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quinta-feira, 14 de junho de 2012

INTERNET, CIÊNCIA E SOCIEDADE: O QUE MUDOU PARA PESQUISADORES E CIDADÃOS?




Fonte: Lena Vania Ribeiro Pinheiro, ComCiência de 10.06.2012
Quando pensamos o mundo de hoje, somos invadidos por tantas perguntas quantas mudanças ocorreram na vida profissional e no cotidiano de cada um de nós, principalmente depois das chamadas TICs – tecnologias de informação e comunicação. Quais os impactos da internet na ciência, nos cientistas e na sociedade em geral?

A internet surge como a causa da transformação mais evidente e intensa. Mas no ambiente ciberespacial, sem lugar fixo, determinado, abrangendo todos os espaços, muitas ferramentas proporcionam as mais diferentes ações.

No entanto, é preciso saber que para usufruir das vantagens da internet, é necessário uma ampla e sólida infraestrutura tecnológica, instalada a partir da metade da década de 1990 pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, a chamada RNP (Rede Nacional de Pesquisas), hoje também de ensino. Além disso, ninguém tem acesso à internet sem um computador e equipamentos necessários à atuação em rede. Assim, é preciso que a internet faça parte não somente das políticas públicas nacionais, mas também de instituições como universidades, colégios, enfim, de todos os organismos que produzem conhecimento, trabalham com ensino e pesquisa ou são espaços de aprendizagem, para acesso a informações e conhecimento, como as bibliotecas.

Não nos deteremos nos mecanismos ou ferramentas de busca, como o Google ou as Wikipédias, embora reconheçamos a utilidade de ambos. Entretanto, não são instrumentos para uso específico de especialistas, pesquisadores, alunos de pós-graduação ou profissionais interessados em determinado assunto. A Wikepédia pode responder a perguntas gerais de navegantes da internet, mas não pode ser assegurado que não contenha equívocos ou imprecisões. Quanto ao Google, o seu filtro não garante a precisão das informações recuperadas, entre as quais podem estar muitas consideradas “lixo”.

Entre as tecnologias, podemos distinguir as de informação, como bibliotecas digitais, virtuais e repositórios, e as de comunicação, entre as quais o e-mail, as listas de discussão, salas virtuais (chats), portais, sites, blogs, facebook e twitter, entre outros. Qualquer desses instrumentos pode ser, simultaneamente, de comunicação e informação, e embora tenham sido criados com um objetivo, podem exercer outros papéis. Explicando melhor, um e-mail é essencialmente para comunicação de mensagens, seja para um professor, colega ou amigo, mas pode também divulgar informações e geralmente assim é, no exercício de dupla função.

Por outro lado, a comunicação que era lenta, no correio comum, ganhou uma velocidade inimaginável e esta é uma grande vantagem – uma mensagem eletrônica chega ao destinatário no momento imediato e pode ser respondida nesse mesmo instante, independente de distância, que deixa de existir na internet. Para completar, não há limite no número de destinatários, um só e-mail pode ser enviado a inúmeras pessoas, portanto, a audiência é para muitos, ilimitada.

Nesse processo, o que mudou na ciência e na sociedade? Para os cientistas, é possível desenvolver pesquisas a distância, em equipes que reúnem especialistas de diferentes campos do conhecimento, de regiões e países; os continentes são conectados em rede. A troca de informações e conhecimento flui e se renova na internet. Trabalhando juntos na exploração de infinitas possibilidades tecnológicas e de conhecimento os médicos, por exemplo, podem solucionar problemas de doença de um paciente longínquo, ou orientar outros pesquisadores no diagnóstico, na prescrição de remédios e tratamento.
No desenvolvimento de pesquisas, as equipes se fortalecem em quantidade e qualidade, reúnem especialistas de diversas áreas e, numa ação interdisciplinar e internacional, podem resolver questões complexas, que um cientista sozinho não solucionaria, nem vários de uma mesma área. O próprio cientista tem mais possibilidade de se comunicar e intercambiar informações sobre instrumentos, métodos, técnicas, resultados e aplicações de pesquisas, com vários colegas, independentemente de sua nacionalidade; além de dispor de numerosos canais de difusão de suas pesquisas, cujos resultados chegarão rapidamente a qualquer indivíduo. Mas essa distância entre os dois mundos, o do pesquisador e o do cidadão, exige um esforço da chamada divulgação científica ou popularização da ciência. Esta consiste na transformação do discurso científico, da linguagem especializada de um campo do conhecimento, hermética e de difícil entendimento pelo leigo, para a linguagem comum, simples, fácil de ser entendida por qualquer pessoa.

De todas essas ferramentas valiosas, não podem deixar de ser destacadas as bibliotecas digitais e virtuais. Quais as diferenças entre uma biblioteca tradicional, instalada num determinado lugar, fixa, e uma biblioteca digital ou virtual, que pode estar em muitos lugares, simultaneamente? Ou com as bases de dados bibliográficos?

Em primeiro lugar, as bibliotecas digitais ou virtuais, aqui consideradas juntas, sem distinções conceituais que existem e são estudadas, estão entre serviços e produtos de informação contemporâneos. Essas bibliotecas reúnem documentos dispersos pelo mundo, além de trazer o seu texto completo, isto é, a informação sobre o documento e o próprio documento, e aquele que os buscou pode estar em qualquer lugar da Terra, não precisa se locomover. Na biblioteca física, convencional, o usuário terá que ir até o acervo, e na base de dados bibliográficos buscar as informações sobre o documento, a referência, se fosse de livro, com autor, título, local, editora, data etc. No entanto, devemos lembrar dois fatores importantes: nem tudo que está nos acervos e coleções de bibliotecas tradicionais, impresso em papel, está na internet, e nem tudo que está na internet pode ser baixado (download) e usado, muitas vezes é preciso pagar para conseguir acessar o texto do documento. Estão envolvidos nessa questão os direitos de autor, a propriedade intelectual, as obras de domínio público, ou melhor, aquelas cujos autores faleceram há muito tempo e suas obras passam a ser livres para leitura de todos, o que depende da legislação de cada país, além da democratização da informação, dos direitos humanos, do movimento do acesso livre à informação científica, enfim, questões de distintas instâncias e esferas.

Em termos de serviços e produtos eletrônicos de informação, a relação entre os gestores e usuários ficou mais próxima com as perspectivas de interação via e-mail (fale conosco) e, mais recentemente, facebook e twitter. Um bom exemplo é o portal de divulgação científica do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), o CanalCiência, que aderiu às redes sociais e introduziu o twitter e o facebook como forma de estabelecer comunicação mais dinâmica e interativa com seus usuários. A partir daí, será possível acompanhar diariamente a repercussão do portal, perceber os seus efeitos sobre os usuários, identificar lacunas e falhas, verificar temas mais demandados; enfim, a avaliação poderá ser feita por meio da rede social e os resultados nortearão as ações a serem empreendidas para seu aperfeiçoamento.

Para finalizar, ressalto questões relevantes em relação às tecnologias de informação e comunicação – algumas ideias equivocadas que a rede, na sua dimensão social e tecnológica, inicialmente motivou. A primeira, de que com a internet, todos se tornam autores, quando na verdade o ato de escrever e disponibilizar na rede não significa ingresso na categoria de autores, seja em ciência, literatura ou arte. Na ciência, ainda que a tradição da avaliação pelos pares seja muito questionada, essa prática permanece e, para publicar, seja no formato impresso ou eletrônico, é preciso antes submeter sua pesquisa à avaliação, sem o que não estará legitimada por sua respectiva comunidade científica.

