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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PARA SALVAR A VIDA DO PLANETA

Fonte: Ethevaldo Siqueira, O Estadão de 06.11.2010
Manaus recebe neste fim de semana mais de 400 pensadores das diversas áreas do conhecimento humano, no evento denominado TEDx Amazônia. Reunidos nas margens do Rio Negro, no Hotel Jungle Palace Hotel, num dos ambientes mais deslumbrantes e, ao mesmo tempo, um dos ecossistemas mais complexos do mundo: a Amazônia, que se distribui por nove países da América do Sul e é considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Esses pensadores, artistas e cientistas participam de um encontro de interesse global que discutirá no sábado e no domingo temas abrangentes como nossas ideias e propostas para melhorar a qualidade de vida das mais de 5 milhões de espécies existentes no planeta.

Para os organizadores do evento, nas 50 palestras a serem proferidas no TEDx Amazônia o ser humano é tão importante quanto o coral marinho. O evento é tem patrocínio da Oi, e apoio da Natura, Banco Santander, Colmeia e WebCitizen Guia.

O TED (www.TED.com) tem como subtítulo na internet a frase: Ideias que merecem ser espalhadas ou divulgadas. A maioria dos internautas que gostam de tecnologia e de temas de grande atualidade talvez já conheça o TED, uma organização sem fins lucrativos, que mantém um dos sites mais importantes, inicialmente voltado para três grandes áreas (tecnologia, entretenimento e design, que deram origem à sigla TED), mas que hoje abrange muitos outros temas de interessa atual.

Quem entra neste site tem mais mil entrevistas ou palestras curtas – que não chegam a 25 minutos – em inglês (boa parte delas já com tradução para o português). A organização do TED conta com o apoio de empresas como IBM, Microsoft, AT&T, Cisco, GE, Intel, Santander, Rolex, Liberty Mutual, Akamai, Autodesk, Steelcase, Tiffany & Co. Foundation e UBC.

O TED surgiu em 1984 como uma conferência anual na Califórnia e já teve entre seus palestrantes Bill Clinton, Paul Simon, Bill Gates, Bono Vox, Al Gore, Michelle Obama e Philippe Starck. Apesar dos mil lugares na platéia, as inscrições esgotam-se um ano antes. Cerca de 500 das palestras estão disponíveis no site do evento e já foram acessadas por mais de 50 milhões de pessoas de 150 países.

A cada ano a organização elege um pensador de destaque e repassa a ele 100 mil dólares para que ele possa realizar “Um Desejo que Vai Mudar o Mundo”. Com essas quatro ações – TED Conference, TED Talks, TED Prize e TEDx –, a organização pretende transformar seu mote “ideias que merecem ser espalhadas” cada vez mais em realidade. “Acreditamos apaixonadamente no poder das ideias para mudar atitudes, vidas e, em última instância, o mundo”, dizem os organizadores do TED. Nós também. E você?

O evento TEDx, que se realiza na Amazônia, faz parte de um programa de eventos locais, organizado ao estilo TED, mas de forma independente. O TEDx Amazônia é uma conferência sem fins lucrativos que reunirá mais de 50 pensadores de áreas de conhecimento tão diversas quanto arte e tecnologia, ciência e negócios, para falar sobre suas melhores ideias em palestras com duração de 5 ou 15 minutos.

O tema desta primeira edição do evento será Qualidade de vida para todas as espécies do planeta. O TEDx é o segundo evento desse tipo realizado no Brasil. Aliás, a licença para sua realização na Amazônia foi concedida à organização brasileira do encontro tendo em vista a relevância do TEDxSP, que se realizou em 2009 e foi considerado pela comunidade um dos quatro mais importantes do mundo, ao lado do TEDxParis, TEDx Tokyo TEDx Amsterdã.

Eis os palestrantes

É impressionante a variedade de perfis dos palestrantes que falarão no TEDx Amazônia. Confira, leitor:

Ken Godard – Bioquímico americano, acabou sendo levado pelo destino a tornar-se policial. Depois de estudar criminalística, criou no Oregon o primeiro laboratório de investigaçãode crimes contra a natureza: uma espécie de CSI ambiental. Goddard também escreve romances policiais.

Fábio Rosa – Fundador da Ideaas, uma organização que leva energia solar aos cantos mais remotos do Brasil e, agora, da África, Fabio foi escolhido pela Harvard Business School um dos 80 empreendedores sociais mais importantes do mundo. Apelidado nos Estados Unidos de “o gaúcho elétrico”, dedica-se há mais de duas décadas a dar eletricidade para quem vive longe da rede elétrica, mudando suas vidas.

