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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Nas escolas públicas, deficiência de aprendizado

Dados do Todos pela Educação mostram que alunos concluem o ensino médio sem saber matemática e português

Os alunos das escolas públicas brasileiras não estão tendo o aprendizado adequado, conforme apontam dados divulgados na quarta-feira (1/12) pelo movimento Todos pela Educação.

Apenas 11% dos estudantes que terminam o 3º ano do ensino médio sabem o conteúdo apropriado de matemática e apenas 14,8% dos que concluem o ensino fundamental compreendem essa disciplina.

Em língua portuguesa, o desempenho é um pouco melhor, embora ainda muito baixo. Apenas 28,9% dos alunos que terminam o ensino médio (3º ano) têm o conteúdo adequado da matéria. Na conclusão do ensino fundamental, o índice não passa de 26,3%. E entre os alunos de 5ª série, chega a 34,2%.

Os dados fazem parte do relatório "De olho nas metas", elaborado anualmente pelo Todos pela Educação, grupo de especialistas e interessados em educação que acompanha cinco metas que devem ser cumpridas até 2022: toda criança de 4 a 17 anos deve estar na escola; toda criança deve estar plenamente alfabetizada até os 8 anos de idade; todo aluno deve ter aprendizado adequado à série; todo jovem deve concluir o ensino médio até os 19 anos; e os investimentos em educação devem ser ampliados.

A meta mais importante sugere que "70% ou mais dos alunos terão aprendido o que é adequado para a sua série". Se a evolução continuar no ritmo atual o Brasil só vai atingi-la em 2050.

Embora nenhuma das séries avaliadas esteja próxima da meta estabelecida, no 5º e no 9º ano do ensino fundamental houve melhora em língua portuguesa na comparação com o primeiro ano do Sistema de Educação Básica (Saeb), 1999. No ensino médio, 28,9% atingem o objetivo para a etapa, enquanto eram 27,6% há 10 anos.

Em matemática, no entanto, os que atingiam o objetivo eram 11,9% há dez anos e hoje são 11%.

- Isso significa que 89% das nossas crianças estão concluindo a educação básica sem aprender o mínimo - explicou Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação.

Para o sociólogo Simon Schwartzman, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), a evolução no aprendizado do português, embora pequena, não deve ser atribuída à melhoria da qualidade do ensino. Segundo ele, o português está associado à educação familiar.

- Se a família fala um pouco melhor, a criança aprende. Matemática depende da escola, o que significa que a instituição não está ensinando - disse.

Em matemática, a meta para o ensino médio era de 14,3% e a média geral do país ficou em 11%. O pior desempenho é da Região Norte, com 4,9%, seguido pelo Nordeste (6,8%), pelo Centro-Oeste (10,4%), pelo Sudeste (13,7%) e pelo Sul (16,5%).

A secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar Almeida e Silva, admitiu o atraso do país no ensino médio, mas se queixou da "herança histórica":

- Não são só dez anos que se perderam, são 500 anos perdidos. Muitas gerações foram desperdiçadas. O que fazemos para tentar recuperar é o Prouni, a Educação de Jovens e Adultos. O ensino médio recebe um dos menores investimentos do governo por estudante.

Em geral, porém, o Brasil está indo na direção de alcançar a meta do Todos pela Educação de melhorar a gestão e aumentar o investimento em educação, chegando a 5% do PIB. No quadro atual dos investimentos, o ensino superior recebe mais recursos: R$ 15,4 mil por ano/aluno, depois no ensino fundamental (R$ 3,2 mil por aluno/ano) e no médio exatos R$ 2.317 por aluno/ano.

No ranking dos estados que mais investem na educação, em primeiro está o Distrito Federal (R$ 4.834,43 por aluno/ano), seguido por Roraima (R$ 4.367,37) e Amapá (R$ 3.729,39). O Rio está na 10ª posição, com R$ 2.773,33 por aluno e São Paulo em 9º (R$ 2.930,56).

Em outra meta do Todos pela Educação - a de que todo jovem ou criança de 4 a 17 anos deve estar na escola -, o país já chegou, em 2009, a 91,9%, apesar do objetivo de 92,2% não ter sido atingido. A meta é ter 98% dos alunos desta faixa etária em sala de aula em 2022.

- Não podemos cair na cilada de achar que este número é a universalização. Ainda temos 3,7 milhões fora da escola, algo igual a população do Uruguai - diz Priscila Cruz, que aponta como o mais perverso dessa realidade o fato de 85% dos sem escola serem os mais pobres:

- A educação não está fazendo seu papel de criar mobilidade social. Concluíram o ensino fundamental 63,4% dos adolescentes de até 16 anos (a meta era 64,5%) e 50,2% das pessoas com 19 anos no ensino médio, mais que a meta, de 46,5%.
(Adauri Antunes Barbosa)
(Folha de SP, 2/12)

fonte:http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=75053

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