Entre não especialistas ou leigos, crianças e jovens, principalmente, o uso de informação na internet deve ser orientado de tal forma que esses usuários saibam reconhecer uma fonte segura, correta e consistente, para que não repitam, propaguem e usem informações errôneas.

A internet não é um território sem normas e leis. Especificamente quanto ao ato de estudar e escrever, os direitos de autor devem ser respeitados e a ética da citação seguida. A prática descontrolada ou excessiva do “recorta e cola” deve ser evitada, abrindo espaço para uma leitura compreensiva e reflexiva, na verdadeira aprendizagem, que certamente estimulará a imaginação e a criatividade.

A internet deveria ser um território ao mesmo tempo democrático, do livre pensar e do exercício da ética, o que depende de políticas públicas de nosso país, de nossas instituições, dos colégios, das universidades, dos institutos de pesquisa, dos professores, pesquisadores, família, dos cidadãos, enfim, de todos nós.

(*)Lena Vania Ribeiro Pinheiro é pesquisadora e professora do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL REQUER TRANSFORMAÇÃO TAMBÉM NA CIÊNCIA




Fonte: Fábio de Castro, Agência FAPESP de 13.06.2012
Agência FAPESP – Depois de concluir que é preciso reinaugurar a relação entre a ciência e a sociedade para viabilizar as ações necessárias para a sustentabilidade global, a comunidade científica internacional se deu conta de que já foi dado o primeiro passo nessa direção.

A ciência para a sustentabilidade, um novo paradigma do conhecimento, já está sendo construída, segundo Lidia Brito, diretora da divisão de Políticas Científicas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Ex-ministra da Ciência de Moçambique, Brito participa no Rio de Janeiro do “Forum on Science, Technology and Innovation for Sustainable Development”, que ocorre até sexta-feira (15/06).

O evento de cinco dias tem o objetivo de debater uma nova agenda científica internacional para o período que se seguirá à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO 20) – que será realizada também na capital fluminense entre 13 e 22 de junho.

O fórum é organizado pelo Conselho Internacional para a Ciência (ICSU, na sigla em inglês), em parceria com Unesco, a Federação Mundial das Organizações de Engenharia (WFEO), o Conselho Internacional de Ciências Sociais (ISSC), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).

As discussões no fórum estão alinhadas com a Declaração sobre o Estado do Planeta, documento que sintetizou o resultado dos debates da reunião Planet Under Pressure, copresidida por Brito, em Londres (Inglaterra), onde mais de 3 mil cientistas envolvidos com diversos temas socioambientais discutiram qual seria a posição da comunidade científica internacional na RIO 20.

Uma das principais conclusões da declaração é que o sistema terrestre tem limites para sua exploração e os atuais níveis de pressão nesse sistema poderão levar a uma emergência humanitária de escala global, com a intensificação das crises sociais, econômicas e ambientais.
A superação desses problemas exigirá um novo pacto entre a ciência e a sociedade, com maior conectividade entre as lideranças de todos os setores, e, de acordo com Brito, essa mudança já está em andamento.

Em entrevista à Agência FAPESP, Brito falou sobre o novo paradigma para a sustentabilidade global, que requer um cientista cada vez mais multidisciplinar e mais participativo na sociedade. Explicou ainda por que rejeita a expressão “economia verde” e defendeu que o PIB é insuficiente para medir o sucesso do desenvolvimento de um país. 

Agência FAPESP – A comunidade científica chega à RIO 20 com uma mensagem clara para a sociedade? 
Lidia Brito – Há uma posição clara e algumas mensagens. Uma das grandes conclusões da comunidade científica do planeta é que entramos em uma nova era, o Antropoceno. Uma era em que o homem é a maior força a conduzir os destinos do planeta. Portanto, há uma nova responsabilidade do ponto de vista da humanidade em relação ao planeta. Outra conclusão é que o Antropoceno é uma era de interconexões, na qual tudo está interligado. Essa interconexão também ocorre em um ponto crítico, que são as fronteiras planetárias. Nas mudanças que introduzimos no sistema planetário, estamos a atingir essas fronteiras interligadas. Não é só o aumento da temperatura isoladamente, nem a acidificação dos oceanos, nem a perda da biodiversidade de forma individual, mas é como tudo isso está ligado.

Agência FAPESP – É correto dizer que essa mesma profusão de interconexões que gera os problemas globais também proporciona oportunidades para lidar com eles? 
Lidia Brito – Sim. Essa interconexão profunda é um risco, porque o que quer que seja que façamos para empurrar uma dessas fronteiras, a fim de manter seu nível de estabilidade, irá criar instabilidade e incertezas em todas as outras fronteiras. Mas temos também que ver essa sociedade e esse sistema planetário interconectados como uma oportunidade inédita que nos é oferecida. Porque a mudança é mais rápida. Ideias e soluções que podem nos levar para uma zona de maior estabilidade são mais viáveis, porque tudo está ligado. Isso, por outro lado, faz com que a ciência tenha que mudar. Esse é um grande desafio que temos pela frente.

Agência FAPESP – O que o cientista precisa mudar em sua atitude e seu modo de trabalhar, tanto individualmente como coletivamente? 
Lidia Brito – Individualmente, o cientista tem que entender que já não é suficiente trabalhar apenas na zona de conforto de sua disciplina, mas que é necessário se ligar com outras áreas de ciência, a outros sistemas de conhecimento, para que juntos novas soluções possam aparecer. São soluções às vezes até enraizadas em conhecimento já existente, mas só o fato de trazer outras disciplinas, outras formas de estar nas ciências, outras metodologias, outras perspectivas, dá um campo diferente para encontrar soluções.

Agência FAPESP – É preciso refletir a interconectividade no interior da própria atividade científica? 
Lidia Brito – Sim, exatamente, com multidisciplinaridade e até mesmo transdisciplinaridade. Usar inclusivamente metodologias de outras áreas de ciência para nosso próprio campo científico. Isso é um desafio importante para o cientista da atualidade: abrir-se a outras comunidades, a outros colegas e outras áreas de ciência. Em nível global coletivo, da ciência como uma comunidade planetária, não só devemos trabalhar juntos nas diferentes perspectivas do conhecimento, mas principalmente engajarmo-nos em uma interação muito mais aberta com a sociedade e os tomadores de decisão – em nível do governo, do setor privado e da sociedade civil – para codesenhar e coproduzir essas soluções que são necessárias para uma sustentabilidade global.

Agência FAPESP – O cientista precisa aumentar seu poder de influência para ser capaz de trazer subsídios científicos para os processos decisórios? 
Lidia Brito – Claro. Para isso é preciso interagir de uma forma que essas outras comunidades não se sintam fora da decisão ou do desenho daquilo que é a questão científica. O cientista não deve ditar soluções unilateralmente com base em seu conhecimento, ou não atingirá a sociedade. Seu verdadeiro papel na atualidade é dizer quais são as questões que enfrentamos como humanidade e como nós todos – comunidade científica, gestores políticos, setor privado, sociedade civil – vamos encontrar juntos soluções com base científica para essas questões que afligem a todos nós.

Agência FAPESP – Isso será um processo longo? 
Lidia Brito – Acho que é uma questão que demanda urgência. Não podemos esperar muito tempo para fazer essa mudança. O que foi bom em todo esse processo é que já temos uma iniciativa, o Future of Earth, que procura, da parte da comunidade científica em nível global, trazer todas as ciências e os stakeholders – os intervenientes do processo de desenvolvimento sustentável – para a mesa, a fim de definir quais são as questões que temos que investigar e juntos vamos conseguir fazer isso. É um momento interessante, porque está a haver como que um rearranjo da governança científica e da forma como nós olhamos fazer ciência, que está claramente na mesa e está claramente a influir. E penso que é emblemático que isto esteja a acontecer de novo no Rio de Janeiro. Porque em 1992 houve uma mudança drástica, que, acredito, ocorre mais uma vez em 2012. A comunidade científica está a trazer para a RIO 20 sua convicção em dizer: já percebemos o que é preciso mudar, vamos todos mudar juntos. É isso que trazemos para a mesa na Conferência.

