, na zona sul de São Paulo. Dentre seus cerca de 30 colegas, é o único que sabe o que é uma enciclopédia, mesmo que não a utilize com frequência.

Com um mundo de informações a apenas um clique, muitos alunos não aprendem a pesquisar em livros, o que preocupa as escolas.

"Não é preciso evitar a internet, mas o estudante deve entender a diferença [entre o material impresso e o que está disponível na rede]", diz Jorge Cauz, presidente da Encyclopaedia Britannica. Diferentemente da Barsa, a Britannica concentra 95% das vendas no meio digital.
Antônio Joaquim Severino, professor aposentado da Faculdade de Educação da USP, defende que o manuseio dos livros continua uma via pedagógica insubstituível. "O recurso às fontes eletrônicas é enriquecedor, mas complementar."

AULA DE BIBLIOTECA
Para suprir essa falta de costume de pesquisar em livros, o colégio Santa Maria (zona sul de SP) dá aulas sobre como usar a biblioteca.

"As crianças se assustam quando ouvem as palavras "acervo" ou "lombada'", conta a bibliotecária Marilúcia Bernardi. Os estudantes aprendem a manusear livros, jornais e revistas.
Mas a preocupação com o uso do conteúdo disponível na internet também existe. "Às vezes, o professor pressupõe que o aluno sabe pesquisar, mas tem que ter orientação", diz Miguel Thompson, diretor de marketing e serviços educacionais da Editora Moderna.

A ingenuidade faz com que os estudantes acessem sites inseguros, recorram a conteúdos desatualizados e não saibam a diferença entre informações boas e ruins.

"Os alunos pensam que sites que trazem poucos resultados são péssimos, em comparação com o Google, que traz um milhão de respostas", diz Helena Mendonça, coordenadora de tecnologia da informação e comunicação da Stance Dual (centro).

Quando há casos de plágio ou se os alunos escrevem o que não devem na rede, a escola propõe uma discussão sobre condutas éticas.

No Santo Américo (zona oeste), a saída foi convidar uma empresa de direito eletrônico para conversar com os alunos. "Passar a noção de autoria é um desafio", diz a diretora Elenice Lobo.

Fonte: Folha de S. Paulo

Pesquisa na rede é mais rápida, mas não é mais fácil

Para mostrar as diferenças entre os tipos de pesquisa, a reportagem convidou dois alunos do Elvira Brandão para participar de um desafio.

Luiz Felipe Pezzino Lugarinho, 12, teve dez minutos para pesquisar sobre o tema comércio informal em livros. O mesmo tempo foi a dado a Arthur de Oliveira Araujo, 13, que buscou informações sobre o assunto na internet.

Na biblioteca, Luiz levou mais de dois minutos até encontrar o volume da enciclopédia que serviria à sua pesquisa. Ao final do quarto minuto, ainda estava no índice.

No décimo, folha de caderno em branco, ele se convenceu: "Se a gente for consultar tudo na enciclopédia, vai perder muito tempo".

Na sala de informática, os dez minutos foram suficientes para que Arthur visitasse cinco sites e escrevesse quatro linhas. No entanto, elas não faziam muito sentido.

"É feita a cobrança muito alta de imposto para não fazer coisas com ele", dizia seu texto, que tentava relacionar o comércio informal à sonegação de impostos.

Segundo a psicanalista e colunista da Folha Anna Veronica Mautner, o conteúdo pesquisado na internet não é tão bem assimilado quanto o lido em uma fonte impressa.

"Existe um descaso em relação à internet. O internauta não se apropria da informação", diz ela.

