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quarta-feira, 30 de maio de 2012

'Vaquinha virtual' ajuda a financiar pesquisas na web




 
Cientistas da USP conseguiram financiamento colaborativo para projeto.

Em tempos de verbas de pesquisa cada vez mais magras, cientistas estão apelando para uma espécie de "vaquinha" virtual - o "crowd-funding", em que usuários contribuem com pequenas parcelas para financiar um projeto - para dar continuidade a seus experimentos.

O movimento ganhou força há cerca de dois meses, com o lançamento do Petridish (www.petridish.org), uma plataforma específica para financiar ciência. Com ar descolado e fácil de usar, o site já atraiu dezenas de pesquisadores. O Petridish - ou placa de Petri, instrumento comum nos laboratórios - é voltado só para ciência, mas há outros para tecnologia e inovação, além dos mais gerais.

Depois do cadastro, cria-se uma página com a descrição do projeto, a metodologia de pesquisa, os objetivos e, claro, o valor pretendido. Os pedidos de financiamento são ecléticos, assim como a experiência acadêmica dos cientistas.

Tem gente pedindo dinheiro para descobrir por que as zebras têm listras, querendo encontrar uma lua fora do Sistema Solar e até tentando aprender a linguagem dos bonobos, promíscuos primatas primos dos chimpanzés. Cada projeto costuma ter as chamadas recompensas: brindes em troca da doação. Quanto maior o valor, melhor a recompensa.

As estratégias para convencer o internauta são muitas: vídeos, brindes e até menções nas publicações. Dependendo da doação, dá até para batizar uma espécie. Em alguns sites o projeto passa por uma curadoria, que verifica as referências dos cientistas. Porém, como isso não é regra, vale conferir as referências e publicações dos pesquisadores antes de doar.

As campanhas em geral têm 45 dias. Se o total for alcançado, as doações são cobradas no último dia, e o valor é creditado na conta dos responsáveis. Há uma taxa de comissão sobre esse valor. Se a campanha não der certo, o dinheiro não é cobrado dos participantes. E os organizadores, muitas vezes, precisam pagar uma taxa de uso ao site escolhido.

Exemplo - O financiamento colaborativo de projetos de ciência ainda engatinha no Brasil, mas um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) já está tirando proveito da ferramenta.

Sem dinheiro para ir a uma das maiores competições de biologia sintética do mundo, a iGEM (Competição Internacional de Máquinas Geneticamente Modificadas, em inglês), que acontece nos EUA, a equipe decidiu apelar para o "crowd-funding".

Em pouco mais de um mês, eles conseguiram quase US$ 3.000 para custear a inscrição da equipe no evento. E a maior parte das doações veio de pessoas sem nenhum contato com o grupo. "O 'crowd-funding' é meio que uma nova versão da rifa para arrecadar dinheiro", brinca Carlos Hotta, professor do Instituto de Química e líder da equipe brasileira na competição. Foi dele a ideia de usar a ferramenta para financiar o projeto.

"A maior inspiração foi o desespero. Nosso plano A, que era conseguir dinheiro com empresas, não deu certo. Tivemos de buscar alternativas", explica Hotta. Segundo ele, o "crowd-funding" foi também uma boa opção para lidar com um problema burocrático. Apesar de seu caráter de pesquisa e desenvolvimento científico, a iGEM é uma competição, uma modalidade que, ao contrário de congressos e simpósios, não está descrita nos editais de pesquisa e outras regras das universidades.

O grupo usou o site RocketHub, o qual, embora não seja exclusivo para ciência, tem vários projetos da área. "Nas primeiras duas semanas, as doações eram só de conhecidos. Foi quando nós fizemos o vídeo que as contribuições dispararam", explica Otto Heringer, estudante de química, membro da equipe e autor do roteiro engraçadinho do filme (http://youtu.be/t2eJOhvC4gg), que se espalhou pela USP.

E ter um bom vídeo de apresentação é considerado um dos trunfos de quem busca financiamento. Os próprios sites recomendam caprichar nesse quesito.

Novo desafio - Mas, apesar do sucesso da iniciativa, o desafio da equipe - que é um projeto multidisciplinar que reúne professores e alunos de graduação e pós em várias áreas - ainda não acabou.

Agora, eles precisam de dinheiro para pagar as passagens e a estadia das pessoas na competição, que será dividida em duas etapas: uma regional classificatória na Colômbia e outra geral nos EUA. A equipe quer apresentar projetos como uma espécie de tela touchscreen feita com bactérias e uma rede de comunicação também com bactéria.
(Folha de São Paulo)

Lições do melhor professor que conheci, artigo de Roberto Leal Lobo




 
Roberto Leal Lobo e Silva Filho é professor titular aposentado do Instituto de Física de São Carlos da USP, presidente do Instituto Lobo e foi reitor da USP. Artigo publicado na Folha de São Paulo de hoje (29).

Aos 75 anos, morreu na semana passada, vítima de uma parada cardíaca, Almir Massambani, docente de física desde 1962 na USP de São Carlos. Seu nome é pouco conhecido, a não ser por seus ex-alunos.

