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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Estudo explica "avalanche de neurônios"

Explosões de atividade das células do cérebro funcionam basicamente do mesmo modo no sono e na vigília

Ao ler este texto, seu cérebro está sendo varrido por inúmeras avalanches, de todos os tipos e tamanhos. As mesmas avalanches acontecem quando você dorme, sonha ou manipula um objeto que nunca tinha visto antes.

Esses "terremotos" de neurônios, sugere um novo estudo, são um elemento importante para a versatilidade e a criatividade do cérebro.

Eles correspondem a explosões de atividade de neurônios, que se propagam massa encefálica afora, ganhando força -como uma avalanche de verdade.

Se o cérebro fosse um motor de carro, elas seriam equivalentes a um pé permanentemente no acelerador, pronto para fazer o veículo disparar diante de um estímulo interessante ou relevante.

"É como se o cérebro trabalhasse sempre para maximizar o número de padrões possíveis, seja sensoriais [envolvendo os sentidos], seja mnemônicos [ligados à memória]", conta o neurocientista Sidarta Ribeiro, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Ribeiro é um dos autores da pesquisa, que acaba de sair na revista científica de acesso livre "PLoS One", junto com a dupla de físicos Mauro Copelli e Tiago Ribeiro, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

O trabalho é o primeiro a mostrar que as chamadas avalanches neuronais não são só uma curiosidade que acontece em culturas de células ou "fatias" de neurônios em laboratório, mas estão presentes durante as atividades naturais de um mamífero -no caso, uma turma de 14 ratos de laboratório.

Para espionar as avalanches neuronais dos bichos, a equipe instalou neles eletrodos capazes de medir a atividade individual das células nervosas.

Entre 100 e 150 neurônios foram monitorados para cada bicho, em regiões do cérebro ligadas ao tato, à visão e a memória.

Depois, os pesquisadores deixaram que os roedores dormissem e acordassem espontaneamente, explorando objetos que não conheciam durante as horas despertas. Também observaram o que acontecia quando os bichos eram submetidos a uma anestesia geral.

Foi preciso usar uma série de ferramentas estatísticas refinadas para analisar os dados, porque os eletrodos só registram parte das avalanches que estão ocorrendo em dado momento. Mas, com as contas feitas, a equipe se deu conta de que as avalanches eram essencialmente as mesmas em qualquer situação -menos na de anestesia.

Eles verificaram que não há um tamanho típico para as avalanches (em número de neurônios afetados). "Nossa hipótese é que elas estão vindo da ação de centros profundos do cérebro, que só são "desligados" pela anestesia", diz Ribeiro.
(Reinaldo José Lopes)
(Folha de SP, 15/12)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75374

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