Fonte: Folha de S. Paulo


DICAS PARA OS PAIS

4 passos para evitar o acesso a conteúdos inadequados

1 -DIÁLOGO
Converse comseu filho sobre o que ele acessa na rede e os riscos envolvidos

2 -CONTROLE
Filtros de conteúdo impedem o acesso a páginas proibidas para crianças. Acompanhe sempre o histórico de navegação de seu filho

3 -ESCOLA
Saiba se, na sala de aula, a internet é usada com segurança e se o professor ensina como usá-la

4 -PRESENÇA
O computador deve ficar em um ambiente comum, próximo dos pais. Não deixe a criança usar a internet sozinha, no quarto

Fonte: Rosilei Vilas Boas, coordenadora de Gestão da Informação da Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática

Fonte: Folha de S. Paulo


DICAS PARA OS ALUNOS

Antes de sair digitando www, pense em cinco perguntas: quem, por que, o que, quando e onde

1- QUEM?
Descubra quem é o autor do site para saber se é uma página pessoal ou de uma instituição. Isso assegura a confiança nos dados. Uma dica é atentar para o tipo de domínio da página (.com, .gov, .edu)

2- POR QUÊ?
Identifique a função da página -diversão, educação ou publicidade, por exemplo. Verifique se o autor não está sendo irônico

3- O QUÊ?
Diferencie os tipos de texto: pode ser uma notícia, um artigo de opinião ou uma pesquisa acadêmica, por exemplo

4- QUANDO?
Tenha cuidado com informações desatualizadas

5- ONDE?
Avalie a origem do conteúdo para saber se as informações valempara o seu país ou a sua cidade

Fonte: Helena Mendonça, coordenadora de tecnologia da escola Stance Dual

Fonte: Folha de S. Paulo
Fonte:pesquisa mundi

Internet obriga a pensar de forma ligeira e utilitária, diz Nicholas Carr

20/09/2010 - 06h00
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MARCELO LEITE
DE SÃO PAULO

Nicholas Carr cutucou a onça da internet com um argumento longo e bem-desenvolvido no livro "The Shallows What the Internet is Doing to Our Brains" (que poderia ser traduzido como "No Raso O que a Internet Está Fazendo como Nossos Cérebros" e será lançado no Brasil pela Agir). Em poucas palavras, a facilidade para achar coisas novas na rede e se distrair com elas estaria nos tornando estúpidos.

Era o que estava implícito no título de um artigo de Carr em 2008 (ele prefere o qualificativo de "superficiais") que deu origem a uma controvérsia acesa. E, também, ao livro, que já vendeu mais de 40 mil cópias nos Estados Unidos e está sendo traduzido em 15 línguas.

Carr recusa a pecha de alarmista, mas sua preocupação com os efeitos não pretendidos das "tecnologias de tela" é tanta que ele recomenda a restrição do acesso de alunos à internet nas escolas. Não descarta que a rede possa evoluir para a veiculação de ideias menos superficiais, mas tampouco vê indícios de que irá nessa direção.
"A internet, sendo um sistema multimídia baseado em mensagens e interrupções, tem uma ética intelectual que valoriza certos tipos de pensamento utilitários", lamenta o jornalista. Ele já foi assinante de Facebook e Twitter, mas abandonou esses serviços para manter a concentração e a capacidade de refletir em profundidade.

Leia abaixo trechos da entrevista telefônica dada por Carr da casa de parentes em Evergreen, Colorado, onde se refugiou depois de evacuado em consequência de incêndios florestais que se aproximavam de sua casa nas montanhas Rochosas.

FOLHA - Seu livro, "The Shallows", deplora a internet como ameaça à mente formada pela invenção de Gutenberg, que nos deu o Renascimento, o Iluminismo, a Revolução Industrial e o Modernismo. Mas a invenção de Gutenberg também não destruiu a mente e a filosofia medievais, assim como toda a cultura clássica greco-romana? Ou seria mais preciso dizer que ambas as invenções amplificaram e continuaram a cultura do passado?
NICHOLAS CARR - Toda tecnologia de comunicação e escrita traz mudanças. Perdemos coisas do passado e ganhamos outras coisas novas. Isso é verdadeiro mesmo para o período anterior a Gutenberg, com a invenção do alfabeto, pela maneira como alterou a memória humana e nos deu maior capacidade de intercambiar informação. A internet, assim como tecnologias anteriores, amplifica certos modos de pensar e certos aspectos da mente intelectual, mas também, ao longo do caminho, sacrifica outras coisas importantes.