Almir foi um professor de verdade. Não era um cientista, fez um doutoramento porque a USP exigiu, mas o que ele gostava mesmo de fazer era de ensinar, conviver e amar seus estudantes. E era amado por eles. Fazia questão que seus alunos aprendessem o que estava ensinando.

Era professor por excelência, pois o que o motivava e preocupava era o sucesso do aluno, não o seu próprio - figura rara nas universidades de hoje, pois o bom docente que não pesquisa tem pouquíssimos mecanismos de valorização e promoção.

Formar bem profissionais e novas lideranças pode exigir produção, aplicação e divulgação de novos conhecimentos, mas para ensinar bem é preciso vocação e preparo específico. Caso contrário, essas instituições não deveriam ser universidades, mas centros de pesquisa.

O que mais vejo nos meus estudos sobre evasão no ensino superior: a pouca atenção que se dá ao aluno ingressante é uma das maiores causas do abandono de cursos, como já provou Vincent Tinto, o maior especialista do mundo no assunto.

O que vemos mais é a nostalgia - por vezes revoltada - que os docentes demonstram com a qualidade dos alunos que recebem quando comparada à de épocas passadas. Isso é um fato na maioria dos lugares, mas temos que lidar com os alunos como eles são, buscando formas de fazer com que acompanhem o curso.

Como eu sou natural do Rio (e Almir também era), sempre comentávamos que "jacaré" se pega no início da onda. No ensino, não é diferente. Se o aluno não pega a "onda" nos primeiros meses de aula, a onda passa e ele fica - ou seja, não acompanha a disciplina, é reprovado e, muitas vezes, desiste do curso. Uma perda para ele, para a instituição e para a sociedade como um todo, pois o País fica mais pobre!

Almir aplicou esse princípio ao enfrentar uma turma problemática no primeiro ano do nosso Instituto de Física de São Carlos. Sentou-se com a turma e quis entender qual seria o ponto correto de partida - não aquele que está nos livros, mas aquele que a turma poderia acompanhar. Explicou o que precisariam saber para poder iniciar a disciplina, orientou a cada um para cobrir as lacunas por um mês e, a partir daí, iniciou o curso propriamente dito. Sucesso absoluto, reprovação baixíssima.

Hoje, o querido Almir seria o que se chama "coach", figura tão valorizada nos processos de formação intelectual, artística ou esportiva. Quando elogiado, perguntava: "Não é obrigação do professor fazer o aluno aprender?" Esse era o Almir. Um grande professor, o melhor que conheci. E um grande amigo.

* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

Será lançado hoje o primeiro livro sobre Recursos Educacionais Abertos no Brasil




 
Às vésperas da realização do Congresso Mundial sobre Recursos Educacionais Abertos (REA), liderado pela Unesco em Paris, no próximo mês, com a presença de ministros de Educação e outras autoridades governamentais de vários países, será lançado amanhã (30), em São Paulo, o primeiro livro com artigos reflexivos e experiências brasileiras na área.

O título "Recursos Educacionais Abertos: práticas colaborativas e políticas públicas", organizado por Nelson Pretto (UFBA), Carolina Rossini (REA Brasil / GPOPAI-USP) e Bianca Santana (Instituto Educadigital / Casa de Cultura Digital), trata da questão da educação aberta e dos recursos educacionais abertos.

Com a publicação, os autores esperam ampliar o debate sobre os usos da internet nas escolas, da democratização do acesso à internet e aos recursos educacionais a populações de menor renda. A obra aborda também as possibilidades de a internet contribuir para o desenvolvimento humano, principalmente no direito de todos à aprendizagem ao longo da vida.

Financiado pelo edital de publicações do Comitê Gestor da Internet (CGI) no Brasil e pela Open Society Foundation, a obra é uma publicação conjunta da EDUFBA e da Casa da Cultura Digital. Cada um dos capítulos aborda o tema de uma perspectiva diferente, prática ou teórica, já que foi produzido de forma colaborativa a partir de uma chamada na comunidade REA Brasil. Todo o processo de produção foi aberto, com intensivo uso de softwares e fontes livres. Os autores são professores da educação básica, acadêmicos e profissionais da área da educação e das ciências sociais, entusiastas e ativistas da cultura livre e digital, políticos, juristas e gestores públicos.

Além da versão impressa, o livro está disponível em um site na internet (http://livrorea.net.br/) de forma que todo o conteúdo pode ser baixado, utilizado e remixado à vontade. A EDUFBA é uma das editoras que participa do pioneiro projeto REA Scielo Livros (http://books.scielo.org/) e em breve o livro também estará disponível no site do Scielo.

Para Flavia Rosa, diretora da EDUFBA, "o processo de abertura do acesso ao conhecimento produzido pelas universidades é fundamental para a democratização do conhecimento. No repositório institucional da UFBA já temos mais de 200 livros disponíveis para serem baixados integralmente".