Felipe Milanez – Formado em jornalismo e direito e mestre em ciência política, Milanez trabalhou como jornalista na Funai, é ex-editor da Brasil Indígena e da National Geographic Brasil, da qual foi demitido por criticar duramente a abordagem que a revista Veja – da mesma editora – fez dos índios brasileiros numa matéria.

Sérgio Abranches – Cientista político e pesquisador independente, Abranches dedica-se ao que chama de “ecopolítica”, a relação entre desenvolvimento econômico, progresso social e meio ambiente. É um dos fundadores de O Eco, uma agência de notícias ambientais, e dedica-se a documentar os impactos que estão ocorrendo no mundo em função das mudanças climáticas.

Sérgio Laus – Serginho é o maior especialista em surfe de pororoca (pega ondas no encontro entre as águas dos rios amazônicos com o mar). A pororoca é tão violenta que é possível ouvir seu ruído uma hora antes de ela chegar. É capaz de derrubar árvores, naufragar barcos e alterar o leito dos rios. Laus bateu duas vezes o recorde mundial de permanência em ondas – uma vez surfou mais de 11 quilômetros, permanecendo sobre a prancha por 36 minutos ininterruptos.

Antônio Nobre – É pesquisador do Os Rios Voadores, correntes de ar que carregam umidade de Norte a Sul do Brasil e são responsáveis por grande parte das chuvas. O projeto vai colocar uma lupa nestes processos, voando junto com os ventos, amostrando o vapor, coletando a chuva em busca das explicações e números. A resposta está na Amazônia.

Rubens Gomes – Criou a Oficina Escola de Luteria da Amazônia (OELA), que treina jovens em atividades de transformação de recursos naturais. A escola especializou-se na fabricação de instrumentos de corda e suas pesquisas já identificaram 25 novas espécies de madeira que podem ser usadas para esse fim.

Marko Brajovic – Arquiteto formado na Universidade de Veneza e com mestrado e doutorado em Arquitetura Genética na UIC (Barcelona). Marko investe em materiais pouco usuais e que mantêm ligação com o ambiente trabalhado; tem explorado a arquitetura com bambu em diversos trabalhos.

Bernardo Toro - Para ele, a educação deve servir a um projeto da sociedade como um todo. Vice-presidente de relações públicas da Fundação Social, de combate à pobreza na Colômbia. Dirige um programa de educação social e preside a Confederação Colombiana de ONGs. Criou os Códigos da Modernidade, que são sete competências mínimas para a participação produtiva e a inserção social do ser humano no século 21.

Joan Roughgarden – Autora de Evolution’s Rainbow: Diversity, Gender, and Sexuality in Nature and People, em que aborda diferentes comportamentos sexuais entre os animais, como homossexualismo, ou gêneros diversos que não participam do processo de reprodução. Nascido Jonathan, tornou-se transexual aos 52 anos.

Zoë Melo – Ex-modelo internacional, a brasileira, que mora em Los Angeles, um dia se deu conta de que a indústria da moda não fazia mais sentido para ela. Hoje comanda uma empresa de design sustentável, que conecta designers e artesãos do mundo inteiro com o mercado, transformando ideias em produtos.

Lama Padma Samten – O gaúcho Alfredo Aveline era um cientista, especializado em física quântica. No início dos anos 1980, interessou-se pelo budismo, que começou a estudar, e acabou recebendo um nome tibetano e o título de lama, que significa líder, sacerdote e professor. Acredita que seu papel, no budismo, não é apenas liderar outros budistas, mas também impactar o mundo, transformá-lo.

Paul Bennett – Segundo a revista BusinessWeek, a consultoria de design e inovação Ideo é uma das 25 empresas mais inovadoras do mundo. Todas as outras 24 contratam a Ideo como consultora de inovação. Bennett é diretor criativo da empresa e um dos sócios executivos. Foi o responsável por levar a Ideo para a China e por abrir o escritório de Nova York, e hoje comanda a sede de Londres. Está escrevendo um livro sobre design como instrumento para buscar sentido na vida.

Alexandre Sequeira – É fotógrafo, mas costuma dizer que está muito mais interessado em pessoas do que em fotografias. A câmera é só um instrumento para aproximar-se delas. Num de seus projetos, passou um ano num vilarejo amazônico trabalhando como retratista da cidade. A maior parte dos seus fotografados nunca tinha visto sua imagem fotográfica antes.

Chris Carlsson – É um ativista do espaço urbano em San Francisco, Califórnia. Escritor, produtor e editor, ele é uma espécie de historiador da contracultura local. Participou dos primeiros movimentos para melhorar a qualidade do espaço urbano na cidade e hoje acha estranho que seja tratado como um “especialista”, em vez de “ativista”. Chris escreve livros sobre utopias urbanas contemporâneas e faz excursões turísticas de bicicleta sobre a contracultura local.