Agência FAPESP – Fala-se também de tecnologia nesse fórum. Muitas vezes há uma impressão distorcida do papel da tecnologia, como se ela tivesse a função de fornecer soluções para que se possa manter o chamado cenário business as usual, isto é, seguir no mesmo padrão de consumo, produção e pressão ambiental atual. Como contornar essa distorção? 
Lidia Brito – Simplesmente não podemos manter esses padrões. Está fora de questão. A tecnologia tem um papel enorme nesse processo e desenvolvimento sustentável. Mas, por si própria, a tecnologia não dá conta. Ela tem que ser acompanhada por uma transformação social e uma consciência e um compromisso social de que temos que trazer a sustentabilidade global como algo que tem que fazer parte do nosso próprio tecido. Em cada dia, em cada ação que tomamos, a sustentabilidade global precisa estar presente. O que faz diferença, talvez, é esse termo “global”. Nem norte nem sul, nem rico nem pobre. Todos nós. Tem que estar no tecido de nossas nações e do nosso comportamento individual e coletivo. Só assim poderemos aspirar a um mundo mais estável.

Agência FAPESP – A consciência dessa centralidade do desenvolvimento sustentável está arraigada até que ponto na comunidade científica?
Lidia Brito – A Unesco, quando publicou o Relatório da Ciência em 2010, já tinha mostrado que havia uma mudança efetiva no cenário da comunidade cientifica. O que vemos, objetivamente, é muito mais colaboração internacional, muito mais ciência interdisciplinar. Acreditamos que já inclusivamente estamos em uma mudança de paradigmas. A ciência para a sustentabilidade global é o novo paradigma da ciência.

Agência FAPESP – Então a ciência para a sustentabilidade global não é apenas uma aspiração dos pesquisadores, mas uma nova realidade que começa a tomar forma? 
Lidia Brito – É algo que está a permear as várias escolas e vários níveis da produção de conhecimento e de ciência. Um exemplo disso é a iniciativa Future of Earth, que é um comprometimento da comunidade científica de que vamos trabalhar juntos nas varias áreas de saber. É também um compromisso daqueles que apoiam a pesquisa global: os financiadores da pesquisa estão conosco nesse comprometimento. Estamos prontos para fazer outro tipo de ciência que responde melhor aos desafios globais. Agora, há muita coisa a fazer. E um dos grandes desafios é garantir que não haja exclusões nesses processos. Parte desse movimento consiste em criar capacidade científica em países que não a têm. E o Brasil é um país que claramente tem um papel enorme nisso.

Agência FAPESP – Por quê? 
Lidia Brito – Porque vocês conseguiram criar a vossa capacidade científica nas várias áreas do saber. O Brasil tem experiências nessa coprodução, nessa multidisciplinaridade na abordagem da ciência para o desenvolvimento sustentável. O Brasil pode ser um modelo para o estabelecimento de metas nesse contexto. É um país que mostrou muita capacidade de trazer juntas as redes do conhecimento. Em muitos aspectos vocês estão na dianteira, é simbólico que estejamos discutindo isso no Rio de Janeiro.

Agência FAPESP – Vários pesquisadores brasileiros que temos entrevistado têm demonstrado certo ceticismo em relação à chamada “economia verde”. Qual resposta se pode dar a eles? 
Lidia Brito – Para ser honesta, nós na Unesco não falamos em economia verde. Falamos de sociedade verde. Penso que o ceticismo dos investigadores vem daí: a discussão não é sobre economia. O que temos certeza é que, no Antropoceno, não é possível falar apenas de um dos blocos do desenvolvimento sustentável. A economia não pode ser discutida sem as questões sociais, culturais e ambientais. Elas estão interligadas e não podem ser tratadas de forma independente. Fico satisfeita com os cientistas brasileiros, que não querem falar apenas em economia. Temos que falar em sociedade verde, para destacar essa força de mudança.

Agência FAPESP – A senhora é a favor de abandonar o conceito de PIB e criar outras medidas de prosperidade? 
Lidia Brito – Claramente não podemos ter só o PIB como medida de sucesso de uma sociedade. O PIB é muito restrito, não mede inclusão social, nem a harmonia entre homem e natureza, não mede o bem-estar das pessoas, nem a equidade. Temos que ter outras medidas. Por isso, nas conclusões do Planet under Pressure, dissemos: usem a comunidade cientifica para definir outras metas. Para desenvolver modelos de medida integrada da economia, sociedade e ambiente. Sim, sou uma das defensoras de que precisa haver outras medidas de sucesso de um país que considerem o desenvolvimento sustentável em todos seus pilares.

UM RETRATO DO BRASIL



Fonte: Ethevaldo Siqueira, O Estado de São Paulo de 10.06.2012
Tive há poucos dias uma experiência terrível, caro leitor. Como cidadão e jornalista, constatei no dia 30 de maio o absoluto despreparo de nossos deputados federais na área de telecomunicações.

Desconfio que eu tenha sido o único telespectador brasileiro a assistir integralmente, durante mais de cinco horas, pela TV Câmara, à sessão conjunta de duas comissões da Câmara dos Deputados – a Comissão de Defesa do Consumidor e a Comissão da Amazônia – sobre os problemas das telecomunicações no País.

Não era uma reunião qualquer. Lá estavam o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo; o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), João Batista Rezende; uma representante do Ministério da Justiça e presidentes das maiores operadoras de telefonia fixa e móvel do País: Vivo, TIM, Oi e Claro.

Na plateia, 40 deputados, um número surpreendente e inusitado de parlamentares em reunião de comissões. Mas a metade deles deixou a plateia antes de terminar a sessão. É incrível como a maioria desses nossos representantes – que trabalha tão pouco – não encontra tempo para dedicar apenas um dia para debater o problema das telecomunicações.

Sei que existe uma minoria de parlamentares digna de respeito e reconhecimento, que talvez não tenha comparecido àquela sessão. Depois da reunião conjunta das comissões, entretanto, minha impressão sobre o desempenho daqueles deputados foi a pior possível.

Três verdades

Os parlamentares não demonstram familiaridade com as questões básicas do setor, até porque não fazem a lição de casa. Não estudam o problema. Seu mote principal ainda se reduz ao discurso de palanque, contra as operadoras privadas, seus “lucros exorbitantes”, seus “preços absurdos” e contra o que chamam de “péssimos serviços”.

É claro que, entre tanta discussão vazia, meia dúzia de deputados mostraram pelo menos três fatos verdadeiros, como: 1) os preços absurdos dos serviços da telefonia no País; 2) os problemas de qualidade e de atendimento; e 3) a incrível omissão do governo federal, que nada faz para mudar a situação.

As propostas de solução da maioria dos deputados são ridículas, pois eles parecem ignorar os fundamentos da legislação, as causas dos preços elevados e o fato essencial de que o Brasil pratica os maiores índices de tributação de telecomunicações do mundo.

A maioria esmagadora dos deputados que falou na sessão – à exceção de dois parlamentares do PT – cobrou providências rigorosas do Ministério das Comunicações e da Anatel para a solução dos problemas. A agência reguladora foi duramente acusada de não defender o usuário e ser aliada das operadoras. Diante da acusação, era visível o constrangimento de Paulo Bernardo e do presidente da Anatel.

