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domingo, 27 de março de 2011

Investimento em educação mais bem distribuído



Editorial do jornal Valor Econômico de hoje (25) sobre os benefícios para a educação em dois acordos assinados entre Brasil e Estados Unidos.

A educação superior foi beneficiada em dois dos dez acordos assinados no último fim de semana entre o governo brasileiro e o americano, na visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao País.

Um dos acordos fechados com o governo americano prevê o intercâmbio de 100 mil estudantes, cientistas e acadêmicos de instituições de ensino superior brasileiras e americanas nos próximos anos e foi selado entre a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a National Science Foundation. O outro estabelece parceria entre Capes e Comissão Fulbright para incentivar programas de pós-graduação e produção acadêmica de docentes e pesquisadores dos dois países.

Espera-se que os acordos estimulem o intercâmbio educacional entre os dois países. A Capes já possui 11 parcerias com a Comissão Fulbright e 14 programas de intercâmbio educacional e científico com os Estados Unidos. A Capes contabiliza, de 1998 a 2010, a formação de 6 mil bolsistas em universidades dos Estados Unidos em todas as áreas, mas com maior ênfase em engenharia, ciências sociais aplicadas, ciências agrárias e saúde.

Os estudantes brasileiros certamente têm muito a ganhar com esses acordos. Uma semana antes havia sido divulgada uma pesquisa revelando a estarrecedora ausência de qualquer universidade brasileira entre as 200 melhores do mundo. Entre as dez melhores, sete são americanas. O ranking, elaborado a partir de pesquisa com 13.388 acadêmicos de 131 países, realizada em 2010 pela Ipsos Media para a revista "Times Higher Education". Os entrevistados destacaram os pontos fortes das universidades em termos de desempenho escolar, produtividade científica e reputação acadêmica.
A Universidade de São Paulo (USP), motivo de orgulho no Brasil, só aparece, porém, na 232ª colocação. É também a universidade mais bem posicionada da América Latina.

Universidades de outros países do grupo dos Bric, que inclui além do Brasil, Rússia, Índia e China, estão mais bem classificadas. A Rússia tem uma universidade em 33º lugar (Lomonosov); a China ocupa os 35º, 42 º e 43 º lugares (Tsinghua, Hong Kong e Pequim); e a Índia está na 91ª posição (Instituto da Ciência).

O ensino superior cresceu bastante no Brasil nos últimos anos para atender o aumento da procura, resultado da melhoria da distribuição de renda do país. Mas a qualidade não avançou proporcionalmente. Isso não impede, porém, que a produção científica brasileira seja prolífica e de boa qualidade, provavelmente estimulada pela formação dos pesquisadores no exterior.

A realidade não é muito diferente no ensino básico, conforme indica o Programme for International Student Assessment (Pisa), o programa de avaliação internacional de estudantes, realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 65 países. O Pisa examina o desempenho na leitura, matemática e ciência de 4,5 mil a 10 mil estudantes de 15 anos.

Na avaliação de 2009, cujos resultados preliminares foram divulgados em dezembro, o Brasil está na lanterninha. Aparece na 53ª posição em leitura e ciência e em 57ª em matemática, entre os 65 países avaliados, à frente da Argentina e da Colômbia, na América Latina, mas atrás do México (49º lugar), do Uruguai (47º) e do Chile (45º). Em uma visão de mais longo prazo, o Brasil foi o terceiro país que mais avançou no ranking desde 2000, depois do Chile e Luxemburgo. Entre as três provas, os estudantes brasileiros obtiveram a média de 401 pontos, bem distante dos 496 pontos da média dos países da OCDE, que o país pretende atingir em 2020. China, Finlândia, Cingapura e Japão estão acima dos 500 pontos.

O avanço da última década, portanto, ainda é insuficiente, assim como deixa a desejar a qualidade das universidades brasileiras. Ironicamente, falta de dinheiro não é o problema. De acordo com estudo dos economistas Fernando de Holanda Barbosa Filho e Samuel Pessôa, o Brasil gasta anualmente 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB) per capita em educação, não muito menos do que os 5,7% da média dos países da OCDE e acima do Japão (4,9%).

O gasto com ensino superior no Brasil é de 102% do PIB per capita, maior que os 40% do PIB na média dos países da OCDE. Já no ensino médio, o Brasil gasta 13% e os países da OCDE, em média, 40%. Ou seja, o problema não é disponibilidade de dinheiro, mas distribuição do gasto.
(Valor Econômico)

Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=76898

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