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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

2010, o ano selvagem

Desastres naturais mataram 260 mil

Este foi o ano em que a Terra deu o troco. Terremotos, ondas de calor e frio extremos, enchentes, vulcões, supertufões, desmoronamentos e secas mataram pelo menos 260 mil pessoas em 2010 - ano mais letal em uma geração, mostra levantamento da AP. Os desastres naturais mataram mais em 2010 do que os ataques terroristas dos últimos 40 anos combinados.

- A expressão "o desastre do século" perdeu o sentido em 2010, pois houve muitos desastres assim - disse Craig Fugate, diretor da Agência de Gerenciamento de Desastres dos EUA.

Segundo cientistas e especialistas em desastres naturais, o ser humano deve culpar a si mesmo, e não a natureza, na maioria dos casos. Construções precárias conspiraram para tornar terremotos mais letais do que deveriam. Mais pessoas vivem hoje na pobreza em construções vulneráveis de cidades superpovoadas. Isso significa que, quando a terra treme, um rio transborda ou uma grande tempestade acontece, mais gente morre.

- Desastres geológicos, como terremotos, são fenômenos regulares. Todas as mudanças são causadas pelo homem - disse Andreas Schraft, vicepresidente de análise de risco de catástrofes da seguradora Swiss Re.

O terremoto que em janeiro matou mais de 220 mil pessoas no Haiti é o exemplo perfeito. Port-au-Prince tinha três vezes mais habitantes - quase todos pobres - do que há 25 anos. Se o mesmo sismo tivesse ocorrido em 1985 em vez de 2010, o número de mortos provavelmente teria sido cerca de 80 mil, disse Richard Olson, diretor do Departamento de Redução de Riscos em Desastres da Universidade Internacional da Flórida.

Em fevereiro, um terremoto 500 vezes mais forte do que o do Haiti atingiu uma área bem menos pobre e povoada do Chile e menos de mil pessoas morreram.

Calor opressivo e frio polar

Cientistas destacam que o clima também está em transformação devido ao aquecimento global. O resultado são mais fenômenos extremos, como ondas de frio e calor.

No verão passado do Hemisfério Norte, um sistema climático poderoso causou uma onda de calor escorchante na Rússia e enchentes devastadoras no Paquistão, que cobriram mais de 160 mil quilômetros quadrados, ou mais de três vezes a área do estado do Rio de Janeiro. Só esse sistema de calor e tempestades matou 17 mil pessoas, mais do que a soma de todos acidentes aéreos do mundo nos últimos 15 anos.

- É um tipo de suicídio. Construímos casas que nos matam (em terremotos), erguemos habitações em áreas de inundações e depois nos afogamos - argumenta Roger Bilham, professor de Geologia da Universidade do Colorado. - É nossa culpa não prever tais coisas, que são a Terra fazendo o que ela faz.

E ninguém pode classificar melhor a situação do que Vera Savinova, administradora de uma clínica odontológica, que em agosto usava uma máscara para se proteger da fumaça causada pelos incêndios florestais em uma Moscou calorenta:

- Nosso planeta está nos alertando sobre o que pode acontecer se não tomarmos conta da natureza.

O grande número de fenômenos climáticos extremos em 2010 é um sinal clássico do aquecimento global causado pelo homem sobre o qual os cientistas tanto avisaram. Eles calculam que a onda de calor russa - que estabeleceu novo recorde nacional de 43,88 graus Celsius - aconteceria apenas uma vez a cada 100 mil anos se não fosse o aquecimento global. Dados preliminares mostram ainda que outros 18 países registraram os dias mais quentes de sua história.

- Esses fenômenos não aconteceriam sem o aquecimento global - diz Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA.

É por isso que muitos dos que estudam desastres naturais para ganhar a vida dizem que é um erro classificar 2010 só como um ano ruim qualquer.

- A Terra se vinga associada às más decisões do homem - diz Debarati Guha Sapir, diretor do Centro de Pesquisas Epidemiológicas em Desastres da Organização Mundial da Saúde. - É como se todas as políticas governamentais ou para o desenvolvimento estivessem ajudando a Terra a se vingar ao invés de nos protegerem dela. Criamos as condições para que qualquer pequena coisa que a Terra faça tenha um impacto desproporcional.
(Seth Borenstein e Julie Reed Bell, da Associated Press)
(O Globo, 21/12)

Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75483

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