Eles ignoram tudo

É claro que ninguém exigiria que os deputados fossem conhecedores profundos das telecomunicações. Eles deveriam, sim, saber coisas básicas, como o papel do Ministério das Comunicações e da Anatel, da formação dos preços reais dos serviços e das alíquotas escorchantes do ICMS que incidem sobre a conta telefônica.

Os governistas são os mais desinformados. Até o dia 30 de maio, muitos deles ignoravam que, em alguns Estados, a incidência do ICMS chega a 60% do valor dos serviços telefônicos, sem contar os impostos federais.

A maioria dos deputados ignora que, além dos bilhões arrecadados pelos Estados e pela União, o Tesouro Nacional tem confiscado anualmente mais de R$ 4 bilhões dos fundos setoriais de telecomunicações, criados por lei e que deveriam ser investidos prioritariamente no setor – tanto em universalização quanto em fiscalização e em desenvolvimento tecnológico. O valor acumulado desse confisco nos últimos dez anos supera os R$ 50 bilhões.

Decadência

A cada dia, nosso Parlamento mostra-se menos capaz de analisar em profundidade, de criticar seriamente e de propor soluções adequadas para os problemas mais relevantes do País, não apenas de telecomunicações, mas, entre outros, de saúde, educação, ciência, tecnologia, segurança, infraestrutura ou economia.

Temos, portanto, que eleger gente bem melhor do que esses deputados, que consomem milhões para dizer todos os dias a verdadeira montanha de impropriedades, de frases demagógicas e repetitivas, de informações equivocadas ou sem sentido – como as que ouvimos na sessão do dia 30.

O pior é a falta de soluções sérias. Nem o ministro Paulo Bernardo oferece caminhos válidos para resolver os problemas. Ele sugere, na melhor das hipóteses, a redução progressiva da assinatura básica e dos impostos. Mas não anuncia nenhuma providência concreta nesse sentido.

Faça um teste, leitor. Na terça-feira, a Anatel fará a licitação para a telefonia celular de quarta geração (4G), cuja receita deverá superar largamente os R$ 4 bilhões. Essa dinheirama vai para a vala comum do superávit fiscal. Por que não aplicá-la na infraestrutura nacional de banda larga?
Por que o ministro das Comunicações não luta para que esses recursos sejam efetivamente destinados à inclusão digital e à internet de alta velocidade, cuja prioridade só existe no discurso oficial? Aliás, nos últimos 30 anos, as telecomunicações têm sido apenas a galinha dos ovos de ouro do Poder Executivo. O resto é puro discurso.

Esse é o retrato do Brasil-2012.

O CAPITALISMO ‘VERDE’ NA RIO 20



Fonte: Valor Econômico de 11.06.2012
 À primeira vista, uma planície com fortes rajadas de vento no norte do Oregon pode não parecer o mais óbvio dos locais para o Google investir US$ 100 milhões.

Mas é ali que vem tomando forma uma das maiores fazendas eólicas do mundo, e o dinheiro que a empresa destinou ao empreendimento é apenas uma parte dos US$ 915 milhões que o Google investiu em projetos de fontes de energia renováveis nos últimos dois anos.

A empresa não é a única: do outro lado do mundo, a controladora da fabricante dinamarquesa de brinquedos Lego está investindo 3 bilhões de coroas dinamarquesas (US$ 500 milhões) em uma fazenda eólica ao largo da costa da Alemanha. A Ikea, da Suécia, tem uma série de fazendas eólicas em países como a Escócia, França e Alemanha.

Muitas empresas usam credenciais ecológicas como marketing, mas outras vão além da “maquiagem verde”
“Não desejamos nos tornar uma empresa geradora de energia”, diz Rick Needham, diretor da área de energia e sustentabilidade do Google. Essa é também a posição da Ikea ou da Lego, mas o que as três desejam, efetivamente, é promover o uso da eletricidade “verde”.

“E daí?”, poderiam perguntar alguns. Empresas vêm brandindo suas credenciais ambientais desde pelo menos os anos 80, década em que Ed Woolard, então executivo-chefe do grupo químico DuPont, disse que em sua companhia a letra “e” da sigla CEO, de “chief executive officer”, representava “ambiente” (Environment). A empresa, na época, encontrava-se sob fogo cruzado de críticos que a consideravam uma das piores poluidoras do mundo.

Mas algo distinto está acontecendo agora. Um pequeno, mas importante, grupo de empresas começou a adotar estratégias verdes muito mais ambiciosas, que exigem grandes recursos e uma mudança na forma como operam seus negócios.

Essa versão mais proativa de sustentabilidade empresarial poderá revelar-se insustentável. E é fácil descartar a ideia de que seria apenas mais uma tática de relações públicas para os tempos atuais, em que o termo “maquiagem verde” (usar a ecologia em relações públicas como forma de maquiar comportamento empresarial incorreto) tornou-se parte da linguagem cotidiana.

Embora algumas empresas certamente estejam desfilando com suas credenciais verdes como estratégia de marketing para atrair os consumidores, cada vez mais receptivos a questões ambientais, muitas outras parecem na verdade estar avançando muito além da maquiagem verde. Alguns observadores acreditam que estamos no início de uma mudança crucial no comportamento das empresas, que se intensificará à medida que se deparem com problemas cada vez mais profundos decorrentes do aumento populacional e da limitação de recursos.

Essa será a mensagem neste mês no Rio de Janeiro, onde mais de cem líderes mundiais se reunirão para a Rio 20, conferência sobre sustentabilidade organizada pela ONU, que tem esse nome por acontecer 20 anos depois da Eco-92, também realizada na cidade.

Os líderes empresariais terão maior papel neste ano do que em encontros anteriores. Muitos dizem que as empresas agora estão na vanguarda das iniciativas, enquanto os governos, repetidamente, não conseguem chegar a um consenso em torno de políticas policiáveis de crescimento mundial sustentável.
O envolvimento empresarial no encontro de 1992 foi insignificante, diz Rachel Kyte, vice-presidente de desenvolvimento sustentável do Banco Mundial. “Foi uma era diferente”.

Neste ano, em contraste, os executivos constituirão um dos grupos não governamentais mais numerosos no Rio. Pretendem reunir-se durante vários dias, antes do evento formal. Vão elaborar suas próprias estratégias de sustentabilidade e as apresentarão às autoridades.

“O objetivo é criar insumos para as políticas governamentais em escala grande e bastante ambiciosa, e é a primeira vez em que isso acontece”, diz Georg Kell, diretor executivo do Global Compact, da ONU.

O que vai resultar efetivamente disso ainda não está claro. De qualquer forma, o encontro no Rio evidenciará que atualmente é mais complicado para uma empresa tentar passar-se por defensora ecológica plantando um punhado de árvores numa floresta tropical da Indonésia ou publicando um relatório de sustentabilidade.

Hoje, algumas empresas promovem mudanças bem mais radicais. O Walmart está induzindo milhares de fornecedores a praticar processos produtivos mais verdes. A Puma, fabricante de artigos esportivos, adotou uma contabilidade de “lucros e prejuízos” ambientais, para priorizar que aspectos de suas operações precisam ficar mais verdes. Sob pressão do Greenpeace, o McDonald”s comprometeu-se a não vender frangos alimentados com soja, uma agricultura que vem sendo responsável por desmatamentos na Amazônia.

Muitos observam que o número de empresas que colocam em prática esse tipo de ações continua pequeno e levantam dúvidas sobre se as demais – cujo objetivo supremo é o lucro – podem realmente mudar o rumo de suas agendas sem uma orientação mais firme dos governos. Especialmente as empresas de setores poluentes, como a indústria pesada e a petrolífera, sofrem críticas por recorrer à “maquiagem verde”.