Recursos Educacionais Abertos (REA) - O conceito de recursos educacionais abertos (REA), cunhado pela Unesco em 2002, trata da criação de materiais educacionais abertos "para consulta, uso e adaptação". "Esse conceito está centrado na ideia dos commons - de que o conhecimento produzido pela humanidade pertence a toda a humanidade - e permite problematizar diversos elementos importantes para que a inovação em rede aconteça nos processos educativos: propriedade intelectual, softwares, conexão de banda larga, educação de professores, material didático, preço, acesso e tantos outros temas e aspectos ligados à questão", explica Bianca Santana, uma das organizadoras e autoras.

O lançamento - Em São Paulo, o primeiro lançamento acontecerá amanhã (30), às 19 horas na Casa de Cultura Digital, durante o 'Simpósio Recursos Educacionais Abertos: promovendo o acesso e o intercâmbio de conhecimento', organizado pela Unicamp e pela Casa de Cultura Digital. O evento é gratuito e será transmitido ao vivo pela internet através do link:http://educacaoaberta.org/rea/eventos/simposio2012.

Lançamentos regionais estão previstos durante o mês de junho em diversos locais do Brasil e em Paris, durante o Congresso da Unesco, que acontecerá de 20 a 22 de junho. No evento em Paris estarão presentes um dos organizadores do livro, Nelson Pretto, e os autores Tel Amiel (Unicamp) Andreia Inamorato (UFF) e Priscila Gonsales (Instituto Educadigital/REA Br).

(Organizadores do livro)

Começa hoje a votação do Plano Nacional de Educação




 
Começa hoje (29) a votação do Plano Nacional de Educação (PL 8035/10) na comissão especial destinada a analisar a proposta. O projeto está em análise na Câmara desde o final de 2010 e define diretrizes para a educação brasileira na próxima década.

Estão em jogo metas para todos os níveis de ensino, da creche à pós-graduação, os indicadores de qualidade da educação, as perspectivas de aumento da remuneração dos professores e de qualificação do corpo docente, os critérios para o ensino de jovens portadores de necessidades especiais, entre outros pontos.

O item mais polêmico da proposta é a meta que define o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) do País a ser aplicado no setor. Hoje, União, estados e municípios aplicam juntos cerca de 5% do PIB na área. A proposta inicial do governo era ampliar esse percentual para 7% ao longo dos próximos dez anos.

O relator, Angelo Vanhoni (PT-PR), chegou a sugerir o aumento do investimento direto para cerca de 7,5%, mas deputados e integrantes de movimentos sociais pedem pelo menos 10%.

Essa disputa pode levar o debate sobre o PNE ao Plenário da Câmara. Isso porque a proposta tramita de forma conclusiva, ou seja, pode ser aprovada pela comissão especial e seguir diretamente ao Senado. No entanto, caso 52 deputados assinem um recurso, a proposta poderá ser votada no Plenário.

Segundo o presidente da comissão especial, deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), já há um documento com esse objetivo que reúne cerca de 280 assinaturas. A apresentação do recurso depende, portanto, do resultado da votação no colegiado.

A previsão é que o processo de votação na comissão siga até o dia 13 de junho, entre a análise do relatório do Vanhoni, dos possíveis votos em separado e dos destaques ao texto. Mais de 130 destaques já foram apresentados.

Outros temas - Além do debate sobre o financiamento da educação, Lelo Coimbra prevê ainda outros temas polêmicos. Um deles é inclusão do piso salarial dos professores na proposta do PNE. O texto inicial previa apenas a aproximação do rendimento do magistério ao salário de outros profissionais de nível de escolaridade equivalente. O relatório de Vanhoni garante a equiparação desses rendimentos até o final da vigência do PNE, mas os deputados ligados ao setor querem mais.

A ideia é que a garantia de pagamento do piso salarial nacional da categoria entre na nova lei. O piso, hoje fixado em R$ 1.451 por 40 horas semanais, não é pago em diversas localidades, apesar de ter sido aprovado pelo Congresso e confirmado em decisão do Supremo Tribunal Federal. Estados e municípios alegam que não têm recursos para cumprir a regra.

A lei do piso (11.738/08) prevê a complementação dos recursos pela União caso os entes comprovem que não têm condições de arcar com a despesa. O problema é que prefeitos e governadores reclamam da burocracia para conseguir esses valores. "Essa indefinição levou à greve de professores em 13 estados este ano", lembrou Lelo Coimbra.

Deputados ligados à área pedem a inclusão na lei do PNE do compromisso de complementação de verbas pela União. Hoje, a proposta fala somente da criação de um fórum para acompanhamento da progressão do valor do piso.

Segundo o presidente da comissão especial, também deve haver divergências sobre as regras de eleição de diretores nas escolas. A ideia seria definir critérios básicos para que os candidatos ao cargo possam se inscrever, como escolaridade mínima e qualificação na área. "Esses e outros temas devem provocar debates, mas todos são negociáveis. O problema está mesmo é na meta de financiamento do setor", disse Coimbra.
(Agência Câmara)

IPT testa degradação de sacolas de supermercado



Nenhuma das amostras analisadas será degradada rapidamente na natureza, apontam testes feitos com quatro tipos diferentes de sacolas vendidas ou distribuídas (IPT)
Notícias