Aaron Koblin – É um artista digital conhecido pela forma inovadora como representa dados, com um resultado que é ao mesmo tempo altamente informativo e artístico. Sua habilidade de transformar em imagens belas quantidades gigantescas de informação dão um insight de como o futuro pode ser.

Gordon Hempton – Um dia, ele dormiu na grama. Uma tempestade caiu e ele continuou adormecido sob a chuva. Foi então que ele se fascinou com os sons da natureza. Há 25 anos, seu trabalho é gravar sons que as pessoas se esqueceram de ouvir. Ele faz um alerta: o silêncio está em extinção.

Vincent Carelli – O antropólogo francês criou em 1987 o Vídeo nas Aldeias, que dá câmeras para índios e os ajuda a contar suas próprias histórias em documentários cinematográficos. Carelli também é diretor de cinema: é dele o triste e lindo Corumbiara, vencedor de prêmios por onde passou.

Randy Borman – Segundo um índio cofan, o corpo dele é gringo, mas seu coração é cofan. Randy era um bebê quando seus pais, missionários americanos, mudaram-se para a floresta equatoriana para viver com os índios cofan e traduzir a Bíblia para a língua deles. Hoje ele é o chefe da tribo.

Manoel Cunha – Era um adolescente seringueiro quando decidiu que não queria mais trabalhar na semi-escravidão. Convenceu seus colegas a se aventurarem floresta adentro, dias e dias de barco no rio, em busca de autonomia. Hoje, passado dos 50 anos, ele é presidente do Conselho Nacional dos Seringueiros.

Rafael Kenski – É ex-editor da revista Superinteressante e pioneiro no Brasil dos Alternate Reality Games, os imensos jogos colaborativos que misturam ficção e realidade. Acabou de voltar cheio de novidades de uma pós-graduação em sistemas de informação na London School of Economics.

Zach Liberman - Define-se como artista, pesquisador e hacker dedicado a explorar novas formas de se expressar e de brincar. Militante do software aberto e livre, transita sem se perder entre a arte, a tecnologia e o ativismo.

José Roberto Fonseca – É um engenheiro que chegou a Baixas, um dos bairros mais pobres de São José da Tapera, uma das cidades mais pobres de Alagoas, um dos Estados mais pobres do Brasil. O que ele enxergou lá foi uma oportunidade de gerar prosperidade a partir das riquezas do lugar.

Enrique Leff – É um economista mexicano da ONU dedicado a compreender o papel da educação na transição de uma lógica econômica e tecnológica para outra, com princípios ambientais.

Stef Van Dongen – O holandês Stef criou a Enviu, uma incubadora para empresários com menos de 35 anos que criam negócios sustentáveis. O projeto da Enviu que mais reverberou pelo mundo foi uma discoteca na qual os passos de dança do público geram energia.

Simo Vassinen – É finlandês e trabalha como pesquisador do grupo independente Demos, que está engajado na criação de um novo modelo de democracia. Foi coautor de um manifesto que defende a adoção de uma “política da felicidade”: um novo tipo de governo dedicado a tornar as pessoas mais felizes.

André Soares – Quando novo, viajou por 50 países sem nenhum dinheiro no bolso. A peregrinação levou-o à Austrália, onde conheceu o conceito de permacultura, a cultura da permanência. Depois de morar numa favela de Brasília, comprou um terreno degradado em Pirenópolis, Goiás, e transformou-o num centro de pesquisas para encontrar um novo jeito de viver no mundo.

Thiago Vinicius - Com apenas 20 anos, esse menino da periferia tornou-se banqueiro. Ele fez parte do grupo que criou o Banco Comunitário União Sampaio, no Jardim Maria Sampaio, em São Paulo, que fornece microcrédito e emite até sua própria moeda, o sampaio.

Julio Villanueva Chang – Em 2002, o peruano Chang era um jornalista iniciante num país periférico, o Peru, sem dinheiro ou amigos importantes. Resolveu então criar uma revista sofisticada, inteligente e independente: a Etiqueta Negra, hoje admirada por escritores do mundo inteiro.

Paulo Arruda – Pioneiro brasileiro da biologia molecular, esteve entre os cientistas que coordenaram o projeto do sequenciamento dos genes da bactéria Xyllela fastidiosa, a primeira pesquisa brasileira a merecer a capa da prestigiosa revista científica Nature. Coordenou depois o projeto genoma da cana-de-açúcar e hoje atua na iniciativa privada, tentando mudar o mundo pelos seus genes.

