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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Pós-graduados ganham 107% a mais




 
Dados do Censo 2010 registram a discrepância salarial entre profissionais com mestrado e doutorado e os demais.

O salário médio dos profissionais com mestrado e doutorado no Brasil está 107% acima do recebido por quem terminou apenas o curso de graduação. No caso dos doutores, o ganho é 152% superior. No dos mestres, 89%. Os dados - obtidos com base no Censo 2010 do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), divulgado no fim de abril - mostram que é grande a discrepância salarial entre graduados e pós-graduados.

A maior distância está entre dirigentes de serviços de educação (remuneração 130% acima da média para mestrado e doutorado), seguido por tradutores, intérpretes e linguistas (114%), analistas financeiros (107%) e dirigentes de recursos humanos (106%). O abismo é menor entre os gerentes de hotéis (3%), engenheiros eletricistas (4%), geólogos e geofísicos (10%), agentes de seguros (10%) e dirigentes de pesquisa e desenvolvimento (13%).

"Não é uma surpresa. Afinal, quem chega até o doutorado realiza mais quatro ou seis anos de estudo, e tem, de fato, habilitações superiores e capacidade de atuar em um campo mais abrangente, com mais responsabilidade e visão estratégica", ressalta Marcelo Paixão, professor do Instituto de Economia da UFRJ.

O que chama a atenção, porém, na opinião do professor, é o tamanho da disparidade. "O ideal seria garantir remuneração adequada para todos. Claro que respeitando a hierarquia para quem tem mestrado ou doutorado, mas com leques salariais menos abertos", opina Paixão.

Entre os profissionais de educação, o abismo na remuneração de quem tem diploma de mestrado ou doutorado e só de graduação atinge um dos níveis mais altos: 93% no caso dos professores de universidades e do ensino superior, 104% para os professores do ensino fundamental e 72% para professores do ensino médio. Sendo que a proporção de mestres e doutores dentro de cada categoria varia de forma significativa: 54%, 2% e 7%, respectivamente.

Para Ana Heloisa Lemos, coordenadora do MBA "Gestão e recursos humanos" da PUC-Rio, não é difícil entender o porquê de haver tão poucos professores dos níveis de ensino fundamental e médio com títulos de pós-graduação. "Isso está associado à péssima remuneração para quem leciona no ensino de base. Quando um profissional conquista uma qualificação de mestre ou doutor, é natural que ele migre para o ensino superior, onde vai encontrar melhores condições de trabalho".

Ainda segundo Ana Heloisa, o fato de 54% do corpo docente de nível superior ser mestre ou doutor é um reflexo das exigências do mercado: prestar concurso para ingressar no quadro fixo de uma universidade pública, por exemplo, exige diploma de PhD. "E é importante que seja assim, porque pressupõe uma qualificação do professor. Não é apenas pelo diploma".

Isso ajuda também a compreender o círculo vicioso que aprisiona a educação de base no Brasil: salários baixos, educadores pouco qualificados e ensino de má qualidade. "Se os professores de ensino fundamental e os de ensino médio fossem melhor remunerados no Brasil, talvez não houvesse essa 'fuga de talentos'", pondera a coordenadora da PUC-Rio.

Heloisa lembra ainda que no setor público a valorização de profissionais pós-graduados é explícita, com adicionais de salário para quem obtém grau de mestre ou doutor. "Na esfera privada, isso não ocorre de maneira tão direta. Mas, no meio empresarial, ser mestre também é um diferencial, que confere mais status e acesso a cargos gerenciais", diz a coordenadora.

Henrique Heidtmann Neto, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da FGV (Ebape), destaca que a competitividade no cenário corporativo atual leva as organizações, sejam públicas, privadas ou do terceiro setor, a melhorar seus sistemas organizacionais para se adaptar ao modelo de economia que exige um profissional que saiba pensar sistemas complexos.

"Com isso, as instituições vêm procurando profissionais com habilidades técnicas e a competência de pensar, não apenas de fazer. Os programas de mestrado, sejam acadêmicos ou profissionais, e doutorado aprofundam e desenvolvem esse tipo de competência", afirma Heidtmann.

Para o professor da FGV, profissionais que passaram por esta experiência de pós-graduação estão em contato com pesquisas recentes desenvolvidas em suas áreas e aprendem com a teoria, o que faz com que sejam mais valorizados. "O esforço de passar de dois a quatro anos pesquisando e em contato com a academia agrega valor ao profissional, tornado seu 'passe' mais caro".

Outros países - Os dados também chamam a atenção para a pequena população no Brasil que tem um diploma de pós-graduação no currículo - 784.746 - contra 12.679.009 com nível superior concluído. O que também é insuficiente, segundo Marcelo Paixão, do IE/UFRJ.

"Em um país com 200 milhões de habitantes, ter apenas 16% de população universitária é pouco. Países como Coreia, China e Índia têm programas muito mais agressivos para colocar as pessoas na pós-graduação", destaca Paixão, que vê no programa "Ciência sem Fronteiras", do governo federal, uma tentativa de melhorar a situação. "Porém, é algo muito concentrado nas áreas de tecnologia e biomédica, o que acaba sendo uma visão pobre. As ciências humanas também têm importância para o desenvolvimento de um país".
(O Globo)

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