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quarta-feira, 6 de abril de 2011

O risco nuclear



Artigo de Joaquim Francisco de Carvalho*, no jornal O Globo desta 2ª feira (4).

Fala-se pouco sobre a gravidade e o número de acidentes nucleares, mas a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) recebe cerca de 10 a 15 notificações, por ano. Os mais graves foram o de Three Mile Island e o de Chernobyl. O de Three Mile Island por pouco não comprometeu a saúde de milhares de pessoas na Pensilvânia.

O de Chernobyl provocou a morte imediata de 47 funcionários e operadores que estavam na usina e de bombeiros que chegaram para combater as chamas. E a explosão de hidrogênio e a combustão da grafita usada para moderar aquele reator produziram uma nuvem que carregou produtos de fissão altamente ativos como o césio-137 e o estrôncio-90 para boa parte da Europa. Alguns desses produtos ainda são encontrados nos solos e contaminam alimentos na Ucrânia e na Bielorússia.

Outros acidentes sérios foram os de Forsmark, Tokaimura, Bohunice, Erwin e Mayak. Estes ficaram pouco falados, mas agora Fukushima vem lançar os acidentes nucleares às primeiras páginas. Não existe máquina infalível nem obra de engenharia 100% segura. Haja vista os inúmeros acidentes de avião, automóvel e trem, que acontecem pelo mundo. Os acidentes nucleares têm dimensões que os outros não têm. Eles se propagam pelo espaço - continentes inteiros - e pelo tempo (décadas, senão séculos).

Um desastre de avião, por exemplo, atinge diretamente os passageiros e, indiretamente, seus próximos, que ficam. Por mais traumático que seja este tipo de acidente termina no local e no instante em que acontece. Um acidente em central nuclear apenas começa no instante e no local em que ocorre. Alguns anos depois centenas de pessoas em regiões inteiras sofrerão males induzidos por exposição a radiações ionizantes. E em algumas décadas crianças nascerão com aberrações cromossômicas e desenvolverão leucemia e desordens endócrinas e imunológicas, provocadas pela absorção, por seus genitores, de doses de radiação acima do tolerável, como acontece até hoje em consequência de Chernobyl, com a população que permaneceu nas cidades próximas.

O Brasil não precisa correr o risco de acidentes em usinas nucleares, pois aqui a energia pode vir praticamente toda de um sistema hidroeólico, com mínima complementação térmica a gás natural. Dessa forma será possível "armazenar" parte do imenso potencial eólico brasileiro em reservatórios hidrelétricos, aumentando significativamente o fator de capacidade do sistema elétrico interligado.

* Joaquim Francisco de Carvalho foi diretor industrial da Nuclen (atual Eletronuclear) e presidiu a comissão provisória criada pela Presidência da República para avaliar o acidente com césio-137, em Goiânia.
(O Globo - 4/4)
Fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=77039

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