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quarta-feira, 30 de maio de 2012

'Vaquinha virtual' ajuda a financiar pesquisas na web




 
Cientistas da USP conseguiram financiamento colaborativo para projeto.

Em tempos de verbas de pesquisa cada vez mais magras, cientistas estão apelando para uma espécie de "vaquinha" virtual - o "crowd-funding", em que usuários contribuem com pequenas parcelas para financiar um projeto - para dar continuidade a seus experimentos.

O movimento ganhou força há cerca de dois meses, com o lançamento do Petridish (www.petridish.org), uma plataforma específica para financiar ciência. Com ar descolado e fácil de usar, o site já atraiu dezenas de pesquisadores. O Petridish - ou placa de Petri, instrumento comum nos laboratórios - é voltado só para ciência, mas há outros para tecnologia e inovação, além dos mais gerais.

Depois do cadastro, cria-se uma página com a descrição do projeto, a metodologia de pesquisa, os objetivos e, claro, o valor pretendido. Os pedidos de financiamento são ecléticos, assim como a experiência acadêmica dos cientistas.

Tem gente pedindo dinheiro para descobrir por que as zebras têm listras, querendo encontrar uma lua fora do Sistema Solar e até tentando aprender a linguagem dos bonobos, promíscuos primatas primos dos chimpanzés. Cada projeto costuma ter as chamadas recompensas: brindes em troca da doação. Quanto maior o valor, melhor a recompensa.

As estratégias para convencer o internauta são muitas: vídeos, brindes e até menções nas publicações. Dependendo da doação, dá até para batizar uma espécie. Em alguns sites o projeto passa por uma curadoria, que verifica as referências dos cientistas. Porém, como isso não é regra, vale conferir as referências e publicações dos pesquisadores antes de doar.

As campanhas em geral têm 45 dias. Se o total for alcançado, as doações são cobradas no último dia, e o valor é creditado na conta dos responsáveis. Há uma taxa de comissão sobre esse valor. Se a campanha não der certo, o dinheiro não é cobrado dos participantes. E os organizadores, muitas vezes, precisam pagar uma taxa de uso ao site escolhido.

Exemplo - O financiamento colaborativo de projetos de ciência ainda engatinha no Brasil, mas um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) já está tirando proveito da ferramenta.

Sem dinheiro para ir a uma das maiores competições de biologia sintética do mundo, a iGEM (Competição Internacional de Máquinas Geneticamente Modificadas, em inglês), que acontece nos EUA, a equipe decidiu apelar para o "crowd-funding".

Em pouco mais de um mês, eles conseguiram quase US$ 3.000 para custear a inscrição da equipe no evento. E a maior parte das doações veio de pessoas sem nenhum contato com o grupo. "O 'crowd-funding' é meio que uma nova versão da rifa para arrecadar dinheiro", brinca Carlos Hotta, professor do Instituto de Química e líder da equipe brasileira na competição. Foi dele a ideia de usar a ferramenta para financiar o projeto.

"A maior inspiração foi o desespero. Nosso plano A, que era conseguir dinheiro com empresas, não deu certo. Tivemos de buscar alternativas", explica Hotta. Segundo ele, o "crowd-funding" foi também uma boa opção para lidar com um problema burocrático. Apesar de seu caráter de pesquisa e desenvolvimento científico, a iGEM é uma competição, uma modalidade que, ao contrário de congressos e simpósios, não está descrita nos editais de pesquisa e outras regras das universidades.

O grupo usou o site RocketHub, o qual, embora não seja exclusivo para ciência, tem vários projetos da área. "Nas primeiras duas semanas, as doações eram só de conhecidos. Foi quando nós fizemos o vídeo que as contribuições dispararam", explica Otto Heringer, estudante de química, membro da equipe e autor do roteiro engraçadinho do filme (http://youtu.be/t2eJOhvC4gg), que se espalhou pela USP.

E ter um bom vídeo de apresentação é considerado um dos trunfos de quem busca financiamento. Os próprios sites recomendam caprichar nesse quesito.

Novo desafio - Mas, apesar do sucesso da iniciativa, o desafio da equipe - que é um projeto multidisciplinar que reúne professores e alunos de graduação e pós em várias áreas - ainda não acabou.

Agora, eles precisam de dinheiro para pagar as passagens e a estadia das pessoas na competição, que será dividida em duas etapas: uma regional classificatória na Colômbia e outra geral nos EUA. A equipe quer apresentar projetos como uma espécie de tela touchscreen feita com bactérias e uma rede de comunicação também com bactéria.
(Folha de São Paulo)

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