Apesar disso, muitas empresas estão, sem dúvida, sob mais pressões imediatas para reformar seus modelos de negócios, diante de previsões de que a população mundial crescerá de 7 bilhões para 9 bilhões de pessoas até 2050, em grande parte nas economias emergentes. A pressão resultante sobre os recursos naturais, como as fontes de energia, água e alimentos, vem incentivando muitos executivos a imaginar como suas empresas podem enfrentar – ou beneficiar-se – de um mundo onde o barril de água poderá custar US$ 150, para não falar dos barris de petróleo.

Ao mesmo tempo, não há um país ou grupo de países que pareça disposto ou capaz de defender uma agenda internacional, algo que o cientista político americano Ian Bremmer descreve como mundo do “G-zero”, em oposição ao mundo liderado por grupos como o G-7 ou G-20.

Isso oferece às empresas uma oportunidade histórica, diz Paul Polman, holandês de 55 anos que há três anos e meio comanda a Unilever. O executivo é considerado um decano do movimento de sustentabilidade nas empresas. Em 2010, ele respondeu a investidores que discordavam de sua estratégia verde da seguinte forma: “Não coloque seu dinheiro em nossa empresa”. Incansavelmente, ele promoveu esforços que vão de detergentes concentrados (que usam menos água) até ensinar a agricultores indianos que cultivam pepinos a usar menos pesticidas.

Tomando um cafezinho em seu escritório em Londres, ele diz que essas medidas são necessárias devido ao esgotamento cada vez maior dos recursos naturais, associado à pressão das mudanças climáticas e à inação dos políticos presos a uma visão de curto prazo.

“Não vemos, hoje, os governos comandando tanto quanto esperaríamos”, diz ele. “Essa é uma oportunidade única, para as empresas, de assumir cada vez mais essa responsabilidade de oferecer soluções”.

“O que veremos no Rio é uma galvanização inacreditável de empresas que dizem: “Eu vejo os custos todos os dias, vejo os efeitos todos os dias, não consigo funcionar se a sociedade não funciona. Nós precisamos assumir o comando”.

Alguns dizem que as empresas já assumiram a liderança. “Se você pensar onde estão as iniciativas dignas de nota na paisagem da inovação e ideias e pensamentos interessantes, verá que estão quase exclusivamente sendo agora originadas nas empresas”, diz John Elkington, uma das principais figuras do movimento de responsabilidade empresarial.

“Há uma nova geração de CEOs que não estão nisso simplesmente para sentirem-se à vontade quando nadam para lá e para cá na piscina do clube, só para poderem dizer: “Eu recebi um relatório, você recebeu?” Eles estão dizendo: “Isso diz respeito, fundamentalmente, ao futuro do capitalismo, e vamos ter de botar isso em ordem”.

Mas há limites evidentes ao que uma empresa estruturada para gerar valor para seus acionistas, está disposta a fazer na ausência de regulamentação governamental.

Em outras palavras, será que a Coca-Cola teria algum dia abandonado volutariamente o uso de garrafas tamanho família para seu refrigerante, proibida pelo prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, na semana passada?

Isso está no cerne da argumentação de pelo menos um dos executivos que estarão a caminho do Rio, neste mês. James Cameron, do grupo de investimento londrino Climate Change Capital, concorda com que as empresas estão fazendo muito mais para cumprir objetivos ambientais.

“Mas, em muitos aspectos, o objetivo delas não é esse”, diz ele. “É um ajuste incômodo. O objetivo dessas empresas não deixou de ser gerar lucros e distribuí-los aos acionistas”.

O desafio, considera ele, é capitalizar o know-how que está sendo desenvolvido nas principais empresas e usá-lo com mais eficácia.

O grupo de defensores do verde abriga apenas cerca de 1% das empresas com receita acima de US$ 1 bilhão.

Por outro lado, o grupo de defensores do verde ainda é muito pequeno. Corresponde apenas a cerca de 1% das empresas com receita acima de US$ 1 bilhão, diz David Metcalfe, principal executivo do Verdantix, uma empresa de pesquisas e consultoria, que divide essas empresas em dois segmentos.

Em primeiro lugar, há as “evangélicas”, como a Unilever, a Philips, companhia holandesa fabricante de produtos eletrônicos, ou a britânica Marks and Spencer, para as quais a sustentabilidade é “um sistema de crenças”, muitas vezes motivadas pelas opiniões de um CEO sobre tendências de longo prazo, como a escassez de recursos naturais. Embora o Google enfatize pretender que seu parque gerador de energia eólica seja lucrativo, o empreendimento é, na realidade, um exemplo da iniciativa de uma empresa de enveredar numa área de atuação não essencial para se preparar para uma nova paisagem comercial.

E há também os “capitalistas da sustentabilidade”, como a GE ou a Siemens, que investem em empreendimentos como energia eólica ou em tecnologia para aumentar a eficiência do uso da água porque veem oportunidades de crescimento em curto prazo.

Apesar do que Metcalfe descreve como esforços “desesperados” para estabelecer um vínculo entre sustentabilidade e lucros, ele diz que “ainda não se chegou, absolutamente, a uma conclusão” sobre a existência desse vínculo, e sugere que a atual campanha empresarial em defesa da sustentabilidade pode ser frágil.

“A grande interrogação é até que ponto as evangélicas conseguirão converter as pessoas, e com que rapidez”, diz ele. “Acho que muitos conselhos de administração serão, positiva ou negativamente, influenciados pelo êxito ou não das evangélicas”.

Já há sinais de defecções. Neste ano, a Tesco, grupo britânico de supermercados, revelou estar abandonando um plano que pretende colocar nas embalagens de produtos, rótulos informando sobre seu “impacto de carbono”, anunciado em 2007 durante tempos mais prósperos.

Finalmente, há a questão possivelmente mais básica sobre as ambiciosas políticas de sustentabilidade empresarial: estão, essas políticas, gerando grandes resultados?

“Em nível geral, a resposta é, inequivocamente, “não”", diz John Sauven, do Greenpeace Reino Unido, apontando para o aumento incessante das emissões de carbono, a pesca excessiva, a devastação florestal e a extinção de espécies em todo o mundo.

“Mas quando focamos o comportamento empresarial individual, observamos algumas mudanças bastante significativas”, acrescenta ele, explicando que as empresas multinacionais, como a Nestlé e a Unilever, podem produzir um grande impacto ao decidirem tornar suas enormes cadeias de suprimento tão ambientalmente saudáveis quanto for possível.

“Isso é muito difícil de implementar”, diz ele. “É também algo relativamente novo para elas. Mas estão fazendo isso, e estão investindo somas muito consideráveis de dinheiro”.

Isso é inegável. Mas teremos de esperar até a realização da Rio 30 para ver se essas iniciativas irão realmente mudar a maneira como as empresas são operadas.

Essa deverá ser a maior conferência já organizada pela ONU, sendo uma oportunidade histórica para os líderes mundiais resolverem uma longa lista de problemas ambientais e sociais do mundo.
Mas, a apenas algumas semanas do início da conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável na cidade brasileira do Rio de Janeiro, ainda está longe de ser claro o que dela resultará.

Acredita-se que cem líderes venham a participar da conferência Rio 20. Mas Barack Obama, o presidente dos EUA, em meio de uma campanha eleitoral, estará ausente. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e primeiro-ministro britânico, David Cameron, também não virão.

E alguns que inicialmente planejavam comparecer, inclusive uma delegação do Parlamento Europeu, abandonaram a ideia, quando confrontados com os preços estratosféricos dos hotéis em uma cidade cujo número de leitos é estimado em 33 mil, em comparação com os 50 mil visitantes esperados para a cúpula.