30/05/2012
Agência FAPESP – O Centro Tecnológico de Processos e Produtos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) realizou um estudo para comparar a biodegradação de quatro diferentes embalagens vendidas ou dadas em supermercados.
Os testes foram encomendados pela Rede Globo de Televisão. O resultado apresentou a porcentagem que cada material biodegradou: as de papel biodegradaram cerca de 40%; as de plástico comum 30%; as de amido de milho (feita a partir de fontes retornáveis) 15%; e as oxidegradáveis (que recebem aditivos para se degradarem mais rápido) apenas 2%. A margem de erro é de 10%.
De acordo com o IPT, de modo geral, nas condições do teste realizado no Laboratório de Biotecnologia Industrial, nenhuma das amostras analisadas pode ser considerada como de fácil biodegradação, isto é, não serão degradadas rapidamente na natureza.
O IPT destaca, entretanto, que existem diversos fabricantes de sacolas no mercado e o teste foi realizado em apenas uma amostra de cada material. “A conscientização do consumidor em contribuir com a redução dos lixos, coleta seletiva e reciclagem pode ser tão importante quanto os novos materiais no mercado”, disse a pesquisadora Maria Filomena Rodrigues.
Segundo a determinação do “Teste da Biodegradabilidade Imediata pela Medida do Dióxido de Carbono Desprendido em Sistema Aberto”, facilmente biodegradável é todo material cujo conteúdo orgânico se transforma em água e gás carbônico (mínimo 60%) em até 28 dias.
Compostável, por sua vez, é o material que se biodegradou e gerou húmus com ausência de metais pesados e substâncias nocivas ao meio ambiente, que permitem a germinação e o desenvolvimento normal de plantas.
O ensaio realizado no IPT consistiu em submeter os diferentes tipos de embalagens em uma solução mineral para que elas sejam consumidas por microrganismos naturais, retirados da natureza (solo, lago, lodo), simulando com maior intensidade o que pode ocorrer no meio ambiente.
No ensaio, as sacolinhas são a única substância orgânica fonte de “alimento” para as bactérias. A avaliação da biodegradabilidade foi realizada em condições similares, tanto quanto possível, às do ambiente de destinação.
A biodegradação leva à formação de dióxido de carbono (CO2), água e biomassa. A porcentagem de CO2 apresentado pelo material estudado, em relação ao total de CO2 teoricamente esperado para a completa oxidação do conteúdo de carbono da amostra (CO2 – teórico), informará se a sacola é biodegradável ou biorresistente, determinada nessa metodologia por 28 dias.
No Laboratório de Processos Químicos e Tecnologia de Partículas foram realizados os ensaios para identificação química das sacolas plásticas. Por meio dessa técnica, foi identificado que as sacolas “oxidegradável” e “convencional” são constituídas de polietileno, um dos tipos de plástico mais comum.
Na sacola de “amido” foi identificada a presença de um constituinte polimérico quimicamente diferente das outras duas citadas, um polímero do tipo poliéster, que inclui produtos químicos presentes nas plantas.
Segundo o IPT, é importante ressaltar que as técnicas empregadas não permitem identificar a presença de possíveis aditivos nas sacolas, como os oxidegradáveis. Ainda, não é possível avaliar origem do material polimérico, se é proveniente de uma fonte renovável ou não.
Mais informações: www.ipt.br 

Projeto incentiva leitura com distribuição de livros grátis


Contos paulistanos, de Alcântara Machado, e A nova Califórnia e outros contos, de Lima Barreto, são distribuídos à população em quiosques na capital paulista
Notícias


30/05/2012
Agência FAPESP – O projeto “De mão em mão”, parceria entre a Editora Unesp, a Prefeitura de São Paulo e a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, entrou no dia 28 em sua segunda etapa com a distribuição gratuita de dois títulos: Contos paulistanos, de Antônio de Alcântara Machado, e A nova Califórnia e outros contos, de Lima Barreto.
O projeto foi lançado em dezembro de 2011 e já distribuiu à população paulistana cerca de 11 mil exemplares de Missa do Galo, de Machado de Assis.
Contos paulistanos reúne, em 149 páginas, textos das obras Brás, Bexiga e Barra Funda e Laranja da China, além de quatro contos avulsos de Machado (1901-1935), que foi chamado por Mário de Andrade de “o mais universal dos paulistanos”.
A nova Califórnia e outros contos tem 14 textos que espelham a obra de Lima Barreto (1181-1922), um dos críticos mais severos da República Velha (1889-1930).
Dono de um texto coloquial e despojado com características realistas e naturalistas que recria tradições cômicas, carnavalescas e picarescas da cultura popular, Lima Barreto influenciou os escritores da Semana de Arte Moderna de 1922.
De acordo com os organizadores, o projeto “De mão em mão” tem como objetivo incentivar o gosto pela leitura por meio da disponibilização de livros em locais com ampla circulação de pessoas. Esses pontos de distribuição são quiosques montados nos terminais de ônibus Mercado (integrado ao terminal Parque D. Pedro II, no Centro), Santo Amaro, Pirituba e A. E. Carvalho, em Itaquera, em São Paulo. A entrega dos exemplares tem o apoio da SPTrans.
O leitor poderá levar uma publicação, sem necessidade de cadastro ou registro de retirada, com o compromisso de passá-la de mão em mão. Após a leitura, as obras podem também ser entregues nas bancas, a qualquer tempo, possibilitando o compartilhamento com outros leitores. Cada pessoa pode retirar um único exemplar.
Serão distribuídos 40 mil livros, 20 mil de cada um dos novos títulos, além dos 9 mil exemplares restantes do primeiro livro da coleção. Os quiosques ficarão abertos de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h, e aos sábados das 10 às 18h.
O “De mão em mão” foi inspirado na iniciativa colombiana “Libro al viento”. A ideia é que as obras sejam lidas e passadas adiante, “de mão em mão”, ou devolvidas nos mesmos postos onde foram retiradas, para que possam chegar a outras mãos. O projeto colombiano recebeu o aval da Unesco e contribuiu para que Bogotá fosse declarada a Capital Mundial do Livro em 2007.
No “De mão em mão”, as obras foram selecionadas por um conselho editorial composto por José de Souza Martins (sociólogo e conselheiro da FAPESP), Luciana Veit (editora), Sérgio Vaz (poeta e fundador do Sarau da Cooperifa), Heloísa Jahn (editora e tradutora), Jézio Hernani Bomfim Gutierre (editor executivo na Editora Unesp), Samuel Titan Jr. (professor de teoria literária na USP) e Carlos Augusto Calil (secretário municipal de Cultura).
As obras também estão disponíveis em versão digital e podem ser baixadas gratuitamente pela internet em: www.projetodemaoemmao.com.br.

