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terça-feira, 21 de junho de 2011

O QUE VAI ACONTECER QUANDO A CHINA SE TORNAR A MAIOR ECONOMIA?

Fonte: Gideon Rachman, Financial Times de 12.06.2011
Bandeira da China e dos seus principais concorrentes na economia, o Japão, já ultrapassado, e os EUA.

Como será quando a China se tornar a maior economia do mundo? Poderemos descobrir isso em breve. Há algumas semanas, o Fundo Monetário Internacional divulgou um relatório que sugere que a China será a número um do mundo dentro de cinco anos.

A projeção de que a economia chinesa será maior do que a dos EUA em 2016, incluiu reajustes do poder aquisitivo interno das moedas dos dois países. Alguns veem esta interpretação de dados do FMI como uma escolha dúbia, que aumenta artificialmente o tamanho da economia chinesa. Mas usar taxas reais de câmbio não evitarão o dia em que os EUA serão derrubados de seu posto por uma grande vantagem. Uma projeção da revista “The Economist”, feita logo antes do Natal, previu que a China se tornará a maior economia em 2019.

A ascensão da China mudará as idéias sobre o que significa ser uma superpotência. Ao logo do de que a maior economia do mundo também era a nação obviamente mais afluente. A maior economia do mundo abrigava as pessoas mais ricas do mundo.

À medida que a China desponta como uma superpotência econômica, a ligação entre a riqueza nacional e pessoal é desfeita. A China é ao mesmo tempo mais rica e mais pobre do que o mundo ocidental. Ela está sentada sobre reservas estrangeiras de US$ 3 bilhões. Mesmo assim, com base nas taxas de câmbio atuais, o norte-americano médio é cerca de 10 vezes mais rico do que o chinês médio.

A riqueza relativa da sociedade norte-americana é um dos motivos pelos quais a China não será o país mais poderoso do mundo no dia em que se tornar a maior economia. O hábito do mundo de olhar para os EUA como a “única superpotência” também faz com que seja provável que a dominação norte-americana dure mais do que sua supremacia econômica. Os EUA têm uma posição entrincheirada nas instituições globais. É relevante o fato de que a ONU, o FMI e o Banco Mundial estejam todos situados nos EUA – e que a Otan esteja construída em torno dos EUA.

O poder militar norte-americano têm um alcance global e uma sofisticação tecnológica que a China não está nem perto de alcançar. Os EUA também estão à frente no poder brando. A China, até agora, não tem equivalentes a Hollywood, Vale do Silício ou “ao sonho americano”.

Ainda assim, embora o poder econômico e político não sejam a mesma coisa, os dois são intimamente ligados. À medida que a China se torna mais rica, também se torna mais influente. Numa visita recente a São Paulo, ouvi um diplomata brasileiro dizer sem meias palavras que a distante China, enquanto maior parceira comercial de seu país, é hoje mais importante para o Brasil do que os EUA. A primeira viagem internacional feita por Dilma Rousseff, a nova presidente brasileira, foi para Beijing, e não para Washington. O comércio e o investimento chinês também aumentaram muito a influência do país na África e no Oriente Médio.

As questões políticas levantadas por seu poder econômico serão sentidas mais agudamente na vizinhança imediata da China. O Japão, a Coreia do Sul e a Austrália veem agora que seus interesses econômicos e estratégicos apontam em direções diferentes. Todos os três países têm sua relação econômica mais importante com a China, e sua relação militar mais importante com os EUA. Se a China jogar seu peso para cima dos outros em demasia – como mostrou sinais de fazer no ano passado – os aliados asiáticos de Washington poderão abraçar o Tio Sam ainda mais, por algum tempo. Mas a longo prazo, o poder econômico crescente da China pesará cada vez mais.

Um debate acalorado sobre como se adaptar à emergente esfera chinesa está acontecendo em toda Ásia. Kishore Mahbubani, que já foi ministro das relações exteriores de Cingapura, diz que os asiáticos “sabem que a China ainda estará na Ásia daqui a mil anos, mas não sabem se os EUA ainda estarão lá daqui a 100 anos”.

O poder da China -- combinado com a ansiedade quanto à temível dívida pública que cresce nos EUA, UE e Japão -- desafiará as ideias ocidentais sobre a relação entre a democracia e o sucesso econômico. Desde que os EUA se tornaram a maior economia mundial, perto do final do século 19, a mais poderosa economia do mundo é uma democracia. Mas, se a China continuar sendo um Estado de um partido durante a próxima década, isso mudará. O confiante lema ocidental de que “a liberdade funciona” será desafiado à medida que o autoritarismo entrar na moda, mais uma vez.

Em determinado estágio, entretanto, a própria China deverá chegar a uma crise. Tanto sua economia quanto seu sistema político tem temerosas transições pela frente. A economia chinesa não pode continuar crescendo entre 8% a 10% por ano indefinidamente. A China também enfrenta graves problemas demográficos e ambientais. O autoritarismo chinês também está parecendo cada vez mais anômalo no mundo moderno – como mostra a reação de pânico do partido comunista em relação às revoltas árabes. Mas o surgimento de um sistema democrático na China acabaria ameaçando a unidade do país, à medida que emergem os movimentos nacionalistas tibetano e uigur.

Se e quando a China atingir uma crise econômica e política, a narrativa ocidental sobre o país mudará abruptamente. Alguns argumentarão que o “milagre chinês” dos últimos 30 anos foi uma miragem. Mas isso, também, estará errado.

O debate sobre o futuro da China corre o risco de se polarizar sem motivo. Um campo argumenta que a China é a superpotência emergente do mundo. O outro insiste que a China é um país intrinsecamente instável, sob o risco de uma crise econômica e política. De fato, ambas as ideias são verdadeiras. A China será uma superpotência estranha.

Tradução: Eloise De Vylder

Fonte:http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2011_06_15&pagina=noticias&id=06562

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