Outro empecilho está no fato de alguns hotéis insistirem em que os hóspedes façam reservas para pelo menos uma semana, mesmo que desejem permanecer apenas alguns dias, o que não é um sinal animador para uma cidade que sediará a Copa do Mundo de futebol em 2014 e a Olimpíada de 2016.

Alguns problemas estão fora de controle dos organizadores. A data original da conferência teve de ser transferida por coincidir com o Jubileu de Diamante da rainha Elizabeth II, do Reino Unido. Ninguém poderia ter imaginado que a conferência seria realizada na mesma semana em que a Grécia realizará uma eleição crítica para o destino da zona do euro.

No entanto, muita gente está mais preocupada com os resultados das negociações sobre os resultados da própria cúpula. Elas têm sido tão turbulentas, que diplomatas ainda estavam se reunindo em Nova York, na semana passada, para tentar transformar um texto final desconexo num documento político que apresentasse um pouco mais de foco.

“Parece inexistir um senso de urgência, o que é preocupante”, diz Peter Paul van de Wijs, do Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável. “O que está em discussão é totalmente inadequado para uma conferência mundial”, acrescenta Daniel Mittler, diretor de assuntos políticos do Greenpeace International. “Esses tipos de eventos deveriam se preocupar em promover mudanças transformacionais”.

Mas alguns analistas continuam otimistas. “As coisas progrediram consideravelmente nos últimos dias”, disse Farroq Ullah, do Stakeholder Forum, um grupo de defesa da sustentabilidade do ambiente. “Acho que chegaremos a um bom ponto com o documento resultante do encontro”.

ECONOMIA DO CONHECIMENTO



Fonte: Eloi S. Garcia, 11.06.2012
Lutar pela ciência e tecnologia é importante para a defesa do crescimento econômico de um país.
Temos que divulgar de todas as maneiras os êxitos que tivemos, nos últimos 10 anos, em nossa produção científica e tecnológica e nos investimentos de agências com Capes, Cnpq e fundações estaduais nestas áreas. Está havendo uma conscientização cada vez maior da população pela importância da ciência para a economia brasileira.

Devemos também desenvolver o conceito da ciência como bem de um povo e uma coisa boa para a população. Todos devem participar e se envolver na cultura da formação científica e tecnológica. Principalmente os jovens e estudantes, pois nas mãos deles estão a capacidade e a invenção do futuro produtivo de nosso país. Por isso nos preocupam quaisquer tipos de reduções orçamentárias, das agências estaduais e federais, pois em pesquisa isto é terrível.

Estas áreas são as apostas que temos pela frente. Todos os países que decidiram investir em ciência estão sofrendo menos com a crise econômica mundial. Não existe outra solução. A indústria inovadora e o rendimento industrial dependem destas áreas. Os países que reduziram o investimento em ciência e tecnologia estão reconhecendo os resultados negativos obtidos. A Alemanha, por exemplo, que continuou investindo nestas áreas, reconhece a situação e está mostrando nitidamente que o investimento em ciência melhora o desenvolvimento e a economia em época de crise.

Uma política governamental importante é pensar como distribuir recursos financeiros nestas áreas, pois uma redução orçamentária em ciência e tecnologia, que pode causar uma economia em curto prazo, pode também afetar drasticamente a competitividade de um país em um futuro próximo. Os pesquisadores brasileiros, nos últimos anos, têm obtidos excelentes resultados nestas áreas. Temos aumentado, cada vez mais, o sucesso e a divulgação da ciência brasileira no exterior. Devemos continuar incrementando nossa participação internacional.

A economia mundial se baseia no conhecimento científico e tecnológico. Não há outra maneira para defender países como o nosso a não ser lutando pelo aumento da capacidade científica de nossos estudantes. Nosso país é imenso e com uma diversidade bem reconhecida. Esta diversidade é nossa grande vantagem e necessidade para produzir diferentes tipos de ciência, tecnologia e inovação.

Somente podemos evitar a crise com maior reconhecimento do empreendedorismo, valor do esforço pela competição criativa e inteligente, e buscar no país a solução de nossos problemas.

* Eloi Garcia, ex-presidente e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, é membro da Academia Brasileira de Ciências.

A CURA DA TERRA JÁ EXISTE





Fonte: Stephen Leahy, da Inter Press Service – IPS, de 06.06.2012
Uxbridge, Canadá, 6/6/2012 – O Ártico alcançou uma concentração recorde de dióxido de carbono de 400 partes por milhão (ppm). A última vez que a Terra registrou níveis semelhantes foi há três milhões de anos, durante a era do Plioceno. Então, as temperaturas do Ártico eram entre 10 e 14 graus mais altas e, as globais, quatro graus mais elevadas. Nesta primavera boreal, todos os centros de pesquisa no Alasca, na Groenlândia, Noruega, Islândia, e inclusive Mongólia, registraram níveis superiores à barreira dos 400 ppm pela primeira vez, informaram cientistas.

Entretanto, a média mundial é de 392 ppm, e para chegar aos 400 ainda falta muito. Se os níveis de dióxido de carbono (CO2) não baixarem, ou, pior, aumentarem, o planeta inevitavelmente alcançará temperaturas mais altas, e para isto não serão necessários milhões de anos. Se não houver grande redução nas emissões de gases gerados por combustíveis fósseis, quem nascer hoje poderá viver em um mundo superaquecido em quatro graus quando for adulto. Este aumento fará com que a maior parte da Terra fique inabitável. Um mundo mais quente significará a morte para muitas pessoas no mundo, afirmou Chris West, do Programa de Impacto Climático, da britânica Universidade de Oxford.

Esta semana, a Agência Internacional de Energia informou que as emissões mundiais de CO2 cresceram 3,2% em 2011, com relação a 2010. Esta é precisamente a direção errada: as liberações de gases devem diminuir 3% ao ano para se ter alguma esperança quanto a um futuro de clima estável. Até 2050, em um mundo com mais habitantes, as emissões de carbono deveriam cair pela metade. Isto é impossível? Não. Várias análises diferentes mostram como isso pode ser alcançado.

Por exemplo, a consultoria holandesa Ecofys publicou em 2010 um estudo técnico intitulado O Informe de Energia, no qual demonstra como o mundo poderia usar somente fontes renováveis até 2050. O Greenpeace tem um plano denominado (R)evolução Energética, e a Agência Internacional de Energia conta com o seu próprio estudo, chamado Cenário 450. Não existe carência de conhecimento técnico sobre como reduzir as emissões.

Alguns países já começaram a tomar medidas. A Alemanha obteve mais de 30% de sua energia com a luz solar de um único dia claro na última semana de maio. Em lugar de utilizar suas 20 ou mais centrais de carvão, este país empregou energia de mais de um milhão de painéis solares localizados em casas, edifícios e ao lado de estradas. Embora não se caracterize por ter um clima quente, a Alemanha conta com mais painéis solares do que o resto do mundo somado. Atende 4% de suas necessidades anuais de eletricidade graças à energia solar. Inclusive, poderia aumentar sua produção solar entre 5% e 10%, segundo especialistas, sobretudo graças às últimas reduções no custo dos painéis.

A diferença na Alemanha é a liderança. A revolução das energias renováveis nesse país foi iniciada em 2000, pelo então ministro da Economia, Hermann Scheer, que promoveu durante anos esta política para impedir que os sucessivos governos a deixassem de lado. Morreu repentinamente em 2010, mas outros líderes alemães, apoiados por grupos ambientalistas e pelo público em geral, continuam pressionando por mais apoio às energias renováveis.