FOLHA - Uma espada de dois gumes, por assim dizer.
CARR - Sim.

FOLHA - Se a leitura e a reflexão profundas estão em risco, como explicar o sucesso de coisas como o Kindle e mesmo de seu livro?
CARR - As coisas não mudam de imediato. Há ainda um grande número de pessoas que leem livros. O número ao menos dos que leem livros sérios vem caindo há um bom tempo, mas haverá pessoas lendo livros por muito tempo no futuro. Meu argumento é que essa prática está se mudando do centro da cultura para a periferia, e as pessoas começam a usar a tela como sua ferramenta principal de leitura, não a página impressa. Acho também que, à medida que mudamos para dispositivos como Kindle ou iPad para ler livros, mudamos nossa maneira de ler, perdemos algumas das qualidades de imersão da leitura.

FOLHA - Mas as pessoas não os usam para navegar, leem como se fossem de fato livros.
CARR - O Kindle se sai bastante bem na tarefa de reproduzir a página impressa. O que sabemos sobre o futuro desses aparelhos é que as companhias que os fazem tendem a competir com base nas novas funções que lhes acrescentarem. A questão é saber se os leitores eletrônicos, ao competir, vão manter a competência da página impressa, ou se vão começar a incorporar novas funções baseadas na internet, redes sociais, sistemas de mensagens e outras ferramentas. Mesmo com o Kindle já vemos a tendência a incorporar novas funções, como as de redes sociais. Infelizmente, o efeito das novas funções será acrescentar mais distrações à experiência de ler.

FOLHA - O que pode ser feito em termos práticos e individuais para resistir a essa tendência_ reservar algumas horas no dia ou na semana para permanecer desconectado? É o que o Sr. faz nas montanhas do Colorado?
CARR - (Risos) Não escrevi o livro para ser do tipo de autoajuda. A mudança que estamos vendo faz parte de uma tendência de longo prazo, na qual a sociedade põe ênfase no pensamento para a solução rápida de problemas, tipos utilitários de pensamento que envolvem encontrar informação precisa rapidamente, distanciando-se de formas mais solitárias, contemplativas e concentradas. Por outro lado, como indivíduos, nós temos escolha. Mesmo que a desconexão se torne mais e mais difícil, pois a expectativa de que permaneçamos conectados está embutida na nossa vida profissional e cada vez mais na visa social, a maneira de manter o modo mais contemplativo de pensamento é desconectar-se por um tempo substancial, reduzindo nossa dependência em relação às tecnologias de tela e exercendo nossa capacidade de prestar atenção profundamente em uma única coisa.

FOLHA - Seu livro lembra o filme Fahrenheit 451 (1966), de François Truffaut, baseado em romance de Ray Bradbury em que as pessoas decoravam livros para impedir que todos fossem destruídos. O Sr. acredita que essa seja a mensagem mais comum extraída dele, a importância de permanecer desconectado para preservar algo que não se deve perder?
CARR - Sim, e fico mesmo gratificado com isso. Muitas pessoas que o leram reagiram dessa maneira. O valor do livro para elas, pessoalmente, foi confirmar algo que talvez não tivessem percebido claramente antes, que estão de fato perdendo essa habilidade de ler e pensar em profundidade. Estão questionando sua dependência da nova tecnologia digital e, em alguns casos, tentam moderar o uso das engenhocas e retornar à leitura de material impresso, reservando tempo para contemplação, reflexão e meditação, modos mais solitários e calmos de pensar.

FOLHA - As escolas deveriam restringir o uso de computadores e internet pelos alunos, em lugar de se lançar de cabeça na tecnologia?
CARR - Sim. Nos Estados Unidos tem havido uma corrida para considerar que computadores na escola são sempre uma coisa boa, até mesmo uma confusão da qualidade do ensino com o tempo que os alunos passam conectados. É um erro. Certamente os computadores e a internet têm um papel importante a desempenhar na educação, e as crianças precisam aprender competências computacionais, a usar a internet de maneira eficaz. Mas as escolas precisam perceber que essa é uma maneira de pensar diferente de ler um livro. É preciso dar tempo e ênfase, no ensino, para desenvolver a capacidade de prestar atenção em uma única coisa, em vez de mover sua atenção entre diversas coisas. Isso é essencial para certos tipos de pensamento crítico e conceitual.

