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quarta-feira, 16 de março de 2011

Brasil planeja mais quatro usinas (nucleares)



Governo reafirma segurança de programa nuclear, que não será suspenso.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que não há qualquer motivo para o governo rever seu programa nuclear. Segundo ele, as falhas registradas em usinas no Japão não têm chance de ocorrer no Brasil. Isso porque as usinas de Angra dos Reis foram feitas com "a melhor tecnologia existente", inclusive com estudos sobre o comportamento das marés na região por um período de mil anos e a construção de anteparos.

Políticos, cientistas e ambientalistas pediram, no entanto, a ampliação do debate.

- Não temos nenhuma necessidade de revisão em nada a não ser aprender com o que ocorreu no Japão - afirmou Lobão. - As dificuldades que as usinas de lá tiveram as nossas não terão. As nossas têm uma proteção maior. Nós não temos razão nenhuma para preocupação maior. Vamos prosseguir com o nosso programa.

Eletronuclear analisa onde serão construídas usinas
O governo planeja construir, no mínimo, mais quatro usinas nucleares até 2030, num total de 4 mil megawatts (MW), além de Angra 3 cujas obras estão em andamento, depois de terem ficado paradas por 24 anos. O país tem em operação as usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2 com um total de 2 mil MW de potência.

- Não acho que esse problema no Japão venha a interromper o programa nuclear no Brasil. O País não tem outra saída para atendimento da demanda futura por energia, do que as nucleares - destacou o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão regulador e fiscalizador do setor nuclear, Odair Dias Gonçalves.

A Eletronuclear, responsável pela construção e operação de centrais nucleares, está concluindo o estudo sobre possíveis locais onde poderão ser construídas as quatro novas usinas, duas no Nordeste e duas no Sudeste.

O assistente da presidência da Eletronuclear Leonan dos Santos Guimarães destacou também que o acidente no Japão não muda em nada os planos traçados pelo governo:

- Não vejo sentido em rever o programa. O País continua precisando de energia complementar à hidrelétrica.

Especialistas e governo ressaltam, no entanto, que haverá uma reavaliação das normas de segurança nas centrais nucleares em todo o mundo. O presidente da Cnen garantiu que o local onde ficam os geradores a diesel, fundamentais para refrigerar o reator em caso de faltar energia no sistema, está em prédios bem protegidos. Essas instalações estão distantes das encostas em Angra dos Reis, em caso de alguma forte tempestade afetar a região.

Além disso, os tanques de óleo diesel estão no subsolo, como proteção contra vendavais.

- As nossas usinas do tipo PWR têm mais sistemas de segurança que protegem o reator onde está o combustível do que as do tipo BWR (do Japão) - disse Gonçalves.

Mas ambientalistas, políticos e especialistas acreditam que a segurança no País pode melhorar. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse que os acontecimentos ocorridos no Japão deveriam servir de motivação para que o governo faça uma análise do atual sistema de segurança da energia nuclear.

O professor José Goldberg, da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que o Brasil pode investir mais em energias renováveis:

- Não é preciso construir reatores nucleares no Nordeste. Pode-se investir mais em hidrelétricas, biomassa e energia eólica. O que aprendemos é que o sistema nuclear é vulnerável.

Ivan Marcelo Neves, secretário-executivo do Instituto Socioambiental da Baía da Ilha Grande (ISABI), diz que há carência em relação à remoção, abrigo e à logística para retirar as pessoas, em caso de acidente:

- As pessoas não sabem quais são os primeiros socorros - diz Neves.

Carlos Minc, Secretário do Ambiente do Rio de Janeiro, lembra que Angra I já registrou
16 acidentes leves e médios. Minc destaca ainda que foi preciso entrar com uma ação para que a usina do Rio tivesse um plano de contingência:

- Não existe risco zero. O Brasil não tem cultura de prevenção. É um bom momento
para que as usinas de Angra 1 e Angra 2 tenham um monitoramento externo.

O vice-coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Reatores Nucleares Avançados, Paulo Augusto Berquó de Sampaio, lembra que a indústria sempre aprende a cada evento. Reatores de terceira geração, que se resfriam sozinhos, foram desenvolvidos depois do acidente de Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979, um dos piores da História, a partir do estudo do que ocorreu na usina.

- Esse é um exemplo de como um acidente, ao ser estudado, contribui para a incorporação de novas tecnologias de segurança - explicou Sampaio.

Ele, que também é do programa de pós-graduação em energia nuclear do Instituto de Engenharia Nuclear da CNEN, ressaltou:

- O que não pode acontecer são atitudes pouco equilibradas, de medo - afirmou. - A energia nuclear tem contribuído muito, inclusive para reduzir emissões de gases do efeito estufa e vejo, apressadamente, surgirem argumentações injustas. Já imaginou o que aconteceria com Itaipu diante de um terremoto de 9 graus? Seria uma catástrofe.
(O Globo)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=76734

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