A chefe de governo, Angela Merkel, reverteu sua política de apoio ao setor nuclear depois do acidente na central japonesa de Fukushima, no ano passado. A Alemanha anunciou que fechará suas 17 usinas atômicas até 2022 e adotou o ambicioso plano de energias renováveis chamado Agora Energiewende. Se obtiver sucesso, o programa fará com que pelo menos 40% da energia do país proceda de fontes renováveis, até 2022. Representantes do poderoso setor energético expressaram seu descontentamento com o plano de Merkel, e a chanceler disse que precisará de forte apoio público para seguir adiante.

O setor das energias renováveis na Alemanha emprega mais pessoas do que o automotivo. No mundo, as energias renováveis empregam atualmente cerca de cinco milhões de trabalhadores, mais do que o dobro no período de 2006-2010, segundo estudo divulgado na última semana de maio pela Organização Mundial do Trabalho (OIT). A passagem para uma economia verde poderá gerar entre 15 milhões e 60 milhões de empregos adicionais em todo o planeta nas próximas duas décadas, podendo tirar milhões de pessoas da pobreza, afirma o estudo Trabalhando para um Desenvolvimento Sustentável.

Apenas entre dez e 15 indústrias respondem por 70% a 80% das emissões de CO2 nos países industrializados, destaca o informe. E estas indústrias empregam apenas de 8% a 12% da força de trabalho. Mesmo adotando políticas para conseguir grandes reduções das emissões, apenas uns poucos perderiam seus empregos. “A sustentabilidade ambiental não mata empregos, como às vezes se diz”, ressaltou o diretor-geral da OIT, Juan Somavia. “Pelo contrário, se é manejada de forma adequada, pode derivar em mais e melhores empregos, em redução da pobreza e inclusão social”, acrescentou.

É genético! Identifique seu tipo sanguíneo e saiba como ele influencia o seu trabalho



SÃO PAULO - As características responsáveis por definir a personalidade de um indivíduo podem variar de acordo com o tipo sanguíneo de cada um. A constatação é do master coach e especialista em gestão comportamental com neurociência e neurometria, Sérgio Ricardo, que pesquisa o assunto e defende a teoria.

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Segundo ele, a personalidade de um profissional, bem como as atividades com que ele mais se identifica dependem, principalmente, da genética do indivíduo. “Os do tipo A, por exemplo, servem para trabalhos que envolvam organização, planejamento, orientação e controle em geral”, diz o especialista, que garante ainda que as pessoas com esse tipo sanguíneo são mais estressadas.
“Ao menor de sinal de estresse, esses profissionais podem ficar paranóicos e depressivos”, conta.
Mas nem tudo precisa ser um problema, afinal, os colaboradores de outros tipos sanguíneos, como o B, por exemplo, não costumam ser impactados de forma negativa. “Eles são mais calmos, flexíveis, menos vulneráveis a doenças e se harmonizam facilmente com as pessoas de outros departamentos”, conta o especialista que adota como base os estudos de médicos naturopatas como James D'Adamo e Peter D'Adamo para legitimar a teoria.
“Após 10 anos de pesquisa e de avaliação em mais de 10 mil pessoas, temos percebido como o tipo sanguíneo pode influenciar o comportamento dos indivíduos em todos os sentidos”, diz.
Em prol da empresaTais dados podem ser úteis em uma empresa por meio do mapeamento genético de cada indivíduo a ser contratado. “Seria útil que a área de recursos humanos de uma organização soubesse interagir com as dominâncias e características dos tipos sanguíneos, pois assim, ficaria mais fácil proporcionar economia à gestão, que precisa definir contratações e promoções”, avalia o especialista.
Para ele, por meio de tal atitude seria possível avaliar, com antecedência, as competências de cada profissional antes mesmo dele entrar em um projeto ou mesmo na empresa.
Perfil sanguíneoNa relação abaixo você pode conhecer as características de cada profissional, bem como as atividades mais apropriadas para ele, de acordo com seu tipo sanguíneo.
Tipo A: são profissionais sensíveis, inteligentes e espertos que gostam do estilo de vida urbano e intenso. Ficam refreando a ansiedade o tempo todo, mas quando explodem é melhor não estar por perto. Precisam de exercícios, calmantes e relaxantes o tempo todo, pois ao menor de sinal de estresse podem ficar paranóicos e depressivos. Por isso, se o seu chefe apresentar esse perfil, tenha cuidado! Nesta fase os profissionais costumam levar tudo para o lado pessoal, fazendo com que extrapolem as suas funções.
Tipo B: flexíveis e menos vulneráveis a doenças, os indivíduos do tipo B apresentam uma atividade mental mais agitada e se harmonizam facilmente com todas as pessoas. São os profissionais do ‘bem’, que preferem a inteligência e a paz. Para se ter uma ideia, 40% dos milionários de todo o mundo são do tipo B. Já quando o assunto são as atividades mais apropriadas para esse profissional, o gerenciamento de crise, negociação e o controle de cenários, onde esse risco está sempre presente, se destacam.
Tipo AB: aguçado e sensível, o profissional AB traz características de ambos os tipos sanguíneos e, não raro, pode apresentar uma natureza um tanto quanto excêntrica, que aceita todos os aspectos da vida sem estar particularmente consciente das consequências. Além disso, não gostam de rotina e preferem a inovação e a surpresa. “São também cativantes, carismáticos e gostam de se gabar, pois Jesus Cristo teria este tipo de sangue”, diz o especialista.
Tipo O: fortes, resistentes, autoconfiantes e ousados. Os colaboradores do tipo O podem ser muito intuitivos e se destacam por possuir uma qualidade única: um otimismo nato. São ótimos para atividades com alto índice de estresse e para tarefas que exigem mais do sistema nervoso, como vendas, desenvolvimento de campanhas e atividades de risco, dada a sua tolerância a tais situações.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Peixes de verdade fazem amizade com peixe-robô


Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/06/2012

Peixes de verdade fazem amizade com peixe-robô
Mesmo sendo 5 vezes maior do que os peixes-zebra (veja a escala), e bem mais feio, o peixe-robô conseguiu atrair a atenção dos animais. [Imagem: Polverino et al./Bioinspiration & Biomimetics]
Robô-líder
Talvez os pequenos peixes-zebra achem sua réplica robotizada um gigantesco mostrengo.
Mas isso não impediu que eles se juntassem ao robô, pelo menos quando se sentiam sozinhos.
Os pesquisadores ficaram entusiasmados por pelo menos dois motivos.
O primeiro é que os robôs estão sendo cada vez mais utilizados para monitorar o meio ambiente, sobretudo a vida aquática. E é importante saber como a presença dos robôs afeta o comportamento dos animais.
Em segundo lugar, os cientistas têm planos para que seus robôs interajam com a vida selvagem.
O exemplo mais recente desse tipo de pesquisa foi uma interação inusitada entre uma cobra cascavel e um robô-esquilo.
Mas os planos são mais ambiciosos. Um dos objetivos é que os robôs consigam agir como líderes, controlando o comportamento de cardumes ou outros grupos de animais.
Eventualmente isto poderia ser utilizado para controlar espécies invasoras ou desviar os animais de áreas contaminadas por acidentes.
Melhor um amigo esquisito que sozinho
Neste novo trabalho, realizado por cientistas da Universidade de Nova Iorque (EUA) e do Instituto Superior de Sanitá (Itália), os pequenos peixes-zebra gostaram das listras e do abanar de cauda do peixe-robô.
Foram realizados 16 experimentos, combinando somente peixes de verdade, isolados e em grupos, e peixes de verdade e o peixe-robô, também variando a quantidade de indivíduos vivos.
Embora, no geral, os peixes-zebra tenham preferido seus iguais ao robô, eles preferem o robô do que ficar sozinhos.
O ruído do motor do robô diminui o interesse dos peixes, mas o movimento de sua cauda reforça sua atratividade, superando o problema do barulho.
O Dr. Maurizio Porfiri, idealizador do experimento, afirmou que esses primeiros resultados são encorajadores e poderão ajudar no projeto de robôs que possam ter um comportamento ativo em busca de se tornar o líder, efetivamente guiando o comportamento dos animais.
"Já estamos fazendo novos estudos em nosso laboratório, investigando as interações entre peixes e o peixe-robô quando eles podem nadar juntos em ambientes controlados e em condições ecologicamente complexas," disse ele.
Bibliografia:

