Translate

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Capacitação: problema sem fronteiras

Conhecem algum lugar, onde a demanda por profissionais de TI é maior do que a oferta? Onde o sistema educacional não consegue suprir as necessidades do mercado? Onde a falta de competências em informática pode comprometer o desenvolvimento e a inovação? Bem, estou me referindo à Europa.

Antes da minha expatriação, estava envolvido numa série de atividades para promover a informática brasileira. Meu foco era a transformação das áreas de TI das filiais de empresas multinacionais em centros de competência mundiais. Na Europa, continuei contribuindo com esse movimento e encontrei outros desafios.

A Comunidade Europeia (CE) percebeu que o déficit de capacitação em TI dos profissionais e dos cidadãos comuns ameaça à sua competitividade. Bruxelas lançou grupos de trabalho e colocou a mão no bolso para atacar o problema. Representando a nossa categoria profissional, estavam os mais renomados fornecedores de tecnologia, o que não é suficiente.

Mais da metade da força de trabalho de informática não trabalha nas empresas de TI, mas nos seus clientes, assim como eu. A CE se deu conta e convidou a EuroCIO, uma espécie de federação das associações nacionais de dirigentes de informática, para integrar os trabalhos. As empresas ligadas, direta ou indiretamente, a essa entidade compram mais de 100 bilhões de euros em produtos e serviços de TI.

Pois é aí que eu entro nessa história. Associado da EuroCIO, faço parte de um grupo de trabalho sobre educação em informática, que se integrou à iniciativa da CE. A minha maior surpresa foi me deparar com desafios semelhantes àqueles que enfrentara no Brasil.

Há quase 10 anos, num dos artigos para Computerworld, destaquei as dificuldades das empresas americanas na atração de profissionais de TI. A Europa vive problema semelhante, mesmo com tantos milhões de desempregados. A promoção da carreira de TI torna-se uma ação essencial. Precisamos de um verdadeiro plano de marketing. O universo das profissões ligadas à informática e as possibilidades de desenvolvimento de carreira, seja numa empresa de TI ou em qualquer outro ramo de atividade, ainda são pouco conhecidos.

A TI é muito dinâmica. Produtos e conceitos são renovados de forma muito rápida. O mundo acadêmico tem dificuldades para acompanhar essa evolução. A solução envolve o tripé governo, empresas e sistema educacional. O INSEAD desenvolveu para a CE um vasto programa descrevendo como as três entidades devem colaborar para garantir a formação de uma força de trabalho qualificada, capaz de se reciclar e alavancar a inovação no continente.

Dentro desse espírito, a associação de CIO está validando os currículos de renomadas instituições, para assegurar que os formandos tenham as capacitações requisitadas pelo mercado. Alguns dos programas muito solicitados como, por exemplo, arquiteto de negócios ou gestor de demanda, poderão receber o selo de aprovação da EuroCIO. O conceito aplica-se a programas de MBA e afins.

A Europa está trabalhando desde a inclusão digital até a formação de futuros CIOs. Sem dúvidas, um programa ambicioso, cujo sucesso também dependerá do contexto sócio-econômico. Os EUA enfrentam os mesmos problemas, porém conseguem manter uma saudável máquina de inovação graças à economia mais liberal, a cultura empreendedora e a atração de profissionais qualificados, sobretudo da Ásia. O Brasil deve se espelhar em todas essas iniciativas, não só para organizar o seu próprio mercado, mas também para aproveitar a imensa oportunidade. Depois do sucesso indiano, outros países organizam-se para suprir as necessidades da Europa e EUA.

Fernando Birman é Diretor de Estratégia e Arquitetura de TI do Grupo Rhodia e trabalha em Lyon (França).

Fonte:http://computerworld.uol.com.br/blog/gestao/2010/07/01/capacitacao-em-ti-um-problema-alem-das-fronteiras/

Nenhum comentário:

Postar um comentário