FOLHA - O sr. tem um blog que as pessoas podem acompanhar por assinaturas RSS, uma página pessoal, outra para o livro, mas não tem Twitter. É um limiar que não se dispõe a cruzar?
CARR - Eu já tive conta no Twitter um par de anos atrás, e também no Facebook. Na medida em que me dei conta de que minha vida intelectual estava mais e mais envolta pela internet, decidi sair. Acho que esses serviços, mesmo que sejam obviamente úteis para as pessoas, são também os que mais distraem, constantemente nos interrompendo com pequenas mensagens. Foi aí que eu tracei a fronteira, mesmo que eu perca algo por não estar no Facebook ou Twitter. As interrupções são um preço alto demais a pagar.

FOLHA - O sr. consideraria a internet responsável pela epidemia de casos de transtorno deficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ou atribui isso à medicalização de comportamentos pela grande indústria farmacêutica para vender remédios domesticadores?
CARR - Preciso ser cuidadoso com a resposta, porque não tenho certeza de que a ciência sobre isso seja definitiva, ainda. Há indicações de que as tecnologias que as crianças usam, de videogames a Facebook, possam contribuir para TDAH. É algo que precisa ser mais estudado. Para os pais que estejam preocupados com a capacidade de seus filhos de manter a atenção, poderia ser apropriado restringir as tecnologias.

FOLHA - A TV e o rock também já foram acusados no passado como ameaças aos intelectos jovens, mas não há carência de novos escritores e artistas. Será que não temos uma tendência para ser alarmistas?
CARR - Sempre que uma tecnologia nova e popular aparece, há pessoas que adotam uma visão exageradamente otimista, de uma utopia social, e pessoas que adotam uma visão exageradamente negativa, de que ela vai destruir a civilização. No livro tento não adotar uma visão unilateral da tecnologia, porque acho que ela tem muitas coisas boas, do acesso mais fácil a informação até novas ferramentas para autoexpressão. De certo modo, os jovens se encontram na melhor posição para resistir a essa tendência e serem literários, artísticos. Meu temor é que, na medida em que empurramos celulares, smartphones e computadores para as crianças em idades cada vez mais precoces, elas não venham a desenvolver as habilidades mentais mais contemplativas e atentas. Isso seria uma grande perda para a cultura, pois a expressão artística requer reflexão mais calma, tranquila, introspectiva. Se as crianças perderem isso, veremos uma diminuição nas realizações culturais e artísticas.

FOLHA - Algumas pessoas discordam, como o psicólogo evolucionista Steven Pinker, de Harvard, e acham que é alarmismo.
CARR - Pinker escreveu um artigo para o jornal "The New York Times" no qual não mencionou diretamente meu livro, mas não estou certo de que ele tenha um argumento persuasivo, para ser franco. Há quem pense que não é importante ou preocupante perdermos formas mais contemplativas de pensamento. Acreditam que nosso futuro está na troca rápida de mensagens e no processamento acelerado de informações. As pessoas valorizam aspectos diferentes da cultura e da vida intelectual. Não espero que todos concordem comigo.

FOLHA - Há um artigo seu na edição da revista "Nieman Reports" sobre o tema que traz também uma entrevista com o neurocientista Marcel Just, em que ele defende as novas tecnologias como mais adequadas para cérebros que evoluíram para ver e não tanto para ler. Ele diz: "É inevitável que as mídias visuais se tornem mais importantes para transmitir ideias, e não só para inflamar". O sr. concorda?
CARR - É uma afirmação no estilo de Marshall McLuhan, de que nos afastaremos do texto em direção ao vídeo e ao áudio. Não discordo disso como observação de uma tendência geral. O que me interessa mais é o que perdemos e ganhamos com essa transição.