Cientistas descobrem gene causador de síndrome rara que inibe o crescimento


Estudo publicado na Nature Genetics, com participação brasileira, mostra que gene ligado a síndrome de excesso de crescimento é também responsável pelo problema que envolve restrição de crescimento (reprodução)
Especiais


30/05/2012
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Um estudo realizado por um grupo internacional de cientistas, com participação brasileira, identificou o gene causador da síndrome IMAGe, sigla em inglês para restrição de crescimento intrauterino, displasia metafisária, hipoplasia adrenal congênita e anomalias genitais.
Os portadores da síndrome IMAGe, cuja causa era até agora desconhecida, apresentam em geral baixo peso ao nascer, desenvolvimento deficiente das glândulas adrenais, alterações esqueléticas e genitais. O estudo teve seus resultados publicados na revista Nature Genetics.
Segundo os autores, a pesquisa revelou um mecanismo molecular até agora desconhecido. Embora se trate de uma síndrome genética extremamente rara, a descoberta poderá ser útil para a compreensão de doenças mais prevalentes.
De acordo com um dos autores do estudo, Bruno Ferraz-de-Souza, pesquisador na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), mutações no gene CDKN1C já haviam sido descritas como causa de uma outra síndrome bem mais frequente, caracterizada pelo hipercrescimento. No novo estudo, os cientistas descobriram que o gene também é responsável pela síndrome IMAGe, que envolve a restrição de crescimento.
“Há muitos anos se buscava a causa da síndrome IMAGe. Neste trabalho, utilizando sequenciamento paralelo – analisando amostras de DNA de uma família argentina com muitos membros afetados e amostras de outros pacientes coletadas ao longo dos últimos 20 anos –, descobrimos que a síndrome é causada por uma mutação específica no gene CDKN1C, no cromossomo 11”, disse Ferraz-de-Souza à Agência FAPESP.
Participaram do estudo cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Estados Unidos), do University College London (Reino Unido) e do Hospital de Niños Ricardo Gutierrez (Argentina).
Segundo Ferraz-de-Souza, já se sabia que o CDKN1C tinha um papel importante na regulação do crescimento celular. Mutações no gene já haviam sido associadas à síndrome de Beckwith-Wiedemann, que causa crescimento anormal de partes do corpo e dos órgãos, exacerbando o risco de surgimento de tumores.
“Agora sabemos que o mesmo gene que causa síndrome de hipercrescimento também é responsável por essa síndrome mais rara de hipocrescimento”, disse.
No entanto, as alterações que foram encontradas na síndrome de Beckwith-Wiedemann estão dispersas por todas as regiões desse gene. Já as mutações que causam a síndrome IMAGe ocorrem em uma região muito limitada, com apenas seis aminoácidos. “Uma simples troca de posição nessa região determina fenótipos completamente diferentes”, disse Ferraz-de-Souza.
Um fator genético tornou a descoberta mais complexa: a expressão do gene CDKN1C é controlada por imprinting, assim, a doença só se manifesta quando é herdada da mãe. A pessoa que tem a mutação herdada do pai não apresenta a doença, embora possa passar a mutação para os filhos.

