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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Opinião: O software livre explicado em miúdos



Quando se ouve falar pela primeira vez sobre software livre há duas questões que surgem: O que é o Software Livre? Já ouvi falar em OpenSource/Código Aberto/freeware/shareware, software grátis, etc. É a mesma coisa? A resposta a estas, e outras perguntas, já de seguida. Mas comecemos pela segunda pergunta.


Software Grátis ou Freeware

Software grátis é, tal como o adjectivo indica, software que se obteve sem pagar nada. Quem não comprou já alguma revista nas bancas, quem sabe a própria Exame Informática, e descobriu que vinha com um CD ou um DVD carregado de software? Contudo este software não deixa de estar sujeito a licenças de direito de autor, e algumas delas restringem de forma bastante severa alguns dos nossos direitos de participação na sociedade digital. Estas licenças podem proibir utilização comercial, impedindo tal software de ser utilizado por empresas. Podem também proibir a distribuição de cópias, num acto moralmente perverso de generosidade apenas ao primeiro nível de partilha (um exemplo pouco conhecido é o Java da ex-SUN que, a respeitar a letra da lei, por cada instalação deveria corresponder o respectivo download), mas que nos proibia de fazer várias instalações ou de distribuir cópias.

Pergunta para os informáticos: quem nunca distribuiu cópias do JDK, às vezes até mesmo a clientes, em violação da letra da sua licença? Normalmente proíbem também o estudo e modificação do software, não apenas através de condições expressas na licença, mas também (e normalmente) pela simples estratégia de apenas distribuir um programa executável que foi compilado para código máquina ou sujeito a ofuscação do código fonte.

Shareware

Tipicamente o Shareware é freeware que eventualmente até se possa redistribuir, mas tipicamente é sujeito a apenas poder utilizado em certas condições durante um certo tempo. Muitas empresas utilizaram o WinZIP durante muito mais do que o período de graça de trinta dias de licença até que um dia o azar lhes bateu à porta... na pessoa da Polícia Judiciária ou do IGAC, eventualmente acompanhados de peritagem da ASSOFT, numa inspecção que pode levar a uma considerável e inesperada despesa, e até possivelmente incorrer em pena de prisão.

Tudo depende da licença, e da dimensão da ignorância das condições de cópia (dificilmente desculpável uma vez que o botão "I Agree" [com todas as imposições que fazem] foi premido...).

Software proprietário (ou privativo)

Inclui, normalmente, as duas classes acima descritas mas é aquele modelo mais que ultrapassado e batido de pagar por cópias, ou capacidade do processador, número de utilizadores, e outras formas de extorsão legalizada. Alguns existem apenas na cloud, somos meros utilizadores mas nunca temos acesso ao programa, não podemos estudá-lo, modificá-lo consoante as nossas necessidades ou até mesmo copiá-lo para utilização numa cloud interna de alguma empresa.

Outros pagam-se ao mês, ao ano, em contratos de três anos pagos anualmente mas findos os quais se perde o direito à utilização das cópias instaladas. Tudo formas de garantir um sustento financeiro periódico à custa da perda de alguns dos nossos direitos fundamentais para podermos participar numa sociedade digital. E que direitos são esses que vou mencionando aqui e ali?

Software Open Source / FOSS / FLOSS / Código Aberto

Antes de mais, na minha opinião todos estes termos querem dizer, na prática, virtualmente o mesmo conjunto de software que o Software Livre. Há uma ou outra excepção que são tão raras e tão pouco utilizadas que se pode claramente dizer que são as excepções que confirmam a regra. A diferença fundamental reside no ponto de vista. Enquanto que os proponentes do Software Livre se focam em direitos, liberdades que nos são fundamentais e a partir das quais ganhamos uma série de benefícios, os restantes normalmente focam-se naquilo que eu vejo como benefícios e definem assim o seu modo de pensar e actuar.

Eu distingo estes outros proponentes em duas classes principais: aqueles que não querem pensar ou falar sobre as nossas liberdades (seja lá porque motivo for), e aqueles que por e simplesmente começaram por ouvir um termo e por força da natureza do hábito. Por mim são todos bem-vindos desde que haja respeito uns pelos outros e participemos todos no desenvolvimento da nossa cultura livre .

Eu prefiro focar-me nos nossos direitos, nas liberdades que nos são devidas para uma participação na sociedade digital que não se relegue à utilização passiva, quais meros consumidores de um canal televisivo qualquer.

Software Livre

Como já, muito ao de leve, mencionei, o software está sujeito a licenças de direito de autor que estabelecem as condições de cópia, distribuição de cópias e até mesmo o modo de utilização do software.

No caso do Software Livre, não se trata certamente de uma classe de programas que se encontravam raptadas por algum grupo terrorista e que eventualmente foram libertadas, escapando a algum final menos feliz.

Esta liberdade é nossa. No próximo artigo observaremos mais em detalhe estes nossos direitos de participação na sociedade digital, mas fica aqui, para dar um gostinho, a versão curta da definição de Software Livre como consta na página da Associação Nacional para o Software Livre tal como definida nos anos 80 pelo fundador da Free Software Foundation, Richard Stallman:

1ª liberdade:A liberdade de executar o software, para qualquer uso.

2ª liberdade:A liberdade de estudar o funcionamento de um programa e de adaptá-lo às suas necessidades.

3ª liberdade:A liberdade de redistribuir cópias.

4ª liberdade:A liberdade de melhorar o programa e de tornar as modificações públicas de modo que a comunidade inteira beneficie da melhoria.



Sobre o autor

Rui Seabra é durante o dia administrador de sistemas e firewalls, mas à noite é conhecido como ativista do código aberto, enquanto presidente da direcção da Associação para o Nacional de Software Livre (ANSOL) e membro ativo dos projetos Enlightenment e SHR. Pode ser acompanhado na rede social Identica (em http://identi.ca/ruiseabra ). Os textos de Rui Miguel Seabra são publicados na Exame Informática em primeira-mão, sob a licença cc-by-sa (Creative Commons Attribution+Share Alike).

Fonte:http://aeiou.exameinformatica.pt/opiniao-o-software-livre-explicado-em-miudos=f1009366

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