Zebrafish response to robotic fish: preference experiments on isolated individuals and small shoals
G Polverino, N Abaid, V Kopman, S Macrì, M Porfiri
Bioinspiration & Biomimetics
Vol.: 7 036019
DOI: 10.1088/1748-3182/7/3/036019

Silício e diamante dão solidez aos computadores quânticos


Redação do Site Inovação Tecnológica - 11/06/2012

Qubits sobrevivem
O silício, bem conhecido dos computadores eletrônicos, agora entra definitivamente no páreo como elemento básico dos computadores quânticos.[Imagem: Dane R. Mccamey/Christoph Boehme]
Qubits quase eternos
Há pouco mais de um mês, a comunidade científica que está trabalhando para construir os primeiros computadores quânticos comemorou quando três equipes conseguiram, por meio de técnicas diferentes, armazenar bits quânticos em cristais sólidos.
Agora, outras duas equipes eclipsaram de vez aquele avanço, conseguindo armazenar os qubits por tempos muito longos, quase inimagináveis há alguns anos.
Os bits quânticos podem ter vários valores ao mesmo tempo, mas eles perdem todos eles muito facilmente, devido a um fenômeno chamado decoerência, que destrói o fenômeno quântico básico do qubit, o entrelaçamento.
Assim, uma das saídas é isolar o qubit o máximo possível do ambiente ao seu redor, mantendo-o livre da decoerência enquanto ele precisar simplesmente ficar armazenado.
No momento de fazer cada cálculo, o qubit pode ser trazido para um local onde ele possa interagir com outros qubits, sendo levado de volta tão logo cumpra sua tarefa.
É aí que entram as duas inovações: duas equipes independentes conseguiram armazenar bits quânticos por períodos incrivelmente longos, e, mais importante, os dois esquemas funcionam em cristais sólidos, e não nas complicadas nuvens de gases superfrios.
Qubits sobrevivem
Estruturas conhecidas como vacâncias de nitrogênio permitem que nanocristais de diamante funcionem como depósito de qubits. Sua grande vantagem é que eles funcionam a temperatura ambiente. [Imagem: Cortesia Element Six]
Silício ou diamante
A primeira equipe conseguiu armazenar um dado quântico no interior de um cristal de silício-28 por até 3 minutos.
A segunda equipe manteve a informação quântica no interior de um cristal de diamante, em uma estrutura conhecida como vacância de nitrogênio, por até 1,4 segundo.
Embora possa parecer que o primeiro experimento leva uma grande vantagem sobre o primeiro, na verdade, em termos práticos, é o contrário que se dá.
Isto porque o qubit foi armazenado no "defeito" de nitrogênio a temperatura ambiente, enquanto o cristal de silício faz o mesmo trabalho a uma temperatura de cerca de 2 Kelvin.
Os dois experimentos tiram proveito do spin do núcleo dos átomos, que é mais resistente às influências externas, que levam à decoerência, do que os spins dos elétrons.
As duas equipes desenvolveram técnicas ópticas para acoplar o spin nuclear para um qubit baseado em um elétron, que pode ser transferido para operar externamente e trazido de volta para ser armazenado em segurança no spin nuclear.
Bibliografia:

Quantum Information Storage for over 180 s Using Donor Spins in a 28Si "Semiconductor Vacuum"
M. Steger, K. Saeedi, M. L. W. Thewalt, J. J. L. Morton, H. Riemann, N. V. Abrosimov, P. Becker, H.-J. Pohl
Science
Vol.: 336 no. 6086 pp. 1280-1283
DOI: 10.1126/science.1217635

Room-Temperature Quantum Bit Memory Exceeding One Second
P. C. Maurer, G. Kucsko, C. Latta, L. Jiang, N. Y. Yao, S. D. Bennett, F. Pastawski, D. Hunger, N. Chisholm, M. Markham, D. J. Twitchen, J. I. Cirac, M. D. Lukin
Science
Vol.: 336 no. 6086 pp. 1283-1286
DOI: 10.1126/science.1220513

NASA testará escudo de reentrada inflável


Redação do Site Inovação Tecnológica - 12/06/2012

NASA testará escudo de reentrada inflável
A estrutura térmica inflável, preenchida com nitrogênio antes de iniciar a reentrada, funcionará tanto como proteção térmica, quanto como freio aerodinâmico. [Imagem: NASA]
Escudo inflável
A NASA anunciou que está tudo pronto para o último teste de viabilidade técnica de uma nova tecnologia de escudo de reentrada inflável.
O escudo, chamado IRVE (Inflatable Re-entry Vehicle Experiment: veículo experimental de reentrada inflável), fará seu teste definitivo em um voo orbital, levado por um foguete de sondagem.
Acondicionado de forma semelhante a um guarda-chuva, o equipamento mede 3,05 metros de comprimento por 56 centímetros de diâmetro.
Quando o foguete atingir seu ponto mais alto, um sistema automático irá inflar os tubos que dão a forma ao escudo, que estenderá um cobertor térmico que cobrirá o IRVE como um todo.
Esse escudo de calor irá proteger a carga útil do teste, que consiste em quatro segmentos, incluindo o sistema inflável, mecanismos de direção, equipamentos de telemetria e equipamentos de fotografia e filmagem.
Teste orbital
Após o lançamento, o foguete subirá 462 quilômetros, uma altitude maior do que a que se encontra a Estação Espacial Internacional.
Os testes anteriores do IRVE foram feitos em voos suborbitais, nos quais o tempo do teste, mas sobretudo a velocidade de reentrada, são menores.
O IRVE vai se separar do foguete de sondagem, uma carga de nitrogênio será bombeada para inflar seu aeroescudo e, em seguida, o conjunto inteiro cairá de volta através da atmosfera da Terra.
Durante a reentrada, que ocorrerá sobre o Oceano Atlântico, câmeras e instrumentos transmitirão imagens e dados para os pesquisadores em terra.
NASA testará escudo de reentrada inflável
À esquerda, o processo de enchimento do escudo inflável. À direita, a visualização superior e inferior do escudo já inflado. [Imagem: NASA/AMA]
Desacelerador aerodinâmico
O aeroescudo IRVE faz parte de um projeto da NASA chamado HIAD (Hypersonic Inflatable Aerodynamic Decelerator, desacelerador aerodinâmico hipersônico inflável, em tradução livre.
"O HIAD dará à NASA mais opções para futuras missões planetárias ou para trazer cargas de volta para a Terra," afirmou Neil Cheatwood, chefe do projeto.
"Quando vamos para outros planetas com atmosfera, nós de fato usamos essa atmosfera como um freio, usando um aeroescudo ou um desacelerador aerodinâmico. Mas o tamanho desses escudos térmicos atualmente é limitado. Nós não conseguimos construí-los maiores do que o diâmetro do veículo de lançamento," explica ele.
Isto porque o escudo é aplicado sobre a própria superfície da nave.
Um escudo térmico inflável, que se expande em órbita, funcionará tanto como proteção térmica quanto como freio aerodinâmico, permitindo acomodar cargas maiores, oferecendo proteção para instrumentos científicos maiores e mais pesados.