“O mecanismo pelo qual essa mutação ocorre nos seis aminoácidos que causam a doença ainda permanece desconhecido. Mas é possível que o mecanismo seja válido para estudar, por exemplo, a tumorigênese e outros mecanismos de problemas genéticos que levam ao câncer. As descobertas sobre mecanismos de doenças raras podem ser relevantes quando transportadas para doenças mais prevalentes”, disse Ferraz-de-Souza.
A primeira parte do estudo foi realizada a partir da análise do DNA de uma família da Argentina que tinha pelo menos quatro gerações de indivíduos afetados e não afetados pela síndrome. A partir das amostras dessa família, os cientistas da equipe norte-americana fizeram arrays SNP para delimitar a região cromossômica onde provavelmente estaria o gene promotor da doença e passaram a aplicar técnicas de sequenciamento paralelo.
“Depois de estudar a família argentina, suspeitaram que a causa estava em mutações do gene CDKN1C. Nesses casos, é de praxe procurar outros indivíduos com o mesmo fenótipo, a fim de confirmar que se trata do gene certo”, disse Ferraz-de-Souza.
Na época do estudo, o cientista, que cursava doutorado no University College London, tentava encontrar os genes que causavam uma doença adrenal.
“Na Inglaterra, tínhamos algumas amostras de DNA de pacientes com o fenótipo que o grupo norte-americano estava buscando. Eles entraram em contato conosco e confirmamos que a mutação ocorria sempre nos mesmos seis aminoácidos”, explicou.
Como o aborto é legalizado no Reino Unido, os pesquisadores da equipe britânica tinham acesso a material fetal. “Com isso, foi possível demonstrar, por histoquímica e por PCR quantitativa, que o gene de fato era expresso na glândula adrenal normal durante o desenvolvimento. É possível que o gene CDKN1C seja muito importante para o crescimento normal da adrenal”, disse.


Outras doenças
Na parte final da pesquisa, os cientistas fizeram estudos funcionais a fim de mostrar que a alteração no gene de fato causa modificações no fenótipo.
“Fizemos experimentos com moscas drosófilas. A introdução de mutações nesse gene levou as moscas a apresentarem uma redução drástica no tamanho dos olhos e das asas. Foi confirmado que as alterações naquela exata posição do gene levavam a deficiências de crescimento”, disse Ferraz-de-Souza.
Segundo ele, ainda resta saber por que alterações em um trecho tão pequeno do DNA levam a mutações tão graves. “Esse é um campo bem interessante de pesquisa, pois poderá levar a compreender mecanismos semelhantes que podem estar envolvidos em outras doenças de hipocrescimento”, disse.
De volta ao Brasil, Ferraz-de-Souza realiza estudos sobre defeitos no receptor de vitamina D e doenças esqueléticas, com apoio da FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
“Embora seja uma linha de pesquisa diferente, é possível que possamos colaborar na continuidade da pesquisa sobre a síndrome IMAGe, já que as alterações esqueléticas fazem parte de suas manifestações”, disse.
O artigo Mutations in the PCNA-binding domain of CDKN1C cause IMAGe syndrome(doi:10.1038/ng.2275), de Eric Villain e outros, pode ser lido por assinantes da Nature Geneticsem www.nature.com/ng/journal/vaop/ncurrent/full/ng.2275.html 

Diretor de Harvard apresenta biblioteca digital gratuita


29/05/2012 - 21h24
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DE SÃO PAULO