Suely Carvalho – Faz partos. Não apenas faz, mas ensina mulheres do Brasil inteiro a fazê-los, com seu projeto Cais do Parto, dedicado ao primeiro de todos os direitos: o de nascer bem.

Nelida Silva – É uma dançarina peruana que migrou para Nova York e virou uma moça urbana do mundo. Mas manteve um sonho: ser a patrona da fiesta de seu pequeno vilarejo dos Andes. Um dia, ela realizou o sonho.

Leinad Carbogim – É uma socióloga cearense que, por acreditar que “a vida é curta demais para ser pequena”, mudou se para o pequeno vilarejo de Icapuí, no Ceará, e teceu lá uma “teia da sustentabilidade”, que transformou a vida de todos os habitantes, humanos ou não.

Manoel Patarroyo – É um médico colombiano que criou uma vacina contra a malária, uma das doenças que mais matam no mundo. Apesar disso, os testes da vacina avançam devagar: é difícil financiar pesquisas contra doenças de pobre.

André Abujamra – É um músico paulista nerd, veterano das bandas Mulheres Negras e Karnak. Seus arranjos multiculturais e suas letras nonsense estão cheios de insights inesperados, na linha “preste atenção nas coisas que não chamam atenção”.

João Felipe Scarpellini – Nasceu com a mania de salvar o mundo. Aos 13 anos, redigiu seu primeiro projeto social. Os adultos não levaram a sério, claro. Hoje, com 24, dedica-se a levar adolescentes a sério.

Edgard Gouveia Jr. – É um arquiteto especializado em bioarquitetura e tecnologia intuitiva e pós-graduado em jogos cooperativos. Fundador do Instituto Elos e do programa Guerreiros sem Armas, está na ponta da pesquisa aplicada sobre como mudar o mundo.

Zé Cláudio Ribeiro – Vive na região de Marabá, no Pará, produzindo castanhas de maneira sustentável e resistindo ao boom da construção na Amazônia e à pressão de derrubar essas árvores impressionantes. Recebeu várias ameaças de morte.

André Baniwa – É um índio baniwa, do noroeste amazonense. Segundo o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, é “pessoa muito lúcida e serena, além de brilhante”. Atualmente é vice-prefeito de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.

Diana Whitten – É a diretora do documentário Vessel, que conta a história de um grupo guerrilheiro a favor do direito ao aborto, cuja estratégia consiste em atracar um barco próximo a países que proíbem o aborto e oferecer o procedimento em águas internacionais.

Nielsen Mury Bastos – Trabalha na Oi como gerente de Serviços Prediais, uma espécie de síndico de todos os prédios das regiões Norte, Nordeste e Sudeste.

Magnólio – É o nome do palhaço representado pelo paulista Paulo Sposito de Oliveira, um dos comandantes do Saúde e Alegria, o projeto que transformou Santarém com risadas.

Luciana Villa Nova – É farmacêutica-bioquímica e trabalha há 15 anos desenvolvendo novos produtos na Natura, em contato com comunidades tradicionais. Tem estudado modelos de redução de impacto ambiental e inclusão social.

Antônio Nóbrega – É um músico e dançarino pernambucano, com formação clássica como violinista e cantor lírico. Em 1971, Ariano Suassuna convidou-o para integrar seu Quinteto Armorial, no qual misturou seus conhecimentos eruditos com a rica tradição popular nordestina.

Larissa Rosa de Oliveira – É uma bióloga brasileira que participou da descoberta de uma nova espécie de lobo marinho na costa peruana.

Pedro Lima – É um ornitólogo e fotógrafo que está envolvido em vários projetos no litoral baiano para envolver a população na conservação de aves migratórias.

Silvio Marchini – É o criador da Escola da Amazônia, na qual tenta melhorar a relação entre os homens e a natureza.

Hugo Penteado – O economista quer reinventar a economia. Ele acha que os seus colegas cometeram um erro crasso ao esquecer de levar em conta que os recursos naturais são finitos.

Carla Mayumi – Trabalha na empresa de pesquisas Box 1824. É a responsável pela pesquisa O Sonho Brasileiro, anunciada ano passado no TEDxSão Paulo.

Lara Stein – Trabalha no escritório novaiorquino do TED, onde é responsável pelo programa TEDx.

Lucas Santanna – Gravou um dos discos mais elogiados de 2010, Sem Nostalgia, no qual ele reinventa uma antiga tradição musical brasileira: a do banquinho com violão.

Veja no Estadão: http://blogs.estadao.com.br/ethevaldo-siqueira/
Fonte:http://www.sbpcpe.org/index.php?dt=2010_11_11&pagina=noticias&id=06086

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