FOLHA - Se entendo bem o que diz Just, ele defende que meios visuais também podem veicular ideias, ou seja, pensamentos mais profundos.
CARR - Com certeza eu já assisti bons filmes e tive experiências e reflexões profundas com eles. Há muitas maneiras de pensar com profundidade e atenção, e é certo que se pode fazer isso indo ao cinema, por exemplo. Infelizmente a internet, quando nos oferece vídeos e áudios, raramente o faz com vistas a uma imersão, pois eles vêm sempre acompanhados de distrações e interrupções, quando se está olhando para uma tela de computador ou smartphone.

FOLHA - Mas é concebível que a internet possa mover-se numa direção que combine os poderes da informação visual com os do texto para promover pensamentos em profundidade?
CARR - Tudo é possível, mas cada tecnologia que usamos para fins intelectuais tem certos efeitos e reflete um conjunto particular de premissas sobre como devemos pensar. A internet, sendo um sistema multimídia baseado em mensagens e interrupções, tem uma ética intelectual que valoriza certos tipos de pensamento utilitários, voltados para a solução de problemas, que encoraja as multitarefas e a rápida transmissão ou recepção de migalhas de informação. A tecnologia pode mudar rapidamente, mas não vejo razão para pensar que vá [noutra direção].

FOLHA - Um argumento central no seu livro se baseia na plasticidade do cérebro humano, mas isso é algo que afeta o cérebro individual, quando seu argumento diz respeito a uma mudança na cultura, na civilização. Isso não envolve um tipo de raciocínio lamarckista, de que alterações em cérebros individuais conduzam a uma mudança na cultura da espécie?
CARR - Bem, se nossos cérebros individuais estão mudando e mudando a ênfase de pensamento, isso terá efeitos culturais e sociais. Minha questão é que as mudanças individuais que vêm do uso da tecnologia que se espalha pela sociedade, na medida em que a sociedade se modifica para pôr mais ênfase na tecnologia e na medida em que as transmitimos para nossos filhos, treinando-os para usá-las desde a infância... essa é a trilha pela qual mudanças individuais se tornam mudanças sociais e culturais. Seu modo de pensar se torna central para a sociedade.

FOLHA - Bem, nós podemos estar nos tornando mais estúpidos por causa do Google, como dizia o título de seu artigo de 2008 na revista "The Atlantic", mas isso não quer dizer necessariamente que nossos filhos nascerão mais estúpidos.
CARR - Certamente. Mas eu não usei a palavra "estúpidos"; "superficiais" seria uma palavra mais adequada. Não fui eu quem fez o título (risos). Está óbvio nesta altura que nossas vidas mentais refletem uma combinação de herança genética com o modo como fomos criados para usar nossas mentes. Não acho que a tecnologia tenha um efeito que se transmita aos genes, seria preciso muito mais tempo para isso. Mas sabemos que a mente é muito adaptável, especialmente quando jovem, e quando transmitimos ferramentas também influenciamos a maneira como o cérebro se adapta.

FOLHA - Se jornais impressos de fato um dia forem extintos, como um jornal na internet deveria ser escrito para promover leitura e reflexão aprofundada? Conter menos ou nenhum hyperlink, ou ter blocos de texto que possam ser lidos em 27 segundos e sejam interessantes o suficiente para levar o leitor a prosseguir para o próximo bloco?
CARR - (Risos) As experiências que os jornais estão começando a fazer, como apresentar seu conteúdo digital por meio de várias aplicações ("apps"), pode ser o caminho do futuro. Não simplesmente publicar um sítio na rede que seja uma maçaroca de links, manchetes e migalhas, mas criar uma experiência de leitura por meio de aplicações que reflitam a experiência de leitura do impresso, mais focalizada em encorajar a leitura aprofundada do que na coleta apressada de páginas e muitos pedaços de informação. Mas não sabemos se isso será popular.

Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/801267-internet-obriga-a-pensar-de-forma-ligeira-e-utilitaria-diz-nicholas-carr.shtml