O historiador americano Robert Darnton, 73, professor de Harvard e diretor da biblioteca da universidade, visitou nesta terça-feira a Folha, onde participou de seminário para jornalistas da Redação.
No encontro, Darnton --que veio ao Brasil para palestra no Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural-- falou sobre o projeto de criação de uma biblioteca digital americana, com acesso mundial e gratuito, que deve entrar no ar em abril de 2013.
"É uma oportunidade inédita de compartilhar nossa riqueza de conhecimento."
Filho de jornalistas e graduado em Oxford, na Inglaterra, Darnton é especialista em Iluminismo e na história do livro e da imprensa.
Entre seus trabalhos mais conhecidos estão "O Iluminismo como Negócio" (1987) e "Os Best-Sellers Proibidos da França Pré-Revolucionária" (1996), lançados no país pela Companhia das Letras.
Jorge Araujo/Folhapress
Historiador e professor de Harvard, Robert Darnton, em visita à Folha de S.Paulo
Historiador e professor de Harvard, Robert Darnton, em visita à Folha de S.Paulo
JORNALISMO IMPRESSO
Venho de uma família de jornalistas. Meu pai, minha mãe, eu e meu irmão trabalhamos no "New York Times". Meu pai morreu no Pacífico cobrindo a Segunda Guerra. Eu não o conheci, tinha três anos.
Comecei minha carreira cobrindo crimes. Na época se dizia: "Se você consegue cobrir assuntos policiais, pode cobrir [os da] Casa Branca".
A grande questão na vida de um repórter é como narrar uma história em 500 palavras. Ele acaba transmitindo sua experiência. Não vejo notícias como realidade, mas como histórias sobre a realidade.
INTERNET
Nos EUA a mudança é profunda. Quase toda semana um jornal morre. A maior parte da receita publicitária do "The New York Times", por exemplo, vinha dos classificados. Quase todos esses anúncios migraram para o online. Mas acho que os grandes sobreviverão. A questão é descobrir um modelo para financiar a atividade jornalística na rede.
O trabalho do repórter também mudou. Mas continuo achando que o contato pessoal de um repórter com sua fonte ou acontecimento faz uma diferença enorme. Não adianta reproduzir o que está no Twitter ou nos blogs.
BIBLIOTECA DIGITAL
Quando o Google decidiu que queria digitalizar livros, procurou Harvard primeiro, pois é a maior biblioteca universitária do mundo. O Google fez lobby com outras universidades. E eles queriam ir adiante, digitalizando qualquer livro, não só os de domínio público.
Criaram uma base de dados gigante, a maioria de livros cobertos por direitos autorais. Não era um mecanismo de pesquisa, mas sim uma biblioteca com milhões de livros. A ideia era vender acesso às obras, a um preço que eles próprios estipulariam.
No final, o acordo foi vetado pela Justiça, que o viu como uma tentativa de monopólio.
Nesse meio tempo, convidei os dirigentes das bibliotecas para criarmos uma biblioteca digital com milhões de livros, como o Google, mas gratuita.
Acabamos conseguindo financiamento de fundações privadas americanas -muitas vezes elas funcionam melhor do que o governo. Em abril entra no ar uma enorme biblioteca digital que qualquer um no mundo poderá acessar sem gastar um tostão. Criar essa plataforma para partilhar conhecimento, sem empresas, está sendo a maior oportunidade da minha vida.
Os direitos autorais são um tema sensível. Teoricamente só poderemos disponibilizar obras anteriores a 1923, pois estas estão em domínio público. São 2 milhões, o que não é pouco. As demais precisam ser negociadas com os detentores dos direitos, e estamos estudando alternativas.
AMÉRICA LATINA
Hoje os olhos dos americanos estão voltados para América do Sul e Ásia. A nova geração está aprendendo espanhol e mandarim. Não acho que a cultura europeia tenha se exaurido, mas os ventos são de mudança, e a vitalidade desses dois continentes tende a ganhar mais influência.
FUTURO DO LIVRO
As pessoas dizem que os livros e as bibliotecas estão obsoletos. É loucura: temos mais pessoas hoje nas nossas bibliotecas do que nunca. Se o aluno tem que escrever um trabalho e fazer uma pesquisa, claro que ele usa o Google e a Wikipedia. Mas não basta. Ele procura um bibliotecário. Os bibliotecários desenvolveram uma nova função, que é guiar pelo ciberespaço.
As estatísticas contrariam aqueles que dizem que o livro impresso está acabando. Na China, a produção dobrou em dez anos. Em 2009 o planeta atingiu uma marca histórica de 1 milhão de novos títulos impressos no ano. Acho que os livros impressos e on-line não estão em guerra, são suplementares.

terça-feira, 29 de maio de 2012

Hidrogênio faz metal virar isolante


Redação do Site Inovação Tecnológica - 23/05/2012

Hidrogênio faz metal virar isolante
Eletrodos de ouro são usados para monitorar com precisão a estranha alteração de fase do óxido de vanádio, que é tanto estrutural quanto eletrônica.[Imagem: Jiang Wei/Rice University]
Transição metal-isolante
O óxido de vanádio é um material estranho: como metal, ele é um condutor térmico e elétrico.
Mas aqueça-o a meros 67 ºC e, em um trilionésimo de segundo, ele passa a ser um isolante.
Isso tem inúmeras aplicações práticas, como janelas sensíveis à temperatura, que absorvem a energia no Sol nos dias frios, e a refletem nos dias de calor.
Ou vidros inteligentes que simplesmente deixam passar a luz e bloqueiam o calor.
Alguns pesquisadores estão também usando o óxido de vanádio para desenvolver chaves ópticas para incorporação em circuitos eletrônicos, no campo da chamadaoptoeletrônica.
Agora, esse "material bipolar" poderá encontrar ainda mais utilidades, uma vez que cientistas descobriram uma forma não apenas de baixar a temperatura dessa transição metal-isolante, mas também de torná-la totalmente reversível.
Dopagem reversível
A técnica de "dopagem reversível" é feita com a mera adição do gás hidrogênio.
"Se adicionamos pouco hidrogênio, a transição de fase acontece a uma temperatura ligeiramente mais baixa, e a fase isolante se torna mais condutora. Se o hidrogênio for acrescentado em quantidade suficiente, a transição para a fase isolante desaparece completamente," explica Douglas Natelson, da Universidade Rice, nos Estados Unidos.
"No lado prático, há várias aplicações para isso, como sensores ultrassensíveis de hidrogênio", diz o pesquisador. "Mas a compensação mais imediata será nos ajudar a entender melhor a física envolvida na transição de fase do VO2."
De fato, os modelos atuais não conseguem explicar o que acontece na rede atômica desse dióxido.
Transição de fase do dióxido de vanádio
Quando o oxigênio reage com o vanádio para formar o VO2, os átomos formam cristais que se parecem com longos caixotes retangulares. Os átomos de vanádio alinham-se ao longo das quatro bordas do caixote, em linhas regularmente espaçadas.
Um único cristal de VO2 pode ter várias dessas caixas alinhadas lado a lado. Nessa estrutura, esses cristais conduzem eletricidade como se fossem fios.
Mas tudo muda aos 67 ºC.
"Estruturalmente, os átomos de vanádio emparelham-se, e cada par fica ligeiramente inclinado, de forma que você não tem mais essas longas cadeias. Quando a fase muda, com a ocorrência desses emparelhamentos, o material passa de um condutor elétrico para um isolante elétrico," explica Natelson.
Ou seja, ocorre uma transição de fase que é tanto estrutural, quanto eletrônica.
Quando entenderem totalmente esse processo, os pesquisadores poderão ajustá-lo ou controlá-lo de forma mais precisa, levando o óxido de vanádio para aplicações mais nobres.
Isso agora poderá ser feito com muito mais rapidez e precisão com a possibilidade de reverter a transição de fase à vontade, com a simples adição de hidrogênio.
Bibliografia:

Hydrogen stabilization of metallic vanadium dioxide in single-crystal nanobeams
Jiang Wei, Heng Ji, Wenhua Guo, Andriy H. Nevidomskyy, Douglas Natelson
Nature Nanotechnology
Vol.: Published online
DOI: 10.1038/nnano.2012.70

Segredos da primeira folha artificial prática


Redação do Site Inovação Tecnológica - 23/05/2012

Segredos da primeira folha artificial prática
Ela não é verde, mas é a primeira folha artificial a imitar a fotossíntese de forma simples e barata, embora ainda tenha uma eficiência baixa. [Imagem: Daniel Nocera/ACS]
Fotossíntese artificial
Há cerca de um ano, a equipe do professor Daniel Nocera, do MIT, anunciou os primeiros resultados daquilo que ele chamou de uma folha artificial prática.
Agora, depois de o trabalho ter sido revisado por outros cientistas, finalmente foi publicada a descrição detalhada do dispositivo.
A ideia das folhas artificiais é imitar o processo da fotossíntese, gerando energia, ou combustível, diretamente a partir da luz do Sol - uma ideia que foi defendida pela primeira vez em 1912, pelo químico italiano Giacomo Ciamician.
Atingindo-se um rendimento mínimo, isto representaria uma revolução na matriz energética mundial.
Existem várias pesquisas na área, com várias abordagens diferentes, mas todas em um estágio ainda bastante inicial de desenvolvimento.
Quebra da água em hidrogênio e oxigênio
A grande vantagem do dispositivo agora divulgado é que, ao contrário dos anteriores, ele se baseia em técnicas de baixo custo para a sua fabricação e dispensou a platina, um dos elementos mais caros usados nas folhas artificiais.
No processo de imitar a fotossíntese, o passo mais importante é a etapa que divide a água em hidrogênio e oxigênio.
A folha artificial possui um coletor solar ensanduichado entre duas películas, que geram a reação necessário para liberar o oxigênio e o hidrogênio.
Quando mergulhado em um frasco com água, à luz do sol, o dispositivo começa a borbulhar, liberando os dois gases: o hidrogênio pode então ser usado em células a combustível para gerar eletricidade.
Um gerador assim integrado, consistindo em uma peça única, é um conceito atraente porque pode ser facilmente deslocado para gerar energia em lugares remotos, eventualmente entrando no mercado em nichos como recarregadores de baterias ou em substituição aos painéis solares.
Segredos da primeira folha artificial prática
O silício da célula solar precisa ser protegido da água, e isto é feito, entre outras complicações, usando ITO, o óxido de índio dopado com estanho, o mesmo condutor transparente usado nas telas sensíveis ao toque. [Imagem: Daniel Nocera/ACS]
Dispensando a platina
Até agora, porém, todos os protótipos acenam com custos proibitivos, porque dependem de catalisadores de metais nobres, como a platina, e processos de fabricação ainda não desenvolvidos para escala industrial.
A equipe do professor Nocera encontrou uma forma de substituir a platina por um composto de níquel, molibdênio e zinco (NiMoZn), que é bem mais barato.
No outro lado da folha, para gerar o oxigênio, é usada uma película de cobalto.
Na folha artificial, a membrana fotossintética é substituída por uma junção de silício, uma célula solar, que captura a luz e gera a corrente elétrica na forma de pares elétrons-lacunas.
Na fotossíntese artificial, a enzima básica do complexo de quebra da molécula da água é substituída pelos catalisadores de cobalto e NiMoZn.
Prática, mas ainda não viável
Mas ainda há desafios a vencer antes que a "folha artificial prática" do professor Nocera seja viável.
O silício da célula solar precisa ser protegido da água, e isto é feito, entre outras complicações, usando ITO, o óxido de índio dopado com estanho, o mesmo condutor transparente usado nas telas sensíveis ao toque.
O segundo degrau a ser vencido é o rendimento: do protótipo tem uma eficiência de 6,2%, o que é muito menos do que as células solares oferecem.
Assim, por enquanto, seria mais prático usar as células solares para produzir eletricidade - a um rendimento médio de 20% - e usar essa eletricidade para fazer a eletrólise da água, liberando igualmente o oxigênio e o hidrogênio.
Mas nenhuma tecnologia nasceu pronta e super eficiente, o que justifica a crença de alguns cientistas de que o futuro energético do planeta está nas folhas artificiais.
Bibliografia:

The Artificial Leaf
Daniel G. Nocera
Accounts of Chemical Research
Vol.: 45 (5), pp 767-776
DOI: